segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

COLIBRI

o querubim chamou
abriu a porta
no teu mundo entrei
a porta
rangeu… gemeu
rangi… gemi
o sol cresceu…
.
que fulgência…em mim
vagueando… pelos vinhedos
sorvendo
as gotas de vinho dos deuses
descalça no teu sorriso
mar sertão…«farfalha»…
língua bailarina
paixão sem aviso!
.
cores gritantes…
nas águas de Fevereiro
gotas de cristal…
meu tempo teu
que perco em ti
ganhando tempo…
exótico colibri!
.
sabor de abacate
cor e polpa…crescente
que em mim fluiu
que em mim se abate…
.
nos teus braços
dos meus braços
dançamos
avançando…recuando…
e avançando…
numa espiral
estonteante
corpos nus
num volteio sensual!..
22.02.2011

domingo, 27 de fevereiro de 2011

A MENINA DO MEU SONHO



Há uma criança sorridente
Que nos meus sonhos figura
Tem um aspecto diferente
Lê-se-lhe no olhar amargura.
Nos meus sonhos surge,
inesperadamente.
Tráz o passo sereno
Ri ocasionalmente
Quando lhe aceno.

Demasiado juvenil
Demasiado alegre
Às vezes um tanto infantil
Mas sempre meu sonho segue.

Com uma ingénua felicidade
E um aroma agridoce
Imagem de felicidade
E de saudade
Que essa menina me trouxe.

Catraia, humilde, sorriso no rosto
Olhos iluminados
Pontinhos esverdeados
E amarelo forte do sol-pôsto.

Do meu sonho se liberta
Risonha...risonha...risonha!
Deixo-lhe a porta do coração aberta
A menina do meu sonho,
Também  ela sonha.

Memória de mim.

rosafogo
natalia nuno
imagem retirada do blog-imagens para decoupage

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

UM SONHO

-A UMA BRASILEIRA--

Sonhei, que nos teus lábios sorveria,
Distância dos mares que percorreste.
Sonhei, que d’entre os abrolhos sairia,
Pelas esperanças que tu me concedeste.

Sonhei, que nos teus lábios aspiraria,
A brisa ardente da terra onde nasceste.
Sonhei, que junto a ti eu viveria,
Muito feliz porque me compreendeste.

E sonhei, que junto a mim sempr’estava,
A mulher que eu outrora já amava;
A mulher que, em silêncio, sempre amei…

Mas…Óh dura desilusão que me vai ferir,
E me fará sofrer, porque tu vais partir,
Deixando-me apenas, sonho, que eu sonhei!...


(Veríssimo Salvador Correia 1933)

RAIZ QUE SOU

Oiço o barulho do tempo

Trazido na onda dos eternos silêncios

Oiço dos medos a amargura

Velada por palavras de candura

Vejo o que não vejo que esse tempo

Trazido por ventos de loucura

Trás sussurros do canto de uma mãe

Escuto em murmúrios de enlevo

Vozes que vêm de há muito

Consumidas da vida no enredo

Daquilo que são vestígios de mim.

Oiço remotos silêncios

De quando eu não era ainda

Chegam a mim como original momento

Essencial força feita raiz funda

Dessa árvore não medida

Em que o tempo me tornou,


Antonius

MORENA LINDA

Tive a dita de ver, linda morena,
Teus olhos negros; negros d’ encantar.
Tua rósea boquita, mui pequena,
Feita só p’ra cantar, beijar, amar!...

Francamente, eu digo, com que pena,
Te verei partir; a alma a soluçar.
Por numa, nem sequer, conversa amena,
Este amor meu, poder-te, confessar.

Partirás – De mim algo irá contigo,
Deixarás tua neste peito amigo,
A recordação grata e sedutora!...

E mesmo quando, já depois ausente,
Inda, em canção, ouvirei ardente,
A tua voz de linda sonhadora…




(Veríssimo Salvador Correia 1933)

EM BUSCA DE MIM

Há perguntas que me faço
Que me questionam
Me perguntam sobre mim
Ás vezes frenéticas
Querendo levar-me
Revestidas de ousadia
À essência daquele que sou.
Batem-me à porta de mim
Quase me embriagam
Na sede que eu próprio sinto
De saber quem deveras sou.
Às vezes, muitas vezes
Pressinto entreabrir-se-me a porta
E uma réstia de luz
Iluminar-me o caminho
Mas mal a curiosidade
De mim se levanta
Logo do mais fundo
Do meu ser se espanta
O poder de me ver
Com que ingénuo sonhei
E tudo leva a crer
Sonho e sonharei.

Tudo que me resta
É deixar-me invadir
Por precioso lampejo
De esperança.

Antonius

Um simples olhar...















Há no trajecto labial
um sorriso provocante
que me seduz,
adormecendo-me
nas asas do tempo
rasgando o passado presente

No olhar o aroma do incenso
serpenteando as brumas vazias
do permanente viajante do tempo

Nos cabelos o ondular do rio
feito mar bravio
que corre nos veios da alma
nas noite envoltas em fastio

Nas mãos a serenidade inquieta
de ser pleno na imperfeição de si

É neste olhar que reencontro
a beleza de ser tão somente
sentires meigamente envoltos
na translucidez das cores…
as tuas

Ah Como é Grande o Meu Sonho


Grande que foi o meu sonho
Grande o meu divagar
Pensar teu rosto risonho
Foi o teu amor anelar

É já de si sem medida
Ouvir da cotovia o canto
Quanto mais levar de vencida
A voz terna do quebranto

Mas o sonho tem tempo e medida
Singular sopro de vida
Do frio suave manto

Doloroso é vê-lo esvair-se
No infinito diluir-se
Um ser render-se num pranto

Olema

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

NUM CANTO DA MEMÓRIA



Lembro que chorei
Chorei desabaladamente,
Longamente...
E à distância soava uma melodia
Ao meu ouvido soava
E ao céu ascendia.
Assim meu sonho partia,
jamais voltava.

Esperei em sonhos,
O que esperava?!
Jamais voltou!
O coração me gelou
Dum gelo quebrado,
Triste e fatigado.

O retrato, não me sai da mente
Acalento a esperança.
Por detrás dos olhos fechados
Vejo-a sorridente
Criança...
Já só lembrança,
de sonhos despreocupados.

Esperei em sonhos
Dei-lhe a mão
E murmurei...
Se de ti não me afastei?!
Te afastaste de mim,
porque razão?

Olha aí!
O caderno de poemas encetados
Não os perdi!
Deixei-os em ti guardados.

Trago meu rosto adormecido
E nunca, nunca sei!
Se me terás esquecido

Nem se já te perdoei.

Estranho não te ter encontrado
Porque te haverei perdido?
Ainda que volte ao passado
Vou esquecer-te, está decidido.

Memória de mim.

natalia nuno
rosafogo
imagem retirada do blog - imagens para decoupage

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Eternos Laços

Há um sentir que eu sinto
Cá dentro, dentro de mim
É que cá dentro de mim
Oh Deuses
Há um sentir que eu sinto
Esse sopro vital
Tornado virginal arroubo
É tudo aquilo que sou
O que deveras quero ser
Fogo aceso se tornara no meu peito
Jardim das flores que mais anelo
Fogo que arde e que eu elejo
Palpitante razão do meu viver
Esse sentir que eu sinto
E às vezes me tira de mim
É raiz, é fonte
È sempre e sempre a ponte
Que no mais prendado fulgor
Me embrenha nos laços
Do teu Amor

Antonius

O que está dentro da minha alma

O que está dentro da minha alma, o que faz mover as minhas mãos, quem fez a tempestade e quem deu a calma? O bater de um coração, o nascer de uma criatura e esta canção pela cidade.
O que está dentro da nossa cabeça, o que nos faz resistir, guerras e crimes mas também a musica para ouvir, esse amor sublime em todos os lugares, em todos os países, as canções mais tristes que guardam os momentos mais felizes.

