terça-feira, 30 de novembro de 2010

Máscaras

 
(imagem retirada da internet)


Canso-me depois de me cansar, gasto-me depois de me gastar…
Acalma-te coração, não vale a pena a inquietação.

Não deixes as rugas chegarem e se enraizarem,
Respira fundo, na transpiração do rubor em desatino
No desalinho das mentes cansadas das máscaras
Se desmascaram a si próprias, constantemente.

Ouvem-se vozes em harmonia, dia a dia,
Vêem-se rostos de tristes criaturas contentes,
Enchendo os bolsos, cantam, riem, dançam,
Na virtualidade da vida vivida sem existência.

Nessa senda de existência sem vida, na mentira
Mentem ao sabor do ar que respiram,
Ouvimos nós boquiabertos, sem resposta
Ao devaneio louco do embuste aceite pela sociedade.

E assim acaba a história, pois assim se quer
Pensar cansa a beleza, da inimputável gente
… que somos no mundo… mas que mundo?!
Que gente, que futuro, que moral, que valores?!

Permaneço na inquietação de ter que me acalmar.
 
 

domingo, 28 de novembro de 2010

Insónia profana



No silêncio das noites de insónia
vultos febris rondam
as areias remotas dos desertos
soterrados dentro de mim.
Salteadores sem rosto nem identidade
envoltos em turbantes de poeira
vêm, à luz de velhas tochas,
pilhar os túmulos arrefecidos da memória.

Acampam em tendas de ventania
nos vales extintos do passado;
batem com as picaretas no solo,
enfiam as pás nas fendas esconsas
e escavam, revolvem, profanam
as riquezas e misérias deste templo,
trazendo à luz anónima do luar
aquilo que estava destinado à escuridão
e às sepulturas eternas do esquecimento.

A Imponderabilidade Dos Sonhos

Todos os meninos
têm sonhos
inventam as viagens
com seus barquinhos de papel
que colocam
sobre um fio d´água
exploram as terras
com seus aviões d´ aerograma
que entranham no vento
com uma linha invísivel

Por vezes
nao

Limitam-se
a viver e morrer
sobre
o fio
da linha

LSJ , A Madrugada De Lucas , 281120100731

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

NO PALCO


Não vou embalar ímpetos de desdém
De pingos de gelo a desabar no peito
Como agulhas finas de atroz suplício
Não, não pode ser, não tem jeito!
.
Adeus, adeus eu vou embora, vou sair!
Abandono a cena, esta não é a minha peça
Sinto-me para a tragicomédia a resvalar
Estou cansada e sem enredo que me impeça!
.
Sem réplica, como hei-de representar?
Espero, espero e, só encontro o silêncio
Estou farta de no palco a sós monologar!
.
Esta peça tem pouco de real, fracassou!
O «blackout» é absolutamente natural
O espectáculo da quimera terminou!
18.11.2010
Marisa Soveral

Hoje O Meu Sentimento Não Rima


Hoje o meu sentimento não rima
é oração impura
refúgio sem agasalho
hora estagnada
sem cura

hoje pesa-me o grito confinado
cala-se a voz do silêncio
sinto o movimento inquieto de tudo o que não conheço
de algo que pus de lado
e revive nos meus olhos
vagos... vagos...

mas tu dizes-me
(ah, eu quisera acreditar!)
que há um outro lado do mundo
onde os planos se entrelaçam e os corpos
se transfiguram
que há um tempo em que os relógios reverdecem
e a luz chega ao cair da noite
exalando a eternidade
plantada em rios de giesta e de papoilas.


Escrito em 24.11.10

Em memória de minha mãe

Marialuz

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

ENQUANTO VONTADE TIVER



















Nasci esta noite enquanto a manhã vinha
Despedi-me do ontem, onde já sou fumo
Pesada de tanto passado, vida minha!?
Esperança é nada...nada é meu rumo!

Sempre repetindo a mesma ladainha
Com a saudade do lado esquerdo onde se aninha.

