domingo, 29 de agosto de 2010

baba de caracol


A esperança é a epiderme
que espera recuperar o viço
na baba milagrosa de um caracol
Ou será, ranho?
Não digo, que é feio!
Rugas?
Eu não tenho!
Ou estará o espelho baço?
Vou sobrevivendo a este embaraço
Curiosamente falando
não sou escrava do ego
Existe maior cego?
Serei bruxa ou Branca de Neve?
É uma questão de perspectiva
e nunca fico bem na objectiva
Para quem me conhece
sou a alma que ofusca o corpo
que dizem ser meu.

A GRANDE ILUSÃO

Andamos sempre à procura de uma razão
para continuar a alimentar esta ilusão que nos cerca
e continuar a fingir que está tudo bem
e que amanhã as coisas vão correr melhor.
A fingir que a felicidade está ali, ao virar da esquina,
apenas a testar a nossa fé
e a qualquer momento vai entrar pela porta grande
e encher de esplendor a miséria das nossas vidas.
Continuamos a mentir para nós mesmos,
alimentando um monstro que nos devora o alento,
como se a ilusão fosse uma droga
da qual estamos completamente dependentes,
e sem a qual não podemos viver
nem continuar a enfrentar o mundo.

Suspensos sobre a saliva do abismo,
com o coração ensanguentado
e as mãos cheias de nada,
seguimos o leito seco do rio
sem coragem para nos afastarmos da margem,
incapazes de explorar outros caminhos
e seguir outras pistas,
com medo de nos perdermos no desconhecido,
agarrados a uma estranha teimosia
e a uma inércia que nos prende às pedras
e às águas estagnadas do pântano.

Lentamente, o tempo vai passando por nós
e não temos forças para o agarrar
nem para correr atrás dele,
e vamos ficando para trás,
perdidos,
famintos de sensações e desejos,
órfãos do esplendor da vida,
como lápides mudas;
frias estátuas de olhos cerrados
a envelhecer
e a entrar em decomposição,
com um buraco aberto no peito
sem nada lá dentro, a não ser,
a nossa decrépita e gasta ilusão.

SUPERNOVA

Seriamos vento estelar
Nus pela lua nova
Processando a luz do génesis
Nos corpos em recife de coral

Sedentos de oxigénio
Entregues ao frenesim dos pássaros
Em beijos de praia mar
Para a sagração dos amantes

A nós regressaríamos humildes cristais
Vertendo em pêlo as gotas do amor
Imortalizando a praia que te baptizou…
…Mar

sábado, 28 de agosto de 2010

Vai Cair !

essa é a lágrima que não cai
verte !
quem ampara tão brusco deslizar ?
quem beija tão ferido olhar ?
quem ?
essa é a lágrima que não verte
cai !
e porque cai
cai
ai !...

LSJ, 2808201019:40

Perco-me

(foto: minha autoria; barragem do Carrapatelo)


Eu perco-me,
Não me querendo perder.
Eu fujo-me,
Não me querendo fugir.
Vou atrás de mim
Repouso no meu jardim.

Vejo-me…
Em flores… em odores
Imensidade de amores…

Sinto-me…
Em magia de eliminar
A palavra voltar.

Respiro o mais puro ar…

Negação da eliminação
Realidade à vista.
Crueldade…

Vejo o erro que cometi,
Nada de eliminações.
Conjugo o verbo desprezado
Volta o sentimento abençoado.


Não digo não a nada
Apenas sigo o caminho do sim.


**

Perco-me,
Querendo me perder.
Acho-me,
A cada instante
Que me perco.

A cada instante
É aliciante

Eu perco-me
Esvazio-me.
Eu encontro-me
Arrepio-me.

Será a perdição a verdade?
Ou será a realidade?

Quando perdida
Estou no meu mundo.
Estou de saída,
Da realidade
Desconheço esta sociedade.

Perco-me
Querendo (não) me perder.


Clarisse Silva

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Por Um Pedaço De Terra - "O Clube Dos Poetas Mortos"



O poeta morreu
a poeira imprimiu em seu corpo cansado
a caligrafia gelada do último verso
pequenino no adeus que o levou
nem uma lágrima rolou
na morada onde a chuva se despedia
os guerreiros medievais , as cruzadas
a imensa legião de combates
em prol dum pedaço de terra
sumiram por uma frincha do tamanho
de seus olhos fechados

agora já podia descansar...

