terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Meu para sempre...

Uma noite destas vi a eternidade
A me envolver em breu – intemporal e espesso
Num abraço desigual, cumplicidade
Que por minha alma insubjugável agradeço.

Infinito coração, infinita felicidade…
Quando penso que tu és meu para sempre…
Carla Costa (01/09/2011)

Entre tudo e nada...

Apatia, sensatez, beleza ágil
Tal qual vidro que se estilhaça tu és frágil…
Teu olhar disperso no vago, no vazio
Espelha memórias de outrora
Essa paz, serenidade, essa calma!!
Nova aurora?!
Ficas aí, imóvel…entregue ao mundo
És obra feita, palco pisado, pano de fundo
És aplausos, daqueles que se dão de pé
Teu olhar hoje é vazio…
Mas tua vida?! Cheia de emoção, cheia de fé!
Quem te olha bem, olhos de ver ou de sentir
Esboças sorrisos, novo dia a emergir
Tudo começa, tudo se vive, tudo se acaba
Tu sabes bem, que na verdade….
Sim, na verdade…somos TUDO e somos NADA.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Num aspergir sem fim

Há dor tamanha, empoleirada no cume
das ramagens delirantes no centro vazio do céu

Não há secura que seque o gotejar das verdes ramas
aspergidas de sal, pigmentadas de calor

Não há sol tamanho que aqueça a clorofila… exausta

Não há rio que alcance as gementes águas
na dor espelhada das águas inertes

Mas há um olhar diáfano da cor vítrea da alma
num aperto infinito que dói em foliáceos timbrados
num aspergir sem fim

Multidatas

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Faz tempo, que não me vejo por aí

Parei naquele espaço de tempo
Onde se apeiam pensamentos.
Um espaço no tempo que torna memórias
As viagens que fiz.

Momentos, aqueles que antes os veneraram
Hoje não podem ver, cegaram.
São muros erguidos.
São muros obscuros
Construídos dentro de uma lâmpada e partidos
Reconstruídos em ruas desertas, pelas mãos da solidão.

A multidão que se perdeu na hora incerta
E eu… eu, sempre fui atrás a encurtar distâncias.

Nas minhas botas nascem flores
Dos lugares por onde passei
Crescem-me, tatuados pelo corpo
Os nomes das pessoas que amei.

A tentação, na acção que se impõe
Correr…
Corri com olhos nos pés, mas não vi.
A ilusão, na sombra que se sobrepõe
Adormecer…
Adormeci nos buracos onde cai e fiquei.

Percorri meio mundo, já trago nos pés um jardim
E nas mãos, todos os rostos do amor que toquei.

Distante esse mundo que desistiu de mim
O imaginário… as realidades caídas
Que me puxam ao profundo do tempo
Por mais de mil vidas.

Faz tempo, que não me vejo por aí.

JOGOS DE ÁGUA



Sou tão feliz que nem sei onde colocar a alegria!
Soprei para longe culpas e pecados
Dilui-me nos bosquejos da ternura
Não me pertenço, dou-me, gota a gota
Num manancial sem fundo
Viajando pelos arabescos da tua pele exsudada!

Quero tempo para sentir tudo devagar
Sempre há mais mundo
A descobrir
Quando o corpo se faz alma!
Tacteio
O jorro de um lago imenso
Que verte do teu corpo
E me inunda como uma corrente!
Em ti me deito
E respiro teu beijo
Que se fluidifica na minha boca!

O teu abraço protege-me do mundo
Em ti esqueço o sótão do desânimo
Onde o desamparo se compactou em pó
Contigo as poeiras se levantaram desatinadas
Como peixes a girar famintos e sequiosos!

Jan-2011


Dúvida


A dúvida entrou de mansinho
Descalça … sem pés…
Instalou-se
Sentou-se
Fez do coração sua morada
Reteve o sentir da alegria
Da confiança, do ser
Na morada roubada tudo retirou
O coração esvaziou
Em nada ficou!
A dúvida permaneceu
Continuava a batalha do ser
De ganhar ou perder
Almejou sair
Mas como sair se a dúvida existia
nada a demovia,
nem a certeza de que já nada havia!

Lua cheia.