O que está dentro da minha alma, as coisas que aprendi na filosofia. O meu olhar no teu, riscar a flor e acender o céu. Todas as estrelas e todos os bichos. O amor é assim mais bonito sem as palavras dificeis da vida.

Lobo 011

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O Sentir Que Me Invade

Mulher! Eu quero fugir à palavra mil vezes dita, à frase feita, àquela que todos usam e pela qual falam de si, dos seus sentires, às vezes ocultos no mais recôndito de nós. Mas por muito que queira fugir à palavra dita, à frase feita, não me é fácil inovar, fazer coisa minha, sobretudo no instante em que mais capaz me sinto para o fazer. Por muito que me esforce, aquilo que me surge em termos de palavras foi já dito ou pensado. Mas o que acontece e o que me importa nesta hora é o que eu diga ou pense, sobretudo o que sinta. Que me importa o que os outros tenham dito, pensado ou sentido? Eu só quero nesta hora, neste instante que quereria eterno dizer-te que te quero no limite do querer. Falar-te da força do sangue que invade os oráculos deste pobre coração – naquilo que foi mas já não é - , do quanto nessa mesma onda falam as veras da minha alma. Procuro e rebusco, quero encontrar mas apenas sinto, mas se sinto é isso o que me importa. Quero dizer por metáfora trazida até mim pelos caminhos da natureza e pelas rotas das estrelas, que não há lírios nos campos, não há urzes na montanha, não há ondas marinhas, nem cerros nevados que traduzam esse sentir profundo que nesta hora me invade. Mulher! Essa palavra mágica que transborda no coração do homem e só ele entende.

Antonius

Antologia Tu Cá Tu Lá II

Todos os participantes que deram resposta afirmativa à participação na antologia Tu Cá, Tu Lá II, irão receber um mail com todas as indicações necessárias, de como irá ser organizado o livro, baseado na escolha de cada um, que contará com 5 textos/poemas por autor.

A administração

E se o mar...

E se o mar lhe pega a saia
e ela roda como um moinho.
E se a noite com a lua
uma canção ensaia
como uma moda de rua
...que aprendemos nos caminhos.

lobo 011

Luz...

(Imagem google)


Como transmitir o que se sente? Como dizer que se Ama? Como sentir que se ama?Como satisfazer a nossa fome e a nossa sede, sem cair na desordem de um monte de palavras que se cruzam para depois abalarem rumo ao centro onde moram todos os desenganos? Conseguir construir caminhos e movimentarmo-nos neles ao encontro de uma simples luz q...ue nos guie rumo aquele que nos faz sentir…

- A liberdade é um bem que reclamo a todos os momentos…
- A Liberdade é uma chama acesa no meu peito….é tantas vezes um monte de cinzas a adubar
a terra…e outras tantas, pó cimentando a poeira do caminho.
- A Liberdade é tudo o que o Amor precisa para se dizer - AMO-TE
****************
Dolores Marques

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Antónia

Seria mais fácil odiá-lo. Reduzi-lo à insignificância de quem partiu por iniciativa própria sem deixar grande marca.
Talvez se se esforçasse um pouco conseguiria até rever mentalmente todos os seus defeitos, manias e vícios irritantes que davam com ela em doida.
Seria mais fácil esquecê-lo. Isso sim! Mandar para o diabo as recordações mornas ainda tão presentes. Desapertar os laços, os atavios, os nós que lhe castravam os modos. Obliterar de vez a dor excruciante que a falta dele lhe infligia sempre que ela caía em si.
Mas não. A cada gesto, a cada palavra, a cada pestanejar, era o azul-estrela do seu olhar que lhe banhava o pensamento e lhe compunha os dias. E ela, acomodada, não sabia viver de outro modo. Sequer tencionava mover um grão de areia que fosse para que as coisas ganhassem nova forma. Só assim sabia ser.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

DENUNCIA

Não me importa do universo a grandeza
Tão pouco da Via Láctea a imensidão
Interessa-me das estrelas a singeleza
Do puro bom senso o galardão

Não me interessa do mundo a opulência
Se quer a ostensiva mansão
Toca-me sim a eloquência
Dos que falam a voz da razão

Não me quero pelos proventos aviltado
Ao pobre incapaz de dar a mão
Jamais pelo fausto esmagado
Mísero sentir o do meu coração

Detesto este mundo em que pelejo
E nele grassa a fome inclemente
Por muito que abra os olhos não cotejo
Ver do novo homem a semente

Abomino a rota que levamos
Os que deste tempo temos a herança
Por certo que bem caro pagamos
Em instalada e vã bonança

O que faz de mim intolerante
E me diz que o mundo não avança
É ver os olhos negros da negra fome
No labial tremular duma criança

De corruptos a nuvem transbordante
Levem-na os ventos para longe sem retorno
Não tenha mais oportunidade o meliante
De ver vir às suas mãos o vil suborno

Antonius

Último voo


Recusas rever-te nos espelhos
onde já não te reconheces
e a sombra de uma metamorfose mórbida
se reflecte
como uma fotografia amachucada
que o pó lambeu
com o veneno enfeitiçado das noites.

De tanto crescer
o corpo mirrou por dentro
devorado
por um espasmo de primaveras corrompidas
e é, agora, apenas um sussurro de sémen,
um choro de criança moribunda
no quarto escuro da memória
onde não voltará a amanhecer.

O mapa enrugado das cidades perdidas
que te cobrem a cal cega da pele
é aquilo que te resta
de uma paisagem de luas adolescentes
que a sombra obscureceu
num eclipse de ossos doentes.

Agora, já só esperas o último voo.
O grande sono
que te levará num estertor alucinado
à cratera extinta onde repousa
a recordação febril das manhãs
e a luz branca de todos os mistérios.

.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

INSTANTE QUE SOU

Desde de sempre eu existi,
Remoto projecto na mente d’ Algo.
Há uma eternidade eu já era.
Nascem as pedras e os montes,
As estrelas no Firmamento.
Das montanhas nascem os rios
Em murmúrios de advento,
-E eu, mero projecto, distante…

Dos mares brota a vida,
E dos céus a ave que canta.
O ronco do leão rasga a floresta
E enquanto da esperteza o símio se ufana,
Um outro, dele, no intelecto se adianta.
Entretanto existe já o Tempo.
Tempo menino, criança,
Tempo que não anda – parado no Tempo
Mas o tempo avança, ainda que sem pressa,
Deixando para traz os anos, as centúrias, os milénios
-E eu, vago projecto ainda…

O homem não chegou ainda a homem.
Das planuras de Cro-Magnon
Vislumbra ao longe o Homem de Pequim.
Atarracado no porte e vesgo na inteligência
Prossegue o seu caminho, determinado,
Puxado por um tempo sem pressa
Feito de eternidades milenares.
A marca do futuro nas entranhas,
No sangue o gene da Evolução.
Ainda que por lapidar
Tomou já o comboio da Razão,
Que em marcha lenta
Percorre os caminhos da pré-História.
Vai só nas veredas do Futuro,
Tudo lhe ficando para traz
- Que ele é já Homem
-E eu, vago projecto remoto ainda…

Vencida a longa jornada que
Da pré-História traz o nome,
Ei-lo que faz a curva da História
A partir de onde,
Em doses mais e mais suculentas,
Lhe são servidas rações de civilização,
Que sorve entre frugal e ébrio.
São ainda as rectas milenares
Cruzadas por egípcios, gregos, persas.