Criança me sinto no palco da Vida.
Trepo às estrelas, páro o meu destino
Esqueço a idade já enegrecida
Sou pássaro farto, cansado, perigrino.

Vivo por aqui!
Morro por ali!

Quando escrevo, sinto-me viva
Inteiramente viva.
Posso escrever o que eu quiser!
Que a minha liberdade é verde
Enquanto vontade tiver
Palavra alguma se perde.
Ela que de alegria e tristeza me criva.

Nasci esta noite enquanto a manhã vinha
Tive medo, que tardasse a madrugada
Que este verso se finasse da angústia minha
E me deixasse de alma quebrada.

rosafogo
natalia nuno

Asa(s)


Exangue a tortura do plano inclinado


trocam-se palavras

letras empoleiradas nos beirais do poema


d

e

s

a

l

i

n

h

a

d

o


o tempo em que as romãs são diospiros

maçãs do rosto em fogo

a

alma


leve suave transparente


cálida

a noite

em que te vestes de mim.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

É o tempo que me abraça


















Vagueio na noite… tal fantasma
cobrindo-me de sombras fugidias
é o tempo que me abraça
nas encruzilhadas do caminho
e por travessas e becos acolhe-me
a saudade em desalinho
mas o teu olhar protege-me
das raízes emaranhadas de seda
que roçam as minhas mãos
impotentes

No tudo da vida prevalece
o nada obscuro do destino
alheio de mim

Já não me encontro nos dias
que passam... aqui ao me lado
...ignorando-me

São as pétalas que se escondem
nos aparentados espinhos
pontiagudos... felinos

São as cores desbotadas
da camuflada paisagem
e o quadro que se quebra
estilhaçando a doce aragem

Sou eu, és tu…. que te tens
nas trevas do dia
da luz que se esvaísse
no limiar do limbo

È a terra rodopiando
a vida... renascendo
no principio do enlaço fatal

Nada tido, sem sentido

Nada tido
Sem sentido.
Palavra oculta
Sente culpa
Nada diz
É feliz.
O mundo sente
Palavra não mente
Tudo expressa
Nesta grande peça;
Palavra parida
É próprio da vida
Palavra sem nexo
Universo complexo;
Caminho armadilha
Poeta que brilha
Ao sabor de versos
De sonhos dispersos.
Escreve, é feliz
Texto que condiz.
Sofre, escreve
Esta felicidade é breve?!
É eterna enquanto dura
É sentimento de escravatura?!
É  ~l~i~b~e~r~d~a~d~e~
É vontade
É terapia
De anomalia
Euforia
É carta de alforria.


 
Nada tido
Sem sentido.
Anomalia
Não é agonia.
Normal
É disfuncional.
Palavra desgarrada
Em versos apanhada
Metáfora inventada
Rima alucinada
Que diz, nada!



Eufemismo
Disfemismo
Ironia
Alegoria
Palavra tida
Contrapartida
Emoção
Em ebulição
Alma a latejar
As palavras a jorrar
Oceano tumultuoso
Tsunami de gozo
Arraial de excitação
Viagem ao coração.
Mente alucinada
Extravasada
Esvaziada
Apressada
Sangue a ferver
Versos a escrever!



Nada tido
Sem sentido!


7 de Junho de 2010
Clarisse Silva


terça-feira, 23 de novembro de 2010

MEU AMOR...



Eu digo ao teu ouvido
Palavras de amor, não duvides!
Ouve, são palavras de amor intenso!..

Vê o meu sorriso,
este sorriso é só teu!
Lembra-te do meu sorriso comum
De sobriedade
E como ele agora mudou
Espelhando felicidade!


Toco o teu corpo
Estrada para os meus dedos
Vaguearem carícias de pele
E na tua pele escrevo
AMO-TE, ADORO-TE…
Risco viajante e vagabundo
Na pele inspiradora
Lá fora é o deserto
Tu és o mapa-mundo!


Entras em mim
Lacrimejo o teu corpo
Na tortura do desejo
Desgrenhado
E ávida cotejo,
Na luta corporal
E latejo!


