sábado, 31 de março de 2012

1 DE ABRIL EM ALENQUER - TERTÚLIA POÉTICA - TRÊS GERAÇÕES NA POESIA

Mantas de retalhos

No meio das minhas mantas
Da vida dos meus retalhos
Cubro as minhas fantasias
E enquanto tu me encantas
Eu perco-me nestes atalhos
E acho-me nas minhas poesias.

E numa estância de espera
As plumas andam pelo ar
Flutuam mentes em percussão
E agora a mim quem me dera
Lá debaixo das mantas ficar
E pernoitar junto do teu coração.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Abraça-me, mãe


Abraça-me, mãe
que acabei de chegar
do outro lado do túnel escuro
e não consigo ainda abrir os olhos
para desvendar a luz que me estendes.
Perdi as asas que tinha dentro de ti
quando de súbito se rasgou
aquele cordão que nos unia,
e tenho medo agora.

Ensina-me, mãe
a descobrir os caminhos por percorrer,
traça no chão de poeira
as fogueiras que sinalizam o horizonte,
tece o fio que irá guiar
a memória frágil dos meus passos
e o mistério das travessias por desvendar.
Sou ainda uma sombra clandestina
à procura de um novo lar.

Mostra-me, mãe
as cores novas deste sonho
que iremos sonhar acordados,
canta-me as doces melodias
que nunca ninguém cantou,
conta-me os segredos que não conheço
e as histórias que não vivi ainda,
afaga-me suavemente
com o tato perfumado dos teus dedos.
Tudo para mim
é um universo em expansão.

Embala, mãe
no teu colo de linho brando
este meu coração de papel
que bate impaciente
açoitado pelos ventos da madrugada,
sacia com o açúcar dos teus seios
esta sede que trago comigo,
este desejo de infinito,
esta sedução fugaz que me anestesia.
Dá-me uma razão para desafiar o futuro.

Protege-me, mãe
das grandes rodas do destino
que começaram já a girar
no roxo débil da minha carne,
acende com a luz do teu sorriso
os espelhos de prata do meu futuro.
Sou o barro que moldaste
na paciência demorada do teu ventre
para que a alquimia do sonho
se tornasse realidade.

Chego-me a ti, mãe
e lentamente me enrosco
no refugio quente dos teus braços
para que laves este corpo
ainda despido de tudo
com a água benta que transborda
do teu choro de felicidade.
Faltam-me as palavras ainda
para dizer quanto te amo.
Abraça-me, mãe.
_____________________________________

quinta-feira, 29 de março de 2012

Eras

(Rio Paiva)



O tempo escorre
Como o leito
De um rio
Corre para a foz

Indefinição
Que mede
Um espaço
e
O renega
Fraco espírito pedinte
A passar pela
Nova Era
Na espera

Refinado lugar das águas
Atroz
Veloz
Perdido
Sem voz
A cessar
Nas correntes prenhes
Dos detritos
Graníticos da serra
Que não ouve
O uivo do vento
Nem o sente
Senhor
e
Rei

O tempo
É cicatriz
Em ardósia protectora
De um telhado tosco
Assente em barrotes
De madeira de lei

Feito
Ou contrafeito
Movimento interno
Alimentando o tempo
Da mudança
Cravado
e
Estancado
Nos medos grotescos
Nos feitos gigantescos
De todos os tempos
Que eu simplesmente
Não guardei

quarta-feira, 28 de março de 2012

arde o horizonte da nossa contemplação

poisam as fagulhas doentes
nos intervalos da terra queimada
e na outra,
virgem deste lesar,
ao suspiro de um vento
que não acode ao salvamento.

o fumo avassala a serra
numa espessa nuvem,
que só transmite calor
e uma dificuldade no respirar.

este vil sofrer
do apaziguar sem contemplação,
nos submete
ao desapreço do desassossego.

na naturalidade das coisas…
há o gesto criminoso
que tanto maltrata o que nos rodeia.

o desatino não tem medida,
a incompreensão não se revela.

tanta coisa se perde…
sem a transformação devida
e salutar da Humanidade.

e o crime tanto compensa
a baixeza das mentalidades,
sem preconceitos.

cada vez mais…
nos sentimos tão pequeninos.