Já não era poeta ...

LSJ, 2608201002:21

"Ser poeta é subir até aos mais altos planos. Aí não existe a palavra Poeta, e nem tão pouco palavras para se definir como Poeta.
Há uma linguagem universal, que não se coaduna com a teoria contínua de um Universo de letras com que se escreve a palavra poeta. Por isso que descanse em paz o POETA." (Dakini 26.08.2010)

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Le parfum

Toca a face
ébria a mão
que tua palma
acolheu
Pulula fresco
na pele
teu perfume

No olhar
luminescente
o suspiro sorri
...infante

Sons de vida latente



O Sol já se pôs

deu lugar à lua

que veio maternal

e numa ronda atenta

vigia os sinais

de vida latente


Quando o dia cai

até mesmo os rios

procuram seu leito

acalmando as águas

doces ou salgadas

à mercê do vento


Aves apressadas

partem em debandada

para se recolherem

E ouvem-se grilos

que não se deixam ver


Rãs cantam nos charcos

girinos, batráquios

natureza viva

pronta a adormecer

O vício do coração

Ergui o meu olhar e olhei o céu,
Aves inquietas voavam,
Rasgando o seu semblante como chacais
Perdidas, tagarelas em orbes radiosas
Iam e vinham como estradas de vento.
Aquele ritual de ilusão,
Distraiu a minha alma vazia,
Era a raiz do tempo que me envolvia,
Naquele odor perfumado que por mim chamava.
Perdi-me naquele limbo,
Embalando-me por ondas na praia deserta,
Em monólogos extremos…
Não desejando mais nada além da tua companhia,
Para comigo comungar da paisagem.
As horas passaram,
O tecto que se erguia em cima de mim
Mudou de aspecto… vestiu um fato laranja
E o sossego condensou-se de novo
Até que sobre ele desceu o farrapo negro
Extinguindo lentamente as cores.
As luzes embebidas de encanto,
Acenderam-se lentamente em todos os pontos
Dando um brilho mágico à cidade,
Serenatas mágicas romperam pelos espaços
Juras e beijos de namorados nos cantos
Segredavam hinos de desejos primitivos.
Suspirei… sentindo o pulsar do coração
Envolto na metamorfose deixei-me ir,
Era tempo de partir…
De ir ao teu encontro,
E perder-me também neste tempo
Para alimentar o meu vício de amor.

CAMPO DE LÍRIOS



Trouxe-me um tempo que tinha
de renda um campo de lírios.
Deitei-me à sombra do vento,
à deriva da brancura
que a chuva chorou de terra
e enterrou em semente
comigo, num outro tempo.
Fiquei num tempo pisado
pela ceifa da colheita
e o ânimo que me ensaia
ergue-me à proa da fuga,
agarro-me ao vento e cravo
as esporas da contramão
que sigo com o meu fado.
Subo a eito, ascendo a prumo,
encho o peito e me consumo
na atmosfera viciosa
onde pelejo torturas
que me assombram o regresso
ao campo outrora vingado
de colheitas proveitosas...
Não sou desse tempo agora.
Trouxe-me um tempo que chora
sobre lírios não plantados...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Café com cheirinho


