sábado, 31 de dezembro de 2011

A Dama E O Pescador - Feliz Ano Novo



Se hoje eu soubesse
escreveria
o poema mais sublime
mas quem não sabe escrever
deve venerar
os poetas que glorificam
- a palavra cantada!
deve amar o pai
que desejou, fez e semeou
- a trova!

Se hoje eu soubesse
escreveria
o poema mais sublime
mas quem não sabe escrever
tem d´amar o trovador
que honra a donzela
(mãe de todas as canções)
para que nela nasça o reinado
dos filhos de todas as gerações


JouElam, 311220111420


Votos sinceros de próspero Ano Novo 2012 para o Tu Cá Tu Lá , todos os seus colaboradores,familiares e amigos.



quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Apresentação da Antologia Tu Cá, Tu Lá II


Os autores e a Temas Originais têm o prazer de o convidar a estar presente na sessão de lançamento do livro “Tu Cá, Tu Lá 2” a ter lugar no Olimpo Bar Café, sito na Rua da Alegria, 26, no Porto, no próximo dia 7 de Janeiro, pelas 16:00.

Chegou enfim o dia em que podemos confraternizar ususfruindo da companhia uns dos outros num Tu Cá, Tu Lá, que nos tem dado muito.
Agradeço em primiero lugar à Liliana por se ter dedicado na organização desta antologia e à Fátima pelo que contribuiu para este blogue.
Agradeço a todos os autores pela contribuição que têm dado com as suas poesias, assim como a todos os que aceitaram fazer parte desta Segunda Antologia.

Até lá, um abraço a todos!

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Apenas e só

Sei para onde quero ir sem esperar que me orientem o caminho a seguir, pois se os caminhos são vastos e a terra é uma para todos. Apenas e só…aguardo que me modelem novas formas.




Pensando bem nem o pensamento me escolhe como sendo um caminho. Há pensamentos tão mansos, a velar por quem cai sem ter onde enterrar as ideias jáAdicionar imagem mortas.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

MINHA ILUSÃO É UMA JANELA


BOAS FESTAS A TODOS OS AMIGOS DO TU CA TU LA


Minha ilusão é velha
Como os alámos da minha rua
Quando a lua neles se espelha
Se amarra a minha alma na tua.
Meu rosto na noite enrugou
É esta a verdade,
até o pranto rolou!
Deus queira que a saudade
Seja a razão de viver,
e lágrimas dos olhos arrancar.

Se a dor ao coração assomar?
Defendo-me com firmeza
Se essa má hora vier
eu terei a certeza.
E coragem tanta!
Que em mim não vai caber.

Minha ilusão é uma janela
Donde avisto meus anos mortos
Passou a vida e eu por ela
Trago no passado os olhos postos.

O que digo é sim ou não,
ou talvez apenas.
Talvez sim,
meu pensamento em rebelião
Ou então não!
São apenas minhas penas.
Ou loucura?
Mas meus olhos se afogam
em ternura.
Lembrando pés descalços
em serena liberdade, num
regato claro de saudade.

rosafogo
natalia nuno
imagem retirada do blog imagens p/ decoupage

Roda Viva


As crianças dão as mãos
e formam uma grande roda
onde a voz secreta do fogo
liberta as eternas melodias
capazes de suster por momentos
o zumbido silencioso da morte 

 --------------------------------- 

 UM FELIZ NATAL A TODOS
OS MEMBROS DESTE BLOG

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

SENTIR NATAL

Regressar no tempo agarrar a infância
Com o vibrar das coisas simples
Das luzes das pinhas mansas
Feitas da lareira o aconchego
A alegria que paira no ar
Portadora de esperança
Vozes que vazaram o tempo
Em lembranças desfeitas em saudade
O menino Jesus que na madrugada
Era trazedor das modestas prendas
Que faziam o nosso enlevo
Que não tinha o pai natal sido ainda inventado.
Quisera regressar no tempo
E trazer comigo as coisas
Mas sobretudo o calor das vozes
No ânimo que lhes dava alento
E assim voltar a viver
O Natal da minha infância.

Mas não se fica por aqui o meu sonho de Natal
Que mais funda é a prece que jorra dentro de mim
Que comporta um mundo melhor
Feito dádiva fraterna
Ao indigente que a sociedade despreza
Ao simples sem eira nem beira
Com quem me cruzo tantas vezes sobranceiro
Distraído do igual a mim
Esse que sem o calor do olhar
E a riqueza da palavra amiga
Não pode entender Natal

Antonius

Quando nas quimeras perdi meus olhos

São farpas, que cravas fundo no meu peito
E do amor quente que escorre te sacias
Enquanto morro aos poucos neste leito
Extasiado, em delírio nas nossas fantasias.

