domingo, 19 de agosto de 2012

Despojos


Dos tempos de escola
já muita coisa esqueci
de tudo quanto aprendi.
As resmas de compêndios e teoremas
que nos enchiam a cabeça
com aquilo que precisávamos decorar
e que nunca nos serviu para nada
esfumaram-se no crepitar das fogueiras
que abraçam a pedra do esquecimento
com longos braços de névoa.
Perdi o rasto ao nome dos reis
que cerziram com heroísmo
a manta do nosso destino exaltado
e a todos os rios e afluentes
que nunca cheguei a conhecer
e que desaguam agora
num rumor de sombras adormecidas.
Já não recordo as fórmulas míticas
de um futuro que nunca se libertou
da ardósia negra dos quadros
e do movimento persistente dos apagadores
traçando um obscuro ritual.

Sobrou apenas desses tempos
o eco monocórdico das tabuadas
repetidas até à exaustão,
a luz inocente dos pátios
onde os sonhos ganhavam secretas asas
nos intervalos do cativeiro
e o mistério dos teus olhos de menina
a esvoaçar numa nuvem de pó de giz.

4 comentários:

Gisa disse...

Recordações belas.
Um grande bj

maria joão moreira disse...

Sim, é isso mesmo... as asas secretas da infância, que nos fazem voar e acreditar que podemos mudar o mundo! Muito bonito.

Maria Gomes disse...

Olá amigo Runa muito linda esta lembrança dos tempos de escola, gostei muito mesmo.
beijinhos
mariagomes

orvalhos poesia disse...

As lembranças nunca se apagam por completo, e quanto mais longa vai a caminhada, mais nos vêem à memória as lembranças da infância.
Bonito!
bjs