quinta-feira, 30 de agosto de 2012

trovas...tanto amor...tanto! tanto!


















é aqui no cais da saudade
onde meu coração aportou

que escrevo a simplicidade
do que fui e o que sou...

sinto o pulsar da terra
e o vento vai silvando
este meu verso encerra
saudade em mim sangrando...

fruto amadurece e cai
anda o destino à toa
a saudade que não sai
já a vida se esboroa...

raios de sol cativos
na noite fios de luar
andam meus olhos vivos
na sede de te encontrar

sou poeta ou talvez não
mas aos poetas sou igual
dizem louco e com razão
sou de ignorância total...

anda no ar cheiro a tília
aroma tão estonteador
meus olhos fazem vigília
aos teus olhos meu amor

estrada a perder de vista
levo os meus pés já nús
ainda que a vida insista
a estrada é minha cruz

não há palavras bastantes
que m' enxuguem o pranto
ao lembrar tantos instantes
de tanto amor...tanto, tanto!

natalia nuno
rosafogo



segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Cravam-se-me asas nos olhos


Cravam-se-me asas nos olhos
verticais à córnea humedecida
soltam-se as palavras molhadas
em bagos de uvas amadurecidas
das vinhas infecundas de beijos

esvoaçam em leves brisas
nos cumes longínquos do grito
indomáveis, sussurram ao vento
em trajes de vários lamentos
nas mãos débeis do tempo

tombem em lentos vagidos
nas ramagens secas da vida
morrem em solos orvalhados
enclausuradas em mim, vivas

Escrito 25/08/12

domingo, 26 de agosto de 2012

POALHA


Procurei-te por trás da escuridão
Achei-te num campo plantado de luar
E uma poalha fina batia-me no rosto
Pousando brilhante na minha pele
Com afagos de luminosidade…
Deitamos
Sobre a relva prateada
A nossa reciprocidade!

Deslumbrada aconcheguei-me nos teus braços,
Que me apertaram contra ti
E enterneci nos teus enlaços!

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Tenho-te em mim


Tenho-te em mim
no aconchego do sentir
na avidez de te querer
na suavidade do sorrir
na felicidade de te ver

Tenho-te em mim
ao raiar do amanhecer
no preparar para partir
no chegar ao anoitecer
para junto de ti dormir

Tenho-te em mim
da alegria à tristeza
estalar do nervosismo
no sentido da beleza
e em tudo o que cismo

Tenho-te em mim
naquilo que representas
pelo filho que é nosso
pela força com que tentas
colmatar o que não posso

Tenho-te em mim
na vida a qualquer hora
no sol que nos ilumina
na espera que demora
em tudo que nos domina

Tenho-te em mim
de qualquer forma ou jeito
distante ou nos meus braços
no encostar ao teu peito
ou vendo teus belos traços

Tenho-te em mim
por aqui ao fim do mundo
entre o dia ou noite fora
por um beijo mais profundo
ou num afago que cora

Tenho-te
da maneira mais singela
quando te revejo assim
plena da minha janela
por onde te tenho em mim

 

António MR Martins

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Receituário para amar

Juntei entusiasmo com emoção
Pus, uma pitada de malícia
Mexi em todo lado com carícia
Temperei prazer com satisfação.

Meti abraços, beijos com coração
Na receita, que ficou propícia
Para dar calor d’ amor na delícia
Servi amada com ternura, paixão.

De mui’ simpatia também perfeita
Para amar assim eu fiz a receita
Do bendito amor imaginário.

Com gentileza a guardo no peito
Na minh’ alma alimento o conceito
D’ amor que apraz o meu receituário.

domingo, 19 de agosto de 2012

Despojos


Dos tempos de escola
já muita coisa esqueci
de tudo quanto aprendi.
As resmas de compêndios e teoremas
que nos enchiam a cabeça
com aquilo que precisávamos decorar
e que nunca nos serviu para nada
esfumaram-se no crepitar das fogueiras
que abraçam a pedra do esquecimento
com longos braços de névoa.
Perdi o rasto ao nome dos reis
que cerziram com heroísmo
a manta do nosso destino exaltado
e a todos os rios e afluentes
que nunca cheguei a conhecer
e que desaguam agora
num rumor de sombras adormecidas.
Já não recordo as fórmulas míticas
de um futuro que nunca se libertou
da ardósia negra dos quadros
e do movimento persistente dos apagadores
traçando um obscuro ritual.

Sobrou apenas desses tempos
o eco monocórdico das tabuadas
repetidas até à exaustão,
a luz inocente dos pátios
onde os sonhos ganhavam secretas asas
nos intervalos do cativeiro
e o mistério dos teus olhos de menina
a esvoaçar numa nuvem de pó de giz.

sábado, 18 de agosto de 2012

A Metafísica Do Amor



Amo-te hoje
tanto quanto te amei ontem
amar-te-ei amanhã
tanto quanto te amo hoje
supor que algum dia te amei menos
seria reconhecer que nunca te amei
assim como supor que é possível amar mais
equivaleria a admitir que não se ama o suficiente
então ...
amo-te sem comparação com tempo algum
neste amor em que todo ele é
incomparável



à Dani , com amor


Teu , Jou

Luiz Sommerville Junior(JouElam) , 180820121505

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

é este o céu que piso
























Já a tarde vai madura
já o sol afrouxou
cantam os pássaros com ternura
e a vida serenou
percorro a estrada do viver
palavras semeio ao vento
a saudade me veio ver
lá vem de novo lamento!
hoje ignoro minha descida
esqueço até a encruzilhada
amanhã se me achar perdida?
nem me darei por achada.

