sábado, 31 de outubro de 2009

O cancro que mama tudo e não deixa nada


Nessa fria dor que é a tua
onde o inesperado acontece,
não se pode ter a Lua
nem tudo o que apetece!...

Sentes teus peitos doridos
pelos nódulos do seu interior…
encontras os dias sofridos
e vives tudo por favor.

Rescaldos duma demora
que outrora desencantaste
e agora urge curar!...

Previne-te em boa hora
do mal que encorajaste,
para o poderes ultrapassar.
António MR Martins
Por ocasião do Dia Mundial do Cancro da Mama
30 de Outubro de 2009

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Ao Sul, poema para duas imagens

Imagem 1

Dias em tons de ocre
A terra absorve o calor
E desponta em pedras
Casas brancas e olivais

Pegas, Popas, Chapins
Aguardam o entardecer
Onde sem mistérios
Matarão a sua sede
E saciarão a paisagem

Imagem 2

Afago-me no ar quente
Como nas searas
Papoilas bailarinas.
Sem solenidade
Só, como às vezes gosto
Em silêncio
Toco teus cabelos, Terra

Ao Sul, um encontro
O olhar atento do Sol
A cópula, o universo
A eternidade

Coisas que não rimam…e outras

Em Agosto
O plástico não rima com a praia
Como o sol não rima com duas inglesas
Que o absorvem sofregamente
Por outro lado, no pico do calor
Minh’alma encontra-se com as manadas
Cujos sons percorrem as longínquas planícies.

À tardinha, em bandos
Os pássaros, pardais ou andorinhas
Rimam entre a copa de uma laranjeira
E o céu azul.

À noite dou por mim rendido aos grilos
Até que por fim
Me deixo ir
Perdido,
Em sonhos,
Que nem sempre rimam comigo

domingo, 25 de outubro de 2009

Compilação de Ana Coelho, p/Apresentação de Antologia

1 grupo

Os dias (es)correm
d
e
v
a
g
a
r
ao ritmo do tempo.
Breve voar.
Singular,
primordial,
musical
o
momento.
Suave o toque
pianíssimo
no ventre em crescimento
fugaz a vida
que se esvai
em paletas de luz viva.

Apetece-me!
Hoje sento-me no banco do jardim.
Aqui espero a tua chegada.
Hás-de vir um dia, eu sei.
Rodeiam-me os passos do sossego.
Ao virar a face creio em ti no horizonte.
Não estou aqui a todo o momento;
Vou e venho amiúde, e me tolero
Neste jogo de anseio.

Lá bem no centro de ti
há uma nascente
onde bebo da água cristalina
que sacia a minha sede.
Faço correr rios de esperança
que descem as montanhas
das tuas crenças
e dos teus desejos

De verde vestida
Virados aos céus
Teus braços abriste
Clamando p’los meus
Em mim tu sorriste
E vi como és
Um corpo da terra
Teus seios dois figos
Dá-me o teu odor
A tua textura
E sonhos de amor

Eu
Pecadora
Me confesso
Sim
É verdade
Quebrei todos os votos
Que te fiz por amor
Num impulso de fraqueza
Que me inquietou a alma...

Coso os meus lábios,
Com fino fio de mel dos teus cabelos
Guardando assim no silêncio…
O segredo,
Do sabor dos nossos beijos.
Deixo-me levar nas pétalas da rosa,
Que deslizam na tua face
Invadindo o nosso ninho…

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Afago demoniaco






















Tento libertar-me, mas não consigo
Dessa teia que em mim teçe
Sinto a seda escorrer no meu corpo
Envenenando a minha alma
Desse amargo-doce proscrito
Tento me libertar.
Mas…..não, não quero
Quero sentir
O afago demoníaco desses fios
Enrodilhados em labirínticos
Fios de prazer,
Porque assim te sinto
Na macieza desnuda
De te querer sentir

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Antologia “Tu Cá, Tu Lá” apresentada pela Dr.ª Carmo Miranda Machado


Antologia “Tu Cá, Tu Lá” apresentada pela Dr.ª Carmo Miranda Machado

Senti as mãos
No algodão leve das nuvens…

Os raios de sol recolhem-se
E enxugam os templos…
Ouvem-se os sinos nas encostas
Cantam hinos às cegas.
Amansam-se os rituais…

Sinto-me cansada,
já não sinto frio…
Gotas orvalhadas
molham o meu corpo dormente…
E nesta inquebrável teia perco-me…

Já tinhas reparado?
Tranco-me por dentro…

Surgem gargalhadas, silhuetas, sombras,
escadas perversas…
Falas dispersas…

Tenho dias que sem saber escrever,
Arranjo um sonho para poder contar.
Não vendo poesia…
Palavras… versos…
TU, às vezes
és tão diferente…irrelevante.
Trazes o mundo embalado nas tuas mãos
O amor em pedra bruta no Coração…

Eu quero ser assim
tal como sou…
E hoje
Não estou
P`ra ninguém
Marquei encontro com o silêncio…

Vem comigo minha amiga,
saltar juntas deste cume da vida
onde os poetas têm asas escondidas
Que nunca morrem…

Nota Final: Os meus pais nasceram sob calor o calor do sul.
Eu nasci em Lisboa, mas é depois do Tejo que me sinto em casa.

