No meu ancestral impulso de ir ao que está para trás, de visitar horas vividas - aquelas que valeu a pena – porque as há demasiado sofridas a apelarem para o receptáculo do esquecimento - fascina-me viajar no tempo, desde o tempo adulto passando pela adolescência, desaguando na infância e mergulhando no mundo do não conhecimento, da não memória, na semente que germinou e se tornou naquele que hoje caminho na estrada da vida – avançada fase, diga-se. Mas mergulhar no tempo será também visitar aquele que me antecedeu, que outros viveram, mas obviamente vidas que valeram a pena. Aqui e naturalmente ocorrem-me figuras humanas que, como soe dizer-se, deixaram marca, lídima marca da sua passagem. Percursos de vida que para mim, vulgar cidadão são fonte de reflexão e apreço.
Esse apreço ou reconhecimento não se fica por aqueles que deixaram memória na boca das gerações vindouras. Memória nem sempre justa, diga-se em abono da verdade. O meu reconhecimento inscreve-se em letras que eu quereria serem de ouro naqueles que não ficaram na história, mas na simplicidade das suas vidas, em que esteve presente o trabalho insano, a dedicação sem limites, o espírito solidário, a honra que lhes transbordava da palavra, o respeito e estima pelo seu igual. Enche-me a alma empreender este tipo de viagem pelos caminhos da informação séria, mas também da imaginação que acredito brotar dos escanos do meu inconsciente, que creio ser fonte de verdade.
Essa viagem, obviamente ocasional, proporciona-me cenas decerto vividas na infância, mas que não deixam de expressar ou de algum modo traduzir o que foram as vidas das gerações precedentes. Quando penso que a previsão da condição de vida do homem que viveu há mil anos haveriam de ser as do que viveu há setecentos, as do que viveu há quinhentos, e depois há trezentos e até duzentos anos, eram praticamente as mesmas; e de imediato penso, concluindo, que a partir daqui, sensivelmente, se operou uma mudança profunda, fantástica, no ritmo e na qualidade da humana caminhada.
Fico perplexo, repartido entre um saudosismo habitado por uma espécie de ternura ou gratidão e o deslumbramento ante um futuro que começou a desenhar-se há duzentos anos e que nos nossos dias atinge já o inimaginável. Quero dizer: atinge um nível de progresso técnico e cientifico (palavrões outrora desconhecidos) que nos levanta uma interrogação sem limites em relação ao futuro. Naqueles remotos tempos, duzentos, trezentos ou quinhentos anos praticamente nada significavam em termos de avanço nesses domínios. Hoje, a geração onde a história nos colocou, não tem maneira de imaginar o que as coisas serão daqui a cinquenta anos. Em suma a caminhada no progresso do homem é uma vertigem de metas insondáveis.
Mas depois desta breve reflexão uma questão demasiado séria fica a vibrar na minha natureza e na minha própria ancestralidade: será que o homem em termos da humanidade que lhe esteja inscrita nas entranhas ou na essência, está a acompanhar a dita vertigem técnico/cientifica? Até prova em contrario, tudo me leva a crer, preocupantemente, que não.
Antonius
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