quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Sonhei ser lágrima

Esculpi em mim
numa só camada de dor,
a lágrima que sonhei ser,
na terra fértil,
dum só rio único
descendo na intimidade
da raiz que cresce.

Improvisei os contornos
com traços de cimento,
à distância dum tempo
concedo a existência
ao inconcreto real
daquilo que sou!
…e todo o corpo liquido
são ossos da língua
que o sonho sustenta
em ruínas de asfalto
…onde o sangue chora
submerso no vazio diário!...

E sou fragor de mim
nas horas que se perdem,
em rios de Outono
como murmúrios amargos
na ausência da razão…

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Fico a pensar de mais
nas coisas que magoam
olho a rua e vejo os barcos no cais
que guardam as palvras
que não consigo dizer mais.

Sei dos velhos abandonados nos hospitais
de alguem pronunciando
os enganos da vida
quando o amor parece
uma causa perdida.

Sei da fome atrás dos muros e
dos livros escuros

da escola
e sei dos crimes e das prisões
da mentira que nos redime
no noticiário das televisões.

Fico a pensar...

lobo 010

Balada dos amantes

Fios leves na sementeira,
Verso que se revolta no poema,
Boca que saboreia o beijo,
Do local onde te vejo, perco-me
Bebendo do sentimento.
Encho o tempo com as horas,
Penetrando na sombra com meus passos
Sentindo o meu desejo em teu ventre
Não conheço a solidão a teu lado,
Mas morro quando não te tenho!!!
Abraço o mar…
Onde a flor da amendoeira,
Desvenda o seu mistério
Acordando as palavras em seu leito,
Onde suspiram os poetas.
Pedes-me todos os momentos,
Todos os ventos,
Em todos os lugares…
As tuas mãos trazem segredos
Do perfume do meu cais
Onde desaguam ondas de amor.
Solta-se a paixão…
O fogo da carne acende labaredas,
Ama-se no chão,
Contra as paredes,
Os olhares cúmplices dos amantes
Feitos de lágrimas em desejo,
Onde deixas em mim, tanto de ti.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Faltas-me

continuo a perguntar por ti ao tempo.



haverá ainda tempo e aquela nossa brisa
que se ria para nós quando nos abraçávamos?

gostava de ser outra pessoa para assim
não permanecer na calçada deste beco sem saída.

permaneço acorrentado.
agarrado às paredes e amarrotado por dentro.

faltas-me na vida,
concluo agora tarde, será?

17 de Fevereiro de 2010

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

NUANCES de Um Silêncio a Dois




Nuances...De um Silêncio a Dois (O LIVRO)


Um livro que tem como ponto de partida, a poesia a duas mãos, Ana Coelho e José Antunes
O evento irá realizar-se no dia 20 de Fevereiro próximo, e conta com o apoio da Câmara Municipal do Alenquer.
Esta apresentação está inserida na Feira do Livro a decorrer no Fórum Romeira em Alenquer, local onde será realizado o evento.
A organização do evento estará a cargo da editora "EDITA-ME" que contará com alguns momentos musicais e com as crianças presentes, irão ser desenvolvidas actividades pedagógicas por animadoras socioculturais, que estarão sob orientação de Cátia Costa.
Gostaríamos de poder contar com a Vossa presença.