Trago a lua cheia nas mãos

... iluminando o espaço

são do tempo os traços

do tamanho do mundo

Trago sois escondidos

no fundo dos bolsos

para me iluminar

em caso de escuridão

Trago a esperança

escondida nas entrelinhas

de um poema

guardado na palma

da minha mão.


São Gonçalves

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A CHUVA E DEPOIS O SOL

vintage bird

Há sempre um par de lágrimas prontas a cair
Há pelo menos uma que cai
Preciso dum par de asas, quero ir
De onde a memória não me sai.
E cresce, cresce esta vontade
E vem soltando gritos
E são pranto de saudade
Parado nos meus olhos aflitos.

E se caem em desespero?
Não me arrependo de as perder
Pois se o choro é sincero?
Eu choro ... de tanto à vida querer.

Sob o sol que nasce a cada dia
Carrego aos ombros os anos
os desenganos,
e a esperança já tardia.
Mas outro outono virá!
Pondo nos meus olhos o sol
A serenidade a mim voltará
Os pássaros me esperarão
Voltarei a ser no campo um girassol.
E o meu sonhar não será em vão.

rosafogo
natalia nuno
imagem ret. do blog imagens para decoupage

Eu em ti

(imagem da net)


Sinto a garganta seca, árida e ofegante
Como quem deseja um copo de água fria
Num deserto abrasador

Reparo na imagem imaculada
Faraónica e predadora do desejo voraz
Sanguinário do teu corpo
Fico fria, impávida e serena

Carne despida, mergulhada em suor incolor
Palpitante a serva do prazer carnal
Lúcida, atenta e pronta para o amor
Mas o coração fraco em batimento irregular

Amor eleva-me ao bradar de um salmo
Navega comigo na cauda de um cometa azul
Vai…leva este ser a viajar
Coloca-me na almofada do teu leito
E ajuda-me a não acordar do sonho
De mulher fonte do mundo sem fim

Energia do prazer invade o meu jardim!

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Peditório Urgente


Caros cidadãos, venho por este meio prestar a minha solidariedade com o nosso amigo Aníbal e a sua Mariazinha, peço-vos encarecidamente que ajudem e contribuam com alguma coisinha. Este pobre homem só recebe onze mil trezentos e quarenta e dois euros mensalmente. É impossível com este rendimento aguentar o custo de vida, como pode este casal de desgraçadinhos viver com dignidade se não ganham o suficiente para pagarem as despesas no final do mês?

Enviei cartas a todas as instituições de caridade do nosso país até para o albergue dos sem-abrigo da Trindade que se prontificaram logo a dar-lhes uma sopinha quente o problema é que a Mariazinha não gosta de comer na marmita só sopas de pacote e o Aníbal faz alergias à couve lombarda só engole as de Bruxelas. Bem que eu andava desconfiada, porque o homem só abre a boca para dizer; “eu avisei que isto não andava nada bem”.

Por isso seja solidário envie para o Palácio Nacional de Belém o que puder, arroz carolino, santolas, cheques visados, cupões de descontos dos hipermercados, raspadinhas, lotarias, produtos de beleza para a Mariazinha, porque a verdade se diga a senhora anda muito mal das peles, eles aceitam tudo desde que o valor seja superior ao rendimento mensal.

Eu já fiz o meu donativo mandei-lhes um das Caldas bem grande para irem gozar com o caralho

Ajude, eles sempre foram tão poupadinhos, enviem-lhes o manual, “como viver com cento e cinquenta euros mensais

Viva a igualdade, viva o Presidente do choradinho

Conceição Bernardino

Pensamentos congelados

E este frio cortante
Que a cada noite se fortalece
Devassa-nos a concentração

O sentido das palavras
Em vãs exultações
Já não urde quaisquer perspectivas

E o frio mais empobrece
A resistência comum
Regelando tantos corpos amorfos

Alguns movimentos
Sacodem o mau estar
E o estado latente
Em que essa congelação acontece

As palavras continuam
Sem apoio valorativo
E tudo se esfuma
Velozmente

A inocuidade estabelece
Os próximos condimentos
Sem tempero nem paladar


António MR Martins

Os dias que passam….

revelações eminentes
realidades que se convertem em outras realidades
que nada tem a ver com o real

partes de um puzzle que muda a cada momento
mas mantém a causalidade
das suas elucubrações sombrias e tenebrosas!

