sábado, 26 de novembro de 2011

Nos caminhos de Ansião

Biblioteca Municipal de Ansião

Percorro as ruas da vila
num passo que é o meu
entre as mudanças que moram
neste alterar embalado,
pelos tempos do desejo
ante o céu de tanta prece.
Nos passeios fora de sítio
de um centro imaginado
onde se definem os traços
que o futuro então dirá,
existe o anseio da espera
em memórias mergulhado.

Percorro as ruas da vila
neste passo compassado
por entre as sombras que existem
de tanto passo ali dado
e o cheiro que lhe resta
nesta memória aturdida.
Há um sentido para a vida
em tudo o que nelas mora,
como ave em canto sôfrego
implorando a suas crias
que abram seus bicos famintos
quando lhes traz alimento.


António MR Martins

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Casulo

Não. Não saias desse teu casulo. Não perguntes como estou, como tenho passado, se algo me tem preocupado. Fica nesse teu mundo, onde não me atrevo a penetrar. É um gelo ardentemente espesso que me impede de te observar. Onde estás? Sim, tu, sangue do meu sangue, que me deu vida e que vejo todos os dias embora nunca consiga observar. Falas uma fala que não me diz o que um dia gostaria de ouvir, sem apetrechos, sem medos, despindo a alma do tanto que há por dizer. E o que eu te poderia dizer? Ah… Poderia falar-te das mágoas que se avolumam de cada vez que não vejo a atenção ser dada da mesma forma a todos; poderia falar-te daqueles pequenos nadas do quotidiano que tanto gostaria que existissem, ao invés de te ver todos os dias assim; poderia falar-te de um olhar que ficou por dar, uma palavra que ficou por dizer… Tanto que teria para te exprimir que fico-me assim, tal como tu, nesta masmorra consentida conscientemente até que qualquer dia tenha a força e a coragem - caso não a tenhas tu -, de ultrapassar essa parede de gelo que criaste à tua volta. Por enquanto, tomada pelas mágoas que insistem em crescer em mim - mesmo quando nada o faria prever, após uma alegria mútua -, não me sinto com a mínima disposição de tentar mudar tudo isto. Rendo-me perante esse monstro invisível que existe entre nós, não com medo, mas com desconsideração face a toda esta situação. Se queres permanecer nesse casulo, quem sou eu para dizer que não deves?!

27 de Outubro de 2011
Clarisse Silva

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

COMO DIZER E CALAR SE TANTO SONHO







DOU POR TERMINADA, A MINHA COLABORAÇÃO NESTE BLOG, agradeço a todos quantos me acarinharam neste espaço e aos Poetas amigos que me comentaram o meu muito obrigada.
Não retiro nada do que aqui postei e que coloquei com muito prazer, mas sempre chega a hora em que tudo acaba, me fico por aqui, felicidades para todos.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Este país não é para mulheres de bigode


Com senso ou sem senso vai-se constatando que as estatísticas já não são causas comuns hipotéticas mas absurdas medianas aos trambolhões. A moda está em desuso e dizer-se, “mulher de bigode, ninguém a phode” é desviar o padrão das infortunas variáveis a casos extremos. Não fugindo da variante (N), a do bigode que não está em vogue mas ninguém a phode, na aldeia da Picha, Toninha bigodes recebe uma visita inesperada. As estatísticas bateram-lhe à porta.

- Ò mãe tá aqui uma mulher pra ti!

- Quem é Xico? Despacha a mulher que eu estou a fazer o jantar.

- Não posso mãe a gaja diz que é daquela cena das estatísticas A mãe preocupadíssima vem a correr e interpela o filho:

- Já podias ter dito, é sempre a mesma coisa, só me deixas ficar mal, não sei a quem saíste com esse palavreado, manda a senhora entrar.

- A minha mãe disse pra entrar.

Amélia dos Capuchos, colaboradora da Biblioteca Municipal de Pedrógão Grande, estava varada com a recepção mas tinha que acatar com as suas obrigações uma vez que se comprometeu com a junta de freguesia.

- Boa noite, eu sou a Amélia venho da junta e precisava que me respondesse a um inquérito para o INE ou então eu deixo ficar os impressos a senhora preenche e passo cá amanhã. Toninha quando ouviu falar na junta mudou de imediato de postura:

- Nada disso senhora doutora faça o favor de se sentar, quer tomar alguma coisa, um cafezinho, um licor?

