sábado, 30 de abril de 2011

PARTIR PARA O AMOR




Local de passagem
Espaço de interrupção
Potencial liberdade
Escapando às convenções
Para alcançar
O núcleo secreto
Da partida de uma vida
Para outra vida enlaçar!..

Agito meus medos
Aos teus apelos…
Calcando enganos e desilusões
Convites explícitos
No sequioso tributo
À entrega plena
De muitas efusões!

Os teus olhos
São bússolas de orientação
E de absoluto arrebatamento …
Avançamos…
Recuamos e avançamos…
Até à serenidade da quietude
Íntima comunhão elementar
No sopro interior da plenitude!

Noite de muitas madrugadas
Em todas as ruas abertas
Pela música dos devaneios
Sulcados…
Noite sobre águas
Crescendo
E alagando
Os óbices amarfanhados!

Tensão permanente
Intensidade concertante
Exuberante empolgamento
Beleza de luz tépida
Sem culpa, nem pecado…
Com a inocência
De pássaros na boca
Cantando
Num delírio «nonsense»
De descoberta constante
Da leveza do ser
Exultante!..

30.04.2011

OH!DESESPERO.



Passa um vento lento
Aragem  lenta e doce
E o céu cinzento,
de nostalgia pesado
Se esta vida simples e clara fosse
Não seria  o ventre dum tornado!?

Há flores que florescem em Maio
Sulcando o chão em liberdade
No meu céu perpassa a saudade
A ela me entrego, nela caio.

Desacerto o passo...
Nasce o cansaço
O meu chão já flores não dá
E  o sonho jamais renascerá.

Alegre já me chamaram
De Poeta me fadaram
Mas tudo isto é tão pouco!
Já fui raio, já  fui trovão
Como foi meu dia louco!
Talvez o vento tenha razão

Vejo-me menina  ainda
A quem o vento o cabelo alinda.
Vejo-me  menina no largo
Ao domingo da missa voltando
Chega a mim o travo amargo
É apenas sonho, estava sonhando.
Recordo a tarde que caía
O toque da Avé-Maria
E o luar que chegava, cedo demais
Recordo tudo com ternura
E às vezes dá-me a loucura
De seguir o odor dos laranjais.

E o vento perde-se no caminho
E o céu magoado num pungente sofrer
E meu sonho que estava tão pertinho
De novo me deita  tudo a perder.

natalia nuno
rosafogo

quinta-feira, 28 de abril de 2011

CÀNTICO

Hoje eu canto a árvore
Esse milagre que se eleva
Das profundas da terra mãe
Insondável alquimia
A fez germinar
E decidida brotar
Da negritude do nada
Feita vida irradiante
Por escatológico poder
Também ele impenetrável
Certo é que frondosa
Se ergue em galhos
Que ousados
Rasgam as malhas do azul do céu.
A árvore toca-me
No mais fundo do meu ser
Porque logra de alguma maneira
Falar-me da essência do amor
Que mora por detrás
De todas as coisas
E se a sua robustez
Tem a marca do tempo
Eu venero-lhe a memória.
Daí que olhando hoje
As três viçosas árvores
De que os meus filhos
Há muito
Foram entusiastas plantadores
Eu ajoelho à natureza
Por ver nela emergir
Aquele Poder que tudo pode.

Antonius

Memórias de afectos

No rugido do esplendor
se enobrece o carinho,
desfraldando tanto amor
em abraços de mansinho.

Tocam as vias perfeitas
pelos enredos sensuais,
na memória das receitas
entre doces conventuais.

Nos anais da história
se retiram as ilações
dos afectos saliência.

Ecoam gritos vitória
extenuadas seduções,
paixões em envolvência.

António MR Martins

2011.04.28

Grassa sem graça

Foto: Clarisse Silva

Grassa a injustiça
Sem graça
Que atiça
Ainda mais
A corrupção.
 
 
Grassa sem graça
A injustiça
A preguiça
Do povo
Que atiça
Ainda mais
A corrupção.
 
