terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Em frente ao mar encrespado


Esse beijo que me roubaste
em frente ao mar encrespado
foi doçura molhada
nos meus lábios grudada

Os olhos com que me olhaste
eram ondas de incertezas
cegos aos desejos
que de mim emergia

O corpo com que me abraçaste
sufocou no peito a voz
num silencio orquestrado
dum louco ardor castrado

E as mãos que me tocaram
foram pétalas de flores
caricias desvairados
em mim meu amor

Escrito a 24/11/13

variações temporais


Imagem da net, em: www.r7universal.blogspot.com


fecham-se as portas
lentamente
de um dia
de um mês
de um ano
onde as paisagens
foram secas e húmidas
a destempo

fecham-se as portas
na dor
que nos tormenta o íntimo desflorido
na inquietude dos sobressaltos
em correntes de desespero
nos episódios da vida…
daquela vida verdadeira

fecham-se as portas
rangendo
nos intervalos do silêncio
ante a lágrima não escorrida
pelo peito do sofrimento

fecham-se as portas
mas outras se reabrem
dizem!…

que as portas do amanhã
nos proporcionem
vistas verdejantes
com azuis cintilantes
e que um novo ar
mais puro
possa entrar em nossas narinas
rejuvenescendo-nos as memórias
e acicatando-nos para o futuro

a vida é assim
plena de altos e baixos

as portas
essas
consoante a ferrugem das dobradiças
e dos fechos que as sustentam
vão rangendo nos seus desígnios
umas mais que outras
entreajudadas pelas janelas
que entreabertas
as vão rodeando

que a abertura de novas portas
nos sustentem na felicidade
tanto no sentido da vida
como no silêncio da morte!...

António MR Martins

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Dois Homens e Três Mulheres (Entre Parêntesis-extracto)


(Uma árvore enraizada num grão
e três ventanias granuladas
que são o povo
em exclamação
que são na minha mão
a água
em reticências ...)



Luiz Sommerville Junior, 191220101629
Eu Canto o Poema Mudo


 Festas Felizes e Bom Ano 2014


segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Abnegações

Transformar o nosso olhar num lugar inóspito, onde o sol despeja todos os detritos luminosos, e não abrirmos os olhos para a segunda metade de nós. Ir ao encontro do mar onde guardamos os restos mortais de um corpo que quer a todo o custo vencer a tormenta.

Resíduos que se afogam num mar de lágrimas que não sabem onde mora a fonte de todas as abnegações.

Dolores Marques; (Dakini - Ilusorium/11)
Foto:  DM: Bem perto do mar

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Sem palavras ou gestos, e gemidos de dor


 A noite resvala na densidade do tempo
de  obscuro é o odor, acobreado ao vento
na taça repleta de sons incompreendidos
embebeda-se os silêncios em cúpulas de ti

os lírios sufocados na intensão conseguida
amarfanhados na subtileza das mãos evasivas
desmaia na luz dispersa das carumas vividas

e as vestes soltam-se do corpo fingido
na terra pisam-se a simplicidade  da cor
mágoa que destrói o ventre sofrido

sem palavras ou gestos, e gemidos de dor


terça-feira, 5 de novembro de 2013

o meu vôo...
























Concluí que tenho medo
medo do desconhecido
medo...medo...medo!
não sei como viver
não sei o que fazer
sei...que o futuro é temido.
A vida caminha, até durante o sono
e a noite de temor me agita
deixo nela a vida ao abandono
aflita...aflita...aflita.

De onde venho?
Cantei madrigais,
agora estou cansada e nada levo
apenas tenho
alguns anos a mais...
que a contar não me atrevo.

Mas nada tão cruel
como aguardar o desconhecido
que vai enrugando nossa pele
em troca do tempo vivido.
Labirinto que ameaça profundo
o coração dolorosamente
mas o caminho está em aberto
e não acabaram no céu as constelações
o sonho está presente... por perto,
e o vento agita e troca desilusões
por ilusões.

natalia nuno
rosafogo

domingo, 3 de novembro de 2013

As casas perfiladas

As casas perfiladas
os rebanhos nos olhos alucinados.
Chegou o viajante tocando as árvores
e imaginando que são gigantes

As casas perfiladas
e os tanques que esmagam
Chegou o viajante tocando a água
e imaginando uma sede solar.

