domingo, 31 de outubro de 2010

Por aqui há chuva...


Por aqui, há uma chuva que cai e vai alagando os caminhos... agora mais forte, sim, mas mais fortes são os laços que nos unem e as palavras que nos conduzem por muitos outros caminhos já em construção.



Gosto desta sensação de me encontrar entre um beiral e outro, e nos intervalos, deixar escorrer uma gota pela minha face, molhar as pontas dos dedos e riscar nas paredes um nome - Poesia

Dedicado à Saozinha pela apresentação do se livro "Longos São os Caminhos", ontem dia 30/10/10 em Libsoa


Ler mais:
http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=158099#ixzz13w37VOCa

sábado, 30 de outubro de 2010

A pobreza está a dormir

A pobreza está a dormir dentro da garrafa do vinho e a garrafa do vinho é a casa do mundo. A pobreza é uma mulher louca que anda pelas tabernas a mostrar as pernas aos homens disfarçados de anjos, mas na verdade são frustrados actores de cinema fumando cigarros de papel de jornal. A pobreza está a dormir no jardim municipal escutando a orquestra Africana. Na tecla do piano anda uma borboleta como um barco na água dos olhos. A pobreza está a dormir dentro da garrafa do vinho e a garrafa do vinho é a gruta do homem solidão. A pobreza escuta o ruído do comboio e ela desenha nos vidros os medos infantis dos gangsters Americanos.
A pobreza está a dormir dentro da garrafa do vinho e a garrafa do vinho é a casa do mundo.

Lobo

Entre mundos paralelos


Cansada de um corpo que não é meu
fardo que carrego, karma vivo
na ânsia de voar até um céu
num mundo paralelo: um paraíso
Transpiro a densidade deste inferno
mas queria conhecer um outro brilho
sob o luar poder adormecer
sem medo de acordar de um castigo
Ser pluma feita de antimatéria
e flutuar despida desse estigma
que é a prisão que encerra a minha alma
pior que tudo...que controla a minha vida!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Ascese

     Entardecer
     na vidraça , estilhaçada !
     biliões de sóis , triliões de iões , de luas !
     rasgados de golpeadas , finas !
     sulcos amplos cortando o manto !
     neblina , gelada !
     deste não vir que tarda , a madrugada !
     descobrem-me , finito !
     abraço desencontrado contra a noite !
     despregando o dia , breve !
     do leito dourado
     que de tão pouco repousado , cansou !
     desorientando o Oriente do Ocidente , nublado !
     horizonte fechado à esperança , sem alternativa !
     espaço enclausurado no tempo , arrepiado !
     erguem-se os muros em ambos , os lados !
     ao centro , descentrado !
     não há portas nem janelas , desfocagem !...

     e ...
     todavia ...
     amanhece !

     agora que cai a noite

     eis o dia ...


     Luiz Sommerville , 29102010,18:30
      (Imagens google-2-, Edição LSJ)

Lembra das crianças

Lembra das crianças que sabiam lendas, no tempo da rua, no tempo do circo ambulante, quando a musica que o palhaço tocava mudava o zangado semblante do Senhor importante. Lembra das histórias que o avõ contava, dos berlindes e do pião, as escondidas quando eu brincava encontrando o teu perdido coração

Lobo

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Para ti alma errante

A seres alma errante, junta-te a mim...

Quem sabe fazemos das duas uma só, a atingir a plenitude dos desejos mais consentâneos com a nossa essência de sermos mais do que almas errantes....

Para ti...alma errante

Soneto sem fé


Esfuma-se a fé na ribalta dos sonhos
Na película seda das nuas folhagens
Há um verde em meus olhos tristonhos
Cristal humedecido, sombra de ramagens
Pluviam-se rios de lágrimas contrafeitas
Arrastam-se dores no leito dos tempos
Almas aturdidas. esperanças desfeitas
Música que oiço sempre a contratempo
Há um limbo emergente, feito de nada
Sírios sem padroeira, ateus de memória
Um devir ausente pela madrugada
Roaçndo a apatia, entregue à sorte
Resta agora a vida que se vê lá fora
É noiva de luto, boda sem consorte

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O silêncio é a morte, travestida de sedas

