sábado, 30 de junho de 2012

Balada d´Ausência -Ao Abril que (não) Foi-


Inquietação
dos braços em rosas
das rosas entrelaçadas
que queimavam
no regaço de Deus
era terra prometida
nas mãos do povo
eram os cravos que se davam
os abraços que voltavam
os beijos que renasciam
os sorrisos que enterneciam
as refrões que nos moviam
mas não , não eram os cravos,
-que não eram rosas, que não eram rosas!...-
são angústia
das vidas desesperadas
jardins num deserto ...
há uma lágrima que escorre pela madrugada
porque o sol tarda a nascer
e ninguém sabe
se a luz não volta mais
ou ... se ... foram ...
os nossos olhos que cegaram ...



Luiz Sommerville Junior , 300620122308

Ébrio é o tempo


Ébrio é o tempo que me arranca de ti
nos prédios onde me escondo
em ruas incógnitas de mim

Ébrio é o tempo que ri
em gargalhadas de desencanto
nas muitas horas sem fim

Ébrio é o tempo escondido
querendo passar despercebido
ali na beira do trilho perdido

Ébria sou eu, assim sem nexo
querendo agarrar o tempo
por mim tanto querido

E o tempo solta-se num voar lento
querendo passar por mim
imponente

Escrito 27/06/12

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Copos vazios

?

Por trás da luz, fomos noites intermináveis
Esquecemos palavras no barulho das tabernas de Lisboa
Bebemos rotinas em rituais silenciosos
Onde as horas são um líquido amargo

E foi tão fácil desistir.

No cinzento das calçadas, perdemos o sol
Cedemos ao feitiço no fumo negro das madrugadas

Que travessas estas nos transformaram
Por trás da luz, em sombras do passado

Somos agora, copos vazios. 

O ESPIRITO VISIONÁRIO DO QUELHAS

Ah Mundo, Mundo! – Como dizia o Quelhas, vão lá já alguns oitenta anos, do alto do penhasco onde assentava a sua pobre e frágil casa, mas que borrasca alguma logrou derrubar, pelo menos de que a vizinhança mais avançada na idade guarde na memória. Ninguém pode saber que espírito morava por detrás das palavras do Quelhas, mas de certo os mais argutos, aqueles que são verdadeiros filósofos apesar de não saberem ler, são capazes de interpretar. Nestes havia um entendimento de que era uma forma de queixume, de desalento ou mesmo de revolta em relação a este mundo que ele – o Quelhas – e os seus contemporâneos conheciam. Era todo um mundo de injustiça, de exploração, mas sabe-se pelas entrelinhas que o Quelhas estava seguro de que não tardaria que outro mundo viesse feito de novos homens, justos, impolutos, sóbrios, a quem bastasse o indispensável., que governariam as nações com equidade, administrariam as empresas publicas e não publicas com sentido de justiça, que velariam sempre pelos mais desprotegidos. Decorridos aqueles oitenta anos, a nós que calcorreamos os caminhos do século XXI, apraz-nos registar com uma euforia incontida a verdade que estava por detrás das palavras do Quelhas. Eram bem uma espécie de profecia de um homem simples mas sábio, porventura vidente. Efectivamente olhando em redor e até muitas vezes olhando para dentro de nós, como sentimos palpitarem as palavras daquele homem que já não tivemos a dita de conhecer! Num mundo justo como é este em que vivemos, feito na generalidade de homens impecáveis incapazes de «deitar» a mão aquilo que não é seu, de darem importância aquilo que chamam o vil metal, absolutos inimigos do alheio, impotentes para a mais pequena desonestidade no chamado «mundo do capital», temos boas razões para nos sentirmos orgulhosos de integrarmos as hordas do século XXI. Este século em que o homem foi capaz de se encontrar consigo mesmo, de ver no outro um irmão, de pressentir a PAZ Definitiva, que é filha do desendeusamento do dinheiro… No que me diz respeito, ao tomar conhecimento de mais uma «derrapagem» (ou coisa equiparada) a envolver coisa como 100.000.000 (cem milhões de euros) fico deslumbrado e uma vez mais vibro com as remotas palavras do Quelhas. Antonius

DESVARIO


DESVARIO
Ruas, passadeiras, multidão, 
passos apressados…inquietudes…
Pressa de chegar! 
Espero o sinal e desespero! 
Fixo os rostos estranhos
ouso atravessar, mas recuo e espero!
Viro aqui, entro ali, saio… 
Volto a caminhar!
E se o percurso estivesse errado? 
E se ficasse sem saber onde?
Sem saber quem sou? 
De onde vim e para onde vou?