Algures no Oriente Médio,
Surge nesta hora um Homem.
Os seus valores não são os dos outros homens,
A sua conduta intriga os do seu tempo.
Morrendo e vencendo a morte,
Subverte a ordem natural das coisas.
O seu elixir é o do amor
E o seu projecto é de Esperança.
-E eu, então, projecto ainda distante…

Ganhando velocidade,
Segue a sua rota o comboio da História
Galgando indómito as plagas do Tempo.
Celtas, Lusitanos, Árabes e Romanos
Os domínios se arrebanhando,
Em pleno e sucessivo derrubar.
A velocidade é agora vertigem,
Porque de vertigem passou a ser o Tempo
-E eu ainda, não mais que projecto…

Entretanto, subitamente, eu sou!
De projecto que fui por toda uma eternidade,
Do sonho que ainda era ontem,
Neste momento, eu sou... existo !
Momento único e inestimável
Este cruzar da Vida
Com a estrada desmedida do Tempo.
-Luz que mal brilha na noite da Eternidade,…
Até quando este instante ?

Antonius

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

De ti faço…. vida
















Há um luar no meu olhar
na cegueira do teu corpo
há um brilho crepuscular
no meu peito feito… corvo

Há um querer e um deixar
nas brumas da incerteza
e um frágil frio glaciar
que emerge em doce certeza

Das pedras faço o meu andar
das lágrimas o meu carinho
no papel esculpo o horizonte
na tristeza minha….o desatino

Então… de ti faço vida
no meu peito…. ferida
onde as asas do destino
perdem-se …. desnorteadas
no entrelaçado caminho.

Inscrição

ANA
Semente inesperada em ventre mimoso
Criança de sorriso fácil e folia em riste
Adolescente que sempre se achou pouco
Menina moldada mulher nos teus braços
Respeitável esposa, amante enlouquecida
Perdida na escuridão da tua ausência
Obstinada na procura do Sol em si
Mãe de um sonho em forma de rapazinho

Aquela que Nunca soube não te Amar

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

NINGUÉM VÊ



A vida é um jogo
vazio de emoções.
Dias passados
Palavras desbotadas
Logo...logo...
Surgem contrárias opiniões
Gastas de significado.

Surgem tristezas impensadas
Alegrias?! Desaparecidas!
Gargantas empoeiradas.
Ilusões adiadas.
Promessas esquecidas.

Que é feito de mim?
A Vida tráz-me o quê?
Se em momentos assim
Ninguém vê:
Que me alheei de tudo!
Esqueci tudo ao derredor
Meu Mundo ficou mudo
Estou em declínio como a tarde
Ao meu redor...
Só a saudade!

rosafogo
natalia nuno
imagem retirada do blog-imagens para decoupage.

Sáfara

Atrás dos olhos
Pendem leitos
Outrora:
Aletófilos e mui verdes

Dissimulam agora:
A sáfara

Calmamente
Cerra as pálpebras
Para a existência

Cai a última lágrima
Morta



João Mestre Portugal

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Uma lágrima não serve

Uma lágrima não serve
para saciar uma flor
nem com ela se escreve
longas cartas de amor

...Uma lágrima não serve
para fechar os olhos
aos soldados encontrados na neve
mas pode ser que num sorriso
vá nascer a Primavera.

Uma lágrima não serve
para beber como vinho
nem com ela se escreve
o que a vida já nos lê
quando ficamos sozinhos

Uma lágrima não serve
para saciar uma flor

Lobo 011

RELANCE NA MADRUGADA

Vai alta a noite e o luar inunda as paredes azul anil do meu quarto. Óbvia sombra vai conquistando a parede do meu lado. É que do outro lado da minha cama, percorrido o lençol pela minha mão tacteante não encontra as teclas da cor do mel que cobriam o teu corpo ondulante, de quando em quando, sempre, vibrando no frémito do amor que outrora ambos conhecíamos, vivíamos, nos engolfava corpo com corpo, alma com alma, até ao êxtase, e repousando na merecida serenidade.
Enquanto assim vivo na lembrança, a sombra avança na parede do meu lado, que do outro lado não há ninguém. Ausência em cicatriz, num gesto violento arremesso o lençol que me cobre e a cobriria a ela, se ela houvesse e assomo num lanço à janela. Atiro os meus pensamentos ao largo num esforço de reformular os meus caminhos desta noite, tento aperceber-me de coisas novas, de algo por descobrir. Nesta noite fujo por medo do amor de nele centrar o meu pensar. Ergo o meu olhar e olho as estrelas e revejo a lua e noto que esta desde que há pouco acordei, andou, prosseguiu a sua rota, porventura rota milenar. As estrelas mudaram de sítio, a folhagem remexe. O dique o meu cão ladrou e deu uma corrida pelo quintal. Algo chamou a sua atenção que não a minha. Quer dizer que muita coisa mudou de sítio. Concluo que durante este pequeno espaço de tempo, justamente aconteceu tempo, o tempo andou. E o tempo andou porque as coisas mudaram de sítio, porque o cão correu, porque as folhas mexeram, porque ouvi já o canto de um cuco madrugador, porque a lua percorreu um espaço da esfera celeste. Neste pouco tempo aconteceu tempo. Mas eu tenho pressa em que o tempo aconteça e altere os meus dias, sobretudo as minhas noites e me dê oportunidade de estender o meu braço e encontrar as preciosas colinas, o delicioso fundego, o inenarrável encantamento da mulher que quero voltar a ter envolta em mim enlaçando-me, com quem, preciosa harpa execute a mais bela melodia, o mais assombroso concerto.

Antonius

Sabe o que é a tristeza?

- Sabe o que é a tristeza?
- É aquele lugar.
- Aquele lugar...
- Está dentro da cabeça.

- A água não pode faltar
- É o que falta mais nesta terra.

- A tristeza são os olhos cheios de água.
- Essa água que nos abandona.
- Temos sempre sede
- Temos sempre culpa.
- Onde vive?
- Ali naquela casa
- Sozinho?
- Sim
- Tem filhos?
- Tenho
- Onde estão?
- No estrangeiro.

- Que quer fazer?
- Gostava de escrever cartas, não sei escrever, sei lavrar, sachar o milho, agora já não faço, não tenho a companhia da terra, nem a companhia dos filhos
- Nunca andou na escola?
- Nunca, mas sei somar, multiplicar e dividir, sei contar pelos dedos, a vida foi uma professora, apanhei muita palmatória do destino.
- Que idade tem?
- Oitenta e dois
- Já esteve fora daqui?
- Já estive
- Onde?
- Nas ilhas.
- Nas nossas ilhas?
- Sim
- Tem saudades
- Não tenho.
- Gosta de falar?
- É bom, a solidão é como as armas de fogo, é assim como a guerra...
- De onde vem esses pensamentos?
- Da minha cabeça
- Conhece muitas histórias
- Contei muitas para adormecer os filhos
- E eles lembram essas histórias?
- Não sei, o único ser que me toca os pés é o rio.
- Tem por aqui uma taberna?
- A loja da Zulmira.
- Que bebe?
- Um tinto fresco e uma sardinha, o medico diz que faz bem ao coração
- Deve ser como o amor

- Deve ser...

