segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Entre o mar e a lua
Abafam-se as ondas deste mar
e os ruídos da noite escura,
brilhando nas águas o luar
por entre sedutora brandura.
Sonham-se enredos de magia
entre as palavras e os gestos,
suprem-se máculas na nostalgia
e esquecem-se tantos protestos.
Sintonizam-se pelos semblantes
num olhar de mútuo consenso,
vislumbrando doce harmonia.
Brade o mar os sons latejantes
em aromas de puro incenso
e com a lua leva a noite fria.
António MR Martins
imagem da net
domingo, 30 de outubro de 2011
Algemas persistentes
Oh mar
Amima meus pés
sussurra o soluço das ondas
diz-me porque és
Oh mar
calmo ou bravio
leito morno sem pavio
Inspira-me
perdida ando
na foz do murmurejar
que te corre de lês a lês
Oh mar
do meu olhar
de saudade marejado
na espuma que te veste
dá-me o degredo
desejado
Oh mar
que abraças
as rochas perfumadas
sois algemas persistentes
nos passos meus
atadas
Oh mar
porque insistes
invadir-me sem senão
nos dias em que te resisto
e debilmente murmuro
o tão doloroso não
Escrito a 29/10/11
sábado, 29 de outubro de 2011
JÁ OS CHOUPOS SE VERGAM

Já o trigo se dobra
ao amor p'lo vento
Também a vida me cobra
A plenitude do momento.
Já os choupos se vergam
sobre as águas do rio
Também meus olhos enxergam
Dias vindoiros de frio.
A ave voa peregrina
p'lo poente dourado
Esqueci meu tempo de menina
Que passou...é passado!
Corre o regato no vale
Pressa leva no caminhar.
A esquecer todo o mal?
Chovem meus olhos ao te olhar.
Passa o vento e faz rumor
Esquece a tarde que o poente dourou
Como pássaro abrigo-me... amor!
Que o tempo de mim te levou.
Andam pardais nos olivais
Decoram a paisagem alegremente
À vida ninguém foge jamais,
ao sofrimento,
ao tempo inclemente.
Tudo nela são passos contados
É viver cada momento
E agradecer de joelhos prostrados.
Os dias cobertos duma certa claridade
são agora sombrios
são a forma
que é nos meus olhos
a saudade.
rosafogo
natalia nuno
imagem ret. do blog imagens para decoupage
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
Dizem...
E da chuva na alma difusa.
Dizem do gelo nos telhados quebrados do sentir
A construir, reconstruir
E nada me dizem.
Dizem das mãos estendidas aos barcos no cais
A dizer acenos de adeus
E do aperto no coração aberto
Aos braços que partem
A dizer embalos ao corpo dos seus.
Dizem do sol na estrada do saber
A percorrer, recorrer
E nada me dizem.
Dizem do vento tristeza cravado nos dedos
Que percorrem pela imagem
A dizer dizeres de amor
A lembrar, recordar
E nada me dizem.
Dizem das flores carmim
Colhidas no jardim da noite
A dizer estrelas nos lábios
E do sabor a mel nas colmeias alheias roubado
A dizer às abelhas segredos.
Dizem, e de tanto dizer
Nada me dizem.
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
“Já não há pombas da paz”
Soltam-se as pombas bravias
com penas de múltiplas cores,
que estão da paz arredias
e propensas aos desamores.
Multiplicam-se entre jardins
e pelos espaços do mundo,
são criadas para outros fins
neste planeta moribundo.
Desencadeiam guerrilhas
e rumores sem mais sentido,
num declínio em que tudo jaz.
Lembram-nos algumas matilhas
onde nada é mais ouvido…
“Já não há mais pombas da paz!”
António MR Martins
imagem da net
Noite

Chega a noite
Diva dos meus suores
Lúcida
e
Transparente
Noite que chega sorrateiramente
Gélida
Perspicaz
Arrepiante
Acutilante
Que me mata
Me deixa pálida
E são medos
e
Mais medos
E angustias…
Pensamentos
e
Mais pensamentos
Fazem-me perder todos os sentidos
Congelam-me todo o meu ser
Enfim, chega a aurora
Mais um dia igual a tantos outros
E logo a noite…
Azáfama de mais uma noite
Noite intrépida
Noite que me arranca
E descarna toda a minha fome
A de um ser amargo…triste
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
MEU CORAÇÃO SE APERTA

Dias de Verão tão lentos
Sento-me na margem da tristeza
Olhando o tempo e a distância
Sopra o vento da incerteza
Enquanto a vida avança.