As casas perfiladas
os rebanhos nos olhos alucinados
Chegou o viajante tocando os cabelos
de um anjo que lhe aparecia em sonhos

As casas perfiladas
e os tanques que esmagam
Chegou a breve noticia
desses que morrem frios e tristes.

As casas perfiladas
os rebanhos nos olhos alucinados


quarta-feira, 23 de outubro de 2013

entre ser ou não ser



há sempre uma hora que morre
 deixa meu coração ermo
 e minha face amadurecida
 na escuridão,
 minhas mãos me parecem alheias
 de rabiscos cheias
 com poesia inacabada
 entre ser e não ser nada.
 ao redor a solidão me cerca,
 como um corredor sombrio
 meu tempo se enche de vazio
 e frialdade...
 sou solidão e saudade!


 mais uma hora morta
 como impedi-la de passar?
 ouço os passos do tempo,
 deste tempo que teima meu sonho
 quebrar.

 esta hora é tudo que resta
 vejo passar os dias um a um
 e já nem sei a idade
 e como se não restasse nenhum,
 meu sonho
 permanece na obscuridade
 tudo parou na tarde que morre
 parar o tempo como queria!
 rente à sombra das àrvores a escuridão
 a noite desce, não há saída
 morreu o dia,
 o sono traz-me o sonho p'la mão
 amanhã haverá novo sentido
 para a vida.

natalia nuno
rosafogo

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

O olhar ficou água

O olhar ficou água
e o homem pobre
pela cidade vai se arrastando
Ninguém sabe como fica
também a madrugada.
Por causa do medo
por causa da fome há gente em luta
e a vida de cada um não sabe
que todas as outras são aquela força
que nenhuma indiferença vai eliminar.
O olhar ficou água
e o homem ignorado
continua a dissipar as nuvens escuras
e segue pela cidade e fala com o mar
Quando a solidão parece crescer
antes do dia que vem a seguir
ele quer ouvir, ele quer abraçar
e a vida de cada um não sabe
que todas as outras são aquela força
que nenhuma indiferença vai eliminar.


Lobo

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Este lugar nao é meu

Este lugar não é meu
mas o corpo no entanto está
este estar e não ser
não sei como responder
não sei como perguntar
Imaginemos a onda
não ser do mar e no entanto
ser como ele uma coisa funda
um imenso pranto a difícil definição
das coisas simples do amor
Este lugar não é meu
mas o corpo no entanto está
com a alma pronta, preparada para ver
o invisível Deus que me habita de poesia o meu coração.

Este lugar não é meu
mas mesmo assim eu gostaria
que este meu corpo desencontrado
não fosse desencontrado da poesia
mas eu sei mesmo assim
que não estou do lado errado
que não estou no fim

Este lugar não é meu
mas eu também não sei
se haverá crime se não houver lei
este estar e não ser
não sei como perguntar
não sei como responder
lobo

Sabe mal o vinho

Sabe mal o vinho
não tem travo nem melodia
Acabaram-se os malmequeres
os cavalos a galopar
não oiço dizer palavras assim
do tipo ainda me queres.

Sabe mal o vinho
tu já não és capaz
Os espelhos já não adivinham
as cartas não fazem a sorte
e tu pensas que as coisas más
estão no bolso das calças da morte.

O vinho não tem mesmo gosto
e tu és mesmo infeliz
Há uns que usam o fracasso
para provocar o susto
nas almas criadoras
e esses vivem como ratos dando aos outros
o veneno que lhes foi destinado.

O vinho está mesmo podre
e nem a musica vale alguma coisa
não há malmequeres
nem lábios pintados no retrovisor.
Tu és uma bruxa, uma ave super
tens medo do amor e inventas historias
para o desacreditar
 
Lobo

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Ao redor do fogo

Ao redor do fogo
podes desperdiçar as palavras
inventar as tempestades
ou agarrar as asas
alguma nuvem irás seguir
mas não te deixes torturar em nome do amor

Ao redor do fogo
podes ferir os teus pensamentos
estragar os mais sublimes planos
engendrar os mais sangrentos crimes
inventar gostos estranhos
agarrar as asas que vão dentro de ti
adiando esse espaço feliz

Alguma nuvem irás seguir
mas não te deixes torturar em nome do amor.