quarta-feira, 27 de junho de 2012

insinuações


insinuam as vozes matreiras
as manhas da pertinência
onde desatinam os ânimos
pelos sintomas indefinidos
que calcam todos os sentidos
em afrontas desmedidas

insinuam sem balançar
com atropelos mascarados
que não escutam as palavras
suplicadoras dos sofredores
na derradeira expressão
onde a contenda termina

insinuam a cada final
sem atentar das razões
como se fora no princípio
e nas estatísticas doentes
tudo acontece corrente
sem o encontro da solução

insinuam até mais não
que a febre traz a secura
e a fome a insanidade
tudo se perde sem apelo
e a mágoa já não persiste
nesta rude imensidão

António MR Martins

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Tanta pompa, tão pouca circunstância


Foto: CS
Dá que rir. Rir para não chorar, ao assistir a palavras grandiosas ao serviço do vazio. São escritas, são faladas, tão badaladas na banalidade de vidas caídas no abismo há muito tempo. Vivem no precipício do despenhadeiro adornando suas casas, não se dando conta do ridículo da situação. Os que em volta não olham, nem percebem as grandes rochas que rodeiam esta edificação - fixando o olhar para as luzes a piscar, tal como crianças a olharem para a árvore de Natal -, prontas a tombarem a qualquer momento. Não ousam pensar em sair dali, tão acomodados àquela posição confortável, ganhando no vazio.

17Jan12

domingo, 24 de junho de 2012

CARÊNCIA


Meu corpo indigente, derrama-se desolado
num choro contido soluçante
desertificado dos teus dedos,
que me faltam, no meu corpo distante, do
teu corpo de transcendência, do
teu corpo do meu descanso!

Entre longe e perto, no vendaval do desejo
 vivido sofregamente no vazio
transpiro avidez no meu leito, encolhida em feto
mãos entre as coxas
apertando o frio!

Exausta das sombras difusas
aconchego-me nos lençóis alvos
e reclino-me na invenção, emudecida!


MarisaSoveral - Junho -2012

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Calem as vozes

Do Céu brilham as estrelas
Ao meu olhar de fatigada
Espera-me a cama deserta
Funde o pensamento vago.

Da Lua iluminada nas telas
Com a minha mão desafinada
Rabisco a vida vazia, incerta
De tantos feitiços, que trago.

Do Céu e da Lua, ou de mim
Ó brilho iluminado do além
Deixa-me luz de vida, sem fim
Dá-me o amor puro de alguém.

Calai-vos almas no firmamento
Das inquietações tão regulares
Mais controladas e com talento
Calai os ódios de outros lugares.

Calai meus versos descuidados
Derrubai expressões singelas
Suspendei desvalores e pecados
E dividam fadários em parcelas.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

DESENCANTO




O sol espelha é meio dia
Olho as bagas vermelhas
da amoreira
O destino destece o que tanto queria
Agora sou só poeira
Quer queira ou não queira!

E quando o sol se apaga
Meu coração naufraga...
Diga eu o que disser
Vivo a vida a recordar
Não sei se é fado ou destino
Ou apenas meu querer
Em qualquer caso... desatino.

O tempo que é agora agreste?
Já foi tempo de prata!
Não há dia que não se manifeste,
na saudade que quase me mata.
A batida das horas é ameaça
Como fugir ao cativeiro?
Assim é o tempo que passa!
Rasgando meu corpo inteiro.

natalia nuno
rosafogo

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Hoje apeteceu-me escrever-te

Naquele dia parti meu amor, sem saber o que me esperava, levava comigo o perfume da saudade, aquela saudade que se me entranhava nas entranhas e me deixava um doce amargo na boca, mas o sol brilhava na janela do meu olhar. Era um daqueles dias em que me afastava do tempo e a vida, aquela minha vida rotineira desaparecia.

Toquei-te com a ponta do pensamento e o meu corpo saltou, ansioso, desconexo, impaciente e as mãos vazias destilaram paixão.

 Ali estavas tu no barulho da cidade, esperando-me e nos meus olhos dançaram borboletas, é sempre assim quando te olho, e vejo o negro cintilante murmurar-me palavras quentes, poesias feitas de seda, que esvoaçam no meu peito arfo.

 Nas entranhas, entranhou-se-me a sofreguidão do tempo e os nossos braços ávidos, acoplaram-se aos peitos loucos, naquela manhã datada na nossa memória.

 E o tempo parou, testemunhando aqueles momentos que nos tomaram de assalto e o preço do resgato foi a nossa loucura, num leito coberto de pétalas, num quarto qualquer e ficamos ali, sem memórias, deleitando-nos no calor dos corpos como se fossemos eternos, ouvindo os nossos lábios num murmurar só nosso. Lembras-te?