 
O esgotamento
À porta
Que aborta
Mas comporta
Ainda mais
Perversão.
 
 
Grassa sem graça
O fim…
No princípio
O precipício
Como resultado
Da decomposição …


Grassa sem graça
A desumanização…
Jazem os valores
Impera a impunidade
No cemitério da verdade
Aos pés da Humanidade!



quarta-feira, 27 de abril de 2011

Despedida


O mundo inteiro
a calar-se dentro de uma lágrima. Não sabia o lugar
de um poente luminoso e o silêncio parado
era um grito invisível
dentro do tempo a desistir.

Era a chuva e o peso dos meus passos
nos olhos da manhã
era a noite de um pássaro
na solidão das árvores.

Era a sombra de uma pedra
inquieta ausência de mim
memórias de musgo a planar sobre o abismo
dos meus braços
informe dor
nos gestos vagos
das palavras.


Marialuz

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Voa para alem do limbo

Teço gerberas no teu corpo nú
em rotas bravas de sol e maresia
decanto o sabor selvagem da tua boca
em lábios de cristal embriago-me
no canto da cama por fazer

É o sol que penetra em carícia na pele
lavra a terra infecunda, carente…
ameiga as tempestades silenciosas
inunda os peitos de açucenas mil

E num voo precipitado, amamo-nos
no silêncio do mundo, falamo-nos
assim…. em sussurros espasmódicos
nos murmúrios imperceptíveis das bocas

Delineamos os contornos dos corpos
em mapas celestiais, sucumbimos mortais
em grades momentâneas, aprisionamo-nos
neste amor falcão…..liberto no rio da vida.

Gosto-te, sinto-te, liberto-te na eternidade da alma
Voa para alem do limbo, meu amor tempestade.

domingo, 24 de abril de 2011

OCEANO É A VIDA


Denso oceano é a vida

Que um mundo de coisas guarda em si

Curta que seja ou desmedida

É caminhando nela que vivi

Prosseguir nesse caminho é o que me resta

Ganhar e perder nela inscritos

Não nos iluda fazer dela mera festa

Tão pouco obra apenas de eruditos

Coisas mil lhe enchem os dias

Impulsos muitos os predilectos

Estar atenta ao risco, a novas vias

Ciente de que o importante são os afectos


Olema




sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sem Olhar Atrás

Entre um golo de Baileys e um tique-taque matei-te. Deixei-te à deriva no onirismo insano em que pairávamos e escolhi alcançar a razão, subi degrau a degrau de olhar inviezado, na esperança de te ver surgir entre as nuvens de areia. Hesitei por um momento ao chegar ao limiar ténue entre o sonho e a vida, mas tive que ser mais forte do que eu: chamei-me bem alto pelo nome, trepei o último degrau, agarrei no copo, olhei o relógio e desatei a correr atrás de mim. Desta vez sem olhar para trás.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Enquanto te amo

Não há mais nada
Que te possa mostrar
Se não abrires os olhos
E os deixares assim
Como quem sabe
Que há um novo horizonte
Para lá dum movimento cerrado
Uma brisa solta
Um rajada de vento
A quebrar todas as forças
Que me tomam
De um jeito tão seu
E me dizem de um modo
Tão meu
Enquanto te amo
E te desejo num espaço fechado
Onde os silêncios também têm voz

domingo, 17 de abril de 2011

QUEM É ESTA MULHER?

Quem é esta mulher
Desajeitada?
Que comigo não se parece em nada.
Que é como outra qualquer
Maria com outro apelido
Que anda à toa sem saber
E para quem a vida não faz sentido.

Quem é esta mulher
Desajeitada e infantil?
Talvez tenha algo a ver
Com a que sonha, sonhos mil.
Apaixonada pela magia
Do Mundo que a rodeia
E pela poesia,
que a prende em sua teia.

