terça-feira, 26 de outubro de 2010

Solstício de inverno



Ao fim do dia, a mente exausta
já só encontra palavras gastas
para seguir o declínio aparente
da derradeira luz que se extingue
num equinócio de primaveras corrompidas.


As pálpebras rangem
seguindo a cadência dos relógios
pendurados na monotonia das paredes,
num arrastado bocejo
à volta dos 12 signos do dia.


No hemisfério gélido das marés
a cinza derretida do luar
tinge veias rasgadas
de um caudal de anjos decapitados,
afundados
no estuário sombrio do meu voo.


O que resta de mim
é aquilo que a insónia do vento
deixou nos rebordos da pedra,
as longas noites de sombra
cobrindo a face do horizonte,
um ocaso de ruínas
engolindo meu corpo fatigado,
e interrompidas quimeras
de um solstício de moinhos petrificados

2 comentários:

alma disse...

Runa,

Fico sempre menos aqui quando te leio, tal a profundidade desse estar e ser.

bj

Anónimo disse...

UAU!
Fiquei toda arrepiada lendo este poema! Que imagens belíssimas ele me deu! Que viagem! Metáforas maravilhosas, muito bem construídas ao som da escuridão...

AMEI!
Beijos