Lábios que beijam e sussurram
Meu amor…meu amor
Pelo teu corpo
Libertador!
Quero o suplício
A tortura
Sou tua escrava
Com a tua bravura
Dentro de mim
Escava!


Não são apenas palavras
São amputações do espírito!
Entrego-me em aluvião
Incondicionalmente
Em ti busco o infinito!

23.11.2010

Marisa Soveral

Portagem

Das jornadas,
erguem-se entre paraísos
sequências de portas fechadas

trancadas.

Há…

Destempo apressado.
Certo.
Momento calado
onde a dor é reflexo
no espelho quebrado
de nós.

Ainda…

Tempo estagnado.
Incerto.
Protesto pesado
quando o grito é livre
no plangendo arrastado
da voz.

Do raso
espaço dobrado, o fundo
vaza, apartado, confinado
ao passado.

Um
tempo por vir…

E a luz de outro sol
derramada, sobre a razão
de um novo mundo,
guia-nos pelo chão.

APENAS LEMBRANÇA!



















Sabia que mais cedo ou mais tarde
Na solidão dos dias futuros
Haveria de soltar suspiros de saudade
Acendendo na memória, pedaços já escuros.
Nas horas de lassidão
Deixo-me esquecida do presente
Relembro imagens distantes
Esqueço do tempo os estragos
Fico ausente!
Na poeira do pensamento,
na leveza dos instantes
Deixo meus fantasmas amargos.

Do meio do nada
Surge a recordação em mim derramada.
Cada lembrança me traz o sorriso à boca
Cada palavra escrita é linguagem de criança
Lançada ao acaso, coisa pouca!
Apenas lembrança!

E as palavras ganham asas, são esperança
E me sinto eternamente viva.
A recordar...
As minhas raízes a que já não me posso agarrar
Mas às quais me sinto cativa.

natalia nuno
rosafogo

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Na Matriz das Borboletas

Rasgou a ponte e abriu os poros
às margens férteis do novo tempo

não há sombras
neste rio
onde acordam entoações de primavera
e voos de linhos respiram na janela

procura-se
no fundo de manhãs a cores
reinventa-se na matriz das borboletas

desprende os anseios na vertigem da bruma
é pedaços de vento
desenhando os passos em árvores nuas

decifra sensações
na estrada sem distância
onde os mapas paralelos se entrecruzam.

Marialuz

domingo, 21 de novembro de 2010

Ode ao moribundo

No dia em que eu for
encetar a viagem
de ida sem volta
não quero que chorem
nem que se delonguem
a me idolatrar

Não vou deixar o mundo
sem antes excrever
a ode ao moribundo

Quando se lembrarem
que sempre cá estive
quando foi preciso
mas nunca houve tempo
para me dispensarem

AMORES MORIBUNDOS



Ouço ainda o rumor dos teus lábios de cinza
a espernear de encontro às tábuas gastas do meu peito,
e dou por mim, num delírio febril,
a murmurar as sílabas nostálgicas do teu nome,
que dançam, numa vertigem de fumo,
ensombrando os versos obscuros do poema.
Um pássaro de cera derretida,
pousado no luar arruinado dos meus ombros,
digere a ressaca de um eco distante,
no vazio destroçado do papel,
onde tento fixar as últimas sombras
do teu sorriso desfeito.

Vozes escondidas murmuram nos recantos da memória
a litania decadente dos ventos,
invocando, num ranger de ossadas,
a réstia contaminada de remotos sonhos
enterrados dentro de mim.
Sacudindo o feitiço,
acendo as palavras efervescentes do teu nome
e deixo-as, a queimar, no rebordo encardido do cinzeiro,
entre duas baforadas de fumo baço
e a insónia lenta da tua ausência,
renegando para os confins do poente
aquilo que já não me serve.

