sábado, 27 de agosto de 2011
DESEJO
SONHO E REALIDADE

«Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo».
TABACARIA poema do heterónimo de Fernando Pessoa, Álvaro de Campos
Gosto…
De sonhar todos os sonhos que sou capaz de agarrar…
Da mulher violentada que ainda sonha com um grande amor…Do homem velho ainda carregado de sonhos…
Da criança que sonha, sem saber o que isso é…
Das pessoas que conseguem voar sem asas…
E das que de mãos vazias sonham…
Do gato que olha não sei para onde e parece sonhar…
Daquele olhar que parece parado e caminha no sonho…
Dos pensamentos num estado de sonolência…suspensos...
Gosto…
Do sofrimento que se torna leve…
Da liberdade dentro da prisão…Do homem pobre que já não quer ser rico…
Do esforço que cria sem ambição…
Da morte que passou a ter o mesmo sentido da vida…
Das lágrimas que se misturam aos risos…
Do sábio que sabe que é ignorante…
Do ignorante que não se esconde…
De todas as histórias de amor…
Do meu voo de amanhã de manhã…
Do silêncio que vem depois da música…
Gosto…
De ficar a divagar por dentro de mim…até me esquecer de mim…
AGOSTO - 2011
Simplesmente voz
no esvoaçar dos lábios
inquietos
sou tonalidade esguia
que te enfada as pálpebras
húmidas de dor
sou simplesmente… voz
dispersa no vento da vida
calada por um olhar
esquecido de mim
sou sopro remoto
no vendaval de um peito
….o teu
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
Em mim
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
SOBERBA VISÃO
Adivinhei-te na silhueta
Que a luz da outra banda
Desenhava no azul poente
Na luminosa e radiante poeira
Que o núcleo de sol que se exauria
Emprestava à última réstia
Do esplendoroso Astro.
Mais do que reconhecer-te
Senti viva a tua presença
Nas cores da penumbra que te vestiam
No passo cadenciado
E de uma elegância sem limites
Só podia ser o teu,
No desenho que se estampava
Nesse azul que se esbatia
E apontava já para a noite.
Mas esse desenho
Falava-me do belo
Do belo feminino
Da beleza feita mulher
Das curvas soberbamente desenhadas
Obra-prima de mestre
Que só poderiam ser,
Sonhei ver-te deter o passo
Porventura deliciosamente
Prostrares-te diante de mim
Acordar-me para um mundo
Feito das coisas sublimes.
Mas como o sublime
Nunca se eterniza
Nesse instante que acreditei glorioso
Fez-se noite
E nem do céu as estrelas
Escutaram a minha prece.
antónio bernardino da fonseca
AS PESSOAS PRECISAM DE FIOS…

As pessoas precisam de fios
Para dar sentido à vida...
A vida é perversa
É uma loucura do avesso e do direito!
Sou dependente do direito
Sou fascinada pelo avesso
E pelos dois me disperso…
As pessoas precisam de fios
Porque os fios dão sentido à vida...
Mesmo os fios que se quebram
Que se enchem de nós
Que não levam a parte nenhuma...
Apesar de tudo
Sempre andamos atrás de fios…
Não me canso da vertigem de me enrodilhar
Em fios de cristal ou de navalha
Que dão sentido à vida
E estou sempre por um fio...
E depois?
O que há a seguir?
Não, não é o resto…
É o a seguir?
Divago e me extravio…
Agosto - 2011
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
NO PRINCIPIO ERA A ÁGUA
Aquilo que trago das entranhas da mãe
E pressinto no instante
Em que me senti ser gente
E vai já lá tão distante
É uma sede insaciável
A de ser aquele que sou
Na plenitude da minha humanidade.
E pergunto-me: estarei a sê-lo?
No concretizar deste sonho
Muitas são as vertentes
As cascatas de água que jorram
Da montanha do meu ser
E que espelham o lado sublime
Do que penso ser
A vertigem da minha passagem.
Desfiladeiros de águas
Que na impetuosidade
Dos invernais desmandos
Perdem as cores da primavera
Mas nem por isso, descartam de si
Eflúvios de esperança.
Antonius
TEIA

Teço os fios por onde me persigo
São viagens circunscritas
Não mais além
Que um caminho de regresso
Num traçado inevitável…
Fios delicados de seda pura
Ímpetos de energia
Prementes de sobrevivência
E modelados com sagacidade…
Neles quero te prender
E te saborear
Na essência!
E bordo
Com a minha baba
A teia de encantos
Que retêm a poeira
Que reluz ao sol
Que se esconde na noite
E surge ao amanhecer
Cheia de gotas do suor nocturno!
agosto - 2011
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
Vida
nas asas aladas do lamento
cores sombrias de vendavais
que se perdem ao longo do tempo
São símbolos das raízes pintadas
no corpo perdido de esquecimento
são as dubiedades do amanhecer
nas mãos abertas ao vento
em suspiros que se soltam
nas sombras ainda vigentes
Traçam-se metas invisíveis
nos rasgos acutilantes de dor
e a vida torna-se esvaída …
nos braços aconchegantes
do teu amor
Escrito a 15/08/11
terça-feira, 9 de agosto de 2011
A Barca de Caronte
posso conduzir qualquer um
à outra margem do rio.
Ricos ou pobres,
católicos ou judeus,
homens ou mulheres,
nada me importa
o que poderão ter sido um dia.
É este o meu destino.
Prometeu atado aos remos da penitência,
para trás e para a frente,
num interminável corrupio
seguindo o destino dos ventos.
Não me compadecem gritos nem choros,
não me peçam para retornar
forçando o leme e as velas;
a nenhum eu posso valer.
Os que estavam vivos
estão agora mortos
e o lugar da morte
é do outro lado da margem,
onde o silêncio ergueu catedrais
e a terra fervilha de ossadas frias;
onde todos os sonhos se esgotam
e todas as ilusões se afundam;
onde não existem horizontes
e tudo é coberto por um manto de nada,
sem luz a alumiar os caminhos;
onde já não há esperança
nem alivio,
e a ninguém é permitido respirar.
A troco de uma moeda,
um simples óbolo de níquel,
posso levar qualquer um
para o outro lado do rio.
_____________________________________________________
Cherry Kiss
Quando enfim te deixo acercar da minha boca, rendo-me ao teu fechar de olhos, segundos antes de me beijares, como se fosses confiar o teu mundo nos meus lábios ou se neles buscasses a catarse da tua alma. Sem vontade ou argumentos para te resistir, deixo que cada suspiro meu seja afagado no aroma macio da tua pele, e no fulgor primaveril de tão precioso momento, os teus beijos-cereja adoçam a perfeição desse instante em que esqueço que não há distância entre um sorriso e uma lágrima, porque não há beleza mais plena do que a magia dos momentos irrepetíveis.
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
Eros e Psique

Às portas da Meia-Noite
Eros e Psique encontram-se…
Corpo e alma…
Olham-se entre si…em silêncio…
Eros quer seduzir Psique…
Psique fica fascinada por Eros…
São o fogo e a borboleta…
Voláteis e cativantes
Contrários e atractivos
Tocam-se e transformam-se…
Em fulgores ofegantes…
Relação de vida
Expressão de êxtase
União perfeita
De
Eros e Psique…
Vida e arte em simbiose…
Em
Suspiros de vibração
Em
Gritos de explosão!
Julho - 2011