Quem é esta mulher?
É personagem antiga, reza a lenda!
Que à poesia vai recorrer,
e ao orvalho caído das alturas.
A que procura alguém que a entenda
Nas fantasias e loucuras.

Já sei quem é esta mulher!
A quem os sonhos foram desflorados
Que revela não ser compreendida
Nos sonhos mágicos encantados
E se queixa do salto vertiginoso da vida.

Já sei quem é esta mulher!
Que abre sem cessar caminho
À conquista do seu dia
Despreza tudo o que é mesquinho
Escreve a tristeza, vive a alegria.
À conquista do seu destino,
Que um dia cintila
E no outro vacila
Com passos de peregrino
Um dia vai moribunda
No outro o Sol a circunda
Que a mim não se parece em nada.
Mas é nela a minha morada.


natalia nuno
rosafogo

sexta-feira, 15 de abril de 2011

A Dança da Luz


Talvez habite um rio

onde sei de cor a utopia das pedras

ungidas de silêncio. Talvez celebre

o encontro quando depurar

de falas turvas as horas

perdidas entre nítidas veias de lodo.


A sombra espera que a voz

dos sinais desvende

o brilho das palavras.


Talvez nesse dia inscreva no ventre da terra

os fios de luz que

um por um

dançarão os caminhos

e reinventarão o sol nas raízes da casa.



Marialuz

terça-feira, 12 de abril de 2011

Catarse


As casas dormem ainda
ensaiando um silêncio de morte improvisada.
Nas janelas fechadas
oculta-se um rumor de luzes estranguladas.
O fogo adormecido da quimera
envelhece sob um céu sem luar
junto à rebentação das sombras
onde decifro a solidão fria do inverno
no crepitar da memória incandescente.

Personagem de encruzilhada, busco
um elo que faça ainda sentido
com qualquer coisa conhecida,
enquanto assisto ao desgaste lento das horas
a cavarem um fosso de incertezas
no parapeito arruinado da esperança.
Respiro todos os segredos da escuridão
no mármore arruinado onde repousa
um silêncio de asas mortas
e o gemer surdo do sono adiado.


Ao fundo do corredor
no átrio vago da demora
range a porta da alvorada
a abrir-se para a claridade inesperada do dia.

____________________________________________

ESSÊNCIA DA NATUREZA

fotog. marisa soveral
Sim ou não, como saber?

O importante é sentir, viver

não desistir…

não, não posso

seria um vazio em mim

e eu quero prosseguir…


Não faço mais perguntas,

não interessam as respostas!..

Basta sentir e eu sinto

é tudo o que sei – SENTIR!

A sublimação construiu a ponte

por onde passam

as tuas e as minhas águas

seguindo juntas

na força ardente de persistir!


Chegou a Primavera, que regozijo

o meu corpo, a florescer nas tuas mãos…

Na tela, a mistura de amarelo e azul

ficou verde! Corremos de pés nus

rolando na erva húmida,

lacerada

pelos corpos de musgo e terra,

numa luta enfeitiçada!


Tudo mudou, na profecia divina

que senti nos olhos de água…

Fonte de inspiração,

hímen carnal temperado,

com gosto e cheiro a pimenta!


Dentro dos meus braços

preenches-me sem fim

em afogueados gemidos

tão fundos em mim!


10.04.2011

VERBO REFLEXO




Nunca fui poeta.
Poeta é quem se serve da palavra,
Quem a usa como quem na pedra crava
A arte rebuscada do dizer,
Intuindo de forma inteligente
A forma do sentir
De toda a gente.

Nunca fui poeta.
Para mim foi sempre fácil diluir
Nas tintas que me foram sangue e rio,
Os sentimentos da minha própria fonte,
As lágrimas da minha própria dor,
Sem esforço de artista,
Sem pinga de suor.

Dizem que ser poeta é mais que isso,
É estar acima de si mesmo:

Erguer-se ao universo,
Erguer o verso
À dimensão de ser infinito,
À precisão sábia do escopro,
À abrangência de ser pão,
Ao sacramento de divino sopro
Que transforma o bruto sentimento
Em lapidadas peças de arte pura,
E excelência de plural emoção!