Esta noite, num derradeiro gemido,
entrego o teu rosto calcinado
às chamas fugazes do esquecimento
e, definitivamente, te fecho a porta.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Solta(S)

trémula a folha
cai
em sangue o Outono
.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
visto-me de ti
em nuances de fogo
o olhar mareado de lágrimas estivais
.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-
dormes no meu corpo
o son(H)o
virgem guerreiro sem tempo
.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
busco num poema
a força
do carvalho refeito cor(es)
.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
sei o som
da morte
da vida em musica celebrada
VIVO

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

PARA ALÉM DO TEMPO

















PARA ALÉM DO TEMPO

À Vida me agarrei por mais um dia
Contei segredos ao travesseiro
Chega a tarde e me põe sombria
A sós com lembranças d'algum dia
E o passado na memória por inteiro.

A fazer-me lembrar mais um ano
Perversa a Vida, me leva ao engano.

Sempre igual parecendo diferente
E sempre o sonho morrendo com a gente.

Quando tudo parece a chegar ao fim
Há uma raiz que não desprende
Um pressentimento d'outro tempo em mim
O acolher dum sonho que ninguém mais entende.
E é como se meu corpo de novo se tivesse erguido
Liberto do tempo e da idade
E em minhas palavras  um sonho estremecido
Este sentimento que em mim se aninha a SAUDADE.

natalia nuno
rosafogo

Provei-te

Provei teu licor,
no amargo doce do entardecer.
Provei teu mel,
no doce amargo de ser.
Provei teu calor,
na doce ternura do sentir.
Provei teu odor,
no perfume amargo do trair.
Provei-te num todo,
no doce amargo de te querer.
Provei-te,
no doce imaginário do viver.

Águas límpidas

Desenho uma flor
nos traços subtis de um poema
em sépalas de luz
coroando o pólen
na ponta fina dos dedos
em lapsos dos segundos
entre orvalhos e poeiras
com os salpicos de nuvens
que me aconchegam
a voz no perfil do infinito
que absorvo
nos pináculos do silêncio
onde me dispo
e revisto de águas límpidas
a fonte que guia
as correntes sem estagnar
a luz inebriante
como o vento que canta
nos cumes da montanha
que todos os poros fecundos
encontram para lá dos muros
erguidos pelas mãos alheias
em ruídos
que o silêncio não obtempera…

Ana Coelho



quarta-feira, 17 de novembro de 2010

No Lado De Lá Da Chuva


Se ao menos eu pudesse
cerrar a ventania das manhãs
fragmentar as janelas de baças trajectórias
gementes
desnudas
no lado de lá da chuva

sentar-me ao lado das memórias
durante as areias da maré baixa
e espelhar a eternidade no teu olhar

aquecer as tuas mãos
no encantamento da pedra
tão macia
tão eterna
tão acolhedora dos sentidos das palavras

se ao menos eu soubesse
saltar de dentro do tempo
saber-me
em uníssono
a tempo inteiro
aqui

onde pertenço
no lado de cá da chuva.

Marialuz

Ciclos

Os
ciclos.
Na Primavera
um arvoredo colhe pássaros
e vida ao céu, com ramos atulhados
de verde e de sol. Por dias incertos, que passam
depois indiferentes, em asas de Inverno. E, um raio de luz
matinal, ainda não se fez esquecer, quando a lua
já se deita, ao lado de tanta dor. A compressa
ao peito, cheia de vida, cheia de pressa.
Imensa, efémera. Breve,
tão permanente.
Morro.
Eu.

domingo, 14 de novembro de 2010

"São rosas, senhor, são rosas"

