terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Realidades Alternativas

O universo das palavras
Mostra-se desordenado
E paralelamente
Um canto perdido

Versos delinquentes
Vozes corrompidas
Soltam uivos aos ventos
Morte encenada
Numa longa estrada

Canção iletrada
Ecos de nada
Musica cismada
Engendrada
Nos corredores da alma

E as estrelas
Baixam os segredos
Declinam o sol
À inconstância do que reluz

Às cegas
Correm desvairadas
Em carreiros incendiados
Entre o alegórico
E o mútuo reconhecimento da dor

As luzes brilham só por um dia…
Visão singular enquanto dorme
A alma esvai-se
Procura-se num compasso
Ritmado…a dois!

Plantados na mudez solarenga
De um poema
Soltam-se dos beirais dos telhados
Respingues da chuva

E a fluidez dos versos cantados
Abrem-se às gotas de orvalho
Vislumbram-se novos trilhos
Arrastam-se nus
Nas pedras da velha calçada

Onde te escondes?


Onde te escondes no meio da multidão?
Por de trás de que rosto?
Por que caminho vagas?

Onde te escondes nos meus sonhos?
Em que nuvem voas?
Em que onda flutuas?

Onde te escondes no meu pensamento?
Não vejo nenhum rosto,
Não recordo palavras…

Onde te escondes nas noites ao luar?
Serás a estrela que mais brilha,
Serás a estrela Polar?
Será essa a tua casa,
Será esse o teu olhar?

E as palavras que procuro,
Serão elas ditas no silêncio da noite?
Será o teu toque tão suave
Que me aconchega no meu leito?

Serás tu a razão da solidão?
Do meu viver atordoado,
Da ausência da paixão?
E que razão
me dás para viver?
Se o teu rosto desconheço,
O teu toque e o teu cheiro…
As palavras caladas
Num silêncio ensurdecedor…
Nem um olhar de magia,
Nem um sorriso arrasador…
Nada me dás se não a angústia do desejo,
O pecado da curiosidade,
A incerteza de um amor…

Mimmy

Hubbard


Há um barco à deriva
nas palavras e gestos
amarrotados no mar onde
escondo os pensamentos
para não serem iluminados
por mais ninguém
mesmo que tragam flores
na mão e paz nos bolsos
para ensopar de sangue
as guerras sem limites
se os homens sem olhos
não sabem ver o chão.

Que pisam.

Descontentes mas vibrantes
de segredos mal escondidos
escritos e esquecidos.
O lirio branco, um gostar
sem fim de jardins proibidos
infinitos de sal nos olhos
e sussurros de vida
transparentes, palpitantes
caíndo a direito sobre
o peito à maré vazia
onde pés molhados prometem
pisar a areia se a onda
morrer no horizonte.


domingo, 21 de dezembro de 2008

Fascinação




Que lindas!
Que belas!
As estrelas no céu sem fim!
Olho para elas
Elas para mim
Que lindas!
Que belas!
As estrelas no céu sem fim
Mas... é dia...
Ah, já sei!
Dormia...
Sonhei...
Mas... aquelas estrelas
Tão lindas
Tão belas
Que eu vi lá nos céus...
Estou a vê-las
Meu amor
Nos olhos teus!

Conceição Bernardino

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Cacharolete

Atravessei quase a pé
a angústia das palavras
polidas no teu olhar
que viaja rompendo
as copas das árvores
vivas e sem raízes
onde acaba o
cacharolete das palavras
que tinges de azul

Magenta e limão
tons, cheiros, costumes
áridos e secos de
felicidade redonda e seca
espalhada ao acaso
nos olhares
que amanhecem
nas planícies sem água
do deserto
em vagas incertas
de lamentos repetidos
desencontros e mentiras
com eco de quatro passos
que trincam o soalho
do hotel de Praga
mal iluminado e bafiento.

Os lençóis são
limpos e frios
aquecidos com tempo
e olhos vendados pelo
coração da menina
que foi à escola
para não aprender
que nunca se morre
nos meus olhos
mesmo que mintam
à superfície, para
proteger a carne nua
das miragens que
se vêem ao longe
fora da calmaria
das bússolas com
azimutes de trazer para casa
paixões perdidas
porque estamos sós
e não seguramos
o bater das asas.

Calvário

Nos ombros... A Cruz
Destino por si próprio traçado
Vida sob o comando da vida!