Erguer-se universo,
Erguer ao verso
O trivial chilreio das manhãs,
O riso e o que lhe fica por detrás,
A lágrima e a história que a precede,
A razão que, sofrida, às vezes cede,
O erro que não serve de desculpa,
O perdão que faz da máscara a própria culpa!

Sair de si mesmo
Para ser palavra pura,
Impoluta e livre,
Como quem está acima de quem vive!

Eu…?
Eu não sou poeta!
Os escritos com que teço o meu sudário
São restos que me sobejam da alma
E, simplesmente,
Trabalho em transe singular,
Como quem é instrumento e relicário
Das palavras que se dão por se querer dar,
Só por acaso,
E não por caso de engenho,
Sequer porque eu as queira dominar…

Não sou poeta.
Poeta é quem usa a palavra.
A mim são as palavras que me abusam.
Em apertado amplexo.
Tão cruel como meigamente,
Tão fel quanto mel corrente.
Me conjugam...

segunda-feira, 11 de abril de 2011

MAIS UM DIA



Sinto-me tão cheia de vazios
Hoje fiquei com menos um dia
de vida
Tantos foram... perdi-os!
Ficou minha mágoa comprida.
Mais um dia que conta
Menos um dia na conta
Vou o tempo rasgando
Já me enegrecem as asas
Vai a Vida enfarruscando
Penas minhas são brasas.

Porque a verdade é só uma
Hoje mais um dia se foi!
Não é mais um, coisa nenhuma
É menos um ...e me doi!

Apelo aos meus sentidos
O ouvido não quer ouvir
Diz serem meus sonhos desmedidos
Não ouve, nem quer sentir.
Apelo ao tacto, ao olfacto
Todos no tempo distante
Ficaram-se p'lo vôo das andorinhas
Só meu coração amante
Ouve as tristezas minhas.

Às vezes me sinto com algum talento
Escrevo com alguma qualidade
Mas logo perco o alento
Se me ignora a saudade.

A Poesia é como um vitral
Ornado que se olha iluminado
Um altar numa catedral
Onde Deus mora e é amado.
Por isso a escrevo sem parar
Meus versos me bebem o sangue
Julguei ter forças para andar.

Vou escrever até me sentir exangue.

domingo, 10 de abril de 2011

NO DESPERTAR DO AMOR

À se me lembro mulher
Desse instante remoto em que me solto
E liberto de asfixiante carapaça
Feita de incontáveis e contidos impulsos
Pela primeira vez em ânsias
Deslizo sedento e sonhador
Sobre o teu corpo ululante
Vagos gemidos se anunciando
Para em dádiva desinteressada
Àquele que tanto e tanto te sonhou
Te dares nas primícias do amor
Ah como te sinto ainda ofegante
Num imperecível descontrolo
Ah como me afundo em ti
Cuidando atingir o inatingível
Como premindo as teclas do teu dorso
Que te comprimem até à medula
Como mergulhando-me em ti
Quase perco o sentido do eu
Afogando-me num fogo não sonhado
Imolando-me no calor escaldante
Feito de indizível amor

Antonius

Mar prateado

A cidade submersa nas brumas da manhã
já nada resta dos sonhos
apenas um corpo a deriva
perdido.

Viro as costas ao mundo
...esqueço os restos do calor dos corpos...
das palavras escritas
nas cartas que um dia te escrevi.

Não te enviei nenhuma
atirei-as ao mar
afoguei com elas as memórias
as caricias marcadas no corpo
marcas dos teus dedos .
Olho o mar prateado
nesta manhã cinzenta escura
como a minha alma
espelho dos meus olhos
imagem desenhada
desde o dia em que partis-te.

E sigo viagem
mar adentro
num corpo submerso
vestido de negro
a espera da libertação
corpo leve
perdido nas asas
da nuvem branca
que me espera
a poente.