Se eu soubesse
fosse lá o que fosse
seria o canto da epopeia Lusíada
ou talvez os Jerónimos contruídos
na meia-praça larga e redonda
dum Tejo em cima da cabeça do Cristo-Rei
provavelmente o Rossio
na ponta das asas das pombas
que voam no coração das crianças
e de seus pais,pardais no voo delas,
com o Dona Maria a interpretar
para todos ,o acto primeiro
do Teatro que representa
o supra-sumo,imitação dum virtual
virtualmente real
ou a realidade eregida na virtualdade
perpassando a idade
do princípio até ao fim
dos corações de terra e jasmim
das mariposas de bom-bom e Bombaim
A Rainha Santa Isabel
abraçada à Padeira de aljubarrota
no enlace do pão e da frota
alargando a roseira e a bondade da rota
que "São rosas, senhor, são rosas"!
talvez dos bosques o Robin
sem arco nem flecha
apontando no alvo da brecha
lançada à banda desenhada
duma idade por alguns conquistada
traria a floresta para Alfama
e todas as àrvores para a Avenida de Roma
César haveria de cair,andar de lado ,
cambalear no cavalo de D.Afonso Henriques
a Estufa Fria arderia no calor
de todas as flores em ardor
num amor de beijos colossais
primavera de cisnes alados
sono e sonho na mão da vendedeira de violetas
pintadas na face
da peixeira que canta
o peixe e a traineira
podia ser mesmo
o cacilheiro rasgando o Veleiro
navegando na estátua de D. João I
ou Vasco da Gama dos dias de Bartolomeu
que re-escreve a história
da Julieta e do Romeu
qual Shakespeare num palco
teu e meu,nosso,vosso
ou o Palácio de Queluz
mote do fado com tasquinhas de gala
duma Amália e dum Marceneiro
com cantares d’andorinha
sobre os telhados do porvir
MadreDeus Ainda o Existir
na vinha , uva, bago, vinho,
a beleza-maresia despertando o Terreiro do Paço
testemunha do que veio e do que faço
e se não faço nada é porque
erraram a avenida e o traço-traçado dela
Santo Antoninho vem junto a mim
semear rosas e perfumar o jardim.


Luiz Sommerville

Eis no blog seguinte um plágio descarado deste texto :
http://abylyo66.blogspot.com/2010/11/sao-rosas-senhor-sao-rosas-se-eu.html

Nó Cego

Preenches-me as horas com obstinada precisão, que se me abstrair e tentar deslindar este nó cego de mim, não sei quando chegaste, ao que vieste e porque ficaste. Sei apenas que atada a ti, me sinto bailar entre o luar de primavera e o alvorecer de um dia feliz.
Deslizas pelo meu pensamento com a desenvoltura de uma nascente que corre em busca da foz. Difícil, quase impossível, é evitar que te graves em mim. Mais ainda.
Debalde, tento racionalizar, tento virar-me do avesso, tento olhar-te sem te ver, tento, tento, tento… E falho.
E neste exercício de não te querer, de não respirar qualquer emoção, nesta vã tentativa de desatar o nó, acabo presa ao teu olhar... e maravilhada com a tua essência.

SINA



Carrego o corpo dormente daquilo que fui
na memória penosa de passos arrastados,
buscando na erosão prolongada dos dias
o fio débil do meu destino suspenso,
traçado a giz no compêndio dos astros.
Nenhuma certeza habita meus pensamentos.
Perdi-me algures, naquilo que nunca fui,
incapaz de ser aquilo que me penso
ou o que em delirantes sonhos concebo
na inércia pardacenta de velhos muros.

Uma vertigem de caminhos enredados
leva-me ao dédalo angustiante das noites
que me afastam dos portos da infância,
onde bebo o espólio das quimeras vencidas,
envolto no assombro do nada que me cerca.
O mistério insolúvel da minha identidade
não mo revela o oráculo divino dos ventos,
nem os lábios arrefecidos da esfinge se movem
se lhe pergunto porque me tremem os dedos
quando escrevo sobre o que não aconteceu ainda.

O que serei amanhã, que hoje não sou?
O que deixarei nas margens do incerto
quando o entardecer bater com a porta
levando a luz subtraída ao pó das manhãs?
Trará o futuro algum sonho por reclamar,
ou apenas me aguarda o clamor da alma
ruindo no marasmo da ultima escuridão?
Todas as dúvidas me condenam ao vazio
e ao caminho ermo, que não me devolve
o sentido perdido, lá longe, no dia em que cresci.

Onde me retornará minha sina difusa
quando se esgotarem todos os caminhos
destas linhas cruzadas do destino
no suor enrugado da palma das mãos?

