domingo, 29 de agosto de 2010

A GRANDE ILUSÃO

Andamos sempre à procura de uma razão
para continuar a alimentar esta ilusão que nos cerca
e continuar a fingir que está tudo bem
e que amanhã as coisas vão correr melhor.
A fingir que a felicidade está ali, ao virar da esquina,
apenas a testar a nossa fé
e a qualquer momento vai entrar pela porta grande
e encher de esplendor a miséria das nossas vidas.
Continuamos a mentir para nós mesmos,
alimentando um monstro que nos devora o alento,
como se a ilusão fosse uma droga
da qual estamos completamente dependentes,
e sem a qual não podemos viver
nem continuar a enfrentar o mundo.

Suspensos sobre a saliva do abismo,
com o coração ensanguentado
e as mãos cheias de nada,
seguimos o leito seco do rio
sem coragem para nos afastarmos da margem,
incapazes de explorar outros caminhos
e seguir outras pistas,
com medo de nos perdermos no desconhecido,
agarrados a uma estranha teimosia
e a uma inércia que nos prende às pedras
e às águas estagnadas do pântano.

Lentamente, o tempo vai passando por nós
e não temos forças para o agarrar
nem para correr atrás dele,
e vamos ficando para trás,
perdidos,
famintos de sensações e desejos,
órfãos do esplendor da vida,
como lápides mudas;
frias estátuas de olhos cerrados
a envelhecer
e a entrar em decomposição,
com um buraco aberto no peito
sem nada lá dentro, a não ser,
a nossa decrépita e gasta ilusão.

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