- Sou uma simples funcionária da biblioteca, não sou doutora, dona…

- Toninha, Toninha bigodes, pode tratar-me assim e sinta-se em casa senhora doutora, ora deixe-se de modéstias, os méritos devem ser conhecidos.

Amélia já não tinha controlo sobre Toninha e de nada servia contrapor, só queria era apreçar os impressos e dar de frosques.

- Obrigada dona Toninha pela atenção, é um simples inquérito sobre a qualidade de vida dos habitantes da Picha.

- Claro, senhora doutora, pergunte o que quiser.

- Quantas pessoas vivem nesta casa?

- Ora bem, eu, o meu esposo mais conhecido pelo Picha pequena, a minha Milinha da racha e o meu filho Xico esperto e o meu cão torrão, se não me enganei nas contas, somos cinco.

- Costumam ler livros ou jornais? Pergunta Amélia sem tirar os olhos do bigode da Toninha.

- Eu leio muito pouco mas gosto de ler, só que já me falta a vista, leio a Maria e o jornal, a página onde colocam os falecidos para ver se vem alguém cá da terra a Maria ajuda-me a compreender como anda o mundo. Isto está muito mal senhora doutora veja lá que nesta ultima edição vinha lá um rapazinho a perguntar o que devia fazer, tinha nascido com três tomatinhos e não sabia o que havia de fazer à vida dele, o pobrezinho tinha lá aquela coisa dos complexos, e o raio da Dr.ª que responde àquelas desgraças, respondeu-lhe que ele devia sentir-se feliz por ser um homem avantajado e mais…só desgraças, outro a namorada ficava chateada quando o rapaz praticava o coito interrompido mas nessa já nem li a resposta ora se ela ficava chateada por o fulano ter a picha interrompida ai até eu ficava ao menos o outro tinha três tomates já dava prà fazer uma rica salada.

Toninha bigodes desata a rir e manda uma grande bufarda à Amélia, esta sorriu entre dentes e respondeu:

- Pois, pois…e o seu marido, os seus filhos gostam de ler?

-Gostam sim senhora, o meu Xico é um rapaz muito esperto, acabou este ano o curso das novas oportunidades já vai fazer dezanove anos para o ano, coitadinho teve que deixar a escola porque era hiperactivo é uma doença muito complicada, só lhe dá para dormir de dia e depois à noite vai até ao centro com os amigos da Venda da Gaita, veja a senhora doutora ele parece que só fala inglês desde que acabou o curso, eu vou chamá-lo para ele lhe responder. – Xico! Ó Xico anda cá a senhora doutora quer falar contigo.

Amélia corava como um presunto e a voz ia enfraquecendo:

- Não vale apena incomodar o gaiato, ele deve ter muitos afazeres.

- Nada disso, senhora doutora e voltava a berrar: - ò Xico!

- Poça mãe, não sou mouco, que queres? Dizia o gaiato com cara de mau.

- Vá lá Xiquinho a senhora doutora quer saber se gostas de ler, senta-te aí.

- Ya, doutora tá-se bem, eu gosto de ler tipo a Bola, os filmes dobrados em português, as revistas do meu pai, tem lá cada monumento, quer que lhe mostre?

Apressadamente Amélia sem demora responde:

- Não Chico, acredito que sim…

Toninha toda contente olha para o filho e diz:

- Eu sabia que ias seguir a profissão do teu pai, és o meu orgulho. Puxa-lhe pelas bochechas com um sorriso enorme.

- Ó mãe bebeste? Deixa-te dessas cenas. Levantou-se e voltou para o quarto.

A mãe com o bigode mais aguçado virou-se para a Amélia:

- Eu não lhe disse que o meu Xico era um menino muito esperto? Por este caminho vai seguir o dom do pai. Sabe o meu esposo é mestre-de-obras, ele é unha com carne com o senhor presidente da junta as empreitadas cá da aldeia são todas feitas pelo meu esposo e por metade do preço mas ele é muito correcto a factura vai sempre com o dobro do valor conforme o senhor presidente lhe pede, a verdade se diga também não pagamos aquela coisa do imposto, sabe como é uma mão lava a outra. Quem tem amigos não morre na cadeia. Bem agora já sabe que o meu marido lê livros sobre obras e monumentos. Agora a minha filha já é mais sobre dança.

Amélia interrompe:

- Dança? Mas ela é bailarina tirou algum curso, formou-se?