lobo

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Os Sons do Silêncio



Que saudades eu tenho do silêncio das ruas. do chiar do eléctrico do sonoro tilintar Da calma e tranquilidade de passear na cidade E o silêncio do autocarro que parou Da porta que se abriu Da menina que sorriu E o silêncio da fava- rica que passa da boa castanha assada e do toc-toc da chinela da varina com os restos na canastra. Que silêncio! Que saudades! Do dlim-dlam do sino da igreja Do gri-gri dos grilos, nas noites de verão E do pipilar das aves O silêncio das vidas em segredo nem as ruas os sabiam O silêncio da bota grossa da tropa dos magalas que passavam E do apito do policia sinaleiro. Que saudades destes sons que eu ouvia no silêncio que existia. Que saudades! Maria Antonieta Oliveira

Quando ela sai de entre as folhas

Quando ela sai de entre as folhas
parece um animal a esconder o rosto, a chuva é forte e a terra cobre a pele como um vestido transparente de inverno.

Quando ela sai de entre as folhas parece um animal envergonhado e inocente. A chuva é forte e as flores estão fracas e não conseguem respirar o perfume subentendido das palavras de amor.

Quando ela sai de entre as folhas
parece um animal rasgando o sol que desperta os olhos de uma cria
o sabor quente de um frio nascimento.

Quando ela sai de entre as folhas
parece um animal a esconder o rosto.
A chuva é forte e a dança fica por fazer
no abismo infinito dos olhos.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Navego

NAVEGO Nesse mar navego que me leva… Meu corpo desliza nas ondas Meu ser perdido na terra O coração, esse, perdi-o ontem, quando ao monte subi. Perdi-o, perdi-me, esqueci. Ouvi teu corpo gemendo Vi teus braços erguidos ao Céu suplicando baixinho a Deus. Tentei erguer-te e lavar tua alma negra Tentei dar-te carinho e limpar o teu caminho Tentei tudo o que podia Tu, nada quiseste ou fizeste E eu, que nada sou, nada sabia Orei por ti. Meu corpo deslizando nas ondas Desse mar que me leva Navego… Maria Antonieta Oliveira
O teu gesto são as flores a ondular
certos segredos amargos e uma longa viagem.
Amanhã voltará o tempo da chuva.
O teu gesto são as flores
essa marca no corpo fraco
O teu gesto são esses segredos
uma distancia que se encurta
essa luta corpo a corpo
não pode ser o amor.
O teu gesto são as flores a ondular
certos segredos amargos
Amanhã voltará a ser outro espaço
e uma longa viagem...
O teu gesto são as flores a ondular
um pressentimento adiado dessa despedida
O teu gesto são as flores a ondular
certos segredos amargos e uma longa viagem.
Amanhã voltará o tempo da chuva.


lobo
Outro dia escreverás
se o outono for longo
e as tempestades irão ler as tuas cartas
quando vieres de longe tentando esquecer
essas cruéis guerras

Outro dia escreverás
se o olhar não se fechar
e se o outono for longo os viajantes tu acalmarás
quando vieres de longe tentando acordar os pássaros.

Outro dia escreverás
se o outono for longo
e as tempestades tu acalmarás
se os pássaros regressarem dessa cidade

Outro dia escreverás
se o outono for longo
e as tempestades vão empurrar
de ti o fogo
quando vieres tentando esquecer
essa cruel duvida do amor

Outro dia escreverás
se o outono for longo
e as tempestades irão ler as tuas cartas
quando vieres de longe tentando esquecer
essas cruéis guerras


lobo

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Banco de jardim


Zona Envolvente do Nabão, em Ansião (parte recente),
foto de António MR Martins.


No isolamento da simples solidão
te encontrei só, à minha passagem,
por ti passei sem qualquer intenção,
descobrindo-te na mera paisagem.

Olhei de frente, de lado e para trás
nessa quietude que por aqui implantas,
vínculo tão forte que tanto satisfaz
quem se cansa de observar as plantas.

Aconchego pra muitas caminhadas
acolhimento de leituras dispersas
descanso de tantas pernas cansadas.

Picam-se aos topos anseios às avessas
és cenário com pessoas enamoradas
e também palco de muitas conversas.