António MR Martins

terça-feira, 27 de março de 2012

Sol Fugidio


(Imagem google)



Pensei que hoje te via
ao acordar de manhã
Mas não te vi.
Vi uma nuvem, mais outra,
mais outra e muitas mais
E de ti, nada
Olhei de novo em redor
Cada vez o céu mais negro
E no meu desassossego
Não encontrei teu calor
Nem teu brilho reluzente
Nem a luz que me aquece
quando meu coração arrefece
de não te ter, meu amor.
As nuvens olhavam-me
Como que a pedir perdão
Suas lágrimas cairiam
No fundo do meu coração.
Mas hoje,
eu lhes sorri
e lhes disse:
- não tenhais medo
hoje nada fará
meu coração esfriar
Nem a chuva que molha
Nem se neve cair
Meu coração está feliz
Meu EU está contente
Estou rodeada de amor
E em mim,
O sol brilha!

Maria Antonieta Oliveira

segunda-feira, 26 de março de 2012

Enseada Da Tua Ternura


Viajo na tua rua
apanhando a água
que de ti
choveu
um dia...

E... é tão salgada
tão cristalina
tão agitada
tão cheia de vida
que fecunda nas minhas mãos,
estas mãos com que eu te acaricio,
a flor

domingo, 25 de março de 2012

As lágrimas que não ficaram

















Traço-me em cortes perpendiculares á dor
cravam-se-me borboletas no avermelhado olhar
e as lágrimas que não ficaram, sulcam a terra
rente às gerberas que um dia plantei

Falecem as papoilas, que outrora
ondulavam na colina repleta de cor
e as acácias floridas arrancam-se pela metade
na noite adiante á dor

Tremelicam as cíclicas paredes
no trilho agreste do ancoradouro
e as lágrimas que não ficaram
jazem em palancos de branca cor
rente às gerberas que um dia plantei

sábado, 24 de março de 2012

É o destino

Eu caminho só!...
Na estrada do bem,
Onde tantos me dão a mão
Já vazia de bondade.
Estendo a minha também
Como um jogo de dominó,
Que eu perco como quem
Abre o seu coração,
À mão de uma amizade,
Que em necessidade que tem
Vestígios de uma saudade,
Num percurso peregrino,
Que caminha com liberdade,
Porque é este o seu destino.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Uma tarde de excelente poesia, a não perder, amanhã sábado


A autora, MARIA ANTONIETA OLIVEIRA, e a Temas Originais têm o prazer de o convidar a estar presente na sessão de lançamento do livro “ENCONTRO-ME NAS PALAVRAS” a ter lugar no Auditório do Campo Grande, 56, em Lisboa, no próximo dia 24 de Março, pelas 18:30.

E ainda :

2ª sessão de lançamento do livro “NONO SENTIDO” de CARLOS VAL, pseudónimo literário de Conceição Bernardino, e do livro “DA SERENA IDADE DAS COISAS”, de TERESA TEIXEIRA no mesmo auditório e no mesmo dia 24 de Março, pelas 16.00

Uma tarde de excelente poesia a não perder

Todos ao auditório do Campo Grande, amanha sábado

Ai ai quem me dera puder ir

GOTAS DE ORVALHO























Gotas de orvalho pousam na folhagem
Despontam os primeiros rebentos
Vem à memória a imagem...
Da primavera doutros tempos.
A primavera da minha infância
essa que nunca esqueci!
Nem sei se de lá parti.

O céu azul, o rio corria
O cheiro da terra, o cheiro do pão
Os pássaros cantando terna melodia
E eu ali, raio de sol no meu chão.

Rouba-me o sono esta lembrança
Chega a doer esta visão
De me sentir vivamente criança
De arco na mão
Ali na minha terra quente
Onde aprendi a ser gente.

A sombra sobre mim cai...
E a vida já se esvai...

natalia nuno
rosafogo

VERSOS DE AMOR NUNCA SERÃO DEMAIS




Todas as palavras podem ser banais
Mas se um dia em meu peito habitou um cardume
Versos de amor nunca serão demais
Mesmo quando resta só um rumor do teu perfume

Esta saudade de ti, esta distância
Dos teus lábios perdi o gosto
Do teu corpo esqueci o mosto
Quisera eu combater esta ânsia…

Perdi até o luar d’Agosto
Tinha tanto p’ra te dar
Já não há folhas de rosto
No fogo aceso dum olhar

Não (es)corre mais o rio Tejo
Com as mãos ainda te desejo
Todas as palavras podem ser banais
Versos de amor nunca serão demais