Lobo 011

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Naquele prédio

Naquele prédio
havia assédio
e havia patifaria.
E ás tantas da madrugada
veio a patrulha
...e a vizinhança
e o repórter que perguntava
o que aquela gente sabia?
e respondiam: A gente não sabe nada
mas havia assedio
havia patifaria, ele era médico
ela doméstica
e veio no noticiário
aquele caso que ninguém sabia
mas havia assedio
havia patifaria.

lobo 010

domingo, 13 de fevereiro de 2011

MELANCOLIA SERENA



Estremecem papoilas ao vento
Insinuam-se na imensidão dos prados
Há borboletas felizes no meu pensamento
E reflexos de luz na alma aos brados.

Luz que se oferece para me conduzir
Borboletas  batem silenciosamente
Na manhã que nasce,
na noite que há-de vir?
A tristeza se espalha no sol poente.
No frio da alma
Cresce a emoção,
e o musgo é verde,
Em meu coração.

Meus olhos são janelas cerradas
Ruas silenciosas, portas fechadas
No meu coração há o crepitar duma brasa
Fico atenta ao que ouço e que vejo
E num golpe de asa
Sou Poeta, que capta o odor da flor
e o eco do desejo.
Crio meu Universo de fantasia
e amor
Onde tudo floresce e se anima
Dia após dia.

Há lilases que a mim se abraçam
Jasmins que a mim se entrelaçam,
com um perfume que vem de cima
É DEUS que me estende as mãos e sorri!
E eu Lhe agradeço por tudo que vivi.

natalia nuno
rosafogo
imagem retirada do blog
imagens para decoupage.

Agora e na hora da nossa morte

O tiro disparado das palavras agora e na hora da nossa morte.
Chegam os pássaros para a despedida, até a lua fecha os olhos para não ver o teatro deplorável das noticias.

O tiro disparado das palavras agora e na hora da nossa morte. No quarto de hotel a noite inventa um crime... tu dormes tranquilamente como uma pedra sobre a voz daqueles que se anulam.

Agora e na hora da nossa morte.

O tiro disparado das palavras, o medo entrelaçado nos dedos como um rosário, um comando pronto a desligar a respiração. Aquela montanha que se vê grande como um olhar que deixa a terra. Agora e na hora da nossa morte.

E de novo chegam os pássaros e todas as coisas comuns como se fossem as mais profundas. A morte é uma coisas pestilenta que sai como um tiro, infame destino dos que se divertem a pensar verdadeira tão grande mentira.

Agora e na hora da nossa morte

Lobo 011

Marioneta

Exaustos,
esgaçam-se os fios
suspensos
por sonhos baços
Cai secamente
a marioneta
em esgar de agonia
E na tábua estéril
jaz sombria figura,
traje coçado,
olhar sepultura.

Ubiquidade



Podias ter vindo hoje,
como quem chega de longe,
rompendo o silêncio da manhã
num voo de velas desfraldadas
ou num canto súbito de rouxinol
anunciando a primavera.

Podias não ter vindo hoje,
perdida numa maré de nevoeiro,
sem encontrar o caminho,
deixando-me preso à margem deserta
de um rio de águas estagnadas
como um barco sem rumo.

Podias ou não ter vindo hoje,
encher meu dia de luz ou sombra,
que não impedirias a noite de cair
nem o vento de bater nas janelas
ou que os cães latissem à lua
incapazes de compreender o futuro.

O que te queria mesmo dizer,
tivesses ou não ter vindo hoje,
é que sempre estarás dentro de mim,
mesmo nos dias em que nunca vens.


.

A Brisa

Ó meu amor
que eu tanto queria
falar-te ! ,
que da canção onde o silêncio
verte , a dobra de teu lençol
é feita de beijos bordados
na boca que os olhos saboreiam ,
desprendo o meu ... ai destino !
ó círculos que entoais brancura
cruzada nos punhos rendados , a galope ! ,
da minha camisa onde a tua marca
me proteje dos monstros
de todas as noites que eu rejeito
mas que teimam em suas feições , disformes !,
em atormentarem a candura do sonho
que tu , qual tapete florido ,
estendes à minha entrada , inesperada !
ó , e no entanto , toda a vida , guardada !
e ainda há quem possua a certeza
que os corações não sabem ou desconhecem
a razão das razões
como se fosse possível ver a cor , da flor ! ,
por dentro do vermelho que a glorifica ...
para quê , amada minha , buscar faces
que não trajam a nossa roupa ?
para quê , minha doce sinfonia ,
querer a partitura na gaveta
dum tempo sem maestro ?
ah , música do meu tão súbito acorde !
e ... quase a descair na tua sagrada fonte
o pescoço a pender
na tua água !
ah triunfo ! que te exclamo fusão redentora
desta minha tão trémula mão , ó minha senhora !
nem que hoje
eu morra ...
aqui !
nem que hoje
eu não seja mais ...
alegria ou pranto
erguerei na alumiação cristalina
deste céu de rubis , a tua grinalda , ó ventura !

Ah , palavras ... modos ...
todas e todos tão redigidos sem nexo
por mim !
que do sentido e coerência do feito
nunca nada soube e no meu tão desorientado percurso
nunca o nunca foi tão sempre ...
ah , que me reviro , no rebentar dos canhões !
destas armas que Camões tão nobremente enalteceu !
e eu que dele nada aprendi
a Vaz endosso mil perdões
por tão indigno representante
da lusíada eu o ser
vês , ó amor , ó querida que me és , tudo !

Vês porque a bandeira grita a meia-haste ?
implora-me o estandarte rubro da minha escola :
"cala-te , ó alijador do canto primeiro ! "

Sim , calar-me-ei ...

todavia , "a terra move-se"

e move-me ...
o meu amor
por ti ...


A Madrugada Das Flores , 130220111657

PARA TI

Não soube nunca não sei ainda

A que edénica fonte atribuir meu sonho

Mergulhei meu Estro no rio das águas mansas

Olhei a lua desnudada e bela

Retive meus passos e deslumbrado

Abri meu coração num assombro e senti

Despontar nas profundas do meu ser

O porquê do meu sonhar – o Amor


Antonius

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Instantes

Há instantes que são eternidades, e é no mundo fantástico das emoções que eles acontecem. Por isso são exclusivo do animal homem.
Não são coisa que se procure se se quer encontrar, mas dádiva gratuita que acontece, se acontece. Se a buscamos, se lhe vamos no encalço, ela escapa-se-nos. Volatiliza-se.
Foi nessa cálida noite de junho, a roçar já a madrugada, que a tua voz veio ao meu encontro, quente e cristalina. No embalo dolente e deliciosamente bucólico de " Una Sañosa porfia", que inspirado autor medievo compôs para atravessar o tempo e encantar o gélido e sofisticado homem do século XX. Será que te lembras?
Recordas-te que, enquanto cantavas, a Lua deteve-se, também ela deslumbrada e enormemente cheia, no cucuruto da capelinha de S. Cristóvão, lá no alto da preciosa Penha? Ela, a Lua, recorda-se como se recorda de a ter escutado noutros tempos, noutras paragens, porventura nesta mesma viela desta velha cidade, por outras vozes, outras gentes.
Há instantes que são eternos. Mas que fugases eles são.
Nessa noite a tua voz chegou até mim com a frescura do orvalho das manhãs que prometem Sol. Transparente, líquido, na fluidez da água que se espraia e se esvai, enquanto tangia o núcleo esconso do meu sentir profundo, cravava em mim a lança cruenta e subtil do efémero, daquilo que precioso, no instante seguinte, definitivamente, não é já mais. Mas recordação dinâmica, que fica, que prevalece como valência enriquecedora do acervo que faz o nosso mundo interior e lhe determina o equilíbrio.
Que é feito de ti amiga minha? Que é feito da tua voz que me enfeitiçou e de que ouço ainda hoje em gratas ressonâncias?
Nos dias dessa noite eu atravessava o "grande deserto". Em redor de mim eram areias e pedras. Tudo o mais ou era recordação que me dilacerava, ou rumores de esperança num ainda possível amanhã. Porque estava no deserto, nessa noite foi Oásis. Não terás dado por ele porque não caminhavas no deserto. É que deserto é coisa que só se conhece quando pisamos o seu árido pântano e lhe respigamos o travo escaldante. Só então, também, os nossos pés estão em condições de sentirem e entenderem a frescura do Oásis.
Nessa noite, por instantes, os meus pés pisaram a relva.