: Café com cheirinho

Tomo café com cheirinho, olho a rapariga que segue o troço ferroviário, ela parece uma ave, dessas de pernas longas e magras.
- Ela é a filha do moleiro diz do balcão o dono do bar, um homem gordo e calvo que morou muitos anos na Suíça e juntou dinheiro para investir naquele negócio e que quer ficar ali o resto dos dias.
- A rapariga é bonita digo eu que sou novo ali.
- Tem muitos a lançar a rede.
Na estrada onde fica o café passa o carro dos bombeiros. Mais um incêndio sussurra alguém, outro acrescenta que noutros lugares o problema é a água, no Paquistão a água roubou o pão da terra, roubou o milho, o feijão, uma coisa de meter dó, aquela água toda ceifou muitas vidas, fez correr muito pranto e ranger de dentes. Aquela gente precisa de ajuda, em toda a parte se precisa de ajuda, aqui as nossas crianças precisam de pão para terem força para aprenderem as lições dos livros e os nossos velhos precisam de ter as garrafas cheias de vinho e dos filhos á conversa com eles e dos netos a moerem-lhes o juízo para que se sintam vivos e não se sintam inúteis. Para os velhos há dois lugares; ou a morgue ou o lar, mas pode ser se um velho importante, um velho intelectual, um desses poetas que nos enchem a vida de ilusões, que vão viver para uma ilha nas Canárias, que vão representar o orgulho que não temos, que são como o grande futebolista que marca os golos que não conseguimos marcar. Nós os pobres, os anónimos deixamos as bolas entrar, estamos frustrados, não conseguimos defender nada. Sabe uma coisa os políticos sabem que somos uns falhados e eles com as promessas que nos fazem inventam a ambição que não temos, nós não acreditamos nos políticos, eles são como um comboio que nunca vamos apanhar mas que nunca desistimos de correr atrás. Os pobres andam sempre a correr para o passado, a pobreza tem medo do futuro e é por isso que os pobres jogam aos jogos de azar e se imaginam os heróis da descoberta da índia e fazem do seu vizinho um Mouro a combater e ouvem as histórias da mil e uma noites em que os pobres se tornam ricos e os dragões acabam numa clínica de desintoxicação por causa da dependência ao ópio.
.Tomo café com cheirinho, olho a rapariga que segue o troço ferroviário, ela parece uma ave, dessas de pernas longas e magras.
- Ela é a filha do moleiro diz do balcão o dono do bar, um homem gordo e calvo que morou muitos anos na Suíça e juntou dinheiro para investir naquele negócio e que quer ficar ali o resto dos dias.
- A rapariga é bonita digo eu que sou novo ali.
- Tem muitos a lançar a rede.
Na estrada onde fica o café passa o carro dos bombeiros. Mais um incêndio sussurra alguém, outro acrescenta que noutros lugares o problema é a água, no Paquistão a água roubou o pão da terra, roubou o milho, o feijão, uma coisa de meter dó, aquela água toda ceifou muitas vidas, fez correr muito pranto e ranger de dentes. Aquela gente precisa de ajuda, em toda a parte se precisa de ajuda, aqui as nossas crianças precisam de pão para terem força para aprenderem as lições dos livros e os nossos velhos precisam de ter as garrafas cheias de vinho e dos filhos á conversa com eles e dos netos a moerem-lhes o juízo para que se sintam vivos e não se sintam inúteis. Para os velhos há dois lugares; ou a morgue ou o lar, mas pode ser se um velho importante, um velho intelectual, um desses poetas que nos enchem a vida de ilusões, que vão viver para uma ilha nas Canárias, que vão representar o orgulho que não temos, que são como o grande futebolista que marca os golos que não conseguimos marcar. Nós os pobres, os anónimos deixamos as bolas entrar, estamos frustrados, não conseguimos defender nada. Sabe uma coisa os políticos sabem que somos uns falhados e eles com as promessas que nos fazem inventam a ambição que não temos, nós não acreditamos nos políticos, eles são como um comboio que nunca vamos apanhar mas que nunca desistimos de correr atrás. Os pobres andam sempre a correr para o passado, a pobreza tem medo do futuro e é por isso que os pobres jogam aos jogos de azar e se imaginam os heróis da descoberta da índia e fazem do seu vizinho um Mouro a combater e ouvem as histórias da mil e uma noites em que os pobres se tornam ricos e os dragões acabam numa clínica de desintoxicação por causa da dependência ao ópio
.A mulher do dono do café, xaile sobre os ombros pergunta: - Jovem você acredita que os homens foram á lua, acredita que eles foram naquele transporte que parece aquela coisa que os homens põem nas partes por causa dessas doenças modernas, você acredita, eu não sei se deva acreditar, tinha de ver com os meus olhos.