 
António MR Martins

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Levei o meu mundo


Imagem da net, em: www.redballoon1.com.br


Levei o sol no bolso da camisa
e a lua na capa presa às costas,
nuvens no cinto de forma precisa
água num cantil para as respostas.

Levei as estrelas como lanternas
e o ar em balões de muitas cores,
o vento seguiu-me junto às pernas
num saco cheiro de todas as flores.

Levei também a noite e o dia
e a madrugada e a tarde quente,
juntinhas à manhã da ousadia.

Levei sementes do verde ausente
e os paladares duma frutaria
com a natureza da minha gente.

 
António MR Martins

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Livre solidão


Caído
Sobre a mesa
O chão

O piso
Que não conheces
E tentas desvendar

Mas não sabes como fazê-lo
Não entendes sua composição

Não te queiras enganar

Lá fora
Também há um solo

Uma terra assente
No pressuposto da negação

Por lá
Tudo é mais feroz
Pelo menos
Altera-se a voz

Lá fora
É outro pólo

Não o queiras deslindar

E a mesa
É bem diferente
Com muita gente

Uma outra
Sofreguidão
Até à exaustão

Peço-te
Para permaneceres
Nesta solidão

Neste chão
À nossa mesa

Aqui podes prevaricar

 
António MR Martins

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

crédula esperança



estou dos versos esquecida
me anima uma crédula esperança
que o que me resta de vida
é esta saudade nua e crua
que de lembrar não me cansa.
e este ânimo constante
que me vem ao semblante
que sempre assim em mim esteja.
quero que todo o mundo veja
que aos versos não ando atada
mas anda louco o pensamento
e a alma arrebatada...

a morrer sentenciada
anda a minha poesia
no silêncio e esquecimento...
se pudesse a pouparia.

já fui moça...moça ardente
já fiz versos de repente

estou dos versos esquecida
eles que foram meus amantes
deram golpes ficou a ferida
já nada é como dantes...
versos que eram raridade
onde conservava a saudade
hoje resta a aparência
nada tinham de ciência
quem sabe...a eternidade!

não deixo que nada me entristeça
a vida é cruel ameaça
só a lembrança me estremeça
para esquecer qualquer desgraça
e se a vida me consente
caminhar sem receio
a minha metade igualmente!?
então:
farei da caminhada passeio.

natalia nuno
rosafogo

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Calo-me para que não oiças o gemido

Calo-me para que não oiças o gemido
nem sintas o uivo do vento na tua face ausente
para que eu te possa escutar, fecunda dum olhar… quente

Calo-me…de tantas vezes que choro, sem soluços
como quem pede uma prece, calando o verbo inerte
no sepulcro silente dos meus lábios,  incongruentes

Calo-me no fulgor da palavra, despindo a madrugada
numa quietude perigosa, lavrando o poema cansado
e no silencio visto-me subtilmente, do verbo ainda quente.
fluindo centelhas nos olhos esquecidos, longínquos de ti

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Toca a figura que caminha
desenha a figura sobre a água
inventa uma linha
para cortar o corpo
e faz aquela dança mas não convides a morte
mesmo que não tenha par.

Toca a figura que caminha
o sangue que corre vai pintar a lua
inventa uma linha
sobre a pele nua
uma flor e um cântico antigo
e faz aquela dança quando se aproxima a liberdade

Toca a figura que caminha
e cruza os dedos e faz a jura
inventa uma linha para cortar a noite
a sorte levando o jogo
para a sorte que não tem o amor

Toca a figura que caminha
desenha a figura sobre a terra
uma sombra vai abrigar a canção
e proteger-te das feridas da guerra

Toca a figura que caminha
desenha a figura sobre a água
inventa uma linha
para cortar o corpo
e faz aquela dança mas não convides a morte
mesmo que não tenha par.