Deixa-me comtemplar-te
O instante só dum sorriso
Para de seguida amar-te
Neste nosso laço impreciso

Meus olhos há muito que esqueceram a cor
Alguma vez tinhas desfeito em pó uma flor?!

quinta-feira, 22 de março de 2012

Horizontes

Foto: Serra de Montemuro)

vale fértil
conselheiro
e verdejante
no esplendor
da fonte de vida

serra minha
sem nome
perdida no tempo
agreste
árida
fria
da má sorte
na espera
da bonança

aves canoras
em voos curtos
são sinfonias
em compassos valsais
na chegada da aurora

cristalino orvalho
matinal
que nos dias outonais
é neve nas mãos
e fogo na alma

noite cálida
morte nua
e sua
a solidão a aquecer-se
em frente da lareira
no silêncio cortante
do palpitar do coração
nu…ainda
trinar duma guitarra


quarta-feira, 21 de março de 2012

Dia Mundial da Poesia

Hoje refresco-me de poesia
deixando as palavras
escorrerem-me aos olhos.
Os sentidos dos versos
vestem-me o corpo
de rimas soltas e leves.
O poema
lambe-me a face vermelha
quando escrevo o desejo de te ter.

Hoje é dia de acordar
e viver as flores
Agarrar o vento,
estender as asas e voar
É dia de lançar frases com sorrisos
Colher o aroma dos teus lábios
e amar

E porque a saudade aperta
nesta loucura de ser poeta
escrevo o momento de prazer
de saber-te em mim
e nos teus olhos me rever.

terça-feira, 20 de março de 2012

SOMBRA PROTECTORA


A voz do silêncio
É o silêncio da tua voz
Que ressoa dentro de mim
Mas que deixou de ser facto
Na cumplicidade de nós!

Vaidoso no teu fato
Caprichando na gravata
Saímos como pássaros vadios
Por todos os cantos e recantos
De mão dada!

A felicidade inundava-me
Tu eras um sábio
De tanto saber da vida
E pelas tuas histórias
Eu ouvia, quase via
As sagas das tuas memórias!

Agora és aquele vulto
Que se precipita de mim
Nos lugares percorridos
E como em criança
Quero agarrar essa sombra
Que vai sempre à frente
Que me guia e avança!

segunda-feira, 19 de março de 2012

A Dona Antónia

A Dona Antonia escreve versos, aquilo parece a sirene dos bombeiros a correr para o fogo. Que aqueles babosos versos lhe adocem os beiços. Ela ha-de dar aquelas lamechices a uma casa de caridade. São fracos versos que a consolam naquele abandono de homem e filhos. A Dona Antonia gosta de costurar, é uma artista no ponto cruz, uma devota do ponto cruz e do Dr Sousa Martins padroeiro das diarreias e das cólicas. A Dona Antonia e os seus versos amarelos como a bilis. Ela entretem os seus bichos de estimação entre eles as pombas que poisam no peitoral a mendigar umas migalhas literárias. Dona Antonia e os seus versos fofos e quentinhos que cheiram a mofo e a naftalina.

lobo

24 Março - Lisboa - Carlos Val e Teresa Teixeira



Os autores, Carlos Val, pseudónimo literário de Conceição Bernardino, e Teresa Teixeira, e a Temas Originais têm o prazer de o convidar a estar presente na sessão de apresentação dos livros “Nono Sentido” e “Da serena idade das coisas”, a ter lugar no Auditório do Campo Grande, 56, em Lisboa, no próximo dia 24 de Março, pelas 16:00.

Obras e autores serão apresentados pelos poetas Rosa Maria Anselmo e Xavier Zarco.

Amo-te Pai

Hoje
vejo-te como ontem
Sorriso aberto
Olhar feliz
Caminhas no teu passo compassado
Na calma dos dias que passam
Teus olhos verdes sorridentes
Sorriem para mim
Como ontem.

Abraço-te
nesses braços inertes
Beijo
tua face queimada
enrugada
Acaricio
o teu cabelo branco

Hoje
Estás presente
Como ontem
Como amanhã
Sempre!
Amo-te pai!

domingo, 18 de março de 2012

INSOLITA ALEGRIA



Eu sinto e me extasio
Quando a lua me vem segredar
Que a noite está por um fio
E os sonhos em mim pernoitar.
Sinto a minha alma tocada
Meu coração sossega no peito
O amor acontece lá mais na madrugada
Nesta noite de tempo perfeito.