Partilhamos convosco partes do prefácio escrito pelo Prof. Arlindo Mota

PREFÁCIOAna coelho e José Antunes: entre nuances, sonhos e cumplicidades

Ana Coelho e José Antunes, são dois autores com uma envolvente e genuína pulsão pela poesia. Na escrita e nos gestos, que de gestos também se constrói a poesia. Buscam com paixão e rigor o segredo das palavras, que renovam sem cessar. Parcimoniosos na utilização de metáforas, optam claramente por não assentar na metrificação clássica, salvo uma ou outra incursão, num ou noutro poema.Conhecedores da herança lírica portuguesa, não se confinam ao formalismo e abordam a linguagem com criatividade, onde os temas do amor estão abundantemente presentes, mas também o psicológico e o social (sem cair no realismo) não são esquecidos e isso revela-se ao longo de todo do livro. A sua poesia, seguindo a moderna estética, constitui a verdade de um mundo sentido por uma subjectividade; o que ela diz é um mundo para o homem, um mundo visto de dentro, mundo singular e inimitável a que só o sentimento dará acesso. Falei até agora dos autores como se fossem apenas um: eles de alguma forma a isso nos conduzem, porque se apresentam juntos, face a se face, porque o livro constitui para eles a sagração dessa comunhão. Mas, em boa verdade, se muitos traços os identificam, outros os distinguem. Ana Coelho navega mais suavemente nas palavras, é, de algum modo, o lado assumidamente feminino do livro; José Antunes, de escrita comedida, apresenta mais arestas na leitura e na interpretação da sua simbologia. Comum aos dois, a contenção vocabular e arredia da adjectivação excessiva, que torna a sua poesia rigorosa e límpida, dotada de uma invejável coerência interna.O livro, por sua opção, apresenta-se dividido em cinco capítulos: “Momentos”; “Trincheiras de Sonho”; “Distâncias”; “Lampejos”; “Cumplicidades”.

Janeiro de 2010
Arlindo Mota

(Convite enviado pelos autores e amigos Ana e José. Conto convosco)

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Rastreio

Rastreio da segurança
empolgou os sentidos,
convidando à festança
no aliviar dos pruridos.

Lógica do bem sentir
no meio da amargura,
sortilégio do partir,
sentindo alta ternura.

Brandos foram os embates
dos actos assumidos,
pelo rigor dos cumpridos.

Rescaldo de outros debates,
mesmo dos descabidos,
mas, por ora, permitidos!...



António MR Martins

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O silêncio do poema

Quem te disse que a palavra mata,
Que embebeda a alma,
Adoçando a boca…
Que solta beijos sem asas,
Entre um mar de chamas dos amantes.
Quem te disse que em teu corpo nu,
Bailavam faluas ao vento
Ancoradas em teu seios,
Flutuando seduções no silêncio de um gesto.
Quem te disse…
Que os anjos cantam nas estrelas imponentes,
E que a espada rasga a dor de uma lágrima,
Entre o orgasmo vestido em flor,
No deserto de um poema…
Que jaz no papel esquecido pelo pó do tempo.
Quem te disse que a pétala acende o olhar,
E do ventre nasce o ensejo do infinito,
Consumindo a memória da voz,
Na lembrança de uma ave
Afagando a face num horizonte desconhecido.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Outro mar.



Hoje a incerteza bateu à porta
trazia no bolso
os dias cinzentos de inverno
beijou-me a face
com os lábios frios.
e eu...
vestida de ansiedade
mandei-a embora
fechei a porta
dei um pontapé na tristeza
fixei os raios de sol
nas frinchas da janela
fios de esperança
que me cegaram o olhar
e eu..
esqueci-me do presente
voei nas asas do sonho
miragem de um outro
mar.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Biografia

Esculpi na pedra o meu perfil,
Sou raiz do nada,
Vácuo sem saída,
Vago rodopio no suor frio da madrugada.
A vida sobe as escadas do meu ser,
Perguntando em cada piso…
Estás bem meu bom amigo?
Respondo no imediato - A envelhecer…
Enruga o meu rosto,
Negando-se ao infinito,
Despindo a minha mortalha,
Aos meus olhos…
Já não sou menino.
Tempestades de tormento inútil,
Nas horas cansadas, lentas em silêncio…
Que passam por mim,
Passam, passam… Sem as poder agarrar,
Hão-de perder-se num voo sem asas,
Desfolhando as estrelas à noitinha.
Nos bocejos do drama que acendo,
Vibram luzes dispersas em meus versos,
Iluminando o mordaz recanto onde me deito,
Não há vertigens nesta viagem,
Nem barcos ao largo do cais.
Fui ritmo, fui riso…
Fui lágrimas,
Fui história escrita sem palavras,
Fui fé em mortal pecado,
Fui o que afinal ainda sou…
Mas quem sou eu afinal?
Eu só Eu e nada mais.