À distância um longo caminho
E o tempo do amor de antes
Palavras mortas em pergaminho
Palavras que se guardarão para sempre
num cantinho do coração amante.
Esquece-se a lágrima de rolar
E o sangue deixa de palpitar
Sonhos da vida, sonhos meus
De forma clara dizendo-me adeus.
Letra a letra...deixo escrito
Nos muros da minha alma o que vai
O silêncio vazio...o grito
No hoje e no amanhã que de mim sai.
natalia nuno
rosafogo
Este poema ´foi a forma que encontrei para
homenagear uma grande amiga -minha amiga Haeremai.
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
ALGUMA COISA EM MIM
Quero cerrar os olhos
Esquecer a vida!
Deixar-me a ouvir o regato
no vale
E numa ventura infinitiva
Deixar o sonho ser real.
Este sonho que é feito
de migalhas entrelaçadas
Dum tempo que trago no peito
com imagens amadas.
Embacia-se a vista
com o fumo que se desata
das lembranças
O passado minha memória conquista
Recordo o tempo das esperanças.
As palavras ficam quietas na boca
No coração uma terrível estreitura
Um vendaval lembrando ser já tão pouca
A Vida que trago presa à cintura.
Darei meu coração por alimento
À vida que me traz derrubada
Se até meu respirar é sofrimento
Que mais queres de mim?
Vida danada...
natalia nuno
rosafogo
imagem do blog vintage
PÁSSARO DE FOGO

Entro nos jardins encantados e temíveis
Habitados pelo misterioso e pelo ameaçador
Persigo o amor sonhado
Seguindo o maravilhoso pássaro de fogo
Que capturo e logo liberto
Às suas veementes súplicas
Ele quer a sua liberdade
E promete-me auxílio
Para te encontrar e seduzir
.
Criaturas malévolas e mágicas
Espíritos vulcânicos flamejantes
Rodeiam-me sem tréguas
O pássaro surge rompendo o ar
Fico suspensa pela sua dança infernal
Cheia de vivacidade e ligeireza
.
As forças do mal são destruídas
O pássaro desaparece no infinito
Tu chegas como uma lâmina de luz
E ficamos no encantamento do beijo
E na imortalidade do amor…
OUT. 2011
(Inspirado no «Pássaro de Fogo» de Igor Stravinsky)
terça-feira, 11 de outubro de 2011
QUANDO SE NOS ABREM OS OLHOS
Neste preciso instante
Está a acontecer em mim
O milagre de te ver
E ao sentir o milagre
Ao dele tomar nos punhos
A consciência
Senti arrasar-me o remorso
Sentimento amargo
Que nos faz recuar no tempo
Mas não mais que no tempo
No azedume do imponderado
Da distracção sem retorno.
Ao ver-te assim tão linda
No deleite do teu encanto
Considerei o tempo perdido
Tempo que todos perdemos
Distraídas criaturas que somos.
Proíbo-me de descurá-lo já amanhã
Fazer dele coisa vã
Exijo de mim fundo despertar
Ao mais belo
Ao mais apetecível
Ao mais suculento dos frutos
Esse que do Amor furta o nome
Antonius
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
para não dizerem que falei do mar...
em estações de ventos azuis.
ao longe, em terra instável,
os gritos das folhas arrancadas a seco
são crosta quente desprezada,
pot-pourri sem cheiro
de originais memórias.
aqui, o olhar atreve-se às águas
sem arco-íris,
só cristais de sol virgem...
aproveito o tempo:
é sempre tempo de sombras
se a luz assiste,
mas nem sempre nos sobra
o tempo que existe...