lobo
o é o homem que decide, não é guiado pelo pensamento, a emoção ou a racionalidade existe mas não decide, o que decide é a maquina, é a maquina que indica o que fazer como fazer, o momento de rir, o momento de chorar, as horas de trabalho, o tempo de lazer. A maquina está instalada, indica os programas que devemos ver, os livros que temos de ler, as vezes que devemos fazer sexo. O homem não decide, o que decide nele é o mecanismo de prazer que é o mecanismo de submissão, o casamento social formaliza essa submissão, todo o homem está dependente de um contrato, não há liberdade quando se compromete a fazer o socialmente certo, é tudo contabilizado, os ruídos da respiração, tudo está cronometrado, os beijos que dá, os desabafos, as declarações de rendimentos, o perfume que usa, as vezes que chamou filho da puta ao patrão e bebeu sumo sem gaz . A máquina decide, decide tudo, o capitalismo decide tudo, como te vestes, como te controla, está tudo medido, sempre os mesmos ingredientes, a maquina faz te bonito, jovem produtivo e depois vais avariando, ficas velho, doente, fraco, os fios da televisão nos pulsos, queres que desliguem a máquina? Não tu não queres, estás feliz, eles tratam de ti


lobo
Imagino o gato que vê o frio dentro das pessoas. Imagino que podias tocar para mim uma musica é suficiente que te esqueças das palavras e te lembres do café quente, imagino que passas na igreja e que todos os homens sabem a oração do teu corpo e o gato que eu imagino fica amigo dos ratos e não percebe os homens a comer os homens, saberá um gato o que significa capitalismo. Imagino o gato que vê o frio dentro das pessoas, imagino que podias inventar uma musica, que pudesses lançar na terra e isso seria a tua resposta quando te perguntassem como nascem as flores, imagino o gato que vê dentro das pessoas. As janelas todas fechadas e uma pessoa estranha, era como se estivesse ali o mar, uma relação intima entre a minha distancia e as coisas que não entendo, imagino que podias tocar para mim uma musica, imagino que afinal não sabes nenhuma musica nem nenhuma palavra mas que tens uma maneira de dar confiança e de compartilhar uma bebida e uma pedra para a construção de uma casa. Imagino o gato que vê o frio dentro das pessoas, imagino que passas na igreja e que todos os homens sabem a oração do teu corpo


lobo

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

poema de amor também...



lanço a rede ao fundo,
para vislumbrar o poema
feito de palavra de nada
ou do que não foi dito ainda,
talvez da palavra calada,
duma porta fechada ou aberta,
alento de minha boca
uma dor que aperta,
memória dum tempo
ou da minha força, já pouca.

será o poema pássaro
que voa para o poente
de asas fatigadas
tocando as águas do mar
rumando à eternidade
docemente,
levando com ele meu olhar?

este poema é cego
e causa-me calafrio!
os seus resignados olhos,
são os meus,
às vezes são rio
que já corria
no ventre de minha mãe,
num sussurro morno
onde não há volta.
mas ainda assim me alegro,
porque este poema
é de amor também.

natalia nuno
rosafogo

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Submundos


Cometi um erro, ao permitir-me entrar num sonho que não era meu. Deixei-me conduzir por caminhos que me levaram ao abismo – esse submundo, onde só quem lá chega, sabe definir na derradeira viagem, a tormenta que se manifesta em lugares isentos da verdade.

Enquanto o meu corpo era amofinado por uma densidade estática, eu, viajante em outros mundos, não sabia como inverter o ciclo, e ser dona deste meu querer - ser de novo, no lugar onde medram todos os seres em corpos virgens e imaculados. Completava-se já a imagem que iria ser o protótipo de mim, e do outro lado, eu nem conseguia fazer acontecer um novo sonho, para voltar, e ver com os meus próprios olhos, o que estava a ser programado para dar nova vida ao meu corpo inanimado. Fiz-me então ao caminho - o mesmo caminho que me levara, e abandonei o sonho. Decidi assim, terminar com aquele cenário macabro, de me quererem transformar em algo, que nem o meu sonho permitia. 
(Era um sonho devoto, mas desabrigado de todos os temporais, que por sua vez surripiavam até das copas das árvores, todos os ninhos, para que nada fosse criado e nem nascido naquele lugar).

Completava-se assim um ciclo. Na terra, cresciam já as novas tulipas brancas – a marca do futuro de todos os homens, com vontade de criarem novos sonhos de verdade. Na noite, nascia um vento miudinho, a fecundar-se na luminosidade crescente. Vi então claramente nos intervalos da luz, muitos pontos luminosos, que esperam ainda para nascer e difundirem-se como a luz forte de um farol. 