O silêncio é a morte, sabes, travestida de sedas…
Quando ela chega, sabes?, adianta o relógio para a hora certa, e acende as luzes falsas do camarim a cheirar a humidade mofenta e dores arrancados de fresco à terra revolvida.
Chega iludindo, por isso tu não sabes, como poderias saber?... Chega deludindo o marulhar das vozes piedosas, do chocar dos sinos, dos gritos em parto. E enquanto tudo se distrai, num círculo fechado de murmúrios que explodem sons que não se reconhecem, mas são de sempre; enquanto a plateia se acomoda, cega ainda de silêncios, ela veste-se à luz do camarim oculto, algures por trás dum cerrar de reposteiro negro. Veste-se de silêncio puro, tecido por suas próprias mãos, e derramado a frio sobre a sua nudez de círio extinto.
O silêncio é a morte. Quando vieres depositar-me flores, não lhe traias a figuração estática com palavras que a não comovem. Respeita-lhe antes as sedas…

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Solstício de inverno



Ao fim do dia, a mente exausta
já só encontra palavras gastas
para seguir o declínio aparente
da derradeira luz que se extingue
num equinócio de primaveras corrompidas.


As pálpebras rangem
seguindo a cadência dos relógios
pendurados na monotonia das paredes,
num arrastado bocejo
à volta dos 12 signos do dia.


No hemisfério gélido das marés
a cinza derretida do luar
tinge veias rasgadas
de um caudal de anjos decapitados,
afundados
no estuário sombrio do meu voo.


O que resta de mim
é aquilo que a insónia do vento
deixou nos rebordos da pedra,
as longas noites de sombra
cobrindo a face do horizonte,
um ocaso de ruínas
engolindo meu corpo fatigado,
e interrompidas quimeras
de um solstício de moinhos petrificados

Dor de mim

(imagem google)

Esse som que se arrasta incólume
Essas gotas de orvalho miudinho
Esse deslocamento da retina
Em frente ao sol maior
Esse lado obscuro do silêncio
Esse marasmo
De se entregar ao medo
E enfrentar a nova corrente
Sobre um corpo molhado

Esse toar revelador
De silêncios antigos
Um afago pela manhã
Sempre que a noite
Se vai de mansinho
E a dor de mim
Por não me sentir
A cair num abismo
Longe, tão longe
Quanto o meu sonho
A quebrar todos os cansaços

O Nascer Do Poente

Suponho
que já não penso
suponho
que já não sou
suponho
o verso extenso
do poema para onde vou ...
suponho
que supus
imaginando...
entretanto ...
do tanto que me transpirou
deste que me fui porque te sou


a luz voando ...



Luiz Sommerville , 26102010

Há no silêncio

No silêncio das palavras, que grito o sentimento
Da dor do corpo, petrifica a alma...
A mente em bloqueio, inóspito pela razão
Que escasseia,
À primeira vista
À segunda vista
Ao pensamento mais estudado e aprofundado
Desconhecida...

Há no silêncio a dor, a escuridão, e esperança
Que viajou sem hora para regressar.

Há no silêncio as palavras que não foram ditas
Pela obrigação do encorajamento.

Há no silêncio o olhar nos olhos, lânguido
A resignação à realidade, a angústia.

Há no silêncio a força que findou
Aos pés do pedido de socorro.

Há no silêncio o princípio e o fim
O regresso após esta passagem.

No silêncio


Clarisse Silva

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

COMO NUM SONHO...

…bonito
Tu eras borboleta a rainha das estrelas-do-mar
Extraías a minha morte ao inferno que a queria para de mim se saciar
Calavas os relâmpagos que se estendiam na minha direcção
Quando sentia
Eras um anjo a voar na brisa da manhã
Os teus dedos as sandálias a percorrerem-me numa carícia imã
Tu devias ser borboleta
Ou a rainha das estrelas-do-mar
Coisas da vida
A saída
As coordenadas dos meus rituais
Na boca a falar amar a partir dos nossos quintais
E havia
Um clarão de anjos perfumados pela presença dos nossos ideais
Dois corpos jogados na órbita de Saturno como Pandora e Prometeu
Enrolados reflectindo a luz do sol fazendo acontecer…
E de novo numa infinda canção
A minha alma pluma de embalar

Tu deves ser borboleta
Ou a rainha das estrelas-do-mar

Miragem

Foi como se o teu sorriso trouxesse nos lábios
os sonhos da lua
instantes quentes de uma verdade
que tens para me contar

não sei o que fazer com esta vontade
que me é estranha
mapeada de pontos de interrogação

invento uma tela em branco
em que teço os passos leves
de uma aragem de loucura
num tempo
que não é meu nem teu

quisera eu de horas ser escultora
sorver o momento
libertá-lo da sua temporal sujeição

penduro no meu chão
a porta entreaberta
fecho à chave o teu nome
e despeço-me
só desta vez... mais uma vez.

