sábado, 12 de março de 2011

Tarde de Outono

Hoje neste fim de tarde outonal, em contra-ponto com a atitude de todos os dias, não estou distraído. Quero dizer que estou com os sentidos despertos, os olhos abertos, os ouvidos atentos, o cheiro a inalar fragrâncias, porventura odores desestimulantes, o paladar e o tacto em repouso mas predispostos a assumirem funções. Enfim, no que diz respeito à minha pessoa e ante aquele que sou, sinto-me inteiro.

Mas hoje, neste fim de tarde outonal, não me basta a funcionalidade dos cinco sentidos. Outras vozes, outros sons estranhos a mim mas de que sou espectador me preenchem, de alguma maneira me falam de mim. Falam-me em essência da experiência fantástica de estar vivo. Sobressai aquilo que os meus olhos vêem e os meus ouvidos escutam. Não sei qual mais importante embora até há pouco julgasse que sabia.

Hoje a esta hora deixo-me deslumbrar por aquilo a que chamamos natureza, que é feita de coisas mil. As andorinhas aglomeram-se nos fios eléctricos prontas a partir para outras longes terras, a folhagem atapeta já os campos e os caminhos, o sol prepara-se para desaparecer no horizonte, uma esguia nuvem a acompanhá-lo.
O sol vai-se embora, mas amanhã pela madrugada aí está ele, sempre fiel, a anunciar a sua presença. Como ainda é dia, a lua não passa de uma pequena nuvem redonda, mas que se vai iluminando na medida em que o sol caminha para outras terras, aquece outras gentes.

A terra, o sol, a lua, a estrela da noite (que é a mesma da manhã), que de engrenagem fantástica! Que de poder o do portentoso Acaso! Que de fecundo na diversidade dos frutos que nos prodigaliza! Mas como, Acaso? Não, eu não creio no Acaso. Mas esta engrenagem que nesta hora me prende todas as atenções teve um princípio. Quando e como?

Mas no meu encantamento eu distraí-me sem perdão. Perdi-me nas emoções, tantas que elas são e só agora vi o Amor mas, grande que ele é ofusca tudo o mais, a própria engrenagem cósmica que me arrebatou neste fim de tarde de Outono.

Antonius

1 comentário:

Luiz Sommerville Junior disse...

Antonius , deixe-me respirar ... este texto-poesia fantástica-é de cortar a respiração pela beleza e pelo significado ! Diz e muito bem , "a estrela da noite que é a mesma estrela da manhã", as estrelas são sempre as mesma; estão SEMPRE lá ! Nós é que nem sempre as vemos ! ... Assim como este poema É : em órbita ! SUBLIME !

Abraço!