Antonius

NADA DE NÓS

Odeio o lado vazio da cama onde me deito. Durmo de braços atados para que não transponham os limites do encaixe silencioso que o meu corpo moldou no colchão. Preciso de tréguas da dor da tua ausência que envenena cada inspirar expirado.
Porém, mal adormeço, o meu coração implora aos braços que se estiquem e te procurem na infinitude do vazio, na esperança inútil de te sentir. Acordo cada dia com o sabor caústico da saudade no peito e os braços debulhados em lágrimas. Nesse árido instante a realidade castra-me os sentidos. Não há mais beijos. Não há mais sorrisos suados. Não há mais frémitos de emoções, nem palavras exaladas em murmúrios. Nada de nós.
A inútil existência de mim remeteu-me a um vácuo mórbido que dilata a cada hora que passo sem ti.
E o vazio do outro lado da cama olha-me pétreo e inabalável.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Fonte Inicial

Quem – mas quem sou eu afinal?
Que origem me vem escrita no sangue,
Que misteriosa fonte dita o homem?
- Em que prodigioso manancial
sorveu ele a vida e brotou o Amor?

Morará o meu princípio no Acaso
Filho de matéria inerte e da noite,
Por seu turno saídos do Nada?
- Será que por detrás dos ventos se acoite
Portentoso Zero que à vida deu azo?

Ao Nada rendo a minha homenagem
E em nome do Ser a gratidão
- Não foras tu ó grande Ausência
Que em arroubo de dantesca potência
O mundo arrancaste à eterna solidão!

Obrigado oh Nada pelo teu cuidado
Em dares vida ao vazio imenso.
-Que ondas do mar te inspiraram
- Que estrelas porventura te levaram
A dares provas de tão esplendoroso senso?! (…)

Antonius

Lista de participantes na Antologia; Tu Cá, Tu Lá II

Lista de Participantes confirmados até à data
Antologia Tu Cá, Tu Lá II
*

AnaMar
Antonio MR Martins
Avozita
Antonius
Ana Martins
ConceiçãoB
Clarisse Silva
Dolores Marques
Dark( JC Patrão)
Eduarda Mendes
FatimaSantos( Haeremai)
GLP
JoãoMestrePortugal
Liliana Jardim
Luiz Sommerville
Lobo
MariaLuz( Bi eL)
Marisa Soveral
Natalia Nuno
Nanda
Runa
São Gonçalves
Teresa (Sterea)
Veríssimo Salvador Correia (por Olema)
*
Após termos todos os autores confirmados, serão informados sobre os trabalhos a editar por cada autor e em que moldes será incluída na Antologia.
Solicita-se a cada autor que ainda queira confirmar a sua participação, que poderá fazê-lo através deste post, deixando a sua resposta em comentário, pelo que, a lista se actualizará.
Abraço a todos
Dolores Marques

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

AMO-TE

Amo-te.

Dum amor que me não cabe no peito,
Rio rebelde para quem não basta o leito
E se escapa nos poros da minha pele,
E se espraia no relevo do meu corpo...

Amo-te assim...

Como se o mundo parasse p'ra eu passar,
Como se o ar me custasse a respirar,
Porque só de amor o meu ânimo se alimenta
E o coração é só batel que busca o porto...

Amo-te tanto...

Que o sentimento transborda o meu olhar,
Que os meus sentidos se unem p'ra te cantar
Em versos que não encontram relicário
Ou nobre pena que mereça o que exorto...

Amo-te, enfim...

Mas não descubro palavras para polir,
Sublime azul onde eu possa fazer fluir
A essência rara que eu queria decantar!
Então escrevo só teu nome ... verbo amar!

À espera de um rasgo de inspiração


O inverno demora-se
nos lábios frios do poeta.
Um obscuro bater de portas
sacode os rebordos da folha vazia,
agora que a luz definha
ao fundo dos corredores decrépitos
onde o vento range
sob um poente de sombras gastas.


Alimento a sede dos tinteiros
com o sangue pisado das sílabas
e com os versos que restam
nos parapeitos cinzentos da memória,
debruçado sobre a madrugada solitária
das linhas que nunca escrevi,

à espera de um rasgo de inspiração.


:

DESENGANO

Não queiras abrigar uma gaivota de asa ferida porque mesmo guinchando de dor, buscará seu poiso no rochedo sulcado pelo mar. Sozinha.
Não queiras uma metade de laranja se não puderes sorver igualmente a outra metade.
Não me queiras. A vida fez-me onda selvagem embalada na força das marés e na folia dos ventos, não tenho costa nem mar. Sou nómada e feita de sal. O meu brilho perdeu-se na cinza.
Não me queiras porque te encanta meu sorriso, é o único que tenho, não o sei esboçar de outra forma.
Não me queiras porque te faço sentir menos só. Eu sou solidão trajada de mulher. Sou dor apaziguada por vezes ao por-do-sol, mas regresso todas as manhãs quando a vida se ergue.
Não me queiras pelo luar nos meus olhos. Sou perpétua amante da mais bela estrela, ao seu brilho minha alma consagrei.
Não me queiras, não... vidro não é cristal.

Esfarelar o pão

Esfarelar o pão.
O que é esfarelar o pão?
Roer as unhas ou dedilhar nas virilhas.
Esfarelar o pão é fugir á responsabilidade, olhar o calendário e ter o olhar num dia de sábado e desejar que todos os dias sejam sábado. Ser um verdadeiro agente imobiliário, um agente imóvel que só mexe os dedos ao telefone.
- Sim
- Não

E já era.

Quem sabe esfarelar o pão?

O exercito esfarela o pão, faz figurinhas em forma de bala.
Esfarelar o pão substitui o trabalho, esfarelar o pão dá trabalho, esfarelar o pão é como espremer borbulhas, não podemos fazer duas coisas ao mesmo tempo. Trabalho é trabalho, esfarelar o pão é o truque de parecer que se faz muito e mesmo não se fazendo nada saem nuvens de cansaço das bocas.

Esfarelar o pão é como guardar rebanhos, mesmo que os rebanhos não estejam lá, qualquer um pode guardar rebanhos. Esfarelar é ficar atrás de um balcão com a sensação inútil de que estivemos a pastar. Assim para fugir a esta sensação esfarelamos o pão, se não há pão para esfarelar olhamos uma pescada num saco de plástico e fazemos uma autopsia.
Esfarelar o pão é demorar o indesejado encontro. Os intelectuais são muito profissionais na arte de esfarelar o pão, esfarelar os livros e isso é muito devagar, como observar uma pessoa importante sempre no mesmo lugar, na mesma página, com a mesma cara, um grande vazio, um aplauso estrondoso.