Marialuz

"I Have A Dream"

Sonho contigo , sabias ?

Não, não sabes ...
e porque não sabes
um dia morrerei
por tanto sonhar
e tu não o saberes
aí , então,
perguntarás
- porque morreste ?
e eu te retorquirei
- porque formulas sempre
a pergunta errada ?

Luiz Sommerville , 25102010

domingo, 24 de outubro de 2010

Morro-me de nadas.


morre-se...de tanto
eu morro-me nesta ausência
diante do céu
a cair-me nas mãos...
pedaços de memórias
penduradas.

morre-se..de tanto
eu morro-me da melancolia
nesta teia
onde me enredo
alucinada.

morre-se ...de tanto
eu morro-me de ferida acesa
incolor
sem saber onde fica 
esta dor
que me sabe cativa.

Eduarda

sábado, 23 de outubro de 2010

Há todo um mar de sargaços


Sou gaivota em terra
prenúncio de vendaval
Sempre que as águas se agitam
saio por aí voando
na ânsia de liberdade
Sou ave astuta e ousada
trago a lua na plumagem
viajar é o meu sonho
Nunca andei de carruagem
sigo o bando e sei de cor
a rota desta viagem
Há todo um mar de sargaços
nos fios dos meus cabelos
e nada a mim me demove
de desbravar infinitos
Nas asas dos sete ventos

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

DÓCIL NAUFRÁGIO



Salga-me a carne o mar que navego,
Caustica-me a alma o vento à deriva
E gaivotas gementes mergulham-me os olhos,
Perdidos na linha onde pesco horizontes...

E as vagas embalam-me,
E o barco é meu berço,
Entrego-me, esqueço...

Salpicam-me os olhos gotas de tormenta,
Fustiga-me a esperança a vela rasgada,
E os risos disformes das nuvens em ânsia
Agitam o ventre do silêncio incontido...

E as vagas embalam-me,
E o barco é meu berço,
Entrego-me, esqueço..

Cerra-me o círculo uma praia sem terra,
Atinge-me o golpe do naufrágio que mina
As areias dóceis do meu abandono,
E as gaivotas pousam, em preces aladas..

Aladas de branco,
Aladas de paz,
Que a espuma, de raiva, desfaz...

E as vagas embalam-me,
E o barco é meu berço,
Entrego-me, esqueço...

Sigo o Sol

Fotografia de Paulo Sérgio (Olhares.com)


Setembro de novo sempre diferente.

A brisa fresca nas manhãs com aroma a terra húmida de noites de lua cheia.

Verte-se o perfume das magnólias por florir.

A partida não anunciada das andorinhas enche o silêncio dos campos arados.

Pó revolto que aguarda as chuvas que o engravidem de vida.

Repensam-se artistas (pintores e poetas) numa escrita sem presunção.

Os sentidos alerta em toques de pele por descobrir as texturas e cores do mundo a girar.

Sim. Danço só para ti.

Absorves-me com esse olhar de menino abandonado, entrego-me às tardes mornas do teu abraço e (a)fundo-me em ti.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Vagas sem voz

Percorro
com o olhar difuso
as águas da noite
num rio estrelado…

Vacilo
em focos inefáveis,
o silêncio é ambíguo
escuto-o cantar…

Os gritos mudos
param os relâmpagos intemporais
que se carregam
nas vagas sem voz,
murcham as terras inférteis
debotam aromas…

Os olhos arrepiam-se
no oscilar das mãos
a ponta das unhas tremulas
arranham pigmentos de coragem
no ápice da confiança
que os ombros teimosamente albergam.

Envolvo o infinito dos bosques
nele encontro
uma nova semente
na margem do rio que me alimenta!