(De) Passagem

Acordo a vida que há num respirar intenso
notas de melodias inventadas em cada olhar que me aquece
escrevo(-me) em palavras repetidas
sempre novas
leituras proibidas
d.i.v.i.d.i.d.a.s
sei de cor o caminho que me perde de mim
apr(e)endo
p a s s o a p a s s o
momentos
em
que o voar
é o regresso.
A dor é apenas (um) sinal de que o vómito espreita.
Saio de mim
e
ressuscito
(em) musica.
Como se o meu corpo fosse apenas alma.

sábado, 13 de novembro de 2010

no último dia das marés vivas

O lençol
de água, reflecte
agonia no dorso dos cavalos enraivecidos
que se afogam e morrem na corrente, que aprisiona,
a força na mente das pedras. Galoparam,
com o brilho das estrelas
agarrado às crinas
na sede
de beber a lua
de um só trago, mas de nada
lhes valeu a
viagem.

Medo de morrer?

Não,
medo de viver
na brevidade da onda.
O destino, em brados de vontades submersas,
poderá apenas ser o abismo, onde, pelo voo incerto
de uma gaivota, o longo xaile negro,
cobre o oceano no último dia
das
marés vivas.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Onde estão todos os poetas?


A marca de todos os poetas que sem saberem que o são, são-no na proporção das palavras que escrevem.

Onde estão todos os poetas que cairam, por não saberem onde marcar com as suas palavras um pouco de chão?

********************************
sommerville
Comentário Publicado: 12/11/2010 14:19
Onde estão ? Parece-me que Dakini sabe onde eles estão e sobretudo quem são , esforcei-me aqui por não marcar o chão ! Eu não sou poeta !Inquietante a questão que colocas , e que de inquietos são os dias meus , talvez o sejam por falta de marca ou por sobra de andar a não querer calçar umas botas bem pesadas pra que nada nem ninguém duvide da marca profunda que não deixei ...
*********************************
AnaCoelho
Comentario Publicado: 12/11/2010 14:24 Usuário desde: 09/5/2008

Sim onde estão? Também os procuro, não os encontro neste desencontro em que as palavras caem no chão, um chão vazio onde os passos silênciosos dos pés buscam esses poetas que talvez por cansaço largaram as mãos e partiram em busca de um ar leve nas brisas da universalidade...

terça-feira, 9 de novembro de 2010

PROMETER

Poderias prometer escrever cartas de amor todas as noites
De todas as cores, todos os dias de todos os messes, mas não sei…
Esgotarias as florestas e não me parece…
Poderias prometer o brinde das ostras ou…

Prometer…ah! Poderias
Um edifício de sangue à unha do verbo prometer

Eu sei… A via láctea!
Quanto ao prometido que ficaria do prometer seria a do tempo arder
Quando a única promessa que realmente conta no querer
É ter para poder dizer;

EU AMO-TE PORRA

Espera, não digas o Porra!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O video

VERTIGEM ANÓNIMA



Sigo o rumor cego dos dias curtos
que se esfarelam nos dedos enrugados
de um demónio que habita um saguão de sombras,
por detrás da porta onde pulsa o cabide
em que penduro, ao fim do dia, o rosto que não rima.

Às voltas ainda com a inércia das palavras,
tropeço na abstracta caligrafia da névoa
e na paisagem abandonada dos meus passos,
quando o vento se levanta, sonâmbulo,
nos patamares gastos dos parágrafos cinzentos
e um coro de vogais soletra na encruzilhada
a derradeira luz do dia.

Nenhuma palavra me diz quem sou,
nenhum verso sabe o que faço aqui,
nesta folha suja onde nada escrevi;
tinta seca que o vento corrói
no empedrado dos fonemas onde me perco.

Persigo uma estrofe de incertezas
através da maré de pontos de interrogação
e me afundo num labirinto de sílabas,
sem atinar com o caminho
que me leve ao final do poema
ou me faça regressar à luz do primeiro verso.