- Não senhora doutora, ela abandonou os estudos aos 14 anos, quando acabou a quarta classe, foi um desgosto, ela tinha tanto jeito nas línguas, sempre que chegava a casa (parece que a estou a ver) corria para mim toda feliz e dizia, “- mãezinha hoje o Serôdio da venda deu-me um linguado”, no início cheguei a fazer figura de idiota pensei que era peixe depois ela explicou-me que era uma língua nova. A minha Milinha da racha tem vinte e dois anos, já trabalha como bailarina desde dos dezassete e lá vai ganhando o bocadito dela.

Amélia não hesitou, ironicamente abreviou-se:

- É bailarina numa discoteca e trabalha à comissão ou a recibos verdes?

Toninha bigodes desatou novamente às gargalhadas:

- A senhora doutora agora teve graça, é à comissão, as pessoas que lá vão ficam verdes mas é de inveja, porque a minha filha não é para o bico de qualquer um da forma como ela dança ainda vai parar ao Teatro do Las Férias.

Amélia levantou-se, pedindo licença:

- Dona Toninha bigodes bem tenho de ir, o dever chama-me, ainda me faltam mais dois inquéritos mas…

Toninha interrompeu:

- Já vai senhora doutora mas e o resto das perguntas?

- Não se incomode dona Toninha bigodes conseguiu responder a todas elegantemente e digo-lhe mais, como diz o ditado “uma mulher de bigode ninguém a come…”, ahahahahahah, até qualquer dia e dê cumprimentos à família.

- Obrigada senhora doutora, você também tem a sua graça, mas olhe que o ditado não é assim, ahahahah, dê lá cumprimentos ao senhor presidente e disponha sempre que quiser, tenha uma boa noite.

- Ai Jesus, lá se foi caralho do pernil assado que comprei na venda do Picha frita…

Viva as estatísticas, os vigaristas, viva a educação!


Conceição Bernardino

http://www.luso-poemas.net/modules/newbb/viewtopic.php?topic_id=3126&forum=86


sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Imagens




São as folhas mortas
Nas calçadas desertas
São os caminhos de lama
E a terra esbatida

É o suor de Agosto
É o verão posto
É um outono reposto

Que chegue de novo a primavera
Que s'inventem novas cores
Que cessem todos os mares e todos os rios
Que sejam criados novos movimentos
Em imagens tornadas vivas
Na minha memória

O livro esperado (de AnaMar)

Um convite para todos. Conhecidos, desconhecidos.

ESCRITO NAS ÁRVORES, de poesia (dizem) :-) sábado, 26 de Novembro, 15 horas, Palácio Belmonte, em Lisboa.Com a compra de cada exemplar está a contribuir com 1€/livro para a organização sem fins lucrativos FUNDAÇÃO FLORESTA UNIDA!!!!!


Mais um livro da Nanda



A Autora, Fernanda Esteves, e a Editora Lua de Marfim têm o prazer de convidar V.Exa a assistir à Sessão de Lançamento do livro de prosa e poesia "Cont(r)o_versus", que terá lugar no dia 19 de Novembro, pelas 15 horas, na Biblioteca Municipal de Palmela sito no Largo São João Baptista, 2950-204 Palmela.Obra e Autora serão apresentadas por Magda Luna Pais e Vera Sousa Silva."


quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Sou apenas o espaço que ocupo no tempo

Se tudo é espaço e tudo é tempo
Então, todo o homem é espaço e tempo
E se modifica e se transforma por viver
Na razão do sentimento que por dentro sente.

Sou apenas o espaço que ocupo no tempo
E é pouco de se abraçar
Mas, há por dentro um imenso e oculto
Que aos meus braços, é muito de alcançar

E da vida já vivida, em nada especial
Quer tenha sido pela noite, ou pelo dia
Existi no simples pressuposto temporal
De ocupar o espaço, que em mim cabia.