Preso aos cravos da Cruz
Num palco não apropriado
Para si atrai o olhar da eternidade!

Insere no tempo
Não uma simples Cruz
Mas o sinal dos sinais...

Numa profusão sem limites
Florescem as rosas
E o sopro perfumado de amor.

Ulysses Laluce

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Contra-Senso

Que as palavras que não escrevo
Me sigam em pensamento
E as vozes que não ouço
Se fustiguem num só sopro
Que circulem com o vento

Que os nomes que não lembro
Me façam criar a eternidade
De um momento
Um mero acaso que se define
Neste contratempo

Que os sonhos que não sigo
Se concluam com o tempo
Visão alucinante...
Um olhar, um contra-senso
Nos limites deste centro

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O mar no meu olhar


Escuto o sussurrar do mar
Segredando segredos inaudíveis
Como uma carícia humedecida
Afagando o calhau vivo da praia
Num vaivém ternurento de prazer

E eu que faço?

Banho-me nessas ondas espumosas
Onde mergulho sem temor
Consciente da época invernal
Que importa

Em murmúrios flamejantes
Dispo-me das sombras enegrecidas
E visto-me do soalheiro do sol
Brilho ameigada pela quietude
Dessas águas cristalinas
Da ardência do meu sol
Cintilando em céus límpidos
Em melodias sensoriais
Em corpos vestidos de amor
Perco-me na imensidão de sentires
Feliz de ser o que sou
De usufruir das ondas e do sol
Desta minha ilha seduzida
Por ti….. praia idílica

Onde o horizonte longínquo
É a quimera do meu sonho de mulher

domingo, 14 de dezembro de 2008

Intemporal (Do you want to make a memory...)


Penso-te em ondas de desejo
único,
violento
repetido,
colorido,
intenso,
perfumado,
assim o beijo sem fim
eterno enquanto dura.

Olhas-me
e o tempo pára
tocas-me
e reeinvento o momento
contínuo movimento
mágico
fascinante,
impossível
como tu.

Nascido em mim


Canto este fado
Nascido em mim
Em tom alinhavado
Com notas de cetim

Dizem ser saudade
Chamam de dor
Eu tenho para mm
São lágrimas sem cor

Estrelas semeadas
Luas enfeitadas
Sois procurados
Constelações viciadas

É tudo o que tenho
Nesta lembrança cansada
Fica o esperar
Nesta saída emparedada

Escuro infinito
Percorro tacteando
Ao fundo a luz
Para mim acenando

Com notas de cetim
Canto este fado
Nascido em mim
Em tom alinhavado

SOZINHO...


Suspeito que me invado constantemente com sonhos de outrora...
Suspeito que sonho, ausentemente, onde me encontro agora...
Estarei ainda contigo...???
Estarei além...???
Estarei sozinho... mas ausente de quem...???
Ardilosamente, rastejam até mim...
Inconscientemente, permito a aproximação, ilícita...
Insistentemente, afasto quem sinto, de relance...
Enfim...
Mantemos a distância segura, em que insisto...
Nunca sentimos que esta esteja explícita...
Sendo assim... Estou sozinho...
Mas sozinho e ausente de mim...???
Será este pensar em que não existo...???
Suplico-me para voltar...
Sem mim... O nosso plural se voltará a ocultar...
Apenas tu existes...
Mas onde...??? Ausente de quem para estares aqui...???
Não sabes onde navegas...
Não sabes quando sossegas...
Não sabes... Mas eu sei...
Quando ausente de mim te encontrei...
Este será meu julgamento...
Serei o arguido...
Sem defesa possível, vocifero, escrevo, grito...
E serei ouvido...
Mas nunca serei escutado...
No peito... Um orgão sem música, lancetado...
Defendo-me de mim...
A qualquer hora...
Por um momento...
Defendo-me de ti... Quem sabe, de forma sucinta...
Mergulho no mar, no rio, na chuva...
Mas minha alma nunca será limpa...
Molhado, húmido até à raiz da desorientação...
Vejo uma infindável, eterna, uma nómada multidão...
Será que ali passaste...
E em momento de cansaço inevitável, meu olhar com o teu não cruzei...
Meu olhar baixei e minha turva visão quebrei...
E não o cinzento, nem o vento de tua sombra...
Apenas vislumbro a usual penumbra...
Não presenciei tua real cor...
Mas existe... Eu sei...
Do alto do teu canto vês um abandonado monte...
Naufragado na rocha, ali jaz um encarnado ponto...
Num mar escuro de proíbido azevinho...
Local ideal para um rasgado e visual encontro...
Minha água ali corrente, onde será sua fonte...???
Quem me vê és apenas tu...
Aquele singelo ponto... Apenas eu...
Sozinho...
Só a paixão existe...
Só eu estou triste...
Nada, nem ninguém neste local àrido subsiste...
Apenas um desalinhado caminho...
Onde me procuro, e encontro...
Sozinho...
DARKRAINBOW