Um toque na face.
O desejo.
A despedida perfeita.
Um olhar.
A selar a dor
Um beijo.

Depois do sonho, a eternidade foi o fim.
Depois da existência, o brilho do adeus
E a beleza de duas lágrimas de marfim.

Pranto que se perde no silêncio
Dos passos que te afastam de mim.

Quando nas quimeras perdi meus olhos
O teu cheiro em várias camas procurei
Mas na memória, não te encontrei.

Assim, o tempo contornou os dias
Em noites de fados intermináveis
Escuros, tristes
E tão fáceis
Que me perdi na melodia das guitarras
Friamente só
Eternamente só.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Livro da Vida


(Imagem google)




Abri o livro da vida
e nele me encontrei perdida.

Vi
a menina traquina
saltando e rindo à gargalhada
Vi
a menina rabina
brincando com tudo e tendo nada.
Vi
a menina atrevida
sentindo os olhares
pensando-se amada.
Vi
a adolescente jeitosa
elegante e formosa.
Vi
a adolescente crescida
sentindo-se por todos atraída.
Vi
a mulher amante
de branco vestida.
Vi
a princesa encantada
na garupa levada.
Vi
a mulher mãe
de braços estendidos.
Vi
a mãe mulher
amando seus filhos.
Vi
a filha perfeita
amando seus pais.
Vi
o carinho que lhes dava
mimando-os demais.
Vi
Vi
Vi tudo isto
E nada verdade
Minha vida é afinal
Uma outra realidade.
O inverso de tudo
Em tudo diferente.

Fechei o livro!
Abri-o de novo
No livro da vida
me encontrei perdida.

Maria Antonieta

Noite insone

Na madrugada singela onde dormem
os sonhos vadios da noite mendiga
e onde se esconde o cansaço do dia
repousa o corpo débil…prisioneiro
da indigna agonia

No horizonte da noite insone
há momentos resguardados
de qualquer densidade bravia

Momentos aprimorados
onde dançam as mil cores
aquelas com que se pintam
os elos equidistantes da fantasia

E das pétalas com que bordei o coração
ficam as palavras lavradas em sedução
no corpo extenuado de um poema só

Escrito a 13/12/11

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O verde que eu sei

(Foto, Cigana Moura , via Facebook)



Foi um dia como tantos outros
(Os dias que nascem
Os dias que morrem, quando engravidam da noite)

Um dia em que o silêncio cercou tudo e todos e não deixou marcas
Um dia como todos os que passam
E nós não sabemos se é um dia a mais, ou um dia a menos nas nossas vidas

Enfim nasceu mais um dia
Um dia verde
Mas um dia já posto, na espera por mais uma noite

(Esse verde será sempre a visão mais intensa nos meus olhos
O verde que eu sei)
Esse verde é assim como todas as cores que brilham na noite)

Uma cor que se assume inteira na verdade exacta de um dia a menos ou de uma noite a mais nas nossas vidas

Mas se de vidas falo
Posso muito bem falar de um momento vivido por um dia só
Mas verde
O verde que eu imaginei, e que tão bem sei
Esse verde a escorregar pelas encostas da serra
E a acabar-se na maciez das margens do rio

Correm rios no meu corpo

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Porque te quis



Há dias

Que o teu sol não m’aquece

Não m’enlouquece...

Para me sentir mais eu

E me transformar

Em algo mais

Do que uma simples sombra

Perdida

Esquecida

Nas ruas

Largada por todos

Na derradeira noite

Em que o meu corpo

Desfaleceu

Porque te quis

Só meu

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Poema de cristal

Hoje sinto a tristeza nos raios de sol
Plácidos domingos sem aroma de flores
- Em Primaveras inférteis
Que desabrocham compulsivamente formol
Suavizando as arestas de cândidos pudores

Sinto a melancolia numa taça de vinho
A fuligem desnudou a árvore que me sustenta
- Em Outonos inconformados
Que cambaleiam alcoolizados pelo caminho
Rumando ao baloiço onde a folhagem assenta

Abraço a nostalgia dos casacos marrom
Frígida névoa que tacteia o comprimento do ser
- Em Invernos sentimentais
Que se insurgem na divina morada de Poseidon
Anunciando tempestades de cristal à luz do amanhecer

Cheiro fugazes segundos de amor no ar
Invisível calor que me envolve com afagos de calma
- Em Verões adormecidos
Que se incendeiam pelo sabor do verbo amar
Preenchendo os cantos despovoados da minha alma.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Louco poema

Na quietude
clandestina da noite
voarei, subirei ao cosmos
e lá na minúscula luz da estrela,
poetarei

[disse-te]

Esvaziarei as mãos de palavras
e dos dedos as rimas
onde se soltarão os suspiros
enlaçados
de amantes fonemas

nos cativos lábios do dia
adormecerei
e nos braços do sono
no raiar de algures…
se soltarão as algemas
uma a uma
nos versos da utopia

Furibundo brotará
no entreolhar das pálpebras
o sonho
emerso no fogo da vida

E no esvoaçar dos vocábulos
entoarei num suave poema
a louca fantasia.