Gosto-te, Amo-te, Mimo-te

(imagem google)



Tenho que me habituar a estas fugas
estes retiros teus
tal como aceitas os retiros meus
mas
espero-te no encontro
de todos dos dias com todas as noites


Não sei bem...
como o amar, gostar, mimar alguém
o possa fazer sofrer
ao ponto de não se dizer
de não se ter
de não nos ter em Amor
e amor em amor
em amigo
e amigos em amar


Gosto-te
Amo-te
Mimo-te
Meu querido amor
Meu querido amigo
Meu tudo
Em tudo o que sou

domingo, 7 de novembro de 2010

O Regresso Do Tempo

Voam no azul as aves brancas
recortando o tempo certo
atravessam do sonho as vestes
meia dúzia de palavras
aninhadas em ramos suspensos
das estrelas

essas que implodem o vazio dos ventos
arautos da boa nova
bússola dos harpejos da memória

o jardim é azul
a porta muito ampla
evoca sobre as tábuas o círculo do sol
explode na planura quente dos vinhedos

o céu ondula
é real o azul das águas na labareda dos olhos
desenhando o horizonte

é azul o sopro do vento
quando pressente o regresso do tempo.

Marialuz

Motim

Geme o verso
na gota de chuva,
sulca o rosto vencido
rumo à foz revoltada.
Clama o corpo em fúria
amotinado
E no dilúvio implacável,
o poema acontece

(23/02/2010)

Perdido o meu corpo
















Perdido no perfume estonteante,
meu corpo flutua no lúbrico verbo,
do irracional desejo em fulgor
diluem-se os sentires extrínsecos
nos intrínsecos vertiginosos do amor

O gemido silencioso torna-se diamante
no prazer suspirante da doida luxúria
danças exóticas sucedem-se em vértice
no crepúsculo espasmódico da incúria

O olhar perde-se na brandura longínqua
goteja os meus olhos de prazer roubado
torna-se premente a sublime presença
do corpo distante num tempo parado

Meu corpo relaxa trajado de doce paz
no murmúrio sussurrante do ser amado
adormeço nos braços cálidos da quimera
tal pássaro deslizando num sonho alado

sábado, 6 de novembro de 2010

Palpitações que sorriem dentro de mim!

O Outono grita pedaços de Inverno
dançam as nuvens em balbúrdia
no ventre do céu…

Pelos vidros escorem
gotas aconchegadas pelo vento,
o silêncio verte sussurros
num cântico vestido de branco.

A noite procura os vértices da madrugada
onde os corpos se vestem de palavras mudas!

Escorrega-me o pensamento
na ponta fina dos dedos,
balançam em mim metáforas
que se despem na contra luz das emoções!

Assobiam as folhas das árvores
a minha voz ausculta os sons
no fim da aurora,
os lábios vociferam acordes de silêncio,
palpitações que sorriem dentro de mim!


Ana Coelho

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

ADEUS



Adeus...

Nos lábios
mordo o desejo
de te eternizar num beijo,
Nos olhos
apago as velas
rasgadas por vis procelas,
Nos braços
prendo o momento
onde expira o meu lamento...

A ti me prendo!

A Deus eu peço...

Que faça ruir o templo
Onde me ditam exemplos,
Que me cubra da sua dó,
Que não me limite ao pó,
Que me deixe beber do cálice
Deste último e intenso enlace!

A mim te prendo!

Adeus te nego...

E nem o vento, o mar, a morte,
Rasga o abraço eterno e norte,
Que faço guia, estrela e lembrança,
Mesmo que a Vida me leve a Esperança!!

Adeus...

Adeus...