São Gonçalves
.

sábado, 9 de abril de 2011

Amada

Embriago-me na inquietação da espera
extasiado no mar do teu sorriso - ó paixão !
bêbado de perdido
caio ao chão
sem largar da minha mão
o teu cálice - florido ! -
ferido...
sorvo o teu respirar angélico
sufocado d´emudecido
rendido
aos pés da mais elevada ave
avé !
minha saudação ao teu temp(l)o ...



Luiz Sommerville Junior , 060420112153

quinta-feira, 7 de abril de 2011

olha-me sem dor…

Desenha-me no fundo da chávena


onde as borras do café


se esbarram no meu rosto.


Ainda me resta a cafeína


na cor da minha pele



[Naquela cor reproduzida


no pincel da chibata]



[Desenha-me de qualquer cor


pouco me importa]



Rasguei a carta de alforria,


a sentença, a liberdade condicional.


Retalhei-me por dentro e por fora


com o mesmo olhar negro,


com que retalharam a pele branca


da minha mãe…



Conceição Bernardino

Silênciosas as madrugadas.

Silênciosas e serenas são as madrugadas que me vêem despertar
sou por vezes um barco solitário a deriva num lago de águas calmas,
sombra espelhada em espelhos de águas prateadas.
Lá no alto vela por mim a lua
bela exeburante no seu vestido prateado,
conta.me historias dos amores errantes
e embala-me o sono com uma doce melodia de encantar.
Ao longe a cidade adormecida
desperta de um sono de sonhos
de vidas errantes.
E eu barco solitário a deriva
sigo viagem neste leito
de esperança num novo dia
debaixo deste céu de matizes
violetas e cinza
transmutação da energia
que da noite se faz dia.


São Gonçalves
.

Apetece-me…amar-te

Apetece-me beijar-te
sugar os silêncios profundos
e libertar as palavras trancadas no baú
da sapiência

Apetece-me abraçar-te, expirar
o ultimo folgo que te torna frágil
e lapidar-te diamante
nas minhas mãos estrelícia

Apetece-me soltar os nós
tornar-te Apolo
talvez assim me encontrasses
à luz da candeia que me ilumina
nas noites em que te procuro

Apetece-me olhar-te
transformar os teus olhos
em estrelas esvoaçantes
relampejando os sonhos teus

Apetece-me tocar-te
bordar-te em lençóis de cetim
com os fios delicados da vida
tatuagens febris da minha
própria amência

Apetece-me……amar-te

terça-feira, 5 de abril de 2011

SERÁ QUE EXISTES?

Oh Deus, porque não existes? É tão lindo este mundo, há nele tanta coisa preciosa! Há sentimentos, coisas que sentimos lá bem nas profundas da alma que nos estremecem, trazem até nós sentires inefáveis como esse a que chamamos Amor.
Este fala-nos numa linguagem muito própria, inatingível para a nossa inteligência mas que a nossa sensibilidade misteriosamente agarra e digere em delírios enternecedores que nos despertam o espírito e estremecem o corpo físico que nos acompanha.