Escrito a 25/11/11

sábado, 26 de novembro de 2011

Nos caminhos de Ansião

Biblioteca Municipal de Ansião

Percorro as ruas da vila
num passo que é o meu
entre as mudanças que moram
neste alterar embalado,
pelos tempos do desejo
ante o céu de tanta prece.
Nos passeios fora de sítio
de um centro imaginado
onde se definem os traços
que o futuro então dirá,
existe o anseio da espera
em memórias mergulhado.

Percorro as ruas da vila
neste passo compassado
por entre as sombras que existem
de tanto passo ali dado
e o cheiro que lhe resta
nesta memória aturdida.
Há um sentido para a vida
em tudo o que nelas mora,
como ave em canto sôfrego
implorando a suas crias
que abram seus bicos famintos
quando lhes traz alimento.


António MR Martins

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Casulo

Não. Não saias desse teu casulo. Não perguntes como estou, como tenho passado, se algo me tem preocupado. Fica nesse teu mundo, onde não me atrevo a penetrar. É um gelo ardentemente espesso que me impede de te observar. Onde estás? Sim, tu, sangue do meu sangue, que me deu vida e que vejo todos os dias embora nunca consiga observar. Falas uma fala que não me diz o que um dia gostaria de ouvir, sem apetrechos, sem medos, despindo a alma do tanto que há por dizer. E o que eu te poderia dizer? Ah… Poderia falar-te das mágoas que se avolumam de cada vez que não vejo a atenção ser dada da mesma forma a todos; poderia falar-te daqueles pequenos nadas do quotidiano que tanto gostaria que existissem, ao invés de te ver todos os dias assim; poderia falar-te de um olhar que ficou por dar, uma palavra que ficou por dizer… Tanto que teria para te exprimir que fico-me assim, tal como tu, nesta masmorra consentida conscientemente até que qualquer dia tenha a força e a coragem - caso não a tenhas tu -, de ultrapassar essa parede de gelo que criaste à tua volta. Por enquanto, tomada pelas mágoas que insistem em crescer em mim - mesmo quando nada o faria prever, após uma alegria mútua -, não me sinto com a mínima disposição de tentar mudar tudo isto. Rendo-me perante esse monstro invisível que existe entre nós, não com medo, mas com desconsideração face a toda esta situação. Se queres permanecer nesse casulo, quem sou eu para dizer que não deves?!

27 de Outubro de 2011
Clarisse Silva

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

COMO DIZER E CALAR SE TANTO SONHO







DOU POR TERMINADA, A MINHA COLABORAÇÃO NESTE BLOG, agradeço a todos quantos me acarinharam neste espaço e aos Poetas amigos que me comentaram o meu muito obrigada.
Não retiro nada do que aqui postei e que coloquei com muito prazer, mas sempre chega a hora em que tudo acaba, me fico por aqui, felicidades para todos.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Este país não é para mulheres de bigode


Com senso ou sem senso vai-se constatando que as estatísticas já não são causas comuns hipotéticas mas absurdas medianas aos trambolhões. A moda está em desuso e dizer-se, “mulher de bigode, ninguém a phode” é desviar o padrão das infortunas variáveis a casos extremos. Não fugindo da variante (N), a do bigode que não está em vogue mas ninguém a phode, na aldeia da Picha, Toninha bigodes recebe uma visita inesperada. As estatísticas bateram-lhe à porta.

- Ò mãe tá aqui uma mulher pra ti!

- Quem é Xico? Despacha a mulher que eu estou a fazer o jantar.

- Não posso mãe a gaja diz que é daquela cena das estatísticas A mãe preocupadíssima vem a correr e interpela o filho:

- Já podias ter dito, é sempre a mesma coisa, só me deixas ficar mal, não sei a quem saíste com esse palavreado, manda a senhora entrar.

- A minha mãe disse pra entrar.

Amélia dos Capuchos, colaboradora da Biblioteca Municipal de Pedrógão Grande, estava varada com a recepção mas tinha que acatar com as suas obrigações uma vez que se comprometeu com a junta de freguesia.