- Não sei se eles foram lá, não quero saber, pessoalmente imaginar ir á lua é como ter uma iguaria ao pé dos olhos e não poder comer, quem nunca saiu daqui fazer a mais pequena viagem deve ser como não conseguir dar uma explicação para o primeiro clímax, para tudo há sempre uma sensação, o cozinheiro que frita um ovo pela primeira vez sente-se o mais importante chefe de cozinha. Ele vai figurar no livro dos recordes como o primeiro cozinheiro a dar ao mundo o ovo estrelado que cai no prato tal ginasta a fazer o triplo salto e a cair direito com os dois pés no chão. Sabe não faz mal acreditar, acreditar é uma razão para viver, nós vivemos porque temos sonhos e é isso que nos dá força quando não encontramos o corrimão que nos ajude a subir as escadas.
- O meu marido foi esse corrimão, sempre lhe fui fiel, só ele me convencia a crer no impossível, por isso casei e lhe jurei obediência, sou católica apostólica e Romana. O homem ir na lua é coisa do diabo, já não bastava os Russos comerem as crianças...
- A Senhora quando morrer vai para o céu.
- Claro que vou para o céu, para onde havia de ir?!
- Pode não haver vagas.
- O céu não é a função publica, esses gajos vão todos para o inferno, olhe já viu como vivem esses tipos, andam sempre a pedir aumento e os ciganos que recebem dez rendimentos mínimos, até os cães recebem o rendimento mínimo. Eu sei quem punha isto nos eixos.
- Olhe minha Senhora o rendimento mínimo tem ajudado muita gente, imagine se o nosso grande poeta no tempo dele tivesse este apoio social.
- Camões foi um grande poeta, outro dia fui ver no teatro a Inês de Castro, a minha filha fazia de Inês quando chegou aquela parte em que os marginais a iam matar peguei no telemóvel e liguei á guarda, não podia consentir uma coisa daquelas, sei que aquilo era tudo a fingir mas naquele momento fiquei fora de mim, eu sou mãe, posso parecer uma pessoa dura mas na verdade tenho um coração de manteiga, costumo dar donativos para os pretinhos em África e para o canil municipal, pobres dos cãozinhos, o nosso perdigueiro costuma levar coisas da mercearia aos nossos clientes, o animal é inteligente, até sabe distinguir um cheque careca de um cheque com cobertura.
- Ainda há-de trabalhar num bar, talvez no BPN.
- Coitados daqueles que puseram lá o dinheirinho.
- Sirva-me uma imperial
- Com este calor sabe bem, eu bebo muita água e na comida não deito sal, o meu marido diz que eu deito sal no prato da vida alheia, eu só gosto de conversar e isso não tem mal, você é um rapaz novo, não sei se está comprometido, sonho para a minha filha que ela case com um médico, uma vez sonhei que um médico auscultava notas de cem, não gostava vê-la casada com um artista ou com um dono de café, nós queremos ter orgulho nela.
- A sua filha gosta de teatro e se ela quiser ser actriz.
- Se ela tiver essa vontade, a minha filha é maior e vacinada.
- Penso que o mais importante é ela ser feliz mesmo que fosse a tirar bicas.
- Mas eu gostava de ver a minha filha casada com um médico, colar o diploma na vitrina do estabelecimento para os invejosos se roerem, depois podia morrer em paz.
- E a sua filha quer casar?
- A minha filha diz que os homens não dão utopia á vida.
- A utopia aparece com os filhos, o meu pai contava que com o primeiro filho se sentiu um Hércules a segurar dois mundos.
- Sim os filhos fazem-nos acreditar no impossível, olhe você sabe quem cá esteve?!
- Não
- O professor Cavaco silva, fiz questão de lhe servir um café, é um homem de trabalho, subiu a pulso na vida, acho que ele não vai deixar os maricas casar, aqui em frente moram dois, acho que os dois são médicos, nem que eu estivesse a morrer... costumam vir aqui, costumo rezar por essa gente.
- Cada um faz o que quer, a mim não me faz mossa.
- Lá na televisão é que estão bem, eu gosta daquele maricas da televisão, costumo ver aquele programa das manhãs, a minha filha diz que não se deve falar maricas, que é mais correcto homossexual, é como promover o soldado raso a general, ideias modernas, se eu governasse isto ia com pau de marmeleiro, sabe o meu marido nunca me tocou, não lhe dei motivos, sempre me soube comportar, as mulheres agora não se sabem por no seu lugar, querem ser iguais aos homens, querem independência, usam as mini saias cada vez mais levantadas, vê-se tudo , outro dia estava cá uma rapariga quando se baixava mostrava o rabo, tinha vontade de lhe pregar um par de estalos, isto é uma casa séria.
Começa a chover, saio para comprar o jornal, tenho andado a pensar escrever um romance ou propor uma crónica na rádio, vou talvez tentar escrever o diário da roupa suja.