O sonho toma conta dos meus
sentidos
Num sossego me detenho
Me aconchego em pensamentos
estremecidos
Lembro os rostos que beijei
no aroma da infância...
Nem sei se me acostumarei,
a esquecer a distância.

Dói-me a recordação
que trago no olhar
e no coração,
da criança sentada à sombra do loureiro.
Amada p'las nuvens e p'lo rio
Nascente de luz e cheiro
Que nesta noite do tempo acaricio.

Insólita alegria
Que ainda em mim sobrevive.
Nasci olhando a água, era dia
de tempestade,
do ribombar do trovão.
Desse tempo a saudade...
ainda trago no coração.

rosafogo


natalia nuno

sábado, 17 de março de 2012

Explosões incontidas

Na tarefa do rio intenso
onde corre a voz do pranto,
fervor de um caudal extenso
até que se cure o quebranto.

Nuances tingidas de amor
nos corpos intervenientes,
pelos enfeites de tanta dor
irmanando outras correntes.

Entre os pontos quase mortos
e tantas pedras descascadas
que na madrugada rasgam.

Ilusão em vínculos tortos
entre quedas e debandadas
pelo alvor se embriagam.


António MR Martins
Entre mim e o vento
mais do que um acordo...
a cumplicidade andarilha,
a sabedoria ancestral
de alguém, sem idade
mas que não se tem
sobre um pedestal


Entre mim e o vento
o compromisso, a promessa
ele carrega a poeira,
o lixo da minha alma
e leva-os para longe
para as dunas dum tempo
que se esgueira da vida
que ainda me resta
e às vezes me esqueço
que fiz merecida


Entre mim e o vento
mais do que a alergia
às coisas mundanas
ele transporta o sonho
que me dá alento
e transforma em poesia
o que poderia ser ...
apenas um lamento.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Sinais


A lua trazia uma adaga prateada
escondida na dobra do vestido
quando surgia por detrás das árvores
projetando um luz ensanguentada;
sempre que caía a noite
e a sombra dos deuses se confundia
com o choro apocalíptico das hienas
a traçar os sinais de uma dor futura

______________________________________

O POEMA QUE NÃO TE LI



Não penses que me esqueci de ti.

Não esqueço que um dia ao teu leito pertenci
Um dia de cego e quente amor (tão tua) me perdi…

Na noite em que roubei o sol e me vesti
Ao teu íntimo murmurei e pedi
Leve, que me deixasses possuir-te, desci
Breve, soltei-te as vestes, renasci…
Não esqueço a flor de lótus que para o teu sorriso colhi
Numa era em que só aos teus olhos me (p)rendi
Partilhei, vivi, amei, sorri, chorei, aprendi
Tanto mendiguei nos teus braços
Tanto superei a tempestade
Quisera eu o calor daqueles abraços
Para navegar no mar em liberdade…

Não, não penses que me esqueci de ti.

Tanto que eu pedi para voltares
Tanto eu pedi para me amares
Que importa se dos olhos salgam gotas?
Se tu olhas e finges que não notas?!
Morreu-me ao canto dos lábios o poema que não te li…
No dia em que me esquecer de ti
Quando me faltar a palma unida
Meu amor, quando me faltar a vida
Morri.
07.03.2012

quarta-feira, 14 de março de 2012

Queda no Auge

Imagem: retirada da net (autor desc)

Perco-me por entre todas as folhas caídas no chão do pensamento. Vento que passa esvoaçando-as à reflexão presente, volvendo ao futuro que se quer perto. Eis a contradição da beleza morta, caída na realidade viva. Nada mais natural - penso. Caíssem também por terra - tal como as folhas das árvores -, os desvalores humanos orientados pela sede do ego. Fizessem germinar novas plantas fornecendo-nos oxigénio, tal como precisamos de Luz. Observo, como que de fora, todo o corrupio da cidade, pensando que tudo terá que ser diferente, continuando na imutável sabedoria de uma natureza que é Mãe.

30112011

terça-feira, 13 de março de 2012

Entardecer...