Ana Coelho

Uma qualquer roupagem


Já tive pétalas de peixe
e guelra de fina flor
Tive bigodes de pássaro
asas de nobre felino
Cauda de borboleta
escamas de cão de água
e olhar de girassol
Já libertei bolhas d´água
fui essência do amor
Em Janeiro subi ao telhado
voei em sonhos rasantes
Travesti-me de mil cores
Ladrei em sons rastejantes
fui semente em campo d´oiro
Já fui homem, já fui bicho
fui mulher, como se quer
Minha alma é qualquer coisa
não se nega a quase nada
É tudo o que Deus quizer
seja qual for a roupagem
Estou para o que der e vier

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A Mudez dos Pássaros

O silêncio escorre pelos sulcos do tempo
rompe os ruídos da noite.
Encaro os espelhos resignados
e arrumo os meus sonhos
de tranças desfeitas e olhares demorados.

Sinto as pálpebras vergadas
às paredes indecifráveis da memória
sílabas confusas estilhaçam
o centro da palavra.

Recorto vultos em páginas
opacas
em busca de caminhos à solta
e raízes ao vento
sementes do pensamento.

Em vão fujo de mim
sem rumo na linha do horizonte
nem céu que sobrevoe a mudez dos pássaros.

Marialuz

T G

É dia de distancias multicores o vento sopra a boreal aperto a palavra que parte, sinto o cansaço a ser levado em defunto. No ar a conversa finda, no vento o sangue é de narrativa real, as feridas fragmentos de ornato gemidos na fonte graça da jeira. Há muito inclinei-me sobre o mundo no caminho o peito vergou-me ao combate, não fosse beber o sentido do som sem existencialismo transgénico e caía-se, caía-se subia-se por aí. Nenhum dia se extingue inocente num fundo stéreo, nenhum princípio aprisionado harmoniza nos vitrais da existência, o normal são lugares para a recusa de existir livre e natural.
Ascendo a um buraco futurista para a fusão do nada em sol maior, é do amor, desenha-se no peito como um relâmpago. Bendito. O resto é abrir os olhos sem emendas sem o sangue e o degredo do costume, abrir as mãos só com nada, o nada é essencialmente infinito. Falta um tempo de mundo humano, muito do ar que se respira veste de cem cor estragado e nós revolução evolução duas esposas convidadas somos a latejar no limiar de enlevos imperiais a chorar nos céus rios. O ar ainda tem um odor sedimentar, ouve-se um choro e um cantar e duas faces a estiolar.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

DESOSSADA

Sento-me na parte inferior da janela. O vazio ecoa sem bálsamo, sem alento. Desnuda-me a alma...petrifica-me os ossos. Na esteira da praia estico a pele numa qualquer falésia. Parece uma bandeira salgada, amarrotada de cinturões frenéticos. Estreito então a estrutura numa qualquer reentrância, trancada, escavada e sem perfil estagno no mais impudico dos silêncios. Rasguei as veias com o sangue mais conspurcado.... fiz sexo em andaimes agrafados...castrei a última esperança na morfina de todos os lemes. Dos ventos cruzados resta agora o corpo coalhado de um qualquer néon. com raiva piso o frio...esmago as pedras.Talvez o vento me torne uma árvore estilhaçada com escamas nas mãos.

Eduarda

sábado, 16 de outubro de 2010

Trevo de 4 folhas


- Já nem sei se me disponha a ouvir-te nesta hora tardia. Tenho um livro novo, e lá dentro um trevo de 4 folhas.

- Trevos a esta hora da noite, não. Prefiro as pétalas das rosas que perfumam ainda o jardim, de onde avistei o Bocage

- Rosas ? Não as vi, mas vi muitos cravos cheirosos, e julgo ter visto um no bico de uma gaivota que descansava junto aos pés do tal poeta.

- Eu vi muita coisa, mas gaivotas não. Vi alguns poetas que talvez se tenham lavado com água de rosas e vi um livro, isso sim, um livro que se desfolhava sozinho. Fiquei a ver onde ele foi parar, quando te saiu das mãos e voou junto aos olhos da estátua desse poeta. Coitado dele, ninguém reparou, mas eu vi-o a espreitar pela fresta de uma janela.
******************
Dedicado à Nanda, pela apresentação do seu livro hoje em Setúbal

Tela de Silêncios

Mergulho as mãos nos silêncios do tempo
e em palavras não ditas
reinvento o sentido invisível dos dias
que me olham nos olhos deformados
sem lágrimas de alma aquecida
nem manhãs de sonhos acordados

os instantes já não voltam a ser meus
calaram-se nas vozes de outros
afasto-me da minha pele
ao som trémulo de violinos mudos

chegou sem aviso a noite escura
uivos da Lua
gélidos momentos
tombados na tela translúcida de sobrepostas figuras
vermelha loucura de aniquilar o vazio
de um olhar desgrenhado.