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
NÃO É FELIZ QUEM QUER
às vezes há…um nó na garganta, um frio no peito…
pedras cuspidas…reflexões que não mudam nada …
peso de culpa não existe, só peso do sentir persistente…
caminhando por aí de olhos vendados…
fazendo as coisas do dia a dia com tristeza ou alegria…
a noite chega o sono não vem…
a visão de ti burila nos dedos e na alma…
tudo num andamento de éter …
e se existes é porque penso em ti…
uma leveza pesada de te ter em mim…
barco com roubo sempre a meter água em dias de sol…
chuva de Inverno e de Verão…
ponho uma venda nos meus olhos, não quero ver…
quero manter meu reduto de pureza…
algo imaculado que emana da minha alma…
que me deste com palavras do além…
não quero ver nem ser vista…
basta esta emoção…esta confiança…
este sorriso por dentro de mim…
não estou no escuro…estou em leveza…em apaziguamento…
guiada pela posse de ti no meu pensamento…
que ocupou um grande espaço…
estou a segurar a simplicidade purificadora…
num afecto que desliza como um rio…
há o carinho, o apelo ao cuidado, os olhos da essência…
estou cega e confio, vou existindo…permanecendo…
guardei -te cá dentro… tu dizes que não…
tu dizes que é ilusão…tu dizes que é nada…
e eu sinto-me golpeada no meu âmago…
Outubro - 2011
A cor da terra
onde se reflecte a cor da terra
fenecem as asas da liberdade
num prelúdio gemente
de cordas soltas e gastas
em mãos enclausuradas
no aconchego do passado
Num horizonte embuçado de nuvens
onde o mar se perfuma da própria maresia
há um declínio liberto no cerrado da noite
um vagido silencioso na voz da madrugada
um desfraldar gélido de um vento vigil
que antecede a derradeira morada
E num leito de secas pétalas
jaz moribunda a primavera
na mente perdida no ermo do nada
Escrito a 9/10/11
terça-feira, 4 de outubro de 2011
QUE DIA É HOJE QUE JÁ LHE PERDI A CONTA?
Passam dias e dias …passam anos
Instantes que depressa deixam de ser
Com enganos e desenganos…
Seivas na penumbra a irromper…
A minha mente é uma biblioteca
Em caótica desordem alfabética
Pesada nos dias mais sombrios
Bafienta, desalinhada e hipotética…
Sítios…pessoas…cores e cheiros
Uma bicicleta…uma bola…um jardim
Uma bolsa de tabaco…um isqueiro…
Um busto esbelto de marfim…
Um cão apaixonado e rafeiro…
.
Como conseguir esquecer tudo?
A dissonante babel de sonoridade…
Como conseguir lembrar tudo?
Este caos de diversidade…
.
São gotas de água diluídas
Que se juntam numa poça…
Memórias vastas e poluídas
Filme «noir» que em mim roça…
Livros…casos…palavras…segredos…
Oscilações…entre o real e o onírico
Dia a dia de acaso e justaposição
Com muito de errático e de empírico…
Imagens granuladas de cores desbotadas
Casas de espaços moídos e mofados …
Com portas e janelas assaz afeiçoadas
Poeiras voadoras quentes de afecto
Sem contornos nos olhos cegos pela luz
No caminho de um devoluto sem trajecto…
Out.2011
domingo, 2 de outubro de 2011
Feridas oblíquas
Na reentrância da noite
Torno a roçar-me no reflexo vítreo do corpo
navegar num céu dourado, coberto de pólen
pendurar-me na corda que prende o rastilho
emergente da janela do meu olhar insípido
atear-me nas fagulhas púrpuras de ti, poesia
no anseio de ser simplesmente ….presença
Traço os contornos das palavras impressas
dos versos cilíndricos das silenciosas vogais
trajo de alento as vagabundas consoantes
num denso mar alvo de insónias palpebrais
A noite adormece quieta na orla do desejo
e as heras despojadas crescem enregeladas
na confluência febril das entranhas caladas
perdidamente perco-me em ti desnudada
Escrito 02/10/11
sábado, 1 de outubro de 2011
Dança do fogo
Ergo o cálice de sol e bebo a luz que transborda do peito
derretendo a ilha de gelo que o frio teceu nos teus lábios.
Pedra a pedra desvendo a trilha oculta nos teus ombros
cumprindo o ritual de sangue que teus deuses reclamam.
Desço a escadaria que me leva aos teus seios macios
onde a persistência do vento ergueu imponentes dunas
deixando em cada degrau o eco de mil gemidos.
Dou as mãos à fúria dos presságios que te sacodem
com as unhas feridas de acariciar falsas rosas
tateando com o frémito ofegante dos meus dedos
os caminhos proibidos que me levam ao templo escondido.
Mordo-te o ventre incendiado com dentes que roubei a um cego
cavando minha perdição no abismo que te cerca as entranhas.
É hoje que me deixo imolar nas labaredas do teu abraço
para amanhã renascer com asas de homem novo.