Já a tarde vai madura
no horizonte se despenha
logo vem a noite escura
a saudade de mim desdenha,
fecho o coração por ora
aqui onde sou, e sei ser
deixo a tristeza de fora
sou giesta a reverdecer.

Já a tarde vai madura
eu com medo de quebrar
este sonho de profundura
com rios de amor pra dar,
um rumor, a ventania
olhos orvalhados de medo
outro sonho se inicia
fica suspenso é segredo!
Prefiro seguir caminho
cai a noite bruscamente...
guardo os olhos num cantinho
e regresso á nascente,
e é este o céu que piso
minha paz é o que era
neste meu tempo inpreciso
quero sonhar...sonho é dávida
que me espera...
quero correr como um menino
mandar parar o verão
fazer das palavras meu destino
e amar sem hesitação.

natalia nuno
rosafogo
imagem da net

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Último Encontro



Breve é o tempo
Sagaz lembrança
Em pétalas roxas
Formas de luas
Firmando a noite

Cores de céu
Pintam os silêncios
Proscritos 
Na minha voz
Mas ouvem-se 
Ecos estranhos
Em fundos distantes

Acontece por fim
O último encontro
Das flores rosadas
E dos lírios brancos
Na manhã acabada
De chegar ainda agora

E eu e tu
Sem chão
Sem um não
Sem ar
Sem mar
Sem um céu
Sem um véu
Na madrugada
Enlaçados
A seguir a corrente
Dum rio


domingo, 12 de agosto de 2012

Alto enredo


Os lábios se descolam dos seus
De uma forma tão delirante
Os dele tornam a colar aos seus
Quando já lhes diziam adeus
Perante desejo palpitante

Assim se encostam os narizes
Entre as ondas da sofreguidão
Revigorando pelas raízes
Sonho colorido de matizes
Empolgadas pelo coração

Adiante gestos de afeição
No abraçar sem quaisquer limites
Lufadas de plena imensidão
Sem se questionar por contenção
Por onde salpicam apetites

Envoltos de alegria e dor
Apetrechos da massa humana
Exultando ao máximo valor
A que damos o nome de amor
Ante rubor que dela emana

Revolvem-se os plenos sentidos
Naquele cenário de afagos
Entre os corpos tão perdidos
Não escutando outros pruridos
Senão os seus arfares tão vagos

Culmina o sensual enredo
Perante as estrelas cadentes
Que germinam de tamanho medo
Escondido no rico vinhedo
Nos resquícios adjacentes


António MR Martins

domingo, 5 de agosto de 2012

Hematoma

Sobrepõem-se os hematomas
Num crânio omisso de sonhar
São as duras cabeçadas da vida
Marcas que vêm para ficar

Implode o choro sufocado
Na foz dum rio de emoções
À tona a alma amargurada
Estravasa a dor da solidão

Não importa o tempo assim parado
mágoa que inibe a felicidade
num futuro preso ao passado

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

PARA ALÉM DA MORTE


Pode parecer aos outros impossível
Pode ninguém acreditar
Mas eu acabo de morrer.
Morri quase sem dar por ela
Não ainda a morte integral
Essa está a acontecer gradualmente
Na medida em que os neurónios
Esses portadores do facho da vida
Quais pirilampos mágicos
Um a um se vão apagando.
E eles são tantos, tantos!
Agora que pouco falta
Para que se apague de uma vez por todas
A chama que me deu vida
Tomo particular consciência desta
Num estranho processo de absoluta extinção.
Sim, agora vou apagar-me mesmo.
Apaguei-me!
Mas oh deuses
Da banda de lá da morte
De um tempo já sem tempo
Porque deixara de o ser,
Porque embarcara num infinito,
Que o transporta e lhe retira o sentido
Desse mesmo tempo,
A noite é a mais total que conheci,
A que é alheio  ténue indício das estrelas.
Destas guardo algo de que
Os resquícios que me sobram da memória
Não logram agarrar definição.
Entretanto, decorrido este tempo
Que viajou já pela negritude total
Que não conheceu barreiras,
Acontece o impensável:
Um muito vago ponto luminoso,
Anuncia-se-me ao longe através da escuridão
Que tinha indeléveis as cores da morte
Essa que eu sabia existir
Mas não estava certo ainda
Que fosse o fim absoluto.
Esse ponto de luz chega até mim
Cada vez mais intenso
Impregnado de sons distantes
Que eu tinha já esquecido
Esses sons capazes de despertarem
Remotos e celestiais mantras
Começaram a emitir
Para mim verdadeiros flashes de vida.
Conscientizei-me de que
Noutra rota, noutros caminhos
Porventura mais auspiciosos ainda
Acabara de entrar a minha pessoa.
Num já quase êxtase
Pressenti a proximidade daqueles
Que haviam  partido antes de mim.
Tomei consciência numa serena euforia
De que para mim, para o homem
A morte se extinguira.
ANTOBER

Quando as palavras envolvem


Pelos lábios do seu encanto
se aprimoram tantos clamores
que já não elevam mais espanto
entre os efeitos sonhadores

trinam-se melodias mais raras
duma beleza inconfundível
revendo-se expressões nas caras
entre o vislumbrar invisível

como entoam outros pruridos
perante olhares consentidos
por onde enreda a perfeição

mexem-se valores e sentidos
significados dos mais batidos
que empolgam qualquer coração



António MR Martins