Diz como está hoje o pôr-do-sol
Enquanto me contas, eu penso
Como és lindo, e que sorte tenho em ser
A metade de um conto de entardecer
Que observo ao te escutar,
Porque meus olhos são tua voz…

Vem…chega aqui…sim… mais perto,
Quando estamos pele com pele
Minhas mãos te desenharão
Seu perfume me dirá seus segredos
Junto a ti…assim…unidos…
Sem saber porquê…
Com certeza perceberemos
O resplendor de uma ilusão
Por que a teu lado, e a meu lado…poderemos esquecer…

Para mim sempre é de noite, mais uma noite
Contudo essa noite é como um entardecer
Se consegues que a vida me toque, assim…num toque
Seus olhos são os que brilham
E a lua que te apague,
Que em minha eterna escuridão
O céu tem nome: teu nome
O que eu não faria por contemplar-te
Ainda que fosse um breve instante…

Não…por favor não…nunca mais te condenes
Por tentares amanhecer
Não se perca de novo…na noite…nessa noite
Por que sua alma
Brilha com mais força
Que um milhão de sóis
Mas, em sua eterna escuridão…em minha vã escuridão
Por vezes…às vezes se ouve a voz
Que não daria eu por contemplar-te?!
Ainda que fosse um breve instante…

Vá lá…vem…chega aqui…sim…mais perto
E sussurrando-me ao ouvido
Diz como está hoje o pôr-do-sol…

domingo, 11 de março de 2012

17 Mar - Porto - Carlos Val (Conceição Bernardino)

 
 
O autor, Carlos Val, pseudónimo literário de Conceição Bernardino, e a Temas Originais têm o prazer de o convidar a estar presente na sessão de lançamento do livro “Nono sentido” a ter lugar no Olimpo Bar Café, sito na Rua da Alegria, 26, no Porto, no próximo dia 17 de Março, pelas 17:00.

Obra e autor serão apresentados pela poetisa Rosa Maria Anselmo.

Palavras cuspidas em surdina

Passas a língua sobre o rio que parou de correr
Procuras ávida o que o mar não devorou,
Chagas, amantes ocasionais degradam-se
Nas flores ressequidas que alguém te ofereceu

Sossega o vómito, a luz levanta-se
Das palavras cuspidas em surdina

A dor aperta, amputei as marés dos teus braços,
Da ausência, da timidez dos santos

Na suave ansa do grito espelha-se o lume
Deixemo-nos aquecer nas incuráveis
Preces do inferno antes que arrefeça


Carlos Val

COMO INVENTAR SONHOS


Rumo a um porto que não existe
Na esperança de alcançar felicidade
O vento roda ... em levar-me insiste
À lonjura donde me vem a saudade.
Este longo inverno que já não termina
E o frio norte que não traz um sorriso!
Nos meus olhos a neblina
... E da infância chega uma doce brisa.

Voltarei ao ar perfumado
da minha gente
À primavera das amendoeiras em flor
Me entrego ao vento fervorosamente
ao seu fragor.
Rompe dos meus olhos a água
No meu rosto a inocência primeira
No coração a mágoa
Que brota sem fronteira.

Peço à esperança que viva sempre
em mim
Me traga dia a dia uma palavra nova
Um sorriso, um aroma a jasmim
E de estar viva me dê a prova.
Me deixe sentir o êxtase da felicidade
Não me deixe do tempo prisioneira,
ou sofra com sua voracidade.

E os silêncios se farão doçura
neste tempo maduro de viver
A vida me dará uma mão
cheia de ternura
E o terrível vazio vou esquecer.

natalia nuno
rosafogo

Em sonho

Eu fiz-me tão grande e repleta
Enquanto fui no Mundo, alguém
E sou a que tudo pode e tudo tem
E a que na vida, chegou á meta.

Eu fiz-me maior e mais completa
Enquanto pratiquei somente o bem
E sou a que fez e sem olhar a quem
E a que lançou ao cúpido, a seta.

E também me vi na maior mulher
Não conheci ninguém, igual a mim
E tem que ser assim, quem me quiser!...

Eu sou, a que fui mais e mais além
A que sonhou tanto, tanto e por fim
Acordei do sonho e não sou ninguém.

sábado, 10 de março de 2012

A vida é feita de muitas camadas

Deambulando fisíca e mentalmente


Vejo-me criança, sem pressas, brincando
Com deslumbres simples que estranhava
Sorria, pensava talvez… deambulando
Entre flores e animais que eu sondava!

Mais tarde, na adolescência, encantada
Descobria o outro, esse apelo romântico
Sonhava fantasias, queria ser amada
Enlevada por um promissor e suave cântico!