Marialuz

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

NÃO ME PEÇAM

não me peçam hoje para morrer
deixem-me aqui...
simplesmente erma
desconvocada.

do sono que trago
um ruído surdo
me algema
na mais inglória desdita.

não me peçam hoje para morrer
dentro de mim
pois já o estou antes de ter nascido.

Eduarda

beirais

o grão
que a asa
culmina
se vislumbra
na ave

cantada pelo bico
a melodia
temperadora

um cismar
esvoaçante
que nesse voar
se grave

num voo
sem adoçante

António MR Martins

imagem in http://www.barrento.com/ (Andorinha-dos-beirais), na net

Cascata de emoções


Na alvorada dos meus dias mansos
agitam-se-me as águas brandas
numa cascata de emoções
Nos abraços com que me enlaças
e enterneces a pedra
que vive no meu coração
Sabes porque me encanta o teu sonho?
porque ele é meu também
Nele os anjos, alvos de esperança
tocam liras e alaúdes de candura
Entoam cânticos de paz
clamando a luz do amor
Nele flutuo contigo
quebra-se-me o gelo da alma
num almofariz de ternura
Se o poema é parco nas palavras
carece de um sorriso teu
para tomar forma e textura

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Destino escondido

No lago ondulante do pensamento
há uma cascata turbulenta
tombando
um pássaro hibernando na raiz
da liberdade
um vento timbrado, que sopra
gemendo
um céu transvertido
lágrima

paisagem rascunhada…. cinzenta

mas no rabisco vermelho patente
há uma flor que cresce no abismo,
esquecida
pétalas e espinhos perfazem-se
rosa imergida
no licor quente da própria
vida

há um consolo que penetra
o olhar perdido….
um papel escrito
de um livro ainda não lido
um destino escondido
d`uma vida sentida
a minha

CONDOR GENUÍNO

O cérebro ficara-te em estado de sítio incolor e sentiras o odor das manhãs cansadas do inverno. Escapara-te na tela a própria vida por entre dois dedos de bailarina em flor num rodopio de libertação em curtos excertos líricos ao expoente do silêncio aprisionado em ti ao cair da noite.

Eu, cedo descobrira em sombras urbanas denunciada uma verdade bem cruel e o trágico fintar dos passos dos deuses pelo olhar oblíquo que trespassa os meses vagueando por lugares de alma de cá para lá galopando sem mãos numa introspecção decrépita povoada pela morte duma fina flor de fado.

Condor genuíno estás presente dos dias aqui e se por trás do néon das clareiras de vidro ouvires o seu nome então dirás…

…Amor, trago-me no fim para pensar, trago-o no corpo a cada rasto, a cada medo de o não ter de mim. De brancura em silêncios de ti estrebucho no leito da morte. O mundo fundiu-me de tédio e tu de filigrana muito fina e eu voltarei a dormir, tic - tac dormir. O meu corpo presente acabar-se-á entre delírios e firmamentos de nós. Agora e sempre que pronunciarem o teu nome apenas direi… Amor

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Tu cá tu lá

Tu cá

num mundo de sonhos

partilhados

rios de palavras por

inventar

mares de emoções por

desbravar.



Tu lá

nas mãos que se

estendem

numa dádiva incontida

alma que se liberta

nas palavras sem

despedida.



Tu cá tu lá

eu e tu

nos caminhos que nos

aproximam.






Está prestes a fazer um ano que vivi um dos dias mais felizes da minha vida no lançamento desta antologia,desde ai a minha vida nunca mais foi igual,no sentido em que dediquei muito do meu tempo livre á escrita e ao aprendizado desta arte que me fascina e me faz numa pesssoa diferente.
Ausentei-me durante muito tempo deste site,apesar de vir aqui de vez em quando e de me dar conta de algumas mudanças.

