quinta-feira, 23 de junho de 2011

O poema que nunca havia sido terminado



Ecos de tinta negra
chegam de um poema que nunca terminei,
quando tropeço numa inesperada rebentação
de folhas velhas e amarrotadas.
Um emaranhado de sílabas que sacode
a clausura bafienta
de uma inércia de fundo de gaveta,
recordando uma dor antiga
que nenhum parágrafo pôde finalizar.
Palavras esquecidas,
fechadas num silêncio mutilado,
num sono profundo e lazarento,
esvaindo-se num vazio de raízes,
acorrentadas à ferrugem de um grito incompleto.

Numa vertigem de nostalgia,
sopro do papel a poeira amarelecida
onde o poema rumina a réstia de memória
que se desmoronou na lentidão sufocante dos dias,
e junto-lhe as palavras que lhe faltam
para que se liberte, finalmente,
de uma dor que já não me pertence.

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3 comentários:

Catia Bosso disse...

Que lindo!!! Profundo! Autentico!

bj

Artes e escritas disse...

As palavras aprisionadas no tempo são postas em liberdade e salvas nessa expressão de dor. Lindo! Um abraço, Yayá.

Fátima disse...

Meu amigo...
Eu também tenho poemas não terminados.
Sentimentos que ficaram guardados, com eles, em gavetas.
Às vezes, eu pego a caneta e tento reescrevê-los,
Mas tenho por eles tanto zelo...
guardo-os novamente.

Bom final de semana!
Com carinho
e uma flor
rosa
de
Fátima