visiono a existência a partir dessa outra realidade
fomentando a ideia de arbitrariedade

contida no meu espírito…
o pensamento nem tem tempo para parar
e olhar o tempo que passa,
vou vivendo e vendo
o que ainda terei mais para ver!
ms.jan.2012

sábado, 21 de janeiro de 2012

Limites

Pelos passos na noite fria
Onde a luz não retorna
E o som se confunde
Com a penumbra escondida

Se reclamam sentidos
De espectro inconsequente
No continuar do caminho
Pelo tempo de tanta espera

Há um limite para tudo

António MR Martins

ESCUTA


pedaços de sonho,
jardins para os meus olhos passearem emoções,
iluminações intermitentes, no bater do meu coração
palavras tresmalhadas, que abrem janelas da alma
e me deixam com uma acelerada pulsação.

encontro e desencontro…
solidão, ruído, eco,
ténue ponte
avistada na luz da madrugada,
marulhar da água na secura da paisagem,
fronteira entre o verde e o amarelo
para achar o azul…

por ti meu amor ando
voluptuosamente
em constante viagem sideral de desejo!

foto.ms

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Este país não é para totós





Contra-indicações: se sofre de gases, azia, urticária, varizes, hemorróidas, acne, enxaquecas, lombrigas, bicha-solitária, pés de galinha e outras coisas acabadas em inha não leia, caso sinta algum destes sintomas procure de imediato um totó.

Ando com um totó entalado no nariz, o raio do macaquinho entope-me as fossas nasais de tal forma que nem um balde de água do mar o afoga, já experimentei de tudo, pinças, cotonetes, lipoaspiração e imaginem só que até o tubo do aspirador tentou suga-lo mas a única coisa que aspirou, foi uma moeda de cinquenta cêntimos, fizeram-me cá um jeitaço dos diabos estava mesmo tesa que nem um jaquinzinho.

Existem vários tipos de totós, para cabelos compridos, curtos, ondulados e para carecas, confesso que o meu preferido é daquele mesmo totó até ao tutano que compra todos os manuais instrutivos para totós. Estou a pensar seriamente abrir uma instituição de apoio ao totó e para totonas e angariar umas croas à custa desta classe mais desfavorecida. Dói-me muito quando vejo um totó a chorar por maus tratos de foro cabeludo ou narigudo, tudo lhes pega é piolho, chato, sarna, carraça que dá cá umas comichões entrefolhos que nem vos conto. Pobres vítimas da civilização enfiados por baixo das carapuças e dos chapéus de palas circulam por todo o lado e se abanarmos muito a cabeça o coitado vomita, porque não consegue aguentar uma mexedela de consciência, precisa sempre de uma cabeça que o guie, nem que seja a do alfinete que é bom para furar balões em dias de festa, ou na procissão da nossa senhora dos caramelos sem açúcar para segurar no estandarte dos chupas. Ai por falar em chupas, já me esquecia de comunicar aos totós que já existe chupas à venda nas farmácias a custo baixo ou alto, conforme a medida do totó, são feitos de vaselina com sabor a arroz de pato, não vá alguém lembrar-se de prender os cabelos do cú.

Viva os totós, viva a liberdade dos caramelos!

Conceição Bernardino

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

VIDA PEREGRINA

Se a gente sorri ou chora
É porque ter o coração quente,
Dá vontade de sorrir e de chorar!
Rir e chorar, é condição
Forma luminosa e comovente,
E é no exacto ponto da lágrima/sorriso
Que está o milagre da emoção!

Sorrindo e chorando se vive
Num abraço de consonância casual
Pela penumbra do que não se vê
Tão real e simultaneamente tão irreal!

Confronto nem sempre pacífico
Entre a humanidade e a transcendência;
Desenhando o quotidiano
Com lugares de memória,
Milagres da Natureza
Afagos do fado e do vento...
Com passos firmes para o desconhecido
Entre a voz aguda das inquietas gaivotas
E o piar jubiloso dos pássaros
No seu voo indefinido!

Mergulho na metafísica do coração
Nas cavidades onde se esconde o amor,
Que receia ser mostrado
E surge tímido, frágil, cheio de temor,
Pela vulnerabilidade de se dar
Com fingimentos de verdade,
Nas inquietantes ressonâncias
Das metáforas da vida peregrina
Até à saciedade!

