quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Último verão



Recordo ainda a glória desses dias
em que resplandecia a esperança
nos bikinis coloridos das raparigas
e o pôr-do-sol no entardecer dos telhados
tinha o gosto salgado das maresias
que nos sopravam um futuro de conquistas.

Era a época em que nos demorávamos
nas esplanadas suspensas da rebentação,
à espera da última bebida do dia,
que só chegava a altas horas da noite,
mas que não nos deitava a baixo,
porque éramos insolitamente jovens
e possuía-nos o vigor ardente dos sonhos.


Agora, que o último verão há muito se foi,
e a enganadora luminosidade do dia
é apenas um rumor surdo da memória
a deambular por entre chapéus de sol
e toldos vergados pela persistência do vento;
sem esperar pela derradeira bebida,
em silêncio me retiro, nada levando
no guardanapo onde embrulho as palavras
que me sussurra, uma maré de nostalgia.

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