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Eritrocitamente


Roubaram-me plasma para analisar
o braço estás prestes a arroxar
senti a picada, prefiro não ver
volto logo a cara, não me dá prazer
Sai uma gota vermelha de raiva
hemáceas plaquetas que de uma
assentada servem de colheita
O melhor é que nem sequer dei por nada
Romperam-me os vasos de cor sanguinária
eu tenho pavor, confesso-me aqui
levei a urina, hoje fiz chichi
pr'o frasco de plástico e fiz a análise
agora só resta esperar o resultado
Sou um ser saudável, a Deus agradeço
de resto sou eu que recuso doenças
e corre-me o sangue de novo nas veias

Captei a voz da alma

Escorrem em mim as palavras,
Sinto o sangue,
Como um rio
Brotando a alma.
É o verso,
Que ondula suavemente,
Germinando em rosas,
Que perfumam as minhas mãos
Fecundando o poema.
Deixo-me levar,
Velejando nesta paixão
Que conquista o meu ser
Ardósia que regista,
Os gestos de sentimento.
Afinal escrevo…
Fluindo letras e letras vãs
Forjam uniões
Que conquistam as folhas vazias
Onde repousam para um olhar.
Um dia…
Assim espero,
Serei voz e música
Abençoado pelo sonho
Que ousei ter.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Teias

Fez-se noite na madrugada
guiam-me os reflexos cegos
no infinito corredor
dos espelhos.

Tombo ou prossigo?

Desço ao pôr-do-sol dos instantes
onde me reconheço
nos ponteiros dos assuntos pendentes.

Há um espaço demorado
mudo tardio oxidado
onde o frio agride a face
e os passos quebram as asas
na ausência do olhar.

Brotam teias da janela
deixo a vidraça sangrar.

Recolho o vento entre os dedos
escoa-se o tempo
alheio ao chamamento da moldura
inacabada.

Marialuz

Conta-me sobre esse amor…

Conta-me sobre esse amor…


Conto-te
Sobre o sentimento ardente
A fluir no peito…
Conto-te
Sobre as minhas asas ocultas
Que me permitem vislumbrar
Realidades esquecidas
Outras desconhecidas…


Conto-te
Sobre o aconchego interior
Depois do pleno da paixão
Reflectido na lágrima
Que escorre pela face
Deixando-me ainda mais
Irradiante…


Conto-te
Sobre o preenchimento
Que me invade…
Sobre a solidão que partiu
E a chegada d’ alegria
A luz em cada dia…


Conto-te
Sobre a relatividade
De todas as coisas
Perante a companhia…
O olhar em sintonia
E o sorriso subtil
Que dele resulta…


Conto-te…
Conto-te…
Mas sinto muito mais.

Clarisse Silva

Ás vezes me corto, me drogo e me hipnotizo,

Ás vezes me corto, me drogo e me hipnotizo, faço da tristeza o riso pra suportar a vida que me julga e me condena e por isso declamo bocados de poesia que vou atirando ao ar e que o vento transportando deixa cair no mar profundo como é o pensamento. Ás vezes quero tudo e ás vezes me desiludo e por isso declamo bocados de poesia, que são palavras do mundo.


lobo

terça-feira, 2 de novembro de 2010

DIA INÚTIL






nasce o sol e passo pela
superfície da árvore
que tem no tronco o anseio do sonho.

talvez seja o meu destino
a falar nos ruídos das folhas,
ou talvez seja o mundo
que me passa como teia.

todos os dias nasce o sol
e passo-lhe rente
como quem tem um só chão como dia inútil.

irei por aí procurar no rumo da luz
a vertigem da noite...
o frio do sono... 
quando atiro ao ar
a realidade da nuvem cinzenta.

Eduarda

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Suspiros de amor

Cai-te um suspiro da alma
Pelo qual não me desapego

Suspiro que te traz calma
Em ritmo que não sonego

Cai-te a réplica do mesmo
Num sentir mais profundo

Salpicos proferidos a esmo
Sustentáculo do nosso mundo

Cai-te uma lágrima sentida
Em sentires que são intensos

Pela simples felicidade vertida
E dos suspiros a ela propensos

Cai-te um sorriso maroto
E um gesto assaz traquina

Como saída de totoloto
Na tabacaria de qualquer esquina

Cai-te a rubor da face
Como um intenso clamor

Não há suspiro que disfarce
O puro sentido do amor


António MR Martins