O caminho faz-se num nó cego
Sempre de olhos em riste
Com mãos afeiçoadas
Num amor excelso!
A vida é sempre um provir e um devir!

jan.2012

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Ah se eu pudesse

Ah se eu pudesse, num sono profundo
adormecer os fios azuis, que colijam a alma
albergar o livre branco no meu olhar
então as vozes erguer-se-iam do ventre
em monossílabos consonantes pintados
do silêncio emudecido da dor

Afluiriam os rebentos virgens das vinhas
desgarradas das densas ervas carcomidas
e jorraria o vinho, do cálice sagrado da cruz

Pudera eu adormecer os fios azuis
que coarctam o meu peito e as vozes
clamariam em clamores de liberdade

10/1/12

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Horizontes

(Foto D.M. Moção uma aldeia esquecida em Castro Daire)


Sonho ser
Pardal do telhado
Nas manhãs
Soalheiras do Outono
Chilreando no parapeito
Da tua janela
Ao teu acordar

Sonho ser
Cantora de ópera
No teu coração
Em melodias
Ancestrais do amor

Sonho ser
Pintora das tuas
Telas pitorescas
Em jardins suspensos
De lírios brancos

Mas:
Triste o pardal
Que perdeu o encanto
Deixou de chilrear

Renegada a cantora
Que perdeu a voz
Deixou de cantar

Cega a pintora
Que perdeu a visão
Deixou de pintar

Pobre a sonhadora
Que perdeu a alma
Deixou de sonhar

sábado, 14 de janeiro de 2012

SÓIS DE OUTONO


Já se tecem sóis de Outono
Mornos... de sombra tecidos!
Fica o tempo ao abandono
Foram-se os tempos floridos.
É bem real esta ventura,
que me trouxe até aqui
Não esqueço a vida dura!
Mas foi bom o que vivi.

Nasci alecrim cheiroso
Nascido no coração da ribeira
Hoje coração rochoso,
morrendo de tanta canseira.
Ganhei na vida gavinhas,
a que hoje em dia me agarro
Quero ir longe...loucuras minhas!
Pois meus pés já são de barro.

Meus sonhos apenas migalhas
Têm ainda o seu sabor!
Meus sentidos cheios de falhas
Mas no coração trago amor!

Foi-se o solestício de Verão
Ficaram lânguidas as violetas
Na minha fonte a sequidão
Cicatrizes? Não curam no âmago dos
Poetas.

natalia nuno
rosafogo

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Corpos Soltos.

Corpos soltos


Corpos soltos
nas passereles do destino
fragilidades suspensas nas curvas
delineadas da esperança
sopros de vida
insuflados nas manhãs
da desventura

equilibrios transcendentais

e uma brisa suave
acariciando
os sonhos virgens
de uma alma de criança.

São Gonçalves

PASSOS DE AUSÊNCIA

foto: marisa soveral

Pelo sol de Inverno, caminho de mãos nos bolsos
O meu olhar estende-se pela encrespada maré
O cheiro da maresia entontece-me
Penetra em mim como um bálsamo!

Lembro os teus carinhos apressados pela manhã A forma como acordei
Com os teus braços enlaçando-me
E tuas mãos afagando os meus seios!

Solta no tempo, olhei os teus olhos abertos para o dia
Prestes a deixar-me
Queria reter o teu corpo
Começar tudo outra vez
E meus lábios se colaram aos teus
Num último beijo que queria ser infinito!


Agora ouço os meus passos na calçada
Passos e mais passos
Para gastar este tempo sem ti
Na expectativa do tempo que chegará
Para te abraçar com o cansaço da ausência…
Para nos apertarmos
E destilarmos os líquidos
Dos nossos corpos
Moldados na celeridade do enlevo!

Jan-2012

DANÇA DO DESEJO

Foto de: um filme para PINA BAUSCH de WIM WENDERS


Numa dança existencial
Com movimentos suaves e violentos
Circulei por um espaço circunscrito
Em linhas circulares
Traçando meu percurso
Na voracidade muda do grito!

Desenhei pelo próprio movimento
Um tempo que não se esgotou
Preenchido de imaginário fermento
Poético e hipnótico
Que habitava a mente de certezas
Em gesticulação transcendental
Transversal à ilusão e ao sonho
Mas alcançável e essencial!