 Depois… regressei e no olhar o mar dançava em pequenas pérolas que deslizavam pelo meu rosto feito de felicidade e de aromas mil.

 Hoje apeteceu-me escrever-te e dizer-te o quanto te amo

 Escrito a 12/06/2012

segunda-feira, 18 de junho de 2012

AS BALIZAS DO TEMPO


 Se há coisa que me perturba é o tempo. A sobrepor-se-lhe, só o amor, esse fazedor de deslumbramentos e de êxtases. Mas por alguma razão a ideia do tempo me persegue e quase comigo convive. Umas vezes revolto-me contra ele, por nele ver o absurdo, a não resposta. Outras vezes sinto-me caminhar lado a lado com esse inimigo que, bem feitas as contas, paulatinamente me devora. Pensei já em fazer com ele as pazes, estabelecermos um protocolo que salvaguardasse o interesse de ambos. Mas se assim o pensei, logo me desiludi, porque o tempo não me deu tempo para o diálogo. Mal iniciado este, já o tempo ia lá longe indiferente á minha sonhada proposta. Desisti de dialogar com o tempo. De uma vez por todas me rendo ao seu ímpeto e prepotência. Limitar-me-ei entrementes a preenche-lo de maneira positiva e na medida em que ele o consinta. Sei que ele me domina e que estou por ele balizado. Não tenho mais do que aceitar essas incontornáveis balizas.

 António Bernardino

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Não prometas poesia

?

Foram vertigens que alimentaram o fogo
Preso às mãos

No cansaço do corpo, na rendição do tempo
O rescaldo dos dias quentes

No esforço de derrubar o castelo que construímos
Dissolvemos lágrimas de pólvora
Incendiamos as ruínas de tudo

São memórias de uma guerra não declarada
Que travamos em silêncio
E em silêncio depusemos o sonho

Não prometas poesia
Não digas que vens

No cansaço do corpo as mãos repousam
Sobre o vento do amanhã

Sopra-me seco para longe.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Perdi a carruagem do tempo
Fi-lo propositadamente
Deixei-a partir...
E por aqui me fiquei
Queda, na idade dos sonhos
Por mais que vasculhe
as sobras de mim
Deduzo e concluo
e tiro a elação
que nada perdi
Não mudei o mundo
Tão pouco o moldei
à imagem de mim
E a paz que procuro
é o apeadeiro
que trago na alma
Lugar onde troquei
a amargura pela fantasia
duma gargalhada


domingo, 10 de junho de 2012

Assim somos nós amantes vagabundos


Aves libertas nos passos da madrugada
tempos fecundos em ruelas esquecidas

Sonhos renascidos nas mãos amadas
brisas aprisionadas nos peitos arfos

Corpos amando aos pés da encruzilhada
em becos vadios grávidos de nada

Sombras frutíferas d`almas embriagadas
mágicos instantes que se diluem no tempo

Assim somos nós amantes vagabundos

Escrito a 10/06/12

quinta-feira, 7 de junho de 2012

PELA CIDADE PENSANDO EM TI


Peregrino pelas ruas da cidade, cruzo
a violência urbana  e o tempo em flaches mentais.
Vejo os slogans modernos e sedutores das fachadas,
presumidos aglutinadores
e os cobertores deixados pelos cantos
dos encharcados de miséria, acompanhada!
Tudo está podre e corrompido! Putrefacto!
Os rostos passam por mim absortos
naquele vértice sombrio
onde conflui preocupação e tristeza
em rostos mortos!

Tu nunca me disseste, a verdade
pousavas a tua mão na minha e dos teus dedos
brotavam fadas, nada era real
a não ser o teu colo macio para me aninhar e sonhar
com cores e luzes artificiais!
E os meus olhos reluziam tanto até ficarem cansados
e as tuas palavras para me embalar,
 iam fugindo, numa melopeia de conforto
como cobertores de lã e alfazema
para me aconchegar!

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Perdidos na espiral vibrante do amor

Perdidos na espiral vibrante do amor
os hálitos cortam-se nas lascas do desejo
as bocas sufocam-se em doce domínio
e na avidez sôfrega das  mãos… trémulas
esboçam-se poemas nos corpos violino

Imponentes….. cavalgam imprudentes
nos despenhadeiros verdejantes da paixão,
gemendo-se em vocábulos ardentes
no rubro fogo da repetição

E as pálpebras húmidas encerram-se
numa ultima satisfação