- Boa noite, eu sou a Amélia venho da junta e precisava que me respondesse a um inquérito para o INE ou então eu deixo ficar os impressos a senhora preenche e passo cá amanhã. Toninha quando ouviu falar na junta mudou de imediato de postura:

- Nada disso senhora doutora faça o favor de se sentar, quer tomar alguma coisa, um cafezinho, um licor?

- Sou uma simples funcionária da biblioteca, não sou doutora, dona…

- Toninha, Toninha bigodes, pode tratar-me assim e sinta-se em casa senhora doutora, ora deixe-se de modéstias, os méritos devem ser conhecidos.

Amélia já não tinha controlo sobre Toninha e de nada servia contrapor, só queria era apreçar os impressos e dar de frosques.

- Obrigada dona Toninha pela atenção, é um simples inquérito sobre a qualidade de vida dos habitantes da Picha.

- Claro, senhora doutora, pergunte o que quiser.

- Quantas pessoas vivem nesta casa?

- Ora bem, eu, o meu esposo mais conhecido pelo Picha pequena, a minha Milinha da racha e o meu filho Xico esperto e o meu cão torrão, se não me enganei nas contas, somos cinco.

- Costumam ler livros ou jornais? Pergunta Amélia sem tirar os olhos do bigode da Toninha.

- Eu leio muito pouco mas gosto de ler, só que já me falta a vista, leio a Maria e o jornal, a página onde colocam os falecidos para ver se vem alguém cá da terra a Maria ajuda-me a compreender como anda o mundo. Isto está muito mal senhora doutora veja lá que nesta ultima edição vinha lá um rapazinho a perguntar o que devia fazer, tinha nascido com três tomatinhos e não sabia o que havia de fazer à vida dele, o pobrezinho tinha lá aquela coisa dos complexos, e o raio da Dr.ª que responde àquelas desgraças, respondeu-lhe que ele devia sentir-se feliz por ser um homem avantajado e mais…só desgraças, outro a namorada ficava chateada quando o rapaz praticava o coito interrompido mas nessa já nem li a resposta ora se ela ficava chateada por o fulano ter a picha interrompida ai até eu ficava ao menos o outro tinha três tomates já dava prà fazer uma rica salada.

Toninha bigodes desata a rir e manda uma grande bufarda à Amélia, esta sorriu entre dentes e respondeu:

- Pois, pois…e o seu marido, os seus filhos gostam de ler?

-Gostam sim senhora, o meu Xico é um rapaz muito esperto, acabou este ano o curso das novas oportunidades já vai fazer dezanove anos para o ano, coitadinho teve que deixar a escola porque era hiperactivo é uma doença muito complicada, só lhe dá para dormir de dia e depois à noite vai até ao centro com os amigos da Venda da Gaita, veja a senhora doutora ele parece que só fala inglês desde que acabou o curso, eu vou chamá-lo para ele lhe responder. – Xico! Ó Xico anda cá a senhora doutora quer falar contigo.

Amélia corava como um presunto e a voz ia enfraquecendo:

- Não vale apena incomodar o gaiato, ele deve ter muitos afazeres.

- Nada disso, senhora doutora e voltava a berrar: - ò Xico!

- Poça mãe, não sou mouco, que queres? Dizia o gaiato com cara de mau.

- Vá lá Xiquinho a senhora doutora quer saber se gostas de ler, senta-te aí.

- Ya, doutora tá-se bem, eu gosto de ler tipo a Bola, os filmes dobrados em português, as revistas do meu pai, tem lá cada monumento, quer que lhe mostre?

Apressadamente Amélia sem demora responde:

- Não Chico, acredito que sim…

Toninha toda contente olha para o filho e diz:

- Eu sabia que ias seguir a profissão do teu pai, és o meu orgulho. Puxa-lhe pelas bochechas com um sorriso enorme.

- Ó mãe bebeste? Deixa-te dessas cenas. Levantou-se e voltou para o quarto.

A mãe com o bigode mais aguçado virou-se para a Amélia:

- Eu não lhe disse que o meu Xico era um menino muito esperto? Por este caminho vai seguir o dom do pai. Sabe o meu esposo é mestre-de-obras, ele é unha com carne com o senhor presidente da junta as empreitadas cá da aldeia são todas feitas pelo meu esposo e por metade do preço mas ele é muito correcto a factura vai sempre com o dobro do valor conforme o senhor presidente lhe pede, a verdade se diga também não pagamos aquela coisa do imposto, sabe como é uma mão lava a outra. Quem tem amigos não morre na cadeia. Bem agora já sabe que o meu marido lê livros sobre obras e monumentos. Agora a minha filha já é mais sobre dança.

