terça-feira, 12 de abril de 2011

VERBO REFLEXO




Nunca fui poeta.
Poeta é quem se serve da palavra,
Quem a usa como quem na pedra crava
A arte rebuscada do dizer,
Intuindo de forma inteligente
A forma do sentir
De toda a gente.

Nunca fui poeta.
Para mim foi sempre fácil diluir
Nas tintas que me foram sangue e rio,
Os sentimentos da minha própria fonte,
As lágrimas da minha própria dor,
Sem esforço de artista,
Sem pinga de suor.

Dizem que ser poeta é mais que isso,
É estar acima de si mesmo:

Erguer-se ao universo,
Erguer o verso
À dimensão de ser infinito,
À precisão sábia do escopro,
À abrangência de ser pão,
Ao sacramento de divino sopro
Que transforma o bruto sentimento
Em lapidadas peças de arte pura,
E excelência de plural emoção!

Erguer-se universo,
Erguer ao verso
O trivial chilreio das manhãs,
O riso e o que lhe fica por detrás,
A lágrima e a história que a precede,
A razão que, sofrida, às vezes cede,
O erro que não serve de desculpa,
O perdão que faz da máscara a própria culpa!

Sair de si mesmo
Para ser palavra pura,
Impoluta e livre,
Como quem está acima de quem vive!

Eu…?
Eu não sou poeta!
Os escritos com que teço o meu sudário
São restos que me sobejam da alma
E, simplesmente,
Trabalho em transe singular,
Como quem é instrumento e relicário
Das palavras que se dão por se querer dar,
Só por acaso,
E não por caso de engenho,
Sequer porque eu as queira dominar…

Não sou poeta.
Poeta é quem usa a palavra.
A mim são as palavras que me abusam.
Em apertado amplexo.
Tão cruel como meigamente,
Tão fel quanto mel corrente.
Me conjugam...

1 comentário:

casos e acasos da vida disse...

Teresa não é poeta? Poesia corre-lhe nas veias, sai por todos os seus poros!...Parabéns poeta!
Bj
Marisa