Compilação da Dr.ª Carmo Machado – Versos Extraídos da Colectânea “Tu Cá, Tu Lá”

Autores:• Ana Coelho;• AnaMar;• António MR Martins;• Carlos Filipe Conchinha;• Conceição Bernardino;• Dolores Marques• Gonçalo Lobo Pinheiro;• J. C. Patrão;• José António Antunes;• José Luís Lopes;• Liliana Maciel;• Luís Ferreira;• Lurdes Dias (Cleo);• Miriam Costa;• São Gonçalves.

sábado, 17 de outubro de 2009

Reduzido à insignificância


Pisam-me os calos nesta praça,
o Largo do Descontentamento…
relegado ao silêncio por trapaça
e ignoraram o meu sofrimento.

Isolado por grande pressão,
acorrentado por superior ordem;
esquecido por mera ingratidão,
depauperado… não me acordem!

Privilégios já tive um dia,
no passado que se ofuscou…
livre prisioneiro quem diria?!

Abandonado por preconceitos…
o presunçoso hirto deliberou
afastar-se sem mais trejeitos.
António MR Martins
Imagem in "itacarenews.blogspot.com" (na net)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Parabéns Miriam

Parabéns à Miriam Costa, pelo seu aniversário, ontem dia 14

Que tudo se concretize e que a vida te sorria sempre.

Fome de palavras




Hoje alimento-me das palavras, a maior parte delas, encontro-as escritas, nos mais variados sítios por onde me passeio nos fins de tarde dos dias mais ou menos vazios... ou pelas madrugadas fora, na ausência das horas que me controlam, mas que por um qualquer motivo, ficaram presas no relógio pendurado naquela parede branca atrás de mim e para onde nem sequer olho...
Palavras escritas, faladas ou ouvidas, são palavras que definem sentimentos. Podem confortar, alegrar, dar esperança ou tirá-la… podem excitar, insinuar, esconder ou mentir. São apenas palavras…
Algumas dessas palavras são tão belas, que me recuso a colhê-las para mim, deixo-as ficar no mesmo sítio, para que possam ser admiradas por todos os olhos que as encontrem também. Outras são demasiado caras, sempre o foram e só com um dicionário por perto, as conseguiria alcançar, mesmo não sabendo muito bem o que fazer com elas... por isso nem sequer lhes tento chegar perto. Outras ainda, são demasiado floreadas e engenhosamente complicadas de modo que de nada me serviriam também, por isso, deixo-as para os entendidos. Há ainda aquelas, que me acenam com sorrisos, mas são demasiado oferecidas, não as levo, deixo-as ali, para que outros se sirvam...
Há também aquelas que magoam, que me ferem os sentimentos e me entristecem profundamente… não as quero, não as desejo nem as ofereço a ninguém. São horríveis!
Sou esquisita, só gosto daquelas outras mais simples, que me enchem o olho logo no primeiro encontro e é dessas mesmo que me alimento e as devoro logo ali, naquele preciso momento.
Gosto muito de palavras, embora elas não sejam tudo...

domingo, 11 de outubro de 2009

Um mar para a revolta

um mar para a revolta
Não aconteceu nada... nem eu no espelho nem tu do outro lado.Cada um de nós tem a sua margem, as minhas lágrimas são as minhas lágrimas e tu tens a tua vida, tens o sorriso que tens. Não sou indiferente só não fico a guardar uma canção demasiado tempo na garganta.Não aconteceu nada, nem eu tenho poesia, nem tu precisas de acender o candeeiro para me leres, ocupas melhor os olhos lendo as nuvens, lendo as mãos de um qualquer vagabundo.Não aconteceu nada, não tenho vinho para encher o copo, nem palavras para as conversas sociais.Ficamos apenastu desse lado e eu deste. Tu tens um gato para acariciar eu um mar selvagem para a revolta. Espero que o meu mar não te arranhe e que o teu gato não me afogue.

lobo 09

sábado, 10 de outubro de 2009

Silencioso pensamento

Numa corrente de água
saída das rochas duras
lavei as emoções
ao som da nascente
sentei o pensamento
furtivas noites fundas.