Acho que com o meu afastamento estava a ser injusta com a mentora deste projecto,foi ela que me deu a mão e é sempre uma estrelinha que me guia lá longe,sinto-a sempre presente e sinto a sua força e a sua influencia cada vez mais na minha escrita.

Hoje,e por estar quase a fazer um ano do lançamento da antologia vim até aqui e vi que a minha presença é de alguma maneira respeitada e acarinhada,vi o lançamento de meu livro aqui destacado.

Quero por isso,pedir desculpas pela minha ausençia nas postagens e de alguma forma me tentar redimir das muitas ausencias e silencios a que me sugeitei..

Á Fatima,os meus parabens pelo exelente trabalho que tem feito neste blog,e as minhas desculpas por alguns dos meus silencios.

assim que acabar esta azafamo do lançamento do meu livro vou tentar postar com a mesma assiduidade.

Beijos.

Dá me água pra beber

Dá-me água pra beber desse fado que te sai das mãos se eu souber ler o coração como uma forma de querer que vem desta solidão....Dá-me água pra beber esse fado que é milagre se eu souber ler o coração como uma forma de arte uma forma de querer que vem de um tempo distante. Dá-me água pra beber pra quando espero por ti uma forma de querer de não saber porque estou assim Lobo

Ser somente...


(correntes baixas no Rio Paiva)
*
Ser somente
Uma pedra no caminho de alguém
Um só corpo
A espezinhar a terra
Ou um só pensamento
A brilhar na corrente
Que me leva e me traz...

E este medo de sentir-me perto
Este anseio de me virar do avesso
E sentir-me o inverso
Do verdadeiro motivo
Que me trouxe aqui

Esta melancolia
Este pavor de estar só
E esta solidão
A estrangular-me no escuro
Ou ser somente
Um único movimento
Que me leve enquanto durmo
*************
Enviado por: sommerville Publicado: 28/10/2010 01:21:15
Suponho um quarto fechado
ao avesso aberto
um corpo deitado de lado
no leito do tempo incerto
Suponho a solidão
um travesseiro arrumado
gritando onde a luz se apaga
um sonho não dormido de enroscado
bem colado no corpo da madrugada
...suponho...

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Solidão

     Luiz Sommerville , Poemas (Século XX)
     In Luso Poemas 29/06/2010,23:00:57

     "arrepiante esse ruído que nos transforma em estátuas ...
      virgens por dentro e gastas por fora"

      (Dolores Marques In Luso-Poemas 02/07/2010,16:47)

No pairar no delírio das estrelas - Dedicado a Dolores Marques




Há uma compreensão avançada
A léguas deste tempo.

Há um desmistificar num novo olhar
Da existência antes de cá chegar.

Há na leveza da Luz,
A melancolia de aqui se encontrar
Com a certeza de presenciar,
Ao esgotamento dos recursos
Ao reorientar do pensamento
E a chegada de um novo estado.

Há uma Luz intensa a cintilar
Uma viagem garantida ao apreciar
O sentido da vida e do universo
Tomam a forma de um verso!

No pairar no delírio das estrelas
O deslumbramento redescoberto.

Amálgama de emoções,
Ponto de partida da vida
Ponto na viragem nascida
Do princípio do fim.

O verso,
É beijo no centro energético
No sexto sentido,
Em sentido do universo.

O verso,
É o despertar para o além
Na força a brotar
E na queda no cansaço.

Há, para além de tudo
O tudo que é o além
Da existência…
Os versos que nos beijam
E que tentam despertar,
A realidade oculta.

Há constelações,
Há emoções!
Há a força das marés
Na esperança que nos conduz
E nos bombeia de Luz!