Dialoguei intimamente com o corpo e a alma
Reflexo do tempo que passou,
De silêncio, seca, fragilidade
Origem, deserto, sobrevivência!

O deserto ultrapassei
Para me achar e não perder
E encontrei em ti o oásis
O fluxo da gravidade
Da minha dança
Para te agarrar e te prender!

JAN.2012

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Aos pés do tempo

Do chão que arranca o meu peito
crescem girassois despetalados
no orvalhar silencioso da noite
da pele que me cobre os olhos

Ardem gerberas rubras, inundadas
pelo despentear mudo dos corpos imoveis
no emaranhado lusco-fusco do tempo

No fugidio olhar gotejante
irtam as mãos desmembradas
e num electrocutar vagante
jazem quentes os dedos no poema
caídos aos pés do tempo

Ah se os olhos cegassem por um momento
e partissem na desfolhada do sentir
não haveria dor alguma, querendo
dissecar o estupido tempo

Escrito 10/1/12

POEMA NATURAL


Rasgaram-se as carnes
ao grito de guerra
e em dores de partida,
ânsias de chegada,
fez-se luz nascida
a vida anunciada
pelo estremecer da terra
de véspera arada.

E no peito arfante
um coração cansado
explode emoção,
como se o descanso
tivesse chegado
(que leda ilusão!)
e com ele o amor
há tanto esperado!

E o poema faz-se,
em entrega e papel,
a poesia acontece,
escrita na pele...

Rasgam-se cordões,
cravam-se raízes,
e é tudo tão simples,
tão natural,
quanto o momento
intenso e fecundo
em que uma mãe
põe um filho no mundo!...

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Dúvidas

Dúvidas, tenho-as
Dúvidas de ser
Dúvidas de aparecer
Dúvidas daqueles
Que nos presenteiam
Com prémios eternos
Fórmulas mágicas
Que há vida
Para além da morte

É magia? É pura?

Tenho dúvidas
Dúvidas sim
Até de ser quem sou

O Tu Cá, Tu Lá no Futuro

Tendo como objectivo quando da criação deste blogue a partilha da escrita, ele foi crescendo, através da entrada de alguns autores que fui convidando à medida que os fui conhecendo e falando, em eventos desta natureza e com quem já mantinha contacto através dos sites onde publicávamos. Foi lançado o primeiro desafio para uma antologia, o que aconteceu em 2009.

Com a entrada de novos autores, o blogue recebe assim uma nova dinâmica, e pensa-se então numa segunda antologia, que continua nos mesmos moldes da primeira. Penso que o prazer com que certas pessoas se empenharam neste espaço, e a forma como sempre o viram, fez dele o que é hoje. A Liliana Jardim, foi a primeira pessoa que convidei, e juntas ainda conseguimos manter a forma inicial que era a escrita em forma de diálogo, num Tu Cá, Tu Lá, digno de registo, fazendo jus à ideia inicial, com o poeta Francisco Coimbra. Contudo, com o avançar do tempo, esse espírito deu voz a outros espíritos que nele entraram, e nunca se exigiu nada aos autores a não ser publicarem um estilo livre. Livre também é a vontade de cada um, em querer ficar ou ir, e por isso, existem autores que só mantém o seu nome, não tendo qualquer tipo de participação. Não é por aí, que a liberdade da escrita deixa de ser o que é, livre e espontânea, directa ou indirecta, escolhendo os momentos certos para acontecer. Assim se constroem os momentos, e com eles, a nossa disponibilidade para poder e/ou, não poder satisfazer os desafios que a vida nos lança.

Gostaria muito que todos continuassem a publicar e a partilhar o que sempre nos uniu, a vida e com ela um jardim imenso onde as palavras se toquem e façam destes encontros um encontro ainda maior. Por isso, e porque pensei desde algum tempo passar a responsabilidade a quem conheceu as razões e o início deste blogue, e porque são pessoas que sempre acreditaram neste projecto, a Liliana Jardim, a minha primeira convidada para publicar neste blogue (e que aceitou organizar esta segunda antologia), resolveu aceitar também o meu convite, para continuar a fazer deste blogue um espaço de partilha. Já tinha sido nomeada administradora do blogue, mas embora com algumas “reticencias” da sua parte, pensou, e agora compromete-se comigo a administrar na íntegra um espaço que é de todos. Estarei sempre presente e irei estar atenta, como responsável pela criação do espaço e autora, mas delegando na Liliana Jardim, a responsabilidade no que toca a novos convites e ideias futuras para o blogue, e até quem sabe uma próxima antologia. Sempre e sempre darei o meu apoio, como aconteceu nestes últimos meses. Não posso virar costas definitivamente a um espaço criado por mim, assim como nunca viro costas a espaços fechados, por muito trancados que eles estejam, porque na forma, somos todos um, embora livres no pensamento, e por conseguinte nas escolhas.