No peito galopar de cavalo
varando espaços sem fim.

Rosas se abrem em versos
danças em desfiladeiros
rostos purificados nas lágrimas
ao encontro do oceano
no puro imenso azul
trespassa o olhar num relâmpago.

Nas veias arde o lume
na cor do sol escorre do céu
num mundo colorido
pintado de branco.

Sem rosa dos ventos
nem norte, nem sul
profunda veemência quieta.

Ana Coelho

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Muito calor... por causa dele iremos ao outro lado, não seremos levados pelo instrumento da religião. Estamos presos ao circulo, somos escravos das chuvas, andamos rodeados de fogo, as mentes queimadas, o silêncio reduzido ao vazio das palavras, são elas que nos queimam , que não nos deixam imaginar nada. Estás ai?! Andas perto, aqueles homens desejam-te, querem saber se as tuas roupas ajustadas contam como é a vida do teu corpo. O teu espíríto agora veste as roupas do teu corpo e tu vai soletrar que está calor, que o fogo rastejou muitos quilómetros, que de tanta madeira queimada nem um barco, nem um tronco a flutuar, nem uma cama velha para o prometido amor eterno. Muito calor nós transportamos a água do corpo e seguimos um carreiro de vestígios, a nossa viagem vai começar. Estamos reduzidos a um zero com muitos séculos. Tu miudo obeso carne triturada, a tua devota mãe o teu severo pai. Da janela da tua caixa de dormir... não há paisagem... não há luz. Precisas daquele olhar que observa a nuvem do céu e daquele pensamento que se preocupa com a asa ferida do pássaro, precisas que o vento te levante. Que a tua mãe seja a tua flor e o teu pai te ensine a trepar as montanhas e a veres a cor das borboletas tão fundamental como o amor entre os teus. Muito calor, por causa dele iremos atravessar o outro momento, não seremos atingidos pelo frivolo costume de destruir. Levaremos connosco as nossas árvores, as nossas pedras. Agora falo para ti Aqueles homens querem água, não a encontraram na tua língua, nem numa margem de terra. Iremos ao outro lado ou ficaremos deste. Muito calor, ainda resistimos, o amor somos nós e nós somos fortes
lobo 05

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Chuva


Gota de água
chuva hermética
incolor o céu
nuvem sintética
pleonasmo de cristal
vidro
(re)partido
espelho sem brilho

jorra em mim o dia

húmido
num desapego de alma
um filho
chora______________

__________o coração partido
pelo abandono
proibido.

E é rio, a água em que me afogo.

domingo, 4 de outubro de 2009

Lágrima sorriu

Sorriu em mim uma lágrima
Vela no tempo fincada na pele…
Harpa de sonhos
Nas nervuras da terra…

Desabrocha um botão em flor
No orvalho regado no chão…

O vento acaricia o rosto
Num gesto fresco
Pouco a pouco
Na forma da boca…

Abrem-se na cor dos jardins
No fio da prata bordada
Na lágrima que sorriu…em mim!

Ana Coelho

sábado, 3 de outubro de 2009

O cheiro do mar

O cheiro do mar... alguma voz de longe a lembrar o homem vento. Quando fazemos sexo nas dunas ele está á espreita como um espião pleno de poesia e escandalo. A nudez é o alarme do amor, o teu corpo no meu e os nossos orgasmos são imaginamos nós, os gritos da multidão, também o movimento dos astros a girar nos olhos.
O cheiro do mar, esse mar deitado nos nossos corpos expressando amor incompleto. Nós somos amantes desde o principio dos tempos e o tempo do amor é mais longo que todos os anos de vida que a nossa existência consegue contar numa dessas tardes perto do fogo. Olho a cegonha e quero perguntar-lhe coisas sobre paris, a relação entre a noite e a depravação. Onde aprendo eu a liberdade do amor se não nas ruas sujas e no vinho que levei nas longas viagens. O cheiro do mar, alguma voz de longe e talvez seja a natureza a revelar o seu pensamento, imaginamos que vai contar os nossos segredos, o amor das nossas vidas, a nossa vida tão curta o nosso amor tão eterno

lobo 09

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Náusea


Sólido vómito
regurgitado em néons caleidoscópicos
sincronia de sons
sintonizadas
em
cores
abstractas
as luzes
dos olhares
mortificados
pelas mãos alheias
ao
pecado
que repousa
no
son(h)
imcompleto
libertino
fugaz.

E a noite rodopia (n)as órbitas dos corpos sem alma.
Numa mortalha de álcool.