Esfarelar o pão ou esfarelar a cara do fulano que não nos enche as simpatias.

entrou nas urgências todo esfarelado.
Há todo o tipo de esfarelado, conhecemos o desfarelado, o despenteado papo seco. Enquanto o turista vai esfarelando com a sua máquina fotográfica a cidade outras mãozinhas esfarelam nos bolsos. Esfarelar tanto dá para a virtude como dá não se sabe para onde.

Bem meus amigos vou esfarelar dentro de uns macios cobertores. Quando for grande quero fazer nada, esfarelar o pão como um poeta a divagar na repartição.
Na rua faz muito vento, está tudo esfarelado, parece que passou por aqui um doido varrido

Lobo 011

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

VIAGEM NA ESTRADA DA VIDA

Reflexão necessária
Sobre a incógnita
Lugar de permanente tensão
E de um incomensurável questionamento…
.
Corpo comunicante
Corpo minha única propriedade!
Com a sua medida
No espaço e no tempo…
Road movie
Exercício de inquietação e intimismo
Corpo que canta…corpo que chora…
No efeito hipnótico
E profícuo do ritmo carnal
Das amplidões!
.
Viajas no meu corpo
Cheio de fantasia
E percorres à mão
Cantos e recantos
Espraiando nas ondulações!
Olho o teu rosto
As tuas expressões
As tuas crispações
Toco-te
De forma virtuose
Como se fosses Um violino!
E é na música do teu corpo
Que sinto a transcendência
Via láctea
De estrelas ofuscantes…
Dos lábios
Solta-se
O ai fundo
O alívio
Como se tivesse
Ultrapassado
O mundo!..
.
08.02.2011

Astro

Ó escuridão , escuridão
dia tão claro que não tem dó
do sentido precioso
que é a minha visão
Eu podia anular-te
correr todas as persianas
e trancar todas as portas
para ...
não ...
te ver ...
ó luz !
Mas fechar-te , lâmpada minha ,
que me és Sol
não apagaria do céu
a lucidez que não sou eu
que és tu,
ó astro
meu ...


Luiz Sommerville Junior , 090220111028

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O Ontem e o Amanhã

Se o Futuro me interessa e sobre ele me interrogo, o Passado fascina-me.
O Futuro é anónimo, são mil hipóteses, não está assinado.
O Passado é rotundamente concreto. Aconteceu mesmo. Tem uma forma, tempo, espaço que estão escritos.
Tenho a esperança de pertencer ao Futuro (ainda que de breve futuro possa tratar-se), mas tenho a certeza de pertencer ao Passado. Vivi-o, senti-o, sofri-o.
O Passado está escrito em mim, vibra em mim nos delírios da infância, no sonhar inefável da juventude, na taça inebriante do Amor que me coube, na Ternura.
As frustrações os desencantos, as incompreensões, o drama – agrestes bastante para recusar um regresso no tempo se por absurdo me fosse proposto – a sua sombra nem por isso logra escurecer a luz que me chega das caras e eternas recordações do passado.
Ir ao Passado poderá significar ir buscar lágrimas. Mas como é a saudade que as dita, podem mesmo ser redentoras, reconfortantes. É que as lágrimas, filhas da saudade curtida, têm sentido. Vale a pena serem choradas.

Antonius

SONHOS LOUCOS



Tantos sonhos loucos
E realizados tão poucos.
Por mim o tempo passa
Para o meu olhar envelhecido?
A luz é uma ameaça.
O prazer e a felicidade
são uma urgência,
Peço ao tempo clemência.
Adoço as palavras com mel
e sorrisos artificiais
Trago as marcas na pele
Que à memória me acodem demais.

Agora quando dou por mim?!
Quando me procuro na memória?
Vestígios lá no fundo, bem no fim!

Sou passado... na minha história.

As lembranças são as tais
Que me trazem enternecida
Lembranças dos meus ideais
Que repousam quase esquecidas.

Hoje não abro as janelas
Já se foram minhas ambições
Recordo todas aquelas,
Efémeras, só ilusões.
De que serve procurar-me?
Se já não sei encontrar-me.

natalia nuno
rosafogo

imagem retirada (blog decoupage)

Prisioneira

(Imagem google)


Prendi-me de novo.
Deixei a liberdade
de ser eu na verdade…
Tenho-te sempre a meu lado,
a cada minuto, segundo…
Não sei andar…
Não sei viver…
Não sei sentir…
Quero voltar a ser livre
Correr atrás da vida,
na vida que me foge…
Quero sorrir ao dia,
que outra vida anuncia…
Quero fugir à prisão
que impus a mim mesma.
Quero deixar de ser,
prisioneira de mim.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

MOTIM

Geme o verso
na gota de chuva,
sulca o rosto vencido
rumo à foz revoltada
Clama o corpo em fúria
amotinado

E no dilúvio implacável,
o poema acontece

Escrever Poesia III

Foto: Clarisse Silva


Gosto de musicalidade,
De ritmo frenético
Voracidade
Do ser poético.

Gosto da musicalidade,
De ritmo lento
Ansiedade
Que não aguento.

É explosão de alegria
É estar cá dentro em gritaria.
É construir uma imagem
Nesta alucinante viagem,
De permitir o nascimento
Material, de um sentimento!

Escrever é Ser
Simplesmente.
Liberto de artefactos
Cenários da mente.
É descrição de factos
Pela alma absorvidos.

Escrever é Ser
Simplesmente,
Sonhos sempre sonhados
E nunca antes imaginados
De letras se munir,
E o universo sentir.

Escrever é amar,
Escrever é sonhar.
Escrever é realidade,
Colossal felicidade…!

E escreve…
E descreve…
E vai e vem…
Que depressa tem,
Formigueiro nas mãos…
Vou para cima,
Dom que me aproxima…
Aumenta
A auto-estima…
Não aguenta
Com coisa lenta!
Vai e vem vertiginoso
E que me dá tanto gozo!
Desço…
Mas não perdi
Desconheço…
Como o escrevi!


Vem o rei

Vem o rei
que estava escondido
governar o país
no guarda vestidos

...tem meias compridas
grossas e de lã
governa a vida
no colo da mãmã.

Ainda é rebento
e ja vai combater
matar um cento
no pais cinzento

Este menino
o sebastião
teve o pobre destino
de ser mensageiro da nossa naçao

lobo

Emergência (porque o que é belo é para sempre)

Porque choras , meu amor ?
Amor
o que eu não escrevo
Amor
é sinónimo do teu rosto
Amor 
sorrindo-me
Amor
é sinónimo do meu gesto
Amor
puro.
Amor
de amor abençoado na alvura do teu despertar ...


A Madrugada Das Flores , 090120111636
Luiz Sommerville Junior

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Duas metades

na minha metade,
tenho horas longínquas
onde naufraguei,
tenho anos estéreis de cansaços,
que me ajudaram a descer.

na outra metade,
tenho a utopia
que me faz sentir,
tenho o sonho
que me faz viver.

e assim vivo
em permanente conflito,
entre o ser e a mente
que me faz permanecer

Eduarda

18h35

Seis horas da tarde
Trinta e cinco minutos

Na urgência do tempo,
foge-me o sorriso do rosto
Corro-lhe atrás curiosa
viro aqui, contorno ali...
E lá o alcanço por fim
à porta da entrada:
alargado, potenciado
a ver-te chegar!