Clarisse Silva


Mirage(m)

Salvador Dali

Beijo de pétala
na cicatriz dum rasgo de pele
silva sem amoras
amores sem picos
rosas
em
flor
o deserto da areia
sem cor
o olhar atrevido da serpente
mente
desempoeirada
romã
assassinada
sangue estival goteja do meu lábio em ferida.
Sorrio ao passado que esqueci.
O coração pleno dos amigos que permanecem como os conheci.
Abraço a vida,
entoo uma canção
e
regresso.
Entro na noite com a musica
e
permaneço.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

INCONTIDA INOCÊNCIA

                                                           Photo by: Michael Meneklis


.
não me peçam para andar
quando estiver parada
não me peçam para me deitar
quando estiver de pé.

nos ombros, um buraco de impossibilidades na entoação de inverno
e nos dias das esquinas...  a lápide dos subúrbios encostada à minha porta.

estou cansada de todos os ditados escondidos,
em inóspitos fragmentos dobrados num silêncio
sem intenções que me tentam exprimir
na folha seca e subordinada.

quero ficar calada na insónia, constatar a água
e invocar outros portos sem gente opaca ou negras respirações.

ai estas horas silenciosas que me constroem a ausência!

tenho no estômago uma angustia química, armazenada na mais turbulenta náusea.

quero viver em todos os lados
e ter olhos em todas as coisas,
como se de repente toda a humanidade fosse um momento lógico
numa proa concreta e absoluta.

acordo com o suor a escorrer-me o corpo!

fui em tudo uma copa de razão,
um estreito criminoso
quando cometi o acto de tudo sentir.

fui em tudo o dobro das sensações....
a mais sincera das pobres opiniões.

esperei tantas coisas coisas reais....
gemi mais que todos os saltimbancos...
aguardei doente um alquimista que me tirasse o delírio.

e assim parto no barco da incontida inocência sem pudor
no vento que recomeça.


Eduarda

Até sempre...

As mãos perdidas definem sonhos,
Fecundo gesto que paira,
Como uma ave sem porto…
Naquela carta afogada.
As palavras deslizam sem sons,
Pétalas de uma rosa desfolhada varrem o vazio,
Despindo o jardim
Entre as vagas dos acenos da saudade.
Letra a letra,
Desnudo a minha alma,
Sereno…
Sinto o sangue dos espinhos,
Entre as lágrimas derramadas.
Talvez…
A minha face dispa o túmulo da minha voz,
Soletrando em murmúrios
Os silêncios libertos da memória.
Corvos que pairam no destino,
O meu… o meu talvez,
Nas dúvidas que engoliram a terra crua,
Libertando o triste aroma,
Entre o ventre dos desejos esquecidos.
Um dia…
Os meus dedos irão despertar
As sombras partirão das raízes
Novas linhas serão preenchidas,
Para de novo,
Acariciar o céu com as minhas asas.

domingo, 10 de outubro de 2010

Na palma da minha mão

















Na palma da minha mão
há o reflexo lapidado de um olhar,
desse olhar que se perde
no interstício da alma minha,
há um tudo e um nada, como a vida que desliza
na ponta da asa de uma gaivota cega

Na palma da minha mão
há um sonho, uma estrela dançante
num olhar gotejante
de corpúsculos cristalinos de sal,
torrente fluindo num pedaço de mar
do teu mar, pertinho de ti

Na palma da minha mão
tatuado a lume e lágrimas,
há um diamante, enobrecido pelo tempo
um tempo vão… forçado… o teu

Na palma de uma mão
na lonjura das vagas marinhas, sem nexo…
há um olhar vazio….. falho de algo...
de mim

Sistema Opera-Activo



          Teclado
          ou lá o que de matéria é
          antes
          o papel , a tinta , caneta e mata-borrão
          de cinzas perpendiculares à boca
          perfuradores de lábios , agrafados !
          sobre os corpos mornos , adesivos !
          tapam-se os ouvidos
          para não escutar o estalar da palavra-passe
          do mundo , versão de teste , beta !
          a cobrar na intermitente tremura dos fios , invisíveis !
          por onde passam as vidas sem luto
          à entrada que saída é que é
          estampando gritos em todas as linguagens
          mesclando , entrançando todas as civilizações
          na tela !

          que se desliga ...



          Luiz Sommerville , 101010 , 02:28

sábado, 9 de outubro de 2010

Olhos de barro


Há flores que definham cedo
outras já nasceram murchas
Assim não sentem a morte
quando expiram já estão secas
tinham as folhas caducas
Não são regadas em vida
falta-lhes hidratação
São flores sem clorofila
não libertam oxigénio
São cactos cheios de picos
na areia do deserto
Que não murchem os meus olhos
de tanta lágrima vertida
Têm engelhas de barro
Por uma gota de orvalho
dava eu a minha vida

terça-feira, 5 de outubro de 2010

NÃO E O VAZIO QUE ME DÓI



não é o vazio que me dói!
é este cansaço das palavras ditas e não sentidas.
das que se escrevem em forma de balas
do manto da inveja
e do átrio da vaidade
que em tanto me petrifica.
é este querer ver o sol em dia de chuva
querer a brisa no mais profundo silêncio
e ser desarmada nas entrelinhas.
é este ter querido permanecer
e partir num pó rasgado
de não ter sabido ir aquém.