Assim me despeço de todos os POETAS e com um agradecimento muito grande pela partilha e por estarem presentes.

Dolores Marques

Comunicado

Os meus agradecimentos à Natália por ter feito o favor de trazer os livros do Porto.



Informo todos os autores que não estiveram presentes na apresentação da Antologia, de que ainda esta semana penso ter os livros em meu poder para os fazer chegar aos seus destinatários, para o que, necessito da vossa morada. Poderão entrar em contacto comigo por mail: doloresmarques@gmail.com ou telefone: 963206654


O meu abraço a todos

Imagens que ficam, Palavras que se entrecruzam- (Antologia Tu Cá, Tu Lá, II)

Compilação de poemas dos autores que integraram esta antologia, por São Gonçalves


Não sendo estudiosa nem conhecedora profunda da vasta obrado grande poeta Fernando Pessoa,apenas como mera leitora e admiradora dos seus enumeros poemas e dos heterónimos,posso destacar que o poeta através da sua imensa e vastíssima obra des...bravou caminhos que tinham como objectivo o conhecimento da natureza e da condição humana,nos seus mais variados e complexos aspectos.A religiosidade a metafisica,a filosofia ,as inconstâncias da alma,foram temas por ele explorados,numa ânsia de dar sentido a vida e a existência,.
Ora esta antologia tem como linhas principais esse mesmo objectivo,Não sendo uma antologia temática,não obedece a um só tema,a uma só linha de pensamento,tendo portanto esta liberdade enorme de abarcar nela e na sua diversidade todas as temáticas que compõem a busca e a procura de uma existência mais abrangente e pacificadora.
Cada autor na sua singularidade a na sua diversidade tenta com as suas palavras encontrar conceitos que expliquem a complexa estrutura inerente à condição humana.
Aqui estão representados pelos variadíssimos autores,a condição espiritual e metafisica,as alegrias,as tristezas,as memorias e as saudades...o amor ,a ligação a terra e a natureza.
Debrucei-me sobre a nota introdutoria,porque é a meu ver aqui que se encontra toda a riqueza e toda diversidade ,é a coluna dorsal desta antologia.
Nestas pequenas notas introdutorias encontramos uma enorme diversidade de questionamentos e repostas que nos levam a amar esta antologia e a pensar que é única e diferente,das muitas que tenho tido nas mãos ,não é apenas uma compilação de poemas de vários autores,mas um resumo desta nossa viagem pela terra e pelo espaço sideral.



Lurdias Dias(cleo),faz na sua nota introdutoria as perguntas fundamentais que nos leva ao processo criativo.."afinal quem somos. de onde viemos ,o que fazemos aqui"
Estas são as perguntas que todos nos fazemos constantemente na nossa vida diária e que tentamos através da escrita encontrar respostas,e as respostas estão nos variadíssimos autores.E porque para tentarmos compreender esta nossa passagem pela terra ,somos sujeitos a inúmeras mudanças."E porque a mudança é a evolução do conhecimento de nós próprios". Escreve Anamar.Ou em Conceição Bernardino "quantas vezes me escuto numa pausa de cinco compassos,o encontro com a escrita e com as verdadeiras questões existenciais nas pausas que se tem de fazer.