sábado, 13 de dezembro de 2008

O meu fado

Este fado que canto
Em que rio e choro
Abraço o desencanto
E beijo a morte
Caminhos percorri
Lutas travei
Desafios aceitei
Nesta vida de má sorte

Viciados são os dados da vida
Até doer gargalhei
Ri para me ouvir
Acreditar assim que era feliz
Amei como sabia
Sonhei quando podia
Apostei onde não devia
Agora estou perdida

Não foi mal de amor
Nem tão pouco reles ilusão
Foi nascer na hora errada
Protegida por alma desventurada
Sina tão mal escrita
Que por linhas tortas
Sempre andei
E sempre tão mal lidas

(Peço desculpa aos poetas colaboradores deste blog, pela minha tentativa de fazer um poema, acontece que ando com este escrito à 3 semanas a bailar na minha boca. Não resisti. Desculpem)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Encosto-me aos Sonhos do Mundo

Colorindo o pensamento
Eu sou tu, e tu és eu...
Entrelinhas do meu pensar
Assim me encontro
Entre um e outro
Sem conto e história a contar

Se dermos enfoque à acção
Tu e eu recriamos momentos
Num céu a pintar...
Eu e tu misturamos as cores
Lembramos os nomes
E as lendas que ficaram no mar

Colorindo as cores do céu
Encosto-me aos sonhos do mundo
Acorda teu reino ao meu chamado
Meus olhos são o princípio e o fim
Amanhecem nas costas da aurora
Sentam-se no trono sagrado

Mª Dolores Marques

LUA MÁGICA


Quantas vezes olhamos o Céu..
sem vermos o seu azul.. carregado de sombras de aves..
Nuvens vivas que te saúdam, com suas penas sedosas…
…como as queria tocar.. como te queria sentir…
Fazer parte de uma beleza imaginária..
Uma natureza veloz no horizonte..
Maravilhamo-nos com o azul do mar…
As cores do arco-íris…
O verde do campo…
Mas tudo que nos invade os sentidos se altera,
Consoante a luz do dia, ou da noite..
A tua cor.. a tua energia..
Apenas a tua beleza mágica me percorre a qualquer hora…
Todos vêem o que irradias de dia..
O teu reflexo que nos afaga o cabelo à noite..
Para eles és um satélite que percorre a Terra..
Para mim só percorres o meu corpo..
Mesmo distante…
És um segredo da minha alma..
Apenas eu sei que és humana..
Só eu sei..
Só eu te ouço em silêncio..
Só eu sei que tua beleza tem mais cor que qualquer arco - íris
Teu reflexo de alegria tem mais força que as ondas do Mar…
Que as linhas do teu corpo não têm limites..
Para o toque dos meus dedos…
E só tu sabes.. o quanto eles te podem tocar..
Mesmo te vendo, apenas através do teu brilhar..
Mesmo me vendo, do alto do teu altar..

DARKRAINBOW

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Alma...perdoa-me


Tenho a alma descalça
Ela em queixumes lamenta suas feridas
Procuro quaisquer sapatos para a calçar e…não encontro
Tenho a alma perdida no escuro
Ela por mim grita…e soluça
Procuro uma lanterna…e não encontro
Tenho a alma despida
Ela chora seu frio
Procuro roupa para a confortar…e não encontro
Tenho a alma faminta
Ela com sofreguidão pede comida
Procuro uma refeição…e não encontro
Desculpa alma
Perdoa-me se fores capaz
Tuas necessidades já não são mais as minhas
Desculpa alma
Perdoa-me se poderes
Estou a trair-te eu sei
Sei que queres minha força
Precisas da minha garra
Mas eu já não quero mais
Alma, sempre foste companheira
Alma, obrigado por tua companhia
Alma, não fiques triste
Um dia tinha que acontecer
Sonhei sem nunca contar as vezes
E todos eles só foram sonhos…nunca mais do que isso
Recomecei vezes sem conta
Corri, lutei, em tudo sempre me dei
Nunca virei a cara a um desafio
Desafiei o destino
A morte anulei
A fome venci
Fui amada como ninguém
Gargalhei até doer
As lágrimas anulei
Cantei alto para me ouvir
Amei… como sei
Minha vida troquei para oferecer vida
Um dia tinha que acontecer
A guerreira está vencida

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

QUERO...

Queria ser um pássaro para as asas fechar…deixar-me cair neste abismo que em eco chama por mim
Queria ser a folha no Outono, que dançando caí no chão e que já ninguém a olha já ninguém a vê…e finalmente na terra descansa
Queria ser um barco qualquer…para me afogar na primeira ondulação
Dava-me tanto jeito deixar de se covarde
Esta teimosia de que tudo consigo ahhh não passa de cobardia
Esta persistência de que tudo venço aiiiiiii não passa de vaidade
Queria ter a força de saber desistir
Queria ter a coragem de saber ser vencida
De nada vale escrever e reescrever sentires ou emoção…quando dentro de mim morreu aquilo que me prendia aqui
Sonhar é muito bom…quando temos permissão para o fazer
Receber é óptimo…quando não temos que pagar o resto dos nossos dias, os juros desse prazer
Rir é arma mortífera, de tanto rir por desprezo aprendi a desprezar a vida
Quero muito o dia em que já não gargalho e finalmente permito uma gota de orvalho nascer dos meus olhos
Quero muito o dia que olho para mim, e saber que naquele dia tenho a coragem e a força de encontrar a sabedoria que estou vencida




terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Novos Sonhos de Inverno


Descem da montanha novos sonhos
Carentes e sem nova direcção
Mergulham no nevoeiro que dorme sobre o rio
Beijam levemente o solo sagrado deste vale

Passou agora aqui o vento do Norte
Dos telhados das velhas casas
Rolam flocos de neve
Na lareira crepita a lenha para um novo serão

Da minha janela abrem-se novos sorrisos
Encontros no meio da solidão
E o sono desce leve e solto
E eu colada no sofá da sala

Os meus olhos vêem por aqui um céu aberto
Subiram ao cume mais alto
E choram lágrimas ao sol
Diluem-se sempre no fim do verão

Mª Dolores Marques

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Verão em fuga



Espero o tempo das uvas maduras
das castanhas,
da neve em flocos
e
das lareiras acesas.

Espero
a chuva que há-de
escorrer-me da tua memória
o vento
que te afaste
do meu pensamento
alguém
que me segure os passos
para que eu não te siga.

Espero
Setembro,
num mês de adeus.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Sei lá...

Um novo estilo de escrita? Será uma transformação emocional?
Foi-me dito em tom de interrogação
Sei lá…novo estilo…transformação emocional…evolução…amadurecimento…pouco importa
Escrevo como escrevo
Sou quem sou
Estou como estou
Se é um grito… se é um choro…se é um encolher de ombros…se é um desprezo em tom de gargalhada…talvez mesmo um virar de costas…sei lá
É o que é
Pouco importa, analisar para querer saber e com isso compreender
É engraçado nada sentir, estou desligada e muito serena
Sei lá…é como se eu fosse dona do TEMPO
Sei lá…é como se eu fosse rainha da terra do DEPOIS
Sei lá…é como se eu fosse senhora DO ACASO
Pouco importa se estou acordada
Pouco importa se durmo
Estou por estar
Correr atrás do incerto…?
É pouco coerente
Segurar nas mãos a certeza…?
Inteligente não é
Viver na neblina do sonho sorridente…?
É negligente e credulidade a mais
Abraçar o acreditar…?
É tão pouco consistente
Novo SENTIR?
Nova etapa?
Novo estado de alma?
Novo olhar?
É possível…sei lá…provavelmente nem quero saber



Virar de página...