No meio de tanto encantamento, como não existes oh Deus? Como vibra em nós esse sentimento fabuloso, inigualável, mas também outras sensibilidades que não têm preço, como a Amizade, apesar dos riscos de ser enganadora. Isto no que respeita ao nosso mundo interior e às efabulações da nossa mente. Mas oh Deus! Tu não existes apesar dos meus argumentos, mas há mais: há todo um mundo fantástico ao alcance daquilo a que chamamos sentidos e que alcançamos através dos nossos olhos, dos nossos ouvidos e de outros agentes físicos. É que com os olhos eu vejo a natureza, vejo os rios e as montanhas, as quedas de água, os desfiladeiros, os prados verdes e as árvores, esse milagre cresce e se torna frondoso e dá frutos que são delicias, tudo isto por obra e graça não sei de quê. E os meus ouvidos? Se os não tivesse ou por absurdo não funcionassem, eu não ouviria coisas maravilhosas, como o murmúrio das águas, o canto do rouxinol, a Tosca de Puccine, o alarido das crianças, a voz de uma mulher. Além disso, apesar de não existires, como pode oh Deus existir o sol, essa lua que sempre apaixonou os mortais.
Eu sei que há sofrimento também, e que tantas vezes tortura a alma. Eu conheço-o. Quase todos o conhecemos. Mas justamente porque ele existe, Tu devias existir, para aplacar os demónios que o injectam na vida dos homens.
Sinceramente, acho absurdo que não existas para que nós, pobres criaturas ignorantes víssemos lógica, entendêssemos o fantástico da vida e interpretássemos o porquê do sofrimento. Sabes uma coisa? Eu às vezes penso que Tu se calhar até existes, por aí escondido algures, atrás de um penedo no cocuruto de uma árvore, no cimo de uma montanha ou com mais lógica ainda, por detrás das estrelas. Só que escondido. Mas escondido porque? Pensando bem, talvez haja lógica nessa coisa de te ocultares aos olhos dos homens. O que seriam eles, o que seriamos nós se te víssemos, se estivesses ao nosso alcance? Acho que tenho que concluir que o homem só consegue ser homem às escuras, isto é, não Te vendo. No dia em que Te visse estaria chegado ao cume da montanha, teria acabado o tempo.
Sabes uma coisa? Às tantas Tu até existes, só que para nossa realização plena, fora do nosso alcance, apenas nos dando a chance de Te pressentirmos.

Antonius

O almocreve do tempo

 
Não pertenço aqui

Não sou da terra
Nem do mar
Viajo p'lo infinito...

Sou o âmbar antigo
Incrustado
Na resina sem idade

O elixir da vida
Para sempre
Perdido

... e da alquimia
O segredo
Ainda por desvendar...

Sou o almocreve
Do tempo

Um mago errante
Que busca
P'la encantada

Mágica planície
Dos seus sonhos...

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Na cama feita do presente



















Na cama feita do presente
em lençóis imprudentes
ondeiam-se os corpos
olvidados de tudo
e no tudo que nos cerca
metamorfoseamo-nos
em sinfonias de amor
na liberdade de existirmos
em dádivas …..frementes

Nos olhares semi-serrados
de delicados solfejos
a minha boca sôfrega
….. selvática,
anseia teus lábios gulosos
….de querer

Os rostos aprisionados
no silêncio das bocas
lêem-se carentes…. desnudos
num espaço sem tempo de ser

Sentem-se os corpos em voos alados
cobertos pelo entardecer

E a tarde cai fria nos lençóis
….vazios
mas o aroma do prazer
permanece bravio
na alvorada
do nosso próprio viver

domingo, 3 de abril de 2011

LAMENTOS DE POETA



Trazia as mãos pejadas de sonhos
Os sonhos repletos de promessas
Endoidecidos os dias, tão risonhos
Numa solicitude pedindo meças.
Mas os passos tornam-se pesados
As gargalhadas vão ficando apertadas
Ao desespero enlaçadas
Assim mirram os sonhos desgrenhados.

E a vida se fecha sem aviso
Marcada p'la nostalgia
Vincadas as rugas, é preciso
tolerá-las dia após dia.

Pensamentos em desalinho
Já não guardam segredo
Não sabem nada do caminho
Mas vão-no seguindo a medo.

Não me falem com palavras piedosas
Nem me digam só o que me convém
Prefiro engolir palavras audaciosas
Digam...digam que não sou ninguém!
Deixem-me partir cansada
Deixem que me vá embora
Com o rosto em pranto calada
Deixem-me no meu refúgio por agora.

Trago as mãos inábeis como ventos
Cruzo os braços e medito, a sós!
Ouço Cânticos de Poeta, lamentos
Que são rios que me correm na voz.


rosafogo
natalia nuno

Sombra

Os dedos
rasos de utopia
colam-se a devaneios
fantasia
que me desliza na pele
e arrasta pegadas do tempo
em nós desarticulados
de certezas que jazem no chão
inertes.
Ri-se de mim
a indiferença dos relógios
lenta anestesia
do sopro que me corre nas veias.