Cresci, cresci tanto, por dentro e por fora!
Como escrever sobre tanta vivência?
Difícil descodificar em palavras a memória!

Mas, bom e mau se misturam mesclados
Dores e alegrias nos dão a existência
A vida tem seus viras e seus fados!
Fev.2012

sexta-feira, 9 de março de 2012

A Alma Do Horizonte











Você , meu amor
senhora absoluta
das estações
que dos dias todos sois
o melhor
eu vos medito ,
ó fruto bendito !
sua boca
falando aos meus lábios
o estremecer , gesto florido ,
da mais sentida e pura emoção

E... dos dias todos , ó senhora minha ,
escutai as mudanças que são milagres
no som da vossa imaculada respiração
e ... acreditai-me ,
sei que o seu nobre coração
dialoga com Deus
agradecendo-lhe , com a vida na mão ,
a benção
do pão que é a nossa alegria
- o amor

Por fim , somos onde ficamos
somos o tempo que mudamos
minha senhora querida
o seu vestido primaveril perfuma as asas dos pássaros
é reino do céu intenso que canta azuis nas vossas mãos
paraíso onde o verão eterniza a borboleta
então ...
ainda que nos violinos o outono empalideça
ainda que dos pianos o inverno se esqueça
a sua voz , senhora amada ,
é e sempre será
das estações
a melhor


À minha amada Dani

JouElam, 031020111441

Nota: Para o dia de hoje, é minha opinião que o presente poema se ajusta a este momento sublime das nossas vidas. Obrigado , meu amor.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Mulheres que não desistem de amar


As últimas flores do verão
recolhem as pétalas frágeis
num regaço de terra macia,
dobram o tronco exausto
pela carícia de uma luz ardente
e se preparam, em silêncio,
para a melancolia do outono;
a longa carruagem do frio
a atravessar a sombra dos dias.

Não choram nem lamentam,
o pólen desvanecido
e o estio que se enreda no corpo;
não reclamam o vigor despido
pelas unhas agrestes do tempo,
nem murcham
com o sopro bafiento do inverno.

Descalças desenham no chão
o perfume de um horizonte futuro
e nos braços do vento flutuam
sem nunca desistir de sonhar,
sabendo que sempre existe
um oculto caminho de regresso
à primavera e aos braços do amor.

Quando a aurora findar

Quando a aurora findar
no trilho cinzento do mármore
e o coração deixar de pulsar
o vento desabrochará
as pétalas do teu rosto
e em amoras salgadas
sulcarão
os mares longínquos
onde chispa o sangue
açoitado
no espumar ondulado
do corpo nú

O sentido de ser mulher

Há um brilho límpido humano
Na ânsia de tantas vidas
Entre ensaios da natureza
E o aroma das flores perdidas
No meio de tanta beleza

Há uma luz cambiante
Que alterna com a bonança
Tal como no céu uma estrela
Desencadeia a esperança
Que no olhar germina ao vê-la

Há a força que vem do íntimo
E uma sensibilidade suprema
Entre a razão e a sensatez
Que desfralda tanto lema
Em vínculos de amor e solidez

Há o caminho da vida
E o que nele se representa
Como símbolo da Humanidade
Que dando à luz alimenta
Um apelo à eternidade

Há uma luz no mundo
Que regozija também
Pela ternura que de ti vier
Elevada ao papel de mãe
No sentido de seres mulher


António MR Martins

2012.03.08
Dia Internacional da Mulher

quarta-feira, 7 de março de 2012

DEIXA-ME DIZER-TE (TUDO)

Deixa-me dizer-te
Porque sorriem as orquídeas no Outono
Se me aqueço do teu corpo no Inverno
No paraíso a dois só tu és meu dono
Só no teu peito encontro o calor (e)terno.

Deixa-me dizer-te
Todos os passos de fogo que dá a Lua
Quando serpenteias louco pela minha pele
E te vestes da minha carne (a tua) nua
Se lavo o sorriso nos teus olhos de mel.

