domingo, 19 de outubro de 2008

Não tenho tempo...

Todos os dias a mesma lenga lenga
Todos os dias a mesma conversa
- Menina BRINCAR agora não…tens prioridades … brincar agora NÃO
- Anda rapariga, puxa…puxa esta CARROÇA que chamam de vida
- Vamos mulher, empurra…empurra tens o CARRINHO nas mãos por que esperas?
E eu EMPURRO
E eu PUXO
De voz gritada alucinantemente calada
Todos os dias me repito e digo
- Agora não tens tempo, para QUERERES
- Agora não tens tempo para CHORARES
- Depois…depois podes SONHAR
E o DEPOIS é sempre igual…ano após ano
Outra CARROÇA…nas mãos outro CARRINHO
E volto a TROCAR a minha prioridade
-Vamos faz força…dá-te toda…entrega-te até NADA mais SERES
E quando cansada, já sem forças rio… rio muito porque não tenho tempo para mais nada
Rio desavergonhadamente do meu ridículo
Rio tresloucada porque nada posso fazer
Rio de toda a – GENTES - que por mim são enganadas
E eu EMPURRO
E eu PUXO
E rio…rio muito
Gargalho até o peito doer
De CARROÇA em CARROÇA
De CARRINHO em CARRINHO
Foge o tempo pelas minhas mãos doridas
Tanta força fazem para suportar o esconder de tanta aflição
- Não pares, continua agora não tens tempo para LAMENTOS
- Vamos tens que acabar depois…depois já podes DESABAR
E como um ramo de árvore, minha alma estende-me a mão, e com um beijo em forma de sopro
- Procura descansar, não podes continuar assim até eu choro por ti
- Amiga agora não tenho tempo, não vês, tenho que continuar…amiga eu estou bem não te preocupes…só estou muito cansada…eu vou conseguir, eu vou vencer uma vez mais, agora tenho que continuar como sempre fiz
Afasto-me PUXANDO…devagar…EMPURRANDO e sigo gargalhando
Afasto-me devagar dos meus sonhos, dos meus quereres, dos meus desejos
E EMPURRO…e PUXO…e gargalho muito alto para não ouvir a minha alma chorar


2 comentários:

Tu Cá, Tu Lá disse...

Elisabete, obrigado pela força. Gostei do que escreveste. Espero que se consiga chegar sem grandes amolgadelas. Se as houver, existem mãos de artesã neste caminho

Beijos doces
Dolores

Unknown disse...

Lindo, amiga!
Com a grandiosidade da tua alma, e com a autenticidade que empregas sempre a tudo o que escreves.
Um beijinho repenicado para ti, Elisabete.
Vóny Ferreira