…nunca digas adeus

Todas as estações do escarpado calvário
ajoelham-se à minha porta.
Fecho as cortinas dos meus olhos,
saboreio o graal da Primavera amortecida
pelas chuvas que ainda gaguejam
ruídos sonantes,
num malmequer envergonhado.

Os sinos já não acordam de manhã
nem as papoilas se despem de ópio,
retiraram-lhes os cabelos grisalhos das andorinhas
e os braços longínquos do sol.
Se ao menos eu pudesse
devolver-lhes as ladeiras da minha vida,
talvez eles voltassem…
…voltassem, anunciar
como dói o verde cerrado da despedida.

Conceição Bernardino

Publicada por Conceição

Garimpeiro




Destreza na peneira
Mestre do olhar

Agita a cupidez
Perlustra leiras

Na água
Paira a vida

Ora abutre
Ora primavera




sábado, 5 de fevereiro de 2011

Desde Quando

Venho de muito longe
Dos confins do tempo
Venho das eternas madrugadas
Dos dias que o não eram ainda.
Porque ignoto o sol
Que do calor no seu ventre
Não se dera ainda conta.
Rios de gelo cobriam o Nada
Feito gélido mundo.
Todo um mar de água
Era então mãe de todos os seres
Cuja vida acenavam à distância
Em inocentes gotículas
Que prenunciavam já vital amanhã.
É daí que eu venho
Porventura daí que eu venha
Desse ontem de há muito
Metamorfose sem fim
Cruzaram o meu caminhar
Até que, num repente
Milagre que me ultrapassa
Sou aquele que sou
Mas sempre e sempre
Incapaz de ir ao meu principio.

Antonius

Assim....pessoa
















Sou nada no vazio que me consome
nesta inquietação letal,
laje que agasalha o ardor do meu sangue,
já não canto a primavera
nem danço nas falésias do teu corpo

Sou musgo amarelecido,
palanque de fogachos demoníacos
afogueando os contornos do teu rosto,
íris cega da própria cegueira,
carvão desactivado nas brumas do olhar,
vida que se esvai, no longínquo de mim…
um tudo e um nada nesse mar enchente

Sou… o que sou, modelação viva de ti
na impecabilidade do teu próprio existir

Sou eu e tu irrompendo em mim
assim… pessoa

REVOLTA

Vou pôr fim às tuas garras da subjugação
Vou desmantelar a minha redoma de cristal
Acabar a farsa de pseudo-heroína da resignação
Que me deixa em sangue, mortificada e vegetal!
.
Quero abrir uma estrada para o infinito
E percorrer os cantos e recantos da vida
Levo a mala cheia de intenções urgentes
Vou de calçada em calçada, vou de partida!
.
Quero sentir os extremos: o frio e o calor
Comer o pó dos caminhos desconhecidos
Subir às serras, perder-me e encontrar-me
Levando apenas a bússola dos sentidos!
.
O meu objectivo é chegar ao esgotamento
Na erva fazer a minha cama de madrugada
Olhar perscrutando as nuvens no firmamento
E dizer: cheguei ao limite, não há mais nada!
.
05.02.2011

Dilúculo

Acontecia suavemente
O dilúculo.
O cedro amoitava
Um sol: límpido

A gota, minúscula
Da noite lavada
Lembrava
Todos os mares

Deitada sobre o caule
A flor
Espreguiça.
Colhe a primeira vida

À janela: o melro



João Mestre Portugal

Eternas perguntas

Quem sou; De onde venho; Para onde vou, as eternas perguntas ou questões que o homem se coloca, desde que a inteligência chispou com algum «fragor» na sua cabeça.
Até aí, e se nos não repugna que o Homem tenha evoluído através dos tempos, tendo conhecido estádios pré-humanos e mesmo irracionais, aquelas questões nem tinham que se lhe colocar. O problema surge e prevalece a partir do momento fantasticamente histórico em que esse ser, decerto diferente, dá o «salto» para a Racionalidade.
Nessa hora, que terá sido um mundo de Tempo, o universo deve ter estremecido, por que algo de incrivelmente prodigioso estava a acontecer, A partir daí o homem passou a ser Homem ou, pelo menos, a caminhar na senda da humanização.
Mas esse prodigioso Salto não significa que a vida desse Ser se tenha tornado mais fácil. Bem pelo contrário, passou a estar marcada pelo «pesado peso» da Responsabilidade. Poderá pois dizer-se que a inteligência gerou a responsabilidade e, acto contínuo, a busca do Sentido da Vida. Será então que ao Homem se colocaram pela primeira vez, as três grandes questões com que iniciamos esta reflexão: Quem sou, de onde venho, para onde vou.
No tempo do homem das cavernas, essas perguntas essenciais detinham-lhe já o passo ou tiravam-lhe o sono; há cinco mil anos, não presumimos mas sabemo-lo de fonte segura, era essa a atitude do Homem. Incrível é que hoje, em pleno século XXI, quando se tem na conta de civilizado e parece que nesta Terra nada mais há para descobrir, o homem confronta-se exactamente com as mesmas cruciais questões.

Antonius
(António Bernardino)

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

2012


Sondo o futuro
com os olhos apocalípticos do profeta
bebendo a treva do caos
na malga de sangue
dos impérios desmantelados.

À minha volta
tudo se desmorona
numa vertigem de sinos
e ânforas quebradas.

Todos os sinais se completam.
Todos os horizontes se fecham
no ponto sem retorno
do fim dos caminhos
e no clamor dos abismos
a retornarem ao pó e às cinzas.

Atrás do reposteiro escuro
do consumar dos séculos
desfolho, lentamente,
as ultimas folhas do calendário,

o derradeiro salmo dos condenados.

_
Você vai rodando

mas parece que é o mundo

e enquanto vou dançando

no seu corpo me confundo

e no profundo desse olhar

uma estrela eu agarro

e deixo cair no mar.



Você vai rodando

como se fosse um girasol

mas parece que é uma onda

e enquanto vou dançando

como dança um raio de sol

uma canção vou cantando

esperando como um viajante

se enamorando do mar.



Agora eu queria

ao seu corpo me entregar

assim como a musica

se entrega aos braços da dança

como uma mãe se dá

ao sorriso de uma criança



lobo 011

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Quando o Amor

Amar é sentir-te dentro de mim
É sedento auscultar o mistério
É encontrar na vida refrigério
É tornar-te flor do meu jardim

A tua Efígie mora nas estrelas
Que destas juncado o firmamento
Se amar-te tiver de ser um momento
Dar-me-ei por feliz só em vê-las

Amar é ver-me em ti cegamente
É dentro de mim perscrutar a beleza
A luz do luar deveras ver acesa
É o acto de amar sentir premente

Ah que de delírio que de loucura
Recordar esse dia lá distante
Pela primeira vez senti-me amante
Astro que te fizeste de doçura

Antonius

(António Bernardino)

Agora é a água

Agora é a água dentro dele que canta
A lua vi eu
desceu pela garganta
e no peito do homem rude adormeceu.

...Agora é a água dentro dele que canta. As raizes são silabas que a terra bebe
como uma viagem pelos olhos.

Esse livro que dentro dele a paisagem escreve.

Lobo 010

AQUÉM

Esquálidos versos
cinzelam minhas mãos
Nunca uma rima
mitigará a pena
gravada no peito
Nunca uma estrofe
espelhará a dor
da tua ausência
Nunca um poema
será um hino
justo e perfeito
ao nosso amor



13/01/2010

Adelfas selvagens…



Fala-me de ti,


não, não fales nada.


É no silêncio das palavras


que te sinto renascer nos meus braços


como as primeiras folhas que se abrem


acasaladas, no romper da Primavera.