Deixa-me dizer-te
Porque só enlaço as minhas mãos com as tuas
Se nossos lábios se juntam num poema maior
Sempre que estou perto e nos meus braços suas
Gritando à tempestade não há sensação melhor
Deixa-me dizer-te
De que cor pintei as águas do Rio Mondego
Pela pureza ruiva que roubei ao teu olhar
No teu leito sinto o doce aconchego
Onde não me perco, só me sei encontrar

Deixa-me dizer-te
Corrigi o itinerário das minhas asas
Ao encontrar um voo de sol em teu redor
Ate(e)i a nossa paixão em plenas brasas
E no teu ventre tatuei a palavra amor

Deixa-me dizer-te
Não é coincidência ouvirmos a mesma canção
O que nos rodeia é mais do que terra, é (a)mar
Nunca te negarei o bater do meu coração
Porque só tu sabes como o completar!

Deixa-me dizer-te TUDO...
Num (só) verso mudo.

A FUGA DO TEMPO



Neste dia quanta coisa por dizer
As palavras se repetem
Mas escrevo, escrevo e assim
a morte, nada intenta contra mim.
Nos olhos as lágrimas se metem
Como os últimos raios nas vidraças
batendo, batendo como ameaças.

Queria tanto ser uma garça
Ou uma narceja!
E num vôo adensar por entre nuvens
correr mundo.
É tudo que meu olhar deseja!
Aproveitar o vigor
Seguir o suspiro do vento
Abandonar-me ao amor
Que ainda no coração acalento.

Trago os olhos húmidos de emoção,
e na noite de repente caída,
uma lágrima rebelde incontida,
de tristeza e confusão.
A fuga do tempo me acompanha
Levo no coração confiança,
deixo-me ir na corrente,
sou como em criança.

Vou sonhando sómente...

natalia nuno
rosafogo

Qual o sabor do luar?


Existem luares salgados
que rasgam a boca
no uivar do céu.
São peitos encrespados
pelo sal das lágrimas
que escorrem em gritos
entre as estrelas.
De braços abertos
a terra recebe
o fruto do medo
enquanto os olhos se fecham,
um a um…
A esperança está em ti,
que sente o luar doce,
e recebe o amor em segredo,
como a brisa que se recolhe
na face quente.

Vanda Paz (6.03.12)

Manifesto Outono Milenar

Outono Milenar.
Árvore despida no canto da nuvem.
Folha seca, caída.
Tapete de chão, agitado no vento.
Vento seco, queimado.
Sopro do peito deserto.
Húmido, cinza molhado.
Brisa de céu encoberto.
Corpo caído…
Galho quebrado na força da vida.
Ninho desfeito.
Ave perdida…
Murmúrio, lamento de tempo.
Chuva miúda, suicida.
Prédio molhado, sente passos.
Passos de gente na avenida.
Estrada aberta, artéria que aperta.
Som de silêncio.
Alma calada…
Olhos fechados, janela esquecida.
Pedra lançada.
Eterno segundo, vidraça partida.
Tempestade, trovão.
Boca no grito, credo na mão.
Hora…
Raio de choro, seduz sem luz.
Cheiro de terra pela manhã.
Taça vertida.
Licor negro, adormecido.
Calma…
Sabor de vida.
Calma…
Véu transparente, brilho no ar.
Manifesto!
Manifesto.
Outono Milenar.

Mirrada

Lá no alto a Penha - Guimarães

Dependurei-me na árvore a descansar depois de a escalar. Tarefa difícil foi esta. Os ramos estavam despidos e secos, a uma altura acima do alcance dos meus braços. Com manobras, umas mais, outras menos decididas lá me espetei nela, como se fosse mais um ramo mirrado à espera que chegasse a primavera. Esta tardava a chegar. Os dias eram pequenos e as noites longas demais.


terça-feira, 6 de março de 2012

Ser Mulher














Ser Mulher é...trazer nos genes a força, a coragem,dar incondicionalmente de si,amar sem pedir nada em troca,parir para perpetuar a vida,sofrer calada,dançar, cantar, sorrir,mesmo que a dor lhe estrangule a alma,espalhar esperança onde ela já não exista,esgotar-se em dobradas tarefas,cuidar primeiro dos outrose abdicar, por amor, dos direitos mais elementares,nada exigir dos demaise exaltar a Deus o pouco que lhe foi destinado.
Ah, mas ser Mulher, pode também serbeleza, alegria, paixão!Tudo isto num só dia...Este ser, perfeito e únicofaz da vida uma festae não se cansa de agradecer ao Senhor.