sábado, 21 de agosto de 2010

Sou o desacerto




Quem me dera o sonho

talvez a quimera...

Ser ninfa, ser fada,

ser tudo ou ser nada

Transmutar a vida

que trago cá dentro


Sou parte do cosmos,

vibração astral

Intuo o futuro,

degusto o presente

O passado está morto,

enterro-o eu


Sou o desacerto,

sou puro deslize

Sou tudo o que penso,

mais o que não disse


Sou somente humana

de mim tenho medo

Vivo em clausura,

no isolamento

Reflicto na vida

a mente é meu templo



sexta-feira, 20 de agosto de 2010

SONHO DE POETA

Vive dentro de mim
uma voz que me sussurra
estes versos que reinvento
no coração das horas solitárias.
Uma voz sem idade nem rosto
que me guia os dedos trémulos
pelos labirintos de papel
onde desenho o movimento do mar
e as cores do poema,
como um barco de fumo
que passa sob a ponte invisível
cruzando as margens distantes
de um imenso e desconhecido rio.

Não sei a quem pertence
esta voz rouca que me habita
e me enche os pensamentos
com o ritmo sufocante
de um ardente respirar.
Um sotaque de ventania
a assobiar dentro das sílabas;
o pulsar ofegante de um desejo
que me impele constantemente
a arranhar a face lisa desta folha,
numa busca cega pelo equilíbrio
de um punhado de palavras
que talvez ninguém vá ler.

Dentro de mim,
nas janelas abertas deste túmulo,
vive o sonho de um poeta.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Poema em espiral


Retorno ao centro da espiral
à morada empírica da essência
Há em mim um Know how salomónico
não me assolam dúvidas, só conhecimento
Enceto a viagem ao templo sagrado
que reside no ponto fulcral do meu eu
Ensaio a descida à coluna da alma
sinto-me um ser andarilho dos tempos
e rendo-me à fascinação peregrina da mente

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Provérbios (II)

(Tela de Paula Rego)

"Quem está no convento é que sabe o que lá vai dentro"

Enclausurei-me, sem saber como surgiu esta clausura no meu silêncio. É um mero encontro com a adversidade de meus passos até ao limite onde me encontro; anulada, esmiuçada, profanada, e sem saber como, escancarada sobre os muros que delimitam este invólucro, amealhando histórias contadas, do tempo em que me esbarrei contra os muros deste templo.

Talvez por força de pensar ser uma passagem pelo tempo, consciencializando-me, de que, se o desassossego é uma constante mudança num corpo quedo, também poderá ser um grito silencioso que se perde nas lamúrias que o tempo proporcionou. Há sempre um modo de me insurgir contra o mundo que me colheu neste emparedamento, e será de sempre e para sempre, a minha alma que se vestirá de eras outras, em que o caminho da verdade reside ainda no meu silêncio.

Sentimo-nos únicos, mortificando os momentos que nos ensinam a viver ao lado de formas e pensamentos, mas há encantamentos que nos dizem de nós, quando nos damos conta, que quem conhece as paredes frias de um convento, saberá a medida exacta de um traço, que trace o destino, e o conduza adentro de um único caminho.

Publicado em:
http://www.luso-poemas.net/modules/newbb/viewtopic.php?topic_id=2278&viewmode=flat&order=ASC&type=&mode=0&start=20#ixzz0wmtWslhF Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Tu és os meus dias

Meu amor,
Oh meu grande amor…
Meço em teus olhos o universo,
Em teus lábios a fonte da suavidade,
Onde percorro em desejos
Sempre que os nossos corpos se encontram.
Meu amor,
Oh meu grande amor…
As tuas mãos são asas
Onde viajo rasgando o infinito dos céus,
O toque anuncia primaveras,
Amarrando os corpos prisioneiros,
Humedecendo as estrelas candentes
Naquele momento quando estamos os dois.
Meu amor,
Oh meu grande amor…
Não vivi antes,
Nem o tempo sorriu a sua existência,
Enquanto não recebi os teus beijos,
E floresceste em mim todos os dias.