quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Realidade Virtual



Ao entrar em casa, bato a porta com força
para que o mundo não venha atrás de mim
e com os pés sujos da lama com que se veste
não espezinhe o mosaico branco do corredor,
sem me importar se ele fica sozinho lá fora,
a esgravatar na porta fechada do prédio
e a uivar, como um cão alucinado,
de encontro às paredes vagas da noite.

Embrulhado no conforto quente do pijama,
respiro o silencio que envolve o quarto
e sento-me, em frente à tela do computador,
mergulhando nas águas da realidade virtual;
onde não preciso de fingir que não sou eu,
nem tenho de dizer aquilo que não penso
ou me posso calar quando nada tenho para dizer.

Aqui, ninguém me olha por cima do ombro,
como se fosse um foragido da justiça,
nem me recrimina se enfio o dedo no nariz.
Ninguém me pede contas quando me levanto
e vou à varanda fumar ou comer uma bolacha
ou quando, vencido pelo tédio, simplesmente
primo um botão e me desligo deste mundo.

Sem comentários: