sábado, 27 de agosto de 2011

DESEJO

Procuro a palavra que me leve a escrever, encontro-a neste momento. Desejo a história onde conto encontrá-la, como se houvesse um poema escondido e fosse meu este destino a demandar a Rosa mítica e perfumada da p_rosa!
Abre (se) o momento ao fluir do tempo e a continuidade surge, procurando na ruptura o p que… (de)pois já não tem, rutura. Registo de mudança, uma ilação profunda. Vem do mundo o perfume das essências que, no essencial, são únicas.
Procuro uma palavra sem prefixo, sufixo, nem… uma semântica aproximação ao ser. O meu desejo, nas imediações do que se venha a tornar extremo, é este centro: nu, intimo e último, instante em que a procura da palavra se religa a este momento.
Nada de mais sentido do que aquilo que se sente e pode ser assente pelas asas no ar, em voo. Um destino gerado no interior do ovo, até bater as_as… Estaria dito o desejo onde o silêncio poderia encontrar a palavra certa e o significado mais radical e completo: aqui o ‒ Fim ‒ (in)certo.

SONHO E REALIDADE

Mulher e Rosas - Marc Chagall

«Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo».

TABACARIA poema do heterónimo de Fernando Pessoa, Álvaro de Campos

Gosto…

De sonhar todos os sonhos que sou capaz de agarrar…

Da mulher violentada que ainda sonha com um grande amor…
Do homem velho ainda carregado de sonhos…

Da criança que sonha, sem saber o que isso é…

Das pessoas que conseguem voar sem asas…

E das que de mãos vazias sonham…

Do gato que olha não sei para onde e parece sonhar…

Daquele olhar que parece parado e caminha no sonho…

Dos pensamentos num estado de sonolência…suspensos...

Gosto…

Do sofrimento que se torna leve…

Da liberdade dentro da prisão…
Do homem pobre que já não quer ser rico…

Do esforço que cria sem ambição…

Da morte que passou a ter o mesmo sentido da vida…

Das lágrimas que se misturam aos risos…

Do sábio que sabe que é ignorante…

Do ignorante que não se esconde…

De todas as histórias de amor…

Do meu voo de amanhã de manhã…

Do silêncio que vem depois da música…

Gosto…

De ficar a divagar por dentro de mim…até me esquecer de mim…

AGOSTO - 2011



Simplesmente voz

Sou voz perdida
no esvoaçar dos lábios
inquietos

sou tonalidade esguia
que te enfada as pálpebras
húmidas de dor

sou simplesmente… voz
dispersa no vento da vida
calada por um olhar
esquecido de mim

sou sopro remoto
no vendaval de um peito
….o teu

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Em mim

Em mim
 

Vagueiam
Palavras
Pensamentos
Turbilhões
E milhões
De mundos
Algures
Dentro de mim…

Passam
Trespassam
Me arrasam
Na razão de ser
Confrontando-me
Com esta apatia
Da filosofia inerte
Que verte sobre mim
O passado, o presente
E um futuro avistado.
 
Clarisse Silva
5 de Novembro de 2010

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

SOBERBA VISÃO


Adivinhei-te na silhueta
Que a luz da outra banda
Desenhava no azul poente
Na luminosa e radiante poeira
Que o núcleo de sol que se exauria
Emprestava à última réstia
Do esplendoroso Astro.
Mais do que reconhecer-te
Senti viva a tua presença
Nas cores da penumbra que te vestiam
No passo cadenciado
E de uma elegância sem limites
Só podia ser o teu,
No desenho que se estampava
Nesse azul que se esbatia
E apontava já para a noite.
Mas esse desenho
Falava-me do belo
Do belo feminino
Da beleza feita mulher
Das curvas soberbamente desenhadas
Obra-prima de mestre
Que só poderiam ser,
Sonhei ver-te deter o passo
Porventura deliciosamente
Prostrares-te diante de mim
Acordar-me para um mundo
Feito das coisas sublimes.
Mas como o sublime
Nunca se eterniza
Nesse instante que acreditei glorioso
Fez-se noite
E nem do céu as estrelas
Escutaram a minha prece.

antónio bernardino da fonseca

AS PESSOAS PRECISAM DE FIOS…


As pessoas precisam de fios

Para dar sentido à vida...

A vida é perversa

É uma loucura do avesso e do direito!

Sou dependente do direito

Sou fascinada pelo avesso

E pelos dois me disperso…

As pessoas precisam de fios

Porque os fios dão sentido à vida...

Mesmo os fios que se quebram

Que se enchem de nós

Que não levam a parte nenhuma...

Apesar de tudo

Sempre andamos atrás de fios…

Não me canso da vertigem de me enrodilhar

Em fios de cristal ou de navalha

Que dão sentido à vida

E estou sempre por um fio...

E depois?

O que há a seguir?

Não, não é o resto…

É o a seguir?

Divago e me extravio…

Agosto - 2011


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

NO PRINCIPIO ERA A ÁGUA



Aquilo que trago das entranhas da mãe
E pressinto no instante
Em que me senti ser gente
E vai já lá tão distante
É uma sede insaciável
A de ser aquele que sou
Na plenitude da minha humanidade.
E pergunto-me: estarei a sê-lo?

No concretizar deste sonho
Muitas são as vertentes
As cascatas de água que jorram
Da montanha do meu ser
E que espelham o lado sublime
Do que penso ser
A vertigem da minha passagem.
Desfiladeiros de águas
Que na impetuosidade
Dos invernais desmandos
Perdem as cores da primavera
Mas nem por isso, descartam de si
Eflúvios de esperança.

Antonius

TEIA


Teço os fios por onde me persigo

São viagens circunscritas

Não mais além

Que um caminho de regresso

Num traçado inevitável…

Fios delicados de seda pura

Ímpetos de energia

Prementes de sobrevivência

E modelados com sagacidade…

Neles quero te prender

E te saborear

Na essência!

E bordo

Com a minha baba

A teia de encantos

Que retêm a poeira

Que reluz ao sol

Que se esconde na noite

E surge ao amanhecer

Cheia de gotas do suor nocturno!

agosto - 2011


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Vida

São gastas as lágrimas escorridas
nas asas aladas do lamento
cores sombrias de vendavais
que se perdem ao longo do tempo

São símbolos das raízes pintadas
no corpo perdido de esquecimento
são as dubiedades do amanhecer
nas mãos abertas ao vento
em suspiros que se soltam
nas sombras ainda vigentes

Traçam-se metas invisíveis
nos rasgos acutilantes de dor
e a vida torna-se esvaída …
nos braços aconchegantes
do teu amor

Escrito a 15/08/11

terça-feira, 9 de agosto de 2011

A Barca de Caronte

Em troca de uma moeda
posso conduzir qualquer um
à outra margem do rio.
Ricos ou pobres,
católicos ou judeus,
homens ou mulheres,
nada me importa
o que poderão ter sido um dia.
É este o meu destino.
Prometeu atado aos remos da penitência,
para trás e para a frente,
num interminável corrupio
seguindo o destino dos ventos.

Não me compadecem gritos nem choros,
não me peçam para retornar
forçando o leme e as velas;
a nenhum eu posso valer.
Os que estavam vivos
estão agora mortos
e o lugar da morte
é do outro lado da margem,
onde o silêncio ergueu catedrais
e a terra fervilha de ossadas frias;
onde todos os sonhos se esgotam
e todas as ilusões se afundam;
onde não existem horizontes
e tudo é coberto por um manto de nada,
sem luz a alumiar os caminhos;
onde já não há esperança
nem alivio,
e a ninguém é permitido respirar.

A troco de uma moeda,
um simples óbolo de níquel,
posso levar qualquer um
para o outro lado do rio.
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Cherry Kiss

Gosto das noites que terminam em risadas exaladas na ombreira do crepúsculo, presa ao olhar enigmático que me fazes enquanto falo, divagamos em conversas e desconversas que, desconfio, nem a lua entende. Esse teu sorriso traquina - sempre a medo, mas sempre a queimar – provoca-me e acabo por ir mais além e desfiar um pouco mais de mim, como se cada palavra tua fosse um rastilho de pólvora. E o meu coração bate num descompassado fogo de artifício estourando a cada gesto teu, na proximidade da doçura do teu hálito quente.
Quando enfim te deixo acercar da minha boca, rendo-me ao teu fechar de olhos, segundos antes de me beijares, como se fosses confiar o teu mundo nos meus lábios ou se neles buscasses a catarse da tua alma. Sem vontade ou argumentos para te resistir, deixo que cada suspiro meu seja afagado no aroma macio da tua pele, e no fulgor primaveril de tão precioso momento, os teus beijos-cereja adoçam a perfeição desse instante em que esqueço que não há distância entre um sorriso e uma lágrima, porque não há beleza mais plena do que a magia dos momentos irrepetíveis.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Eros e Psique

Às portas da Meia-Noite

Eros e Psique encontram-se…

Corpo e alma…

Olham-se entre si…em silêncio…

Eros quer seduzir Psique…

Psique fica fascinada por Eros…

São o fogo e a borboleta…

Voláteis e cativantes

Contrários e atractivos

Tocam-se e transformam-se…

Em fulgores ofegantes…

Relação de vida

Expressão de êxtase

União perfeita

De

Eros e Psique…

Vida e arte em simbiose…

Em

Suspiros de vibração

Em

Gritos de explosão!

Julho - 2011