Amélia interrompe:

- Dança? Mas ela é bailarina tirou algum curso, formou-se?

- Não senhora doutora, ela abandonou os estudos aos 14 anos, quando acabou a quarta classe, foi um desgosto, ela tinha tanto jeito nas línguas, sempre que chegava a casa (parece que a estou a ver) corria para mim toda feliz e dizia, “- mãezinha hoje o Serôdio da venda deu-me um linguado”, no início cheguei a fazer figura de idiota pensei que era peixe depois ela explicou-me que era uma língua nova. A minha Milinha da racha tem vinte e dois anos, já trabalha como bailarina desde dos dezassete e lá vai ganhando o bocadito dela.

Amélia não hesitou, ironicamente abreviou-se:

- É bailarina numa discoteca e trabalha à comissão ou a recibos verdes?

Toninha bigodes desatou novamente às gargalhadas:

- A senhora doutora agora teve graça, é à comissão, as pessoas que lá vão ficam verdes mas é de inveja, porque a minha filha não é para o bico de qualquer um da forma como ela dança ainda vai parar ao Teatro do Las Férias.

Amélia levantou-se, pedindo licença:

- Dona Toninha bigodes bem tenho de ir, o dever chama-me, ainda me faltam mais dois inquéritos mas…

Toninha interrompeu:

- Já vai senhora doutora mas e o resto das perguntas?

- Não se incomode dona Toninha bigodes conseguiu responder a todas elegantemente e digo-lhe mais, como diz o ditado “uma mulher de bigode ninguém a come…”, ahahahahahah, até qualquer dia e dê cumprimentos à família.

- Obrigada senhora doutora, você também tem a sua graça, mas olhe que o ditado não é assim, ahahahah, dê lá cumprimentos ao senhor presidente e disponha sempre que quiser, tenha uma boa noite.

- Ai Jesus, lá se foi caralho do pernil assado que comprei na venda do Picha frita…

Viva as estatísticas, os vigaristas, viva a educação!


Conceição Bernardino

http://www.luso-poemas.net/modules/newbb/viewtopic.php?topic_id=3126&forum=86


sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Imagens




São as folhas mortas
Nas calçadas desertas
São os caminhos de lama
E a terra esbatida

É o suor de Agosto
É o verão posto
É um outono reposto

Que chegue de novo a primavera
Que s'inventem novas cores
Que cessem todos os mares e todos os rios
Que sejam criados novos movimentos
Em imagens tornadas vivas
Na minha memória

O livro esperado (de AnaMar)

Um convite para todos. Conhecidos, desconhecidos.

ESCRITO NAS ÁRVORES, de poesia (dizem) :-) sábado, 26 de Novembro, 15 horas, Palácio Belmonte, em Lisboa.Com a compra de cada exemplar está a contribuir com 1€/livro para a organização sem fins lucrativos FUNDAÇÃO FLORESTA UNIDA!!!!!


Mais um livro da Nanda



A Autora, Fernanda Esteves, e a Editora Lua de Marfim têm o prazer de convidar V.Exa a assistir à Sessão de Lançamento do livro de prosa e poesia "Cont(r)o_versus", que terá lugar no dia 19 de Novembro, pelas 15 horas, na Biblioteca Municipal de Palmela sito no Largo São João Baptista, 2950-204 Palmela.Obra e Autora serão apresentadas por Magda Luna Pais e Vera Sousa Silva."


quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Sou apenas o espaço que ocupo no tempo

Se tudo é espaço e tudo é tempo
Então, todo o homem é espaço e tempo
E se modifica e se transforma por viver
Na razão do sentimento que por dentro sente.

Sou apenas o espaço que ocupo no tempo
E é pouco de se abraçar
Mas, há por dentro um imenso e oculto
Que aos meus braços, é muito de alcançar

E da vida já vivida, em nada especial
Quer tenha sido pela noite, ou pelo dia
Existi no simples pressuposto temporal
De ocupar o espaço, que em mim cabia.

Vagueio


(Imagem google)







Vagueio sozinha
na vereda da noite
Nem a lua me ilumina
Nem uma estrela brilha
Somente o uivo distante
me acompanha.
Sigo esse uivo constante
e encontro-me só
Nem querela de amigo
Nem tu estás comigo.
Vagueio sozinha
Vagueio pelo trilho
da vida que não talhei.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

No ardor louco d`um amor nú



















Na brevidade do momento
e na impaciência do peito,
parti… tão somente

Levava o anseio na leveza das mãos
e o incenso na cor dos olhos meus

Vi no meu olhar as palavras
dos segredos ímpios do olhar teu
e as mãos soltaram-se febris
na macieza cálida do teu corpo