Eduarda

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Infinito de mim



Estou perto do infinito de mim
há uma voz que me orienta
algo que me desconcerta
o transcender do sonho esperado
Estou longe de cumprir a minha missão
e é na essência que busco o caminho
no livro sânscrito das minhas emoções
pergaminho onde me encontro e descubro
relicário de todo o conhecimento adquirido

Estou entre o céu e a terra
não sou anjo, sou poeta
cuido das maleitas do mundo
com mensagens de amor e paz
para quê morrer, se ainda
tenho tanto para escrever?

Convite

Agradeço-te Fátima por postares o meu convite.
Obrigada querida administradora.
Estão todos convidados.
Beijinhos
Nanda

Agradeço-te Fátima, por postares o meu convite.

sábado, 2 de outubro de 2010

Terra prometida


Os amigos recebiam-na sempre de braços abertos, mas ela como se fechava para a vida, esticava-lhes um beijo assim ao de leve, só a roçar uma pontinha de pele. Olhava em seu redor, com os olhos esbugalhados e o seu ar extasiado, como se tivesse entrado num outro mundo.

Ali era o último encontro daquela raça, para que todos se olhassem bem e imprimissem as imagens que nunca mais iriam ter na frente dos seus olhos. Seria o dia da última sagração dos homens na terra, que ainda se encontrava revoltada pelos bicos de ferro e pelas foices afiadas, que cortaram a eito todas as raízes que mantinham ainda a forma erguida para a última colheita. Tinham chegado ao ponto de encontro e todos se mantiveram de pé até chegarem os últimos pregadores da demanda que os iria levar à terra prometida. Aquela já não lhes servia para nada, depois da decadência e do desmazelo a que todos se habituaram. O sol já não lhes aparecia com as mesmas cores durante o dia, a noite era um círculo fechado aos reflexos da lua, as estrelas apagaram-se quando da sentença do ultimo comité de naves que sobrevoaram os céus. Os mares evadiram-se até à linha do horizonte, tinham já naufragado todas as embarcações que transportavam novas espécies para a sua colonização e o azul do céu, diluiu-se perante as cores do novo arco íris.


Ali se sentaram de pernas cruzadas e de mãos dadas em jeito de ritual, unindo esforços para que todos fossem uma única força que os levasse ao destino que estava prestes a deixar-se seduzir pelas novas agitações da nova era.


PEQUENA CIDADE

Mais espuma brota
A granel da foice
Cabe-me tudo na mala
Coubesse assim
As horas da cidade

Cheira a absorto
Os braços não arrumo
Torres de outro corpo
Versalhes pesa morto
Banais por esta cidade

Ouço da sombra fugaz
Do título que não sabe
Perdido longe a gás
Sonolência leito e paz
Coloração noutra cidade

Insónia sem ritmo
Vazio é bolso
Corpo frio e absinto
Envelhecida catedral
Disfuncional pela cidade

Espírito fatal
Trágico registo
Afinal tenho visto
Que nada tenho visto
Nos seios desta cidade

Eterna noite
Poluição em destaque
Moribundo almanaque
Nada que afoite
Não existe a cidade

Derrete em vaidade
Bolor roxo teso
Decadência pé ante pé
Amarras em verso preso
Estátua de pedra
Ai cidade

A manhã beijou-me… hoje

















A manhã entrou-me pela janela adentro
na frescura do dia beijou-me
deliberadamente
acariciou-me com os seus raios distantes
ao de leve, timidamente
querendo ser vento que passa no momento

A manhã beijou-me…. calidamente
perdendo-se novamente no dia
como a areia escorrendo
na minha mão vibrante… vazia

A manhã partiu incerta
no meu rosto, um sorriso quente
no meu olhar uma lágrima fluindo
perdida …

A manhã beijou-me...hoje
Adormecendo-me nos braços do tempo