Dolores Marques – Eventos Ônix 2013

quarta-feira, 17 de julho de 2013

o passar dos dias...



o sol inaugura o dia,
luminoso
e eu de negro intenso
e nada se apaga do que penso...
gosto do outono chuvoso
e ameno
entrego ao passado o pensamento
e tudo ao redor fica sereno,
não tenho ambições
nem vaidade
e creio que a solidão é
minha liberdade.

sinto a vida em mim
e a morte pouco importa,
hei-de cantar um sem fim
de refrãos que lembro,
tanta dor sentida
ou pensada,
tendo tudo e não tendo nada.
hei-de procurar o campo por companhia,
receber no rosto o hálito dos salgueiros,
no fundo será mais um dia
um, entre tantos,
a lembrar-me os primeiros.
hei-de ouvir as horas, no badalar
do sino o som duro
porque alguém morreu,
talvez o sol por cima do muro?!
ou quem sabe... também EU!

trago o olhar poisado sobre os dias
levo alguns versos para o caminho
olho as aves que sulcam os céus
deixo-me a flutuar em fantasias
o coração em descaminho,
fala por mim o olhar
levo sonhos a transbordar
e o vento traz consigo
este rumor sereno...
onde me abrigo.

natalia nuno
rosafogo

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Avaria

Ando adiantado
 estou além e o tempo aqui
ou atrasado
estou aqui e o tempo além 
chegará o dia em que terei o relógio acertado 
numa cadeira vazia ...


 
Luíz Sommerville Junior , 1974

quinta-feira, 20 de junho de 2013

há um não sei quando...



trémula a última estrela
soltam-se palavras na memória
a dor ri de mim
é tanta a sombra que me envolve
no escuro
debalde a claridade procuro
no tempo que me tem,
e só é a saudade que vem
do tempo de além.

tiro da gaveta o linho
com o olhar turvado
morro como um passarinho
com seu cântico acabado.

trago o silêncio na garganta
e já nada me espanta
há um não sei quando
que me persegue
e um não sei onde me leva
há uma loucura de saudade imensa
uma coragem que se nega
e um frio que se faz presença.

natalia nuno
rosafogo

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Adormeço lagrima esguia

 

Adormeço lagrima esguia
gota ansiada na boca seca
blasfemos sentires desgarrados
devorando o sonho agonizante

no hiato do medo transforma-se
em marasmos incorporados
nas aselhas profundas da iris
em confluências
de desacatos neurais

quimeras oxigenadas de bolores
libertas na ferrugem das ondas
nuances de cores, rascunhando
o corpo albergue d`amor.


Escrito a 12/06/13

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Goimbrassa

Loytyi taas vihdoin nettipaikka.  Tata paasi kayttamaan kun naytti passia, ottivat jotain tietoja ylos.

Toissailta meni vahan pitkaksi kun innostuttiin pelaamaan biljardia paikallisten biljardihaitten Josen ja vaimonsa Katarinan kanssa.  Esa voitti Josen kerran ja miesparka jarkyttyi kovasti.

Eilen sitten ajeltiin aivan upeissa maisemissa.  Braga oli hiljainen, kaunis kaupunki.  Niin hiljainen, etta kuvasimme valilla puluja uimassa suihkulahteissa.  Mutta kun kaupungin 60 kirkkoa alkoivat soittamaan kelloja, oli hiljaisuus kaukana.  Lahella Bragaa kavimme ihailemassa Bom Jesuksen kirkkoa ja varsinkin sen vieressa olevaa puistoa.

Seuraavaksi suuntasimme Guimaraesiin ja siellahan kaikki olivat pikkuruisessa kaupungissa.  Meilla on jostain syysta tapana osua paikallisille juhlille ja tietysti taallakin oli sellaiset. Tykit jyskyivat, rummut ja muut soittimet pauhasivat ja kulkue kulki pitkin kaupunkia, lopussa varmaan kaikki guilmaerilaiset laulaen  ja turistit ihmetellen.  Suuntasimme keskusaukiolle, jossa varsinainen juhla oli.

Yopaikkamme oli upealla nakymalla vuoristossa jossain pikkukylassa.