Calou-se embriagado o ar
suspiros ciciantes afagam-se
nas brancas paredes do quarto
e ali, no leito repleto de tempo
amam-se os corpos…..
na avidez sôfrega do tudo

Em desassossego beijam as bocas
em talhes delirantes de paixão
e o tempo brinca nos cabelos feitos fogo
dos corpos sedentos, trémulos
dádiva de serem libertação

Ouve-se o silêncio do mundo
e no leito feito do nada
o tudo acontece, como rios de lava
delirando as fortes batidas do coração

Não há medos, não há sombras
não há sempre, nem nunca
nem tempo, nem outros
só corpos redescobrindo-se
no ardor louco d`um amor nú

Escrito a 10/11/11

É JÁ ÍDA SEM CHEGAR...



O coração anda no sonho iludido
Num vôo alegre, como ave
madrugadora, por sobre a seara.
Acaba o sonho surge a ferida
que não sara.

O coração é imprudente
Mais do que suponho!
Não há nada que não invente!
Corre atrás do sonho.

Ninguém pergunte seu destino
Nem qual a razão
deste insensato desatino.
Vive ancorado na ilusão
esquece a dor,
o desalento e o temor
e vive choroso de alegria.
Bate apressadamente durante o dia
E compassadamente ao anoitecer
É já ída sem chegar.

Como combóio que partia
E eu na estação a acenar.

Tempo vencido
Aridez das horas vazias
Coração destemido
Vivendo ainda de utopias.
Á espreita para libertar minha solidão
Nega-se á rendição.
Alheio ao passar da hora
Se julga o menino de outrora.

rosafogo
natalia nuno
imagem retirada do blog imagens para decoupage.


DOU POR TERMINADA, A MINHA COLABORAÇÃO NESTE BLOG, agradeço a todos quantos me acarinharam neste espaço e aos Poetas amigos que me comentaram o meu muito obrigada.
Não retiro nada do que aqui postei e que coloquei com muito prazer, mas sempre chega a hora em que tudo acaba, me fico por aqui, felicidades para todos.

domingo, 13 de novembro de 2011

LUZ QUE NÃO SE APAGA

-Proíbo-me de te não recordar

De te não ver tal qual és

Te não auscultar da fronte a lucidez

De te não adivinhar arguta a mente.

-Proíbo-me de não sentir teus passos

De te não ver no passo largo e másculo

De te não recordar o vibrante encanto

Na riqueza humana que jorrou de ti

-De esquecer o sensível que és, proíbo-me

Como de esquecer o belo que conheceste

Na arte na amizade e no amor estou certo

Que tempo tiveste para sentir de perto.

-Não me perdôo que um dia passe

Sem que pensar em ti passe também

Não consinto que em mim cesse

Esse Filho que foi para mim Alguém.

-Memória de ti guardarei sempre

Na busca perene da verdade

Pensar em ti é firmar na mente

A sede que há em mim de Eternidade.

Antonius

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O Sancho é real D. Quixote



Não tentes calar a minha voz

Com o fato metálico de chapa ridícula

Onde não há lanças nem archotes nem árvores suspensas.


- O Sancho é real D. Quixote!


Enche os bolsos de lendas antigas

Mastiga os pássaros caídos na valeta

E acena às crianças pobres um futuro miserável


Não tentes calar a minha voz

Com o relinchar de um cavalo de pau

Onde as ferraduras são feitas de trevos e vertigens


- O Sancho é real D. Quixote!


As cidades adormecem por baixo de outras cidades

Onde as lixeiras e o lodo do rio trás à tona o condenado de Victor Hugo

O cio cresce na boca dos saqueadores e a saliva afia a guilhotina


- Já crescem cabeças nos campos de trigo D. Quixote

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Musa

(Escultura: Ricardo Kersting)


Navega nesse mar de sonhos
Mas não me deixes ficar em terra
Firmes são os meus traços
Mas fraco o meu corpo

(Não te esqueças que mesmo no teu sono, eu entro
Sou musa que povoa essa imensidão azul)

Inunda o céu com a delicadeza da espuma branca
Quero-te mar eternum, e terra sem fim

Volta-te para mim

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Entre o mar e a lua


Abafam-se as ondas deste mar
e os ruídos da noite escura,
brilhando nas águas o luar
por entre sedutora brandura.

Sonham-se enredos de magia
entre as palavras e os gestos,
suprem-se máculas na nostalgia
e esquecem-se tantos protestos.

Sintonizam-se pelos semblantes
num olhar de mútuo consenso,
vislumbrando doce harmonia.

Brade o mar os sons latejantes
em aromas de puro incenso
e com a lua leva a noite fria.