De que vento gelado me tornei matéria
na desmemória dos incrédulos?


Não sei os deuses nem o céu
esmaga-me a terra
onde me procuro entre as cinzas dos medos
embrião de um ventre renascido
fogo
água
palavra
chão que seria
se nunca tivesse sido.

Em lugar algum me encontro.
Sou a sombra
no voo de um pássaro.



Marialuz

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Neste limbo onde me morro


O que sou
Nem eu sei
Quando me perco
Em pensamentos
Tantas vezes desconexos...

Nada fui
Nada serei
Tudo se resume
Ao que de mim sei
Que sendo tão pouco
É toda a fortuna que tenho
Pois sei das raízes
De onde venho!

O que hoje sou
Nem eu o sei
Serei um fôlego
Do meu desejo
Insatisfeito
Ou
Quem sabe
Um leve sopro de alma
Que do meu corpo
Se escapou...

Invento-me
Em cada esquina
De ruas improváveis
Procurando-me em cada palavra
Com as quais vou compondo
Estes versos
Onde me reinvento
Peneirando-os aos ventos
Que me sopram
Luares de Outono...

Vivo-me e morro-me
Nestas terras do esquecimento
Em desassossegos
Constantes
Pela busca incessante
Deste eu
Que por vezes
De mim se esconde

São inquietantes
Estas sombras que me rodeiam
Que me perseguem
Que nem lobos esfaimados!

E é delas que fujo
Quando me adentro
Neste delírio
Deste limbo
Onde me encontro
Onde me penso
Me castigo
Me vivo
E tantas vezes me morro...

Ao abandono
De mim mesmo...

Definições do Blogue (Para Todos)

A todos os contribuidores do blogue:

O blogue está com as definições que a Fátima, Administradora do blogue atribuiu, e que lhe tem dado muito prazer, no sentido de manter uma imagem que satisfaça um conjunto harmonioso a todos. Assim sendo, e porque a Fátima, não pode e nem deve andar sempre a refazer as cores e os tipos de letra, informam-se todos do seguinte:


- devem postar os poemas sem alterarem, o tamanho, o tipo e a cor da letra, de forma a manter a uniformidade existente


- Não devem postar poemas de outros autores, que não dos próprios. Isto, porque se trata de um blogue, para o qual foram convidados a partilhar a sua escrita. (Existem postagens de poemas em nome de outro autor postadas por Olema Correia, mas que têm um carácter diferente, dado que irão ser publicados na antologia , através de Olema Correia, autorização dada pelo editor) Agradeço a compreensão de todos.

Um abraço: Dolores Marques


Entre um ontem
Já distante
E um amanhã
Ainda longínquo
Há um tempo indefinido
Que o relógio vai marcando
No compasso vazio
Meio cheio de esperança
Por onde vai caminhando
A vida

Entre as memórias
Da lembrança
Que o vento não levou
E o que ainda falta
Do caminho
Lá vai o pobre do engano
Entretido com o sonho
Que toda a vida
Consigo guardou

Ruma decidido!
A passos firmes!
Seguindo as coordenadas do deserto
Que até daqui se avista
No horizonte
Do desconhecido...

Soubera eu o quanto
Do pouco
Que ainda me resta
E não desperdiçaria tanto
Com a ilusão
De que tudo isto
É o que me completa...

Mas que mais poderei eu fazer?
Se do tanto
Que poderia ser
E não fui
Nada guardei
A não ser as penas...

Iludo-me!
Bem sei
Mas mil vezes esta insana
Àquela outra que desiste
E se entrega ébria
Ao malogrado desespero
Do desmazelo da inércia
E se deita
Com ele na cama
Da infinita espera
Sem chegar a conhecer
O fim do caminho!