Tanaan ajoimme aamupaivan pienia vuoristoteita, sitten moottoriteita kohti Goimbraa, jossa taas tungimme automme hotellin parkkihalliin.  Muuten edellisessa tallissa Portossa autoa oli ottamassa viisi (5) henkea pois parkista ja siina meni noin 15 minuuttia.  Kolme senttia taakse, kaksi eteen...  Olisi varmaan ollut helpompi kantaa se parkista ulos.


quarta-feira, 8 de maio de 2013

Só resta a luz


Avisto ao longe a desgraça
O mundo resvala contra a corrente
Só resta a luz…

Solta-se das varandas e das janelas
Abertas para o mar
Avançam orquídeas em direção ao sol

Enquanto a noite se veste de branco
Do céu, chovem pétalas de cristal

Rituais que se confundem
Com o abismo profundo
Transportam-me para lá da vida
Enquanto a cidade dorme

E a luz…
Um novo movimento
Qual sémen delicado
No ventre do universo

(2009)


segunda-feira, 22 de abril de 2013

Absurdo





a noite
companheira 
de todos
os poetas

o absurdo!

com receio 
de se acabar
no dia
caiu 
e nunca mais
se viu

ficaram todos
os poetas mortos
de fome
e já nem sentiam
frio

nunca mais
o absurdo
se descuidou
e até
se procurou
num poema
nu

o absurdo
de todos
os absurdos
estava ali
caído
preparado 
para todas 
as noites 




quinta-feira, 18 de abril de 2013

O que tirei da cartola

Na minha audaz fantasia
Plagio versos sem receio
E com eles faço a poesia
Mesmo a saber que é feio.

Leio livros sempre pronta
Para alguma coisa copiar
E a seguir faço de conta
Que sou eu a inventar.

Copio um pouco de tudo
Porque quero ser alguém
E com tudo isto me iludo
E iludo outros também.

E até plagio as ideias
Daqueles que vou seguindo
Subo aos palcos e das plateias
Ninguém vê que estou fingindo.

E chego ao alto patamar
E lá ficarei suspensa
Até que há-de chegar
O dia da minha sentença.

Mesmo assim não vou parar
Porque quero muito e mais
Eu continuarei a plagiar
E não desistirei, jamais.

Maria Gomes

domingo, 14 de abril de 2013

TROPEÇAR


Não sabia como atravessar a parede de vidro
Tropeçava na memória, na mentira, na traição,
Nas palavras e nos gestos, no momento oportuno
Inquieta no aqui e agora…de pernas trémulas!

Tropeçava na consciência da perda e da ausência
Na dependência, no risco…como dizer e fazer…
Tu desafiavas as emoções…os instintos…a pulsão
E estávamos ali, em sorrisos que perscrutavam

A amálgama interior da nossa identidade de abismo…
O que fomos, o que somos, do que pomos e dispomos
O redemoinho frenético de ser ou não ser eu

O ir sendo nos códigos das palavras e dos olhares
Viajando receosa por um «mapa-mundi» desconhecido
E de repente num impulso desnorteado, aconteceu!

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Pro-Coração


Foto: Clarisse Silva

Pro-Coração 



Procuro sem cessar 
Não sei como procurar 
Se o objectivo é efectivo 
O modo é relativo. 



23 de Novembro de 2012

terça-feira, 2 de abril de 2013

O mundo das formas



(Lá, onde a lua e o sol
Fazem acontecer
O mundo das formas
Eu estou)

Tão cheias as formas
Num perfil inventado
Um jeito multifacetado
Esse costume
Que também
É queixume
No fado cantado
E também chorado

(Lá, no universo
Das cores
A saber-me com graça
Eu vou)

Figuração d’ouro fino
No acabar dos andores
Que esteticamente consentem
E não desmentem
Quem sou
Nos frescos matinais
E nos remates
Das pias batismais

(Lá, no mundo
Da demanda
A cair na desgraça
Eu sou)

Na encruzilhada dos céus
Esse tom cinzelado
No azul
Fulgurado
Acalorado
Ruborizado

Reviravolta
Das cores
Dos amores
Das dores
Versando a disputa
Nas arcadas da praça
Pessoas em Pessoa
Poesia e chalaça
Abstratos e fatos
Na medida exata
Dum ato
Em relato

(Sou um retracto)

(Dolores Marques – Esfinges 2012)

segunda-feira, 25 de março de 2013

Domadora de borboletas


Abres os braços
e na ponta dos dedos
pousam-te borboletas azuis

Ou será que é o vento
a abraçar teu corpo
de porcelana?