António MR Martins

imagem da net

domingo, 30 de outubro de 2011

Algemas persistentes

















Oh mar
Amima meus pés
sussurra o soluço das ondas
diz-me porque és

Oh mar
calmo ou bravio
leito morno sem pavio
Inspira-me
perdida ando
na foz do murmurejar
que te corre de lês a lês

Oh mar
do meu olhar
de saudade marejado
na espuma que te veste
dá-me o degredo
desejado

Oh mar
que abraças
as rochas perfumadas
sois algemas persistentes
nos passos meus
atadas

Oh mar
porque insistes
invadir-me sem senão
nos dias em que te resisto
e debilmente murmuro
o tão doloroso não

Escrito a 29/10/11

sábado, 29 de outubro de 2011

JÁ OS CHOUPOS SE VERGAM

H. Zabateri decoupage

Já o trigo se dobra
ao amor p'lo vento
Também a vida me cobra
A plenitude do momento.
Já os choupos se vergam
sobre as águas do rio
Também meus olhos enxergam
Dias vindoiros de frio.
A ave voa peregrina
p'lo poente dourado
Esqueci meu tempo de menina
Que passou...é passado!

Corre o regato no vale
Pressa leva no caminhar.
A esquecer todo o mal?
Chovem meus olhos ao te olhar.

Passa o vento e faz rumor
Esquece a tarde que o poente dourou
Como pássaro abrigo-me... amor!
Que o tempo de mim te levou.
Andam pardais nos olivais
Decoram a paisagem alegremente
À vida ninguém foge jamais,
ao sofrimento,
ao tempo inclemente.
Tudo nela são passos contados
É viver cada momento
E agradecer de joelhos prostrados.

Os dias cobertos duma certa claridade
são agora sombrios
são a forma
que é nos meus olhos
a saudade.

rosafogo
natalia nuno
imagem ret. do blog imagens para decoupage

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Dizem...

Dizem do frio nos olhos confusos
E da chuva na alma difusa.
Dizem do gelo nos telhados quebrados do sentir
A construir, reconstruir
E nada me dizem.

Dizem das mãos estendidas aos barcos no cais
A dizer acenos de adeus
E do aperto no coração aberto
Aos braços que partem
A dizer embalos ao corpo dos seus.
Dizem do sol na estrada do saber
A percorrer, recorrer
E nada me dizem.

Dizem do vento tristeza cravado nos dedos
Que percorrem pela imagem
A dizer dizeres de amor
A lembrar, recordar
E nada me dizem.

Dizem das flores carmim
Colhidas no jardim da noite
A dizer estrelas nos lábios
E do sabor a mel nas colmeias alheias roubado
A dizer às abelhas segredos.
Dizem, e de tanto dizer
Nada me dizem.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

“Já não há pombas da paz”


Soltam-se as pombas bravias
com penas de múltiplas cores,
que estão da paz arredias
e propensas aos desamores.

Multiplicam-se entre jardins
e pelos espaços do mundo,
são criadas para outros fins
neste planeta moribundo.

Desencadeiam guerrilhas
e rumores sem mais sentido,
num declínio em que tudo jaz.

Lembram-nos algumas matilhas
onde nada é mais ouvido…
“Já não há mais pombas da paz!”


António MR Martins

imagem da net

Noite




Chega a noite
Diva dos meus suores
Lúcida
e
Transparente

Noite que chega sorrateiramente
Gélida
Perspicaz
Arrepiante
Acutilante
Que me mata
Me deixa pálida

E são medos
e
Mais medos
E angustias…

Pensamentos
e
Mais pensamentos
Fazem-me perder todos os sentidos
Congelam-me todo o meu ser

Enfim, chega a aurora
Mais um dia igual a tantos outros
E logo a noite…

Azáfama de mais uma noite
Noite intrépida
Noite que me arranca
E descarna toda a minha fome
A de um ser amargo…triste

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

MEU CORAÇÃO SE APERTA

华丽幻想艺术 :  Josephine Wall 天国的精灵插画集 19 - 时间飞翔 :  华丽奇幻精灵插画壁纸

Dias de Verão tão lentos
Sento-me na margem da tristeza
Olhando o tempo e a distância
Sopra o vento da incerteza
Enquanto a vida avança.
À distância um longo caminho
E o tempo do amor de antes
Palavras mortas em pergaminho
Palavras que se guardarão para sempre
num cantinho do coração amante.

Esquece-se a lágrima de rolar
E o sangue deixa de palpitar
Sonhos da vida, sonhos meus
De forma clara dizendo-me adeus.

