O inverno demora-se
nos lábios frios do poeta.
Um obscuro bater de portas
sacode os rebordos da folha vazia,
agora que a luz definha
ao fundo dos corredores decrépitos
onde o vento range
sob um poente de sombras gastas.
Alimento a sede dos tinteiros
com o sangue pisado das sílabas
e com os versos que restam
nos parapeitos cinzentos da memória,
debruçado sobre a madrugada solitária
das linhas que nunca escrevi,
à espera de um rasgo de inspiração.
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