Levantas o vestido
como quem chama a noite
e há um sobressalto de estrelas
a incendiar o horizonte

Ou serão borboletas fugazes
simulando
com o celofane das asas
a metamorfose do teu corpo despido?

domingo, 17 de março de 2013

As brancas do meu pensamento

?

Doravante quero todas as casas da minha rua pintadas de branco
E em todas as janelas cortinas brancas
De um branco intencional, como as cortinas da minha janela

E todos os carros devem ser brancos também, sem excepção.

[Então, com a rua toda de branco, de tão previsível que será
Será única, saberei que é a minha sem precisar olhar para ela.]

E esta comodidade, sem que ninguém desconfie
Far-me-á sentir cómodo, com as brancas do meu pensamento.

sábado, 16 de março de 2013

RIO

Foto: ms

Contemplo o Rio Douro, séculos de água a deslizar
A caminho do mar, sonho e pesadelo de multidões
Que criaram laços com a água opaca, às vezes verde
Outras vezes castanha, das terras que trás consigo

Fico a olhar as cores vivas do casario velho em cascata
Uma travessia diáfana pela estrada líquida, inquieta
Com vontade de navegar e ir nessa corrente determinada
Tocar o mar, e olhar para a profundeza deslumbrante

Desprendo-me do cais e vou com a brisa fria, como gaivota
Na luz do sol descendente do fim da tarde, na magia do lilás
Ouvindo as vozes sonoras de outrora, no pulsar das águas!

O barulho das naus, o espalhafato das suas velas endemoninhadas
O avanço solitário de cada um, olhando em frente a vida
O caminho incerto, das tempestades e das fulgências do amanhã

sexta-feira, 8 de março de 2013

MEMÓRIA SENTIDA!


Subo a montanha de pedras em busca de água
Água da vida, para parir a vida no meu corpo, seco
A água que escorrega, que limpa as lágrimas negras
No meu solo sedento, na via-sacra da minha sede

Quero voltar a mergulhar o meu rosto nos teus cabelos
Perder-me nos teus olhos de água, ciano e magenta
Tu que és mais quente que o sol, que borbulhas de suor
E que me habitaste fundo, deixando-me em chaga

Desvendaste os teus segredos, senti os teus furores
Acariciaste os meus suspiros, de solitário cio reprimido
E foste uma divina fonte de amor, solidária e jorrante

Agora moras no meu castelo de sonhos, que criei no anseio
Nos degraus do desejo pulsante nas veias, que sinto latejar
E deixas-me entumecida e delirante, no desejo cego de ti

TU QUE EXISTES LATENTE EM TUDO…


Só tu me amparas neste mundo inóspito…
As vagas uivam, rugem furiosamente
O nevoeiro é cerrado e espesso
A ira do mar parece uma agonia
Enraivecida em catadupas de espuma
De violento excesso!

De cabelo emaranhado
Os olhos ficam parados no desvario do pavor
Sinto a angústia do desamparo
E de coração rasgado
Corro para ti meu amor
E aperto nos meus braços
O teu corpo gelado
Tão faminto de enlaços!

O QUE DE AR SE FEZ PEDRA


Fonte de luz que faz da noite dia…
Cercas-me, abraças-me seguras-me, prendes-me
E eu deliro…
Difícil suster a comoção
A lágrima deslizante
A emoção da felicidade….
Nasci nascendo em ti
Toda a vida anterior
Ficou perdida
Na musicalidade
Do teu corpo de cisne
Até ao nó cego…
Animo, atracção, desejo, tumulto
És a pessoa incontornável
À minha felicidade e esperança
Que andou sempre adiada!

domingo, 3 de março de 2013

Já não me assusta o fantasma das horas



Já não me assusta o fantasma das horas
nem o amargo sabor da espera
sou como pássaro furtivo planando
numa candeia dispara de quimeras.

Já não me assustam as horas
os segundos pontiagudos do tempo
sou cântico boiando ao vento
nesse teu vento macio e quente

Já não me assusta o medo de ter medo
nem a saudade que sempre me espera
sou tronco enraizado em terra ardente
e nuvem deslizando no céu imenso

Já não me assusta o fantasma das horas


Escrito 2/03/13