terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Perscrutando o Nirvana

Às vezes sinto-me no cume do Nirvana, ao limite do prescrito para o poder de ascender do homem. Nessas alturas infinitas estendo o olhar que se alarga para além das estrelas e se esgota na via láctea, por ventura em similar nebulosa.
Penso ter atingido o cósmico termo, mas algo me diz que esse termo não é mais do que um principio de uma nova jornada para o sem-fim do espaço. Recuo o meu olhar com algum desalento, regressando às alturas do outrora sonhado Nirvana. Atiro desta feita o meu olhar para as profundezas que se revestem de um manto da cor da neve. Lá longe, mas não tão longe como a rota das estrelas, eu vislumbro os prados verdes, lá no fundo, onde nascem as montanhas, onde foi semeado e brotou o núcleo do ansiado cume onde me imagino neste instante que passa.
Do cume deste Nirvana há muito sonhado mas só agora alcançado, domino o universo na esfera que o meu sentir constrói. Se esse mundo que a minha razão não entende me deslumbra e apela para a minha inteligência e me faz mergulhar na frescura da pradaria que atapeta a base da minha montanha e se cobre de lírios e da urze do monte, neste instante e num repente desço às alturas que são as minhas, ao mundo que é o meu e que abarco com os olhos com que a natureza me dotou. É que o êxtase teria que ter um fim.
Imperativo era regressar ao meu sitio e à minha condição de mera criatura humana.
Na simplicidade deste sitio há também grandeza e, bem vistas as coisas, há razões de encantamento. Aqui nesta pradaria neste pequeno grande mundo está deposto um passado que não tem preço, o meu passado, aqueles que, uns após outros levaram à construção daquele que, insignificante embora, hoje sou.
Chega até mim uma harmonia que me enche os olhos me impregna a alma e me apura os sentidos. Essa harmonia chega-me de um passado remoto, atravessa o tempo, realiza o maravilhoso que se me depara. Mas tudo se converte em melodia, em música, que não é para ser vista por os meus olhos , mas os meus ouvidos escutam e o meu sentir estremece e lágrimas me assomam aos olhos. Neste instante, sim neste instante, estranha contradição, é-me dada a consciência da grandeza que mora na minha pessoa, na pessoa de cada criatura. Sinto-me mergulhado na mais funda das emoções.

Antonius

(António Bernardino)

1 comentário:

Helen De Rose disse...

Adorei o texto. Adorei o blog. É bastante prazeroso ver a celebração da literatura entre pessoas amigas. Bastante sorte e sucesso para todos. Daqui, meu abraço de admiração.

Helen De Rose.