Letra a letra...deixo escrito
Nos muros da minha alma o que vai
O silêncio vazio...o grito
No hoje e no amanhã que de mim sai.

natalia nuno
rosafogo
Este poema ´foi a forma que encontrei para
homenagear uma grande amiga -minha amiga Haeremai.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

ALGUMA COISA EM MIM



Quero cerrar os olhos
Esquecer a vida!
Deixar-me a ouvir o regato
no vale
E numa ventura infinitiva
Deixar o sonho ser real.
Este sonho que é feito
de migalhas entrelaçadas
Dum tempo que trago no peito
com imagens amadas.

Embacia-se a vista
com o fumo que se desata
das lembranças
O passado minha memória conquista
Recordo o tempo das esperanças.

As palavras ficam quietas na boca
No coração uma terrível estreitura
Um vendaval lembrando ser já tão pouca
A Vida que trago presa à cintura.
Darei meu coração por alimento
À vida que me traz derrubada
Se até meu respirar é sofrimento
Que mais queres de mim?
Vida danada...

natalia nuno
rosafogo
imagem do blog vintage

PÁSSARO DE FOGO


Entro nos jardins encantados e temíveis

Habitados pelo misterioso e pelo ameaçador

Persigo o amor sonhado

Seguindo o maravilhoso pássaro de fogo

Que capturo e logo liberto

Às suas veementes súplicas

Ele quer a sua liberdade

E promete-me auxílio

Para te encontrar e seduzir

.

Criaturas malévolas e mágicas

Espíritos vulcânicos flamejantes

Rodeiam-me sem tréguas

O pássaro surge rompendo o ar

Fico suspensa pela sua dança infernal

Cheia de vivacidade e ligeireza

.

As forças do mal são destruídas

O pássaro desaparece no infinito

Tu chegas como uma lâmina de luz

E ficamos no encantamento do beijo

E na imortalidade do amor…

OUT. 2011

(Inspirado no «Pássaro de Fogo» de Igor Stravinsky)

terça-feira, 11 de outubro de 2011

QUANDO SE NOS ABREM OS OLHOS

Neste instante
Neste preciso instante
Está a acontecer em mim
O milagre de te ver
E ao sentir o milagre
Ao dele tomar nos punhos
A consciência
Senti arrasar-me o remorso
Sentimento amargo
Que nos faz recuar no tempo
Mas não mais que no tempo
No azedume do imponderado
Da distracção sem retorno.
Ao ver-te assim tão linda
No deleite do teu encanto
Considerei o tempo perdido
Tempo que todos perdemos
Distraídas criaturas que somos.
Proíbo-me de descurá-lo já amanhã
Fazer dele coisa vã
Exijo de mim fundo despertar
Ao mais belo
Ao mais apetecível
Ao mais suculento dos frutos
Esse que do Amor furta o nome

Antonius

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

para não dizerem que falei do mar...


descaracterizo o tempo
em estações de ventos azuis.
ao longe, em terra instável,
os gritos das folhas arrancadas a seco
são crosta quente desprezada,
pot-pourri sem cheiro
de originais memórias.

aqui, o olhar atreve-se às águas
sem arco-íris,
só cristais de sol virgem...

aproveito o tempo:
é sempre tempo de sombras
se a luz assiste,
mas nem sempre nos sobra
o tempo que existe...
Sterea

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

NÃO É FELIZ QUEM QUER

às vezes há…um nó na garganta, um frio no peito…

pedras cuspidas…reflexões que não mudam nada …

peso de culpa não existe, só peso do sentir persistente…

caminhando por aí de olhos vendados…

fazendo as coisas do dia a dia com tristeza ou alegria…

a noite chega o sono não vem…

a visão de ti burila nos dedos e na alma…

tudo num andamento de éter …

e se existes é porque penso em ti…

uma leveza pesada de te ter em mim…

barco com roubo sempre a meter água em dias de sol…

chuva de Inverno e de Verão…

ponho uma venda nos meus olhos, não quero ver…

quero manter meu reduto de pureza…

algo imaculado que emana da minha alma…

que me deste com palavras do além…

não quero ver nem ser vista…

basta esta emoção…esta confiança…

este sorriso por dentro de mim…

não estou no escuro…estou em leveza…em apaziguamento…

guiada pela posse de ti no meu pensamento…

que ocupou um grande espaço…

estou a segurar a simplicidade purificadora…

num afecto que desliza como um rio…

há o carinho, o apelo ao cuidado, os olhos da essência…

estou cega e confio, vou existindo…permanecendo…

guardei -te cá dentro… tu dizes que não…

tu dizes que é ilusão…tu dizes que é nada…

e eu sinto-me golpeada no meu âmago…

Outubro - 2011