Olha-me, deixa-me ver-te


onde o céu não se alcança,


entre a corda bamba e a nuvem mais ousada,


que mesmo vestida de negro


me acaricia a dor que já não respiro.



Deita-te a meu lado


e fala-me de ti


antes que a madrugada acorde


o silêncio das andorinhas


que hão-de chegar


despidas nos teus braços.



…fala-me de ti


antes que as nossos lábios se toquem


como duas adelfas selvagens…




Conceição Bernardino

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Cada vez que respiramos



Cada vez que respiramos,
um incêndio de sol
rasga, num sonâmbulo equilíbrio,
a bruma cega do mármore,
abrindo uma nova janela
no litoral negro do abismo.

A pulso,
um pássaro de oxigénio
escala a engrenagem metálica
de um sinuoso horizonte,
irradiando,
num silêncio de narinas,
o cristal sereno das marés
pousadas numa ilusão de eternidade.


A mortalha breve do tempo,
aspirando o pólen matinal,
suspende o abraço de gelo
que cerca a métrica azul
de uma metamorfose de estrelas,
adiando uma vez mais
o bordado húmido da terra
e resgatando, ao pranto dos labirintos,
o voo suspenso da quimera,

cada vez que respiramos,
iludindo
o murmúrio transparente da morte.

_

Passos Perdidos

(Imagem google)

Caminhei
no caminho empedrado
Lutei
contra o mar encarpado
Rastejei
na areia encharcada
Chorei
a lágrima molhada
Cruzei
destinos sem fim
Procurei
o que resta de mim
Na loucura do destino
meu ser perdeu o caminho…

A Beleza no Feminino

És a Lira que desde sempre almejo
As cordas dedilhando em delírio
És Oboé, violino, sonhado Beijo
Dos jardins da minha música eterno hino

És compasso, canção és melodia
Egrégio fazedor de nobres artes
No teu génio fiel a alegoria
Nas mãos a sabedoria de Descartes

Em tuas cordas a mais bela sinfonia
Executo entre incrédulo e surpreso
Sentir teus acordes é pura magia
É sentir o amor em fogo, aceso

Olhar-te é ver claro obra acabada
É ver da mulher símbolo perfeito
É sentir que acima não há mais nada
Que o belo a fazer está já feito

Antonius

(Antonio Bernardino)

Sem Espaço

Preenches cada célula
do meu corpo
Deslizas em cada fio
do meu cabelo
Ocupas cada poro
da minha pele
E eu, habituada
à falta de espaço,
Caminho ao meu lado
…naturalmente.

A Menina Dezassete

Era uma vez uma escola muito grande e bonita para onde muitos meninos gostariam de ir estudar. Nessa escola, havia uma menina que estava quase quase a terminar os seus estudos, mas para isso teria que superar um grande desafio: escrever um trabalho onde demonstraria tudo aquilo que aprendeu, e mais, teria que o apresentar aos professores mais velhos e cultos da escola.
Era difícil, porque quando os alunos tinham que apresentar o trabalho final, mais parecia que estavam num julgamento e os professores mais velhos e mais cultos da escola mais pareciam professores-tubarões.
Como iria ser um momento muito importante na vida da menina, todos queriam saber quando seria o “julgamento”, pelo que movida pelo medo e também pelo embaraço da atenção, a Menina guardou para si essa data e só a revelou à sua amiguinha mais querida e claro, ao Menino Dono do seu Coração. Eles sim, é que estariam presentes no grande dia.
A Menina muito preocupada com este momento, estudou que se fartou durante dias a fio, não saiu de casa, não falou com ninguém, ignorou completamente o Menino Dono do Seu Coração, não atendeu as suas chamadas, enfim…Uma azáfama!
O grande dia lá chegou, e como seria de esperar a menina estava mesmo muito assustada! E se não fosse capaz de falar com os professores-tubarões? E se se esquecesse tudo aquilo que havia preparado? E se os professores-tubarões não aprovassem o trabalho que tanto trabalho lhe deu? E se… Ai! Que nervos! Não, nem pensar! Estava preparada, iria correr tudo bem!
A melhor amiga da Menina já tinha chegado e como companheira que era, tentava acalmá-la e mandar para bem longe todas as suas inseguranças.
A hora aproximava-se e subitamente a Menina lembrou-se do Menino Dono do Seu Coração que tardava em chegar, quer dizer, ainda não estava bem na hora…mas e se ele não viesse? Durante dias a Menina não lhe dissera um olá, não lhe ligara… E se ele de triste e zangado não fosse?! E se ele se tivesse esquecido?!
Então, nada teria sentido, pensou a Menina “Se a pessoa que eu mais gosto não está cá, não quero saber disto para nada” concluiu triste. Como é que ela conseguiria passar por aquela prova sem a presença do Menino Dono do seu Coração? Nem queria! Queria era fugir dali para ir procurá-lo…para lhe pedir perdão por tê-lo ignorado.
E quando ele surgiu ofegante no átrio da escola, a menina correu-lhe para os braços aliviada ao mesmo tempo divertida “Bolas! Isto sem ti não ia ter graça nenhuma!” porque havia percebido que tudo faria sentido apenas com a presença do Menino do Dono do seu Coração ali ao seu lado. Porque ele era a sua força, a sua vida…
Passaram então os professores-tubarões arrastando a sua sabedoria. O “julgamento” ia começar. Hora da verdade!
Antes da Menina transpor a porta da sala o Menino Dono do seu Coração sussurrou-lhe “Boa sorte pequenina! Vai correr tudo bem!” E foi quanto bastou para a menina entrar confiante.
Não precisava de mais nada, apenas de saber que o Menino Dono do seu Coração estava ali perto dela no fundo da sala, observador e expectante. É só lhe escutar a tosse nervosa, confortava-a. E por ele, queria fazer boa figura para que ele se orgulhasse dela! Sempre determinada, respondeu afoita às perguntas dos seus professores, e quando o nervoso miudinho serenou, quase que pareceia estar numa tertúlia de amigos.
Quando terminou a apresentação do trabalho que tanto trabalho deu à Menina, os professores-tubarões, já não pareciam tubarões, na verdade, até pareciam simpáticos a amáveis… Agora era chegada a hora de os professores se reunirem e avaliarem o trabalho trabalhoso da Menina.
Mais tarde quando chamaram a menina, sorriam-lhe gentilmente e disseram que o trabalho estava mesmo muito bom e que reconheciam que a Menina se havia esforçado muito, elogiaram-na pela apresentação e pela segurança nas suas respostas.” Parabéns, você vai tirar dezassete valores!”
A Menina agradeceu atordoada, a amiga da Menina estava muito feliz, os professores agora amáveis sorriam satisfeitos e secretamente orgulhosos, mas isso a menina já não viu...
Só tinha olhos para o Menino Dono do seu Coração que estourava de orgulho enquanto lhe apertava a mão, naquele aperto de mão que só os apaixonados se sabem dar.
Nesse dia o Menino Dono do Coração da Menina decidiu que esta doravante seria a sua a Menina dezassete. Esse dia havia sido uma pequena demonstração de que o seu amor seria eterno pois sentiram o sabor de uma pequena vitória. Da primeira vitória.
E de prova em prova, de vitória em vitória, foram construindo a sua vida a dois, ficando na memória de todos aquele amor tão pleno e intenso sentido pela Menina Dezassete e pelo Menino Dono do Seu Coração
Não, não foram felizes para sempre, melhor do que isso, foram sempre felizes!