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domingo, 29 de agosto de 2010
baba de caracol
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A GRANDE ILUSÃO
para continuar a alimentar esta ilusão que nos cerca
e continuar a fingir que está tudo bem
e que amanhã as coisas vão correr melhor.
A fingir que a felicidade está ali, ao virar da esquina,
apenas a testar a nossa fé
e a qualquer momento vai entrar pela porta grande
e encher de esplendor a miséria das nossas vidas.
Continuamos a mentir para nós mesmos,
alimentando um monstro que nos devora o alento,
como se a ilusão fosse uma droga
da qual estamos completamente dependentes,
e sem a qual não podemos viver
nem continuar a enfrentar o mundo.
Suspensos sobre a saliva do abismo,
com o coração ensanguentado
e as mãos cheias de nada,
seguimos o leito seco do rio
sem coragem para nos afastarmos da margem,
incapazes de explorar outros caminhos
e seguir outras pistas,
com medo de nos perdermos no desconhecido,
agarrados a uma estranha teimosia
e a uma inércia que nos prende às pedras
e às águas estagnadas do pântano.
Lentamente, o tempo vai passando por nós
e não temos forças para o agarrar
nem para correr atrás dele,
e vamos ficando para trás,
perdidos,
famintos de sensações e desejos,
órfãos do esplendor da vida,
como lápides mudas;
frias estátuas de olhos cerrados
a envelhecer
e a entrar em decomposição,
com um buraco aberto no peito
sem nada lá dentro, a não ser,
a nossa decrépita e gasta ilusão.
SUPERNOVA
Nus pela lua nova
Processando a luz do génesis
Nos corpos em recife de coral
Sedentos de oxigénio
Entregues ao frenesim dos pássaros
Em beijos de praia mar
Para a sagração dos amantes
A nós regressaríamos humildes cristais
Vertendo em pêlo as gotas do amor
Imortalizando a praia que te baptizou…
…Mar
sábado, 28 de agosto de 2010
Vai Cair !
verte !
quem ampara tão brusco deslizar ?
quem beija tão ferido olhar ?
quem ?
essa é a lágrima que não verte
cai !
e porque cai
cai
ai !...
Perco-me
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Por Um Pedaço De Terra - "O Clube Dos Poetas Mortos"
a poeira imprimiu em seu corpo cansado
a caligrafia gelada do último verso
pequenino no adeus que o levou
nem uma lágrima rolou
na morada onde a chuva se despedia
os guerreiros medievais , as cruzadas
a imensa legião de combates
em prol dum pedaço de terra
sumiram por uma frincha do tamanho
de seus olhos fechados
agora já podia descansar...
Já não era poeta ...
LSJ, 2608201002:21
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Le parfum
ébria a mão
que tua palma
acolheu
Pulula fresco
na pele
teu perfume
No olhar
luminescente
o suspiro sorri
...infante
Sons de vida latente

O vício do coração
Aves inquietas voavam,
Rasgando o seu semblante como chacais
Perdidas, tagarelas em orbes radiosas
Iam e vinham como estradas de vento.
Aquele ritual de ilusão,
Distraiu a minha alma vazia,
Era a raiz do tempo que me envolvia,
Naquele odor perfumado que por mim chamava.
Perdi-me naquele limbo,
Embalando-me por ondas na praia deserta,
Em monólogos extremos…
Não desejando mais nada além da tua companhia,
Para comigo comungar da paisagem.
As horas passaram,
O tecto que se erguia em cima de mim
Mudou de aspecto… vestiu um fato laranja
E o sossego condensou-se de novo
Até que sobre ele desceu o farrapo negro
Extinguindo lentamente as cores.
As luzes embebidas de encanto,
Acenderam-se lentamente em todos os pontos
Dando um brilho mágico à cidade,
Serenatas mágicas romperam pelos espaços
Juras e beijos de namorados nos cantos
Segredavam hinos de desejos primitivos.
Suspirei… sentindo o pulsar do coração
Envolto na metamorfose deixei-me ir,
Era tempo de partir…
De ir ao teu encontro,
E perder-me também neste tempo
Para alimentar o meu vício de amor.
CAMPO DE LÍRIOS

Trouxe-me um tempo que tinha
de renda um campo de lírios.
Deitei-me à sombra do vento,
à deriva da brancura
que a chuva chorou de terra
e enterrou em semente
comigo, num outro tempo.
Fiquei num tempo pisado
pela ceifa da colheita
e o ânimo que me ensaia
ergue-me à proa da fuga,
agarro-me ao vento e cravo
as esporas da contramão
que sigo com o meu fado.
Subo a eito, ascendo a prumo,
encho o peito e me consumo
na atmosfera viciosa
onde pelejo torturas
que me assombram o regresso
ao campo outrora vingado
de colheitas proveitosas...
Não sou desse tempo agora.
Trouxe-me um tempo que chora
sobre lírios não plantados...
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Café com cheirinho
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sábado, 21 de agosto de 2010
Sou o desacerto

sexta-feira, 20 de agosto de 2010
SONHO DE POETA
uma voz que me sussurra
estes versos que reinvento
no coração das horas solitárias.
Uma voz sem idade nem rosto
que me guia os dedos trémulos
pelos labirintos de papel
onde desenho o movimento do mar
e as cores do poema,
como um barco de fumo
que passa sob a ponte invisível
cruzando as margens distantes
de um imenso e desconhecido rio.
Não sei a quem pertence
esta voz rouca que me habita
e me enche os pensamentos
com o ritmo sufocante
de um ardente respirar.
Um sotaque de ventania
a assobiar dentro das sílabas;
o pulsar ofegante de um desejo
que me impele constantemente
a arranhar a face lisa desta folha,
numa busca cega pelo equilíbrio
de um punhado de palavras
que talvez ninguém vá ler.
Dentro de mim,
nas janelas abertas deste túmulo,
vive o sonho de um poeta.
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Poema em espiral

segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Provérbios (II)
"Quem está no convento é que sabe o que lá vai dentro"
Enclausurei-me, sem saber como surgiu esta clausura no meu silêncio. É um mero encontro com a adversidade de meus passos até ao limite onde me encontro; anulada, esmiuçada, profanada, e sem saber como, escancarada sobre os muros que delimitam este invólucro, amealhando histórias contadas, do tempo em que me esbarrei contra os muros deste templo.
Talvez por força de pensar ser uma passagem pelo tempo, consciencializando-me, de que, se o desassossego é uma constante mudança num corpo quedo, também poderá ser um grito silencioso que se perde nas lamúrias que o tempo proporcionou. Há sempre um modo de me insurgir contra o mundo que me colheu neste emparedamento, e será de sempre e para sempre, a minha alma que se vestirá de eras outras, em que o caminho da verdade reside ainda no meu silêncio.
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Tu és os meus dias
Oh meu grande amor…
Meço em teus olhos o universo,
Em teus lábios a fonte da suavidade,
Onde percorro em desejos
Sempre que os nossos corpos se encontram.
Meu amor,
Oh meu grande amor…
As tuas mãos são asas
Onde viajo rasgando o infinito dos céus,
O toque anuncia primaveras,
Amarrando os corpos prisioneiros,
Humedecendo as estrelas candentes
Naquele momento quando estamos os dois.
Meu amor,
Oh meu grande amor…
Não vivi antes,
Nem o tempo sorriu a sua existência,
Enquanto não recebi os teus beijos,
E floresceste em mim todos os dias.