11h da noite, bebo um álcool qualquer, cigarro na mão, tenho frio o sono pesa e…dou comigo a escrever
É como se eu fosse desventrada por um grito assassino
Dói-me o corpo
Pesam-me os olhos
É como de minha alma estivesse morrido
Escrevo sem pensar
Escrevo porque preciso escrever e…sem nada para dizer
Mais um golo com garra
Mais uma passa com ganas
E volto a escrever
Quero sentir
Preciso sentir
E…rio
Rio de mim
Rio da vida
E rio de nada sentir
Deito o passado fora em caixotes
Dou a memória a quem quero bem em caixas
Tudo coisas, somente coisas …nada mais do que objectos
Quem recebe…fixa-me nos olhos não querendo acreditar…e lamentam, e querem negar
Eu rio, gargalho…e…dói-me o corpo
Olho para as novas paredes…e acarinho os móveis meus conhecidos
Vejo um fragmento e outro do passado e…ainda espreito o futuro…ridículo nada sinto
Mais um golo
Outro cigarro
Estou inteira, estou viva…estou bem
Vira mais uma página desta minha vida



Zinabre


Colorido das luzes
questionável ausência
das nódoas sobre as
luzes em agulha
que perfuram virtudes
e silêncios de gestos
sem dono.

O gume das facas
percorrendo as veias
do corpo inerte
solidão de luzes acesas
de brilhos em que
a tua cor é ausente
das viagens que apenas
começamos juntos
e acabam no espaço
da imaginação
mesmo quando estamos
deitados e me perguntas
se podes gritar.

(e)

Ninguém te ouve porque
o Sol me está a bater
nos olhos e sou
apenas mais um cego
dos sentidos
ao sair à rua de
papel na mão
à procura de amarguras
para escrever à
mesa do café, se
estou inundado de mim
e de felicidade
teletransportada nos teus
lábios, seda e cheiro,
hálito de respiração de
hospital, anestesia
nos olhos felizes, vidrados
em dor e exaustão.

Tecidos e mulheres
espreitando, voluptuosidade
flutuante, errante
na crina das
palavras com futuro
onde arrumo sonhos
peregrinos, confessados
sob hesitação, por
entre as dobras dos
lençóis amarrotados
suados, misturados
com vestígios da tua pele
de marfim florido, sépala
da imaginação que
desabrocha no gelo
de olhares lentos e chuvosos
errantes, cristalinos de extâse
e paixão escondida
por entre fumo de tabaco
de estranhos a usar
curativos para tapar feridas
da alma que surge
repentina no timbre
onde murmuro ideias
recortadas, flutuando
à superfície dos teus
movimentos ondulantes
e difíceis, sobre o meu
corpo que te acaricia
por dentro, carnívora
flor branca de espasmos
descontrolados, observados
pela respiração e
cantados em versos
timbrados
proibidos de ler
nas estradas onde líquidos
escorrem por entre sinais
intransitáveis de medos e
perigos que não medimos
porque não sabemos como.

Desabrocha devagar
não sobrevivo às tuas
explosões de carácter
característico e afogamo-nos
nas ansiedades que
dividimos, olhando em silêncio
o vazio.

Paulo Lopes

sábado, 6 de dezembro de 2008

LIVRO DE FANTASIA


Quero ler teu segredo…
Me embrenhar em teu livro sem medo…
Minha alma pelo peso de momentos espalmada…
Marca uma qualquer página escondida da tua vida…
Um destino, uma estrada, uma ideia perdida…
Respiro a poeira dos tempos…
Me sento contigo, esqueço meus lamentos…
Ambos perdidos numa multidão de leitores…
Nem nos olham, apenas lêem páginas vazias, sem cores…
Ouço passos na sala…
Um piano toca sozinho, sua música, sem dedos me embala…
Ninguém volta a cabeça, é um pulsar na minha mente…
O bater deste pêndulo que alguém chamou coração…
Relógio antigo sem corda, sem vidro, sem som…
Apenas palavras surgem por minha forte emoção…
Sem respirar levanto-me, afasto a cortina…
Pela janela escapam dois ou três raios...
Que a tua mão suja de tinta ilumina…
São letras, palavras em círculos, sem significado…
Tua alma as baralhou para esconder o pecado…
Preciso fazê-las ganhar o teu, o meu sentido…
Reescrevê-las nas páginas em branco do meu livro perdido…
Mas minha caneta, quase sem tinta…
Que escreveu nele prefácio sem nome…
Contigo aprende a arte daquele que com os dedos um quadro pinta…
Uma imagem duma lareira, de ti, de mim, do nosso lume…
Desenha comigo de olhos fechados…
Quatro mãos entrelaçadas em sintonia…
Neste livro o epílogo de minha fantasia…
Em percorrer teu colo…
Sentir teu calor…
Se necessário sofrimento…
Assim grito ao vento…
Assim clamo por dor…

DARKRAINBOW

Sonho proibido



Tranco-me por dentro
numa tentativa de fuga.

Em breve partirei de mim,
como se de outro eu se tratasse...

Avançam as lágrima secas,
violência e paixão
num olhar vagabundo.

Percorro a casa vazia, em busca de sombras.

Respiro lentamente
o perfume da lenha queimada.

Uma fogueira por arder.

Dor no peito
e
nas mãos
a
impotência da acção.

E o sono que não vem

Imensurabilidade universal




Les Fleurs Sauvages - Instrumental


Partilhamos sentimentos, emoções
Amores renascestes e ancestrais
Rasgos de afagos ardentes
Assim … espontaneamente

Tocas-me em desvelos de ternura
Imensurabilidade universal

Buscas o cerne em ti, em mim
Engrandecida pela pulcritude
Intemporalidade efémera de nós
Juntam-se palavras carentes
Obramos a amizade transcendente

Aqueço-me no soalheiro do teu sol
Zarpo no azul desse teu mar
Unto-me de doce maresia
Libertando devaneios de mim, de nós

PARA TI BEIJO AZUL

Liliana Maciel

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

LÁGRIMA DE VIDA...


Sustenho, teoricamente, esta água salgada...

Que em meu mar alto não nasceu...

Sinto-me vivo por sofrer...

Sinto-me vivo de forma inacabada...

Tristeza permanente é algo perverso, que nunca se desvaneceu...

Alegria eterna é utopia, que nunca quis erguer...

Sei que existirei, quando esta lágrima soltar...

Sei que existi...

Mesmo com a face distorcida...

Beijarei as fauces à besta...

Aproveitarei o que me resta...

Olhos vermelhos, raiados de vida...

Boca dormente, que treme sem lutar...

Saliva que escorre...

Num chão degradado se vai prostrar...

Ostento um dislexo sorriso...

Porque sei que ora vivi...

Triste???...

Apenas saber quem sou depois do que narrei e sofri...

Triste???...

Apenas saber quem és...

E já não estares algures...

Ou porque não???...

Aqui...


Darkrainbow

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Mãe



De repente era de novo Setembro
e Setembro nem sei bem porquê.

Talvez
porque as chuvas vieram mais cedo
e as lágrimas que eu tinha
continuam salgados
no meu peito em ferida.

Maio passou de fugida
muito subtilmente
tal como as rosas virgens de um amor perdido.

É assim o tempo,
a doer na memória de um Verão livre
ou de um Inverno quente.

A solidão existe onde quer que eu vá
mesmo nas ruas de néon
de uma cidade que invento
minha,
a vontade de que alguém fique comigo
no meu mundo
tão sem cor,
quando te perdi.

Resta-me a memória.

E hoje
o que eu mais queria
era que estivesses aqui.
Ou eu aí.

Para sempre.

Virar de pagina


11h da noite, bebo um álcool qualquer, cigarro na mão, tenho frio o sono pesa e…dou comigo a escrever
É como se eu fosse desventrada por um grito assassino
Dói-me o corpo
Pesam-me os olhos
É como se minha alma tivesse morrido
Escrevo sem pensar
Escrevo porque preciso escrever e…sem nada para dizer
Mais um golo com garra
Mais uma passa com ganas
E volto a escrever
Quero sentir
Preciso sentir
E…rio
Rio de mim
Rio da vida
E rio de nada sentir
Deito o passado fora em caixotes
Dou a minha memória em caixas , a quem quero bem
Tudo coisas, somente coisas …nada mais do que objectos
Quem recebe…fixa-me nos olhos não querendo acreditar…e lamentam, e querem negar
Eu rio, gargalho…e…dói-me o corpo
Olho para as novas paredes…e acarinho os móveis... tão meus conhecidos
Vejo um fragmento e outro do passado e…ainda espreito o futuro…ridículo nada sinto
Mais um golo
Outro cigarro
Estou inteira, estou viva…estou bem
Vira mais uma página desta minha vida