Maria Gomes por exemplo,da como titulo ao seu conjunto de poema "fragmentos de um destino".Ou Clarisse Silva"Cinco temas o mesmo destino,o destino da cada um de nós"
Marisa Soveral explora a vida e os seus antagonismo,"o belo e o terrível,o amor que purifica e o desamor que destroi,a felicidade e a infelicidade. Ainda sobre o amor Ana Martins na sua participação "Sempre" escreve que "o amor é o único sempre de que se faz a vida".A todo este conjunto de sentimentos podemos acrescentar a poesia da Maria Antonieta Oliveira,com os seus "sentires"



Natalia Canais Nuno,com os seus "entardeceres nocturnos"onde compara a sua poesia a beleza da natureza e a sua constante mutação e transformação.Podemos ler de como a ideia da distribuição da terra nos pode dar uma imagem poética plena de sentires,em" Mi(n)fundios""amostra dos frutos que cultivo"Teresa Teixeira.
O amor,os seus encantos e desencantos é sempre um tema incontornavel na vida e na escrita,Gonçalo Lobo Pinheiro,explora aqui "O teu olhar", As desilusões e as frustrações no campo do amor"a libertação de sentimentos antigos para dar espaço a novos sentimentos



As fragilidades da condição humana,o tema explorado por São Gonçalves,o ser humano visto nas suas forças e nas suas fraquezas,a fragilidade dos corpos,dos sentimentos,do passar do tempo.
Os sonhos explorados pela mão de Eduarda "Sonhos etiquetados",Ou a visão do mundo com Fernanda Esteves.
A perfeição e a imperfeição explorados pela mão do poeta José Carlos Patrão, o mundo real e mundo imaginado uma realidade do mundo moderno e consequencia das ligação ao mundo virtual,onde segundo autor se intensificam as qualidades em detrimento dos defeitos.A procura do autor em se encontrar nas suas qualidades e defeitos...
A sátira ,na escrita de Lobo Duarte,uma visão mais lúdica da vida.
E a inexorável passagem do tempo sempre presente nas nossa vidas,Runa escreve "seguindo o escoar dos tempos.Também Antonio Bernardino escreve "janelas do meu tempo""E na passagem do tempo nascem as memórias,tema riquíssimo no domínio da poesia,trazido aqui por Verissimo salvador Correia,"memórias que o tempo não consumiu".Luis Sommerville,associa o sentir a um relógio ajustado,onde as palavras escorrem do passado e desaguam no presente


O silêncio e alma metamorfoseados em palavras,nas mãos de Liliana jardim"Solto a alma nas folhas,tingidas do pretérito...versos esculpidos no silêncio"
E a transformação da nossa pequenez em algo mais grandioso através da escrita de Dolores Marques ,"Fios de luz"são os fios que devemos seguir ,"rituais de transformação que nos purifique a alma e acalme os corpos,a escrita como balsamo ,para as fraquezas do corpo.
"viver ,simplesmente,e o corpo se ajeita,o pensamento coaduna-se através de rituais sistémicos,desliga-se do invólucro que traz sempre que há madrugadas claras e olhos postos no céu."

No entanto ,tudo é relativo e tudo pode ser tão diferente no sentir da cada um,António Martins escreve na sua nota"Pro eminencias""A relação entre a relatividade e a existência de cada sentir".

Este é o meu trabalho sobre a obra, que gosto e que tenho mais uma vez a honra de fazer parte.
A todos os autores a maior sorte e o maior sucesso.

São Gonçalves.

Que este seja só mais um passo, no seguimento da partilha entre todos, objectivo da criação deste blogue, para que nas palavras nos encontremos.

A todos o meu muito obrigado, pelo que fizeram deste dia!


(Dolores Marques)


(Fotos - Natália Nuno, Via Facebook)

domingo, 8 de janeiro de 2012

GOTA DE ORVALHO


Pende o orvalho reluzente
Os pássaros imperturbáveis gorgeiam
A fronte me pesa e lentamente
Os pensamentos se passeiam.
A insónia vem agitar-me
o sono
Na saudade vem afogar-me
e nela me abandono.

Meu coração descansa
já a tudo tão alheio
O sol confuso se afastou!
Ficou minha memória apaziguada
E de palavras me rodeio
Aqui estou,
no meio de tudo e de nada.

Os pássaros fazem-me sinais
Suas vozes são vozes do céu!
Tantas coisas novas e velhas cantais,
que o desejo de viver
o coração acolheu.

E os sonhos que sonhei,
os anos que por mim passaram,
tudo o que no peito calei?
As minhas palavras não calaram.