A SC

Subindo as escadas
Percorro salas
Paro aqui e ali
Leio e observo!
.
Tu estás e não estás!
.
Corre a brisa
Da tua essência
Da tentativa conseguida
De deixares algo de ti,
Penetrando
Fundo nas gavetas da alma!
.
Olho em volta
E numa revolta
Dou uma reviravolta
E olho através da janela…
Uma estrela brilha
E num fio de música
Solto-me da gente envolta!


domingo, 4 de março de 2012

Ao som do amor

Torrentes de areia fina
Vem em direcção ao amor
No olhar desta menina
Que o abraça com rigor!

Melodias da noite escura
Escuto no silêncio do dia
À margem do rio, tão só.

Sintonias da noite, pura
Já dotada de muita magia
Quando de mim não tem dó.

Sinfonias da noite ao luar
Eu sinto e o amor continua
Dentro de mim para ter.

Fantasias da noite a passar
Sobre a minha pele já nua
Quando ama sem saber!...
Caudais...
 
Já não desço as montanhas

já não sulco a terra

do centro das entranhas

... sou hoje o caudal denso

e farto de um rio

a serenidade das águas

na meia estação

vestida de verde

esperança renascida

correntes intensas

no sopé da vida.

São magestosas

as pontes que me abraçam

passagens aérias

nos céus desta cidade

e do casario plantado

nas margens do meu leito

cores vivas do mundo

erguidas nas encostas

do meu rio

pedaços de gente

fragmentos de tempo

memórias sem idade.

E a foz ali tão perto

águas mansas

abraçando o mar

e a paz

no convés de um navio

invisível da terra

neste meu longo

caminhar.

São Gonçalves

sábado, 3 de março de 2012


A autora, Maria Antonieta Oliveira, e a Temas Originais têm o prazer de o convidar a estar presente na sessão de lançamento do livro “Encontro-me nas palavras” a ter lugar no Auditório do Campo Grande, 56, em Lisboa, no próximo dia 24 de Março, pelas 18:30.

Obra e autora serão apresentadas pelo poeta Emanuel Lomelino.


sexta-feira, 2 de março de 2012

Hora de partir


São horas de partir.

O sol dobra já as colinas do poente.
Os relógios marcam o tempo de dizer adeus.
Faz as malas e despede-te,
como quem se precipita das inadiáveis alturas
de um solitário pontão.

A casa fervilha de inquietas sombras.
Acendem-se lâmpadas frias no cais cinzento.
Os últimos ventos
dançam na penumbra das camas desfeitas.
É tarde para sonhar.

Azedam as horas no lume brando dos ponteiros.
Rangem dobradiças velhas na ferrugem dos portões
que se abatem sobre as rugas de um fôlego derradeiro.
São horas de partir.

O tempo não espera por ninguém.

__________________________________________________________

No mar revoltoso do teu corpo náufrago feliz


Marés vivas
Que afrontam a praia deserta
Paisagem turvada e violenta
Catarse que me revigora
Corpo e alma
Em cascatas de maresia!

Vagas incessantes
Ondas a explodirem
Cuspindo para o ar
Em fulgores de pujança!
Sinto a minha vulnerabilidade
Mas a tua mão na minha
Arrebata-me o medo
Das forças contraditórias da vida!

Apesar da tontura das expectativas
Ladeio todos os riscos
Olhando os teus olhos
E mergulho no teu mar amotinado
Cheio de promessas de purgação!

foto:google

quinta-feira, 1 de março de 2012

Gotas perdidas

Uma gota de água
escorre no sentido
da negação constante
como vaga de esperança

Outra gota
salgada
lágrima de tantas outras
inventa o que não consegue

Já não há gotas
que alimentem a sede
da secura de tantos sóis
e do frio desesperante

Os rios desaguam
menores
no mar que lhes cabe em foz

E os barcos deixaram de navegar


António MR Martins

SONETO: DO(RM)ENTE


E se minha alma ao compasso da carne ferve
Mordo a língua em cegas tiras de inquietação
Doença triste que o deserto sombrio me serve
Só um corpo amorfo me cabe na palma da mão

Sou renda desafinada tentando arranhar sedas
Ferida incurável em pele do(rm)ente
Aos olhos em cinzas ardendo entre labaredas
Quisera eu um dia neste mundo ser gente

Oh quimera ingénua, pureza de criança
Entre montes e vales havia um olhar risonho
Soltava-se a voz em timbre de esperança
 
Porque é que acordei daquele belo sonho?!
Arrepia-se a garganta, tenho foles nos dedos
Vendaram-me os olhos, tropeço nos meus medos.

20.02.2012