Vagueio


(Imagem google)







Vagueio sozinha
na vereda da noite
Nem a lua me ilumina
Nem uma estrela brilha
Somente o uivo distante
me acompanha.
Sigo esse uivo constante
e encontro-me só
Nem querela de amigo
Nem tu estás comigo.
Vagueio sozinha
Vagueio pelo trilho
da vida que não talhei.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

No ardor louco d`um amor nú



















Na brevidade do momento
e na impaciência do peito,
parti… tão somente

Levava o anseio na leveza das mãos
e o incenso na cor dos olhos meus

Vi no meu olhar as palavras
dos segredos ímpios do olhar teu
e as mãos soltaram-se febris
na macieza cálida do teu corpo

Calou-se embriagado o ar
suspiros ciciantes afagam-se
nas brancas paredes do quarto
e ali, no leito repleto de tempo
amam-se os corpos…..
na avidez sôfrega do tudo

Em desassossego beijam as bocas
em talhes delirantes de paixão
e o tempo brinca nos cabelos feitos fogo
dos corpos sedentos, trémulos
dádiva de serem libertação

Ouve-se o silêncio do mundo
e no leito feito do nada
o tudo acontece, como rios de lava
delirando as fortes batidas do coração

Não há medos, não há sombras
não há sempre, nem nunca
nem tempo, nem outros
só corpos redescobrindo-se
no ardor louco d`um amor nú

Escrito a 10/11/11

É JÁ ÍDA SEM CHEGAR...



O coração anda no sonho iludido
Num vôo alegre, como ave
madrugadora, por sobre a seara.
Acaba o sonho surge a ferida
que não sara.

O coração é imprudente
Mais do que suponho!
Não há nada que não invente!
Corre atrás do sonho.

Ninguém pergunte seu destino
Nem qual a razão
deste insensato desatino.
Vive ancorado na ilusão
esquece a dor,
o desalento e o temor
e vive choroso de alegria.
Bate apressadamente durante o dia
E compassadamente ao anoitecer
É já ída sem chegar.

Como combóio que partia
E eu na estação a acenar.

Tempo vencido
Aridez das horas vazias
Coração destemido
Vivendo ainda de utopias.
Á espreita para libertar minha solidão
Nega-se á rendição.
Alheio ao passar da hora
Se julga o menino de outrora.

rosafogo
natalia nuno
imagem retirada do blog imagens para decoupage.


DOU POR TERMINADA, A MINHA COLABORAÇÃO NESTE BLOG, agradeço a todos quantos me acarinharam neste espaço e aos Poetas amigos que me comentaram o meu muito obrigada.
Não retiro nada do que aqui postei e que coloquei com muito prazer, mas sempre chega a hora em que tudo acaba, me fico por aqui, felicidades para todos.

domingo, 13 de novembro de 2011

LUZ QUE NÃO SE APAGA

-Proíbo-me de te não recordar

De te não ver tal qual és

Te não auscultar da fronte a lucidez

De te não adivinhar arguta a mente.

-Proíbo-me de não sentir teus passos

De te não ver no passo largo e másculo

De te não recordar o vibrante encanto

Na riqueza humana que jorrou de ti

-De esquecer o sensível que és, proíbo-me

Como de esquecer o belo que conheceste

Na arte na amizade e no amor estou certo

Que tempo tiveste para sentir de perto.

-Não me perdôo que um dia passe

Sem que pensar em ti passe também

Não consinto que em mim cesse

Esse Filho que foi para mim Alguém.

-Memória de ti guardarei sempre

Na busca perene da verdade

Pensar em ti é firmar na mente

A sede que há em mim de Eternidade.

Antonius

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O Sancho é real D. Quixote



Não tentes calar a minha voz

Com o fato metálico de chapa ridícula

Onde não há lanças nem archotes nem árvores suspensas.


- O Sancho é real D. Quixote!


Enche os bolsos de lendas antigas

Mastiga os pássaros caídos na valeta

E acena às crianças pobres um futuro miserável


Não tentes calar a minha voz

Com o relinchar de um cavalo de pau

Onde as ferraduras são feitas de trevos e vertigens


- O Sancho é real D. Quixote!


As cidades adormecem por baixo de outras cidades

Onde as lixeiras e o lodo do rio trás à tona o condenado de Victor Hugo

O cio cresce na boca dos saqueadores e a saliva afia a guilhotina


- Já crescem cabeças nos campos de trigo D. Quixote

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Musa

(Escultura: Ricardo Kersting)


Navega nesse mar de sonhos
Mas não me deixes ficar em terra
Firmes são os meus traços
Mas fraco o meu corpo

(Não te esqueças que mesmo no teu sono, eu entro
Sou musa que povoa essa imensidão azul)

Inunda o céu com a delicadeza da espuma branca
Quero-te mar eternum, e terra sem fim

Volta-te para mim