Já no céu estrelas pontelhadas
E a Lua traz aquela luz que é nostalgia
Vão-se as noites, surgem as madrugadas
Invento o amanhã num desdobrar de utopia.

natalia nuno
rosafogo
Imagem do blog - imagens para decoupage

2º Antologia Tu Cá, Tu lá – A Força da Amizade


Quando a poesia se despoja do sussurro das palavras
confinadas à geometria enigmática da solidão do poeta
e veste o colorido mistério que incendeia na luz dos rostos
a transparência cristalina de mil sorrisos partilhados;

a amizade pode ser o mais belo dos poemas declamados


Quando a poesia rima com a fraterna respiração dos sentidos
e um sopro de sílabas abraça a sintonia fugaz dos corpos,
não importa de que lado da margem rugem as vogais do vento
nem quão distante e sinuosa é a métrica dos caminhos;

a amizade será a candeia que irá alumiar o resto da viagem


Mesmo que o sol se esgote no ardor obliquo das noites
e as asas exaustas, sigam, esvoaçando rente ao chão,
podemos sempre, num impulso ousado de mariposa,
cerrar os olhos e ascender ao mais inacessível dos Olimpos

___________________________________________________________

Foi para mim um enorme prazer ter ido ao Porto e ter conhecido tanta gente, nesta que foi a minha estreia nestas andanças. As palavras acima, são a minha forma de agradecer a todos o carinho dispensado. Até breve.

Grande abraço

Runa

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Amanhecer, em mais uma noite

As feridas caem nas pétalas cansadas como álcool, por um rio só, a meio da cama. Ontem uma fogueira, nas mãos para ti, percorria-te em toques e suspiros. A alquimia da hora tardia desnudou o amanhecer deserto, tantas vezes, por tanto tempo. No lençol branco, mais uma rosa largada a vermelho, morria, talvez. O frio à cabeceira, no desaguar de passos em saída, lá longe, aqui tão perto, pela janela cinzenta. A árvore, com vento num adeus às folhas e ao chão, anoitece.

A chuva
vai castigando a noite pela manhã
lá fora
aqui tão dentro.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Saudações




Saúdo-Vos Amigos de todos os tempos, amigos de um tempo que não cesse nunca, para que não me sinta só mais uma pessoa a caminhar descalça.

Caminho mas num andar brando quase inanimada, sem força nas pernas, nem a força necessária no corpo, para poder avançar.

Esforço-me mas não sei como chegar, sem pisar as mesmas pegadas que já foram varridas pelo tempo há tanto tempo.

Amigos que me vêm sem me saberem de outro lugar, que não o das palavras que escrevo, vêm além delas mesmas, ou então, além de mim neste plano onde o abandono se fez lugar e o esquecimento se fez pesar na minha mente.

Tento alcançar a longevidade, doação desde todos os tempos mas não sei onde me encontrar.
Tento lembrar todos os eventos que tiveram lugar, num outro lugar e não alcanço esse lugar.

Porque nada me diz nada, não sei como conseguir chegar.

De que vale ter olhos e não ver, ter pernas e não andar, ter corpo e não se saber movimentar,ter os sentidos todos, e não saber como usufruir dessa dádiva de todos os tempos.

Tenho medo de cair, e caio tantas vezes quantas as que me fizeram chegar.
Tenho medo de andar e ando tantas vezes quantas as que me fizeram partir.

Só sinto medo:
medo de perder o andar
medo de perder a fala
medo de perder a visão
medo de perder a sensibilidade necessária para o prazer desmedido que me faz ser ainda alguém, pronto para aceitar a vida e tudo o que quiser ser, ou não ser, mesmo sem conseguir caminhar.
Saúdo-Vos amigos!

******************************

(Escultura - Ricardo Kersting)

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Antologia Tu Cá, Tu Lá



Participantes da Segunda Antologia Tu Cá, Tu Lá, a ser apresentada dia 07 de Janeiro no Porto





AnaMar

Antonio MR Martins

Antonieta (Avozita)

Antonius

Ana Martins

Conceição Bernardino

Clarisse Silva

Dolores Marques

Dark ( JC Patrão)

Eduarda Mendes

GLP

Liliana Jardim
Luiz Sommerville

Lurdes (Cleo)

Lobo

Maria Gomes

Marisa Soveral

Natalia Nuno

Nanda

Runa

São Gonçalves

Teresa (Sterea)

Veríssimo Salvador Correia (por Olema)



Obrigado a todos eles por tornarem possível o TU CÁ, TU LA