sexta-feira, 30 de outubro de 2015
Finisterra
o caminho é daqueles que o atravessam
pequenos passos que chegam de longe
trazendo um ritual de sede e poeira
a errância que nos ossos alastra
a sedução longínqua de velhos sinos
às vezes é só a chuva que os acompanha
a ilusão que traça itinerários
o cajado onde a vontade se ampara
para que a distância se possa medir
e passo a passo sigam adiante
não vêm de parte alguma
nem traçaram qualquer destino
nada semeiam na gravilha das margens
orientam-se pelo sentido dos ventos
envoltos num rumor anónimo
na mochila trazem somente o essencial
o dialeto intermitente da fé
sinais breves que os resgatam
quando os pés se afundam na lama
e o equilíbrio mais uma vez se desfaz
todas as moradas são possíveis
para esta viagem sem regresso
mas nenhum albergue os poderá reter
mais que o lapso de um bater de pálpebras
uma trégua para o corpo gasto pela febre
o caminho ensina e incita
desfaz os nós meticulosos do tempo
antes que o sol se debruce sobre as águas
e o mar finalmente abra suas portas
quando chegarem ao fim da terra
lugar onde tudo recomeça
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domingo, 18 de outubro de 2015
In memoriam
nunca viraram as costas ao mar
nem enterraram os olhos na areia
mesmo quando o frio de novembro
fazia estremecer o interior dos búzios
e a noite crescia para surpreender
a claridade escassa dos caminhos
adormeciam já tarde, extenuados
sempre com o relógio à cabeceira
para nunca se perderem do tempo
como se fosse alguma vez possível
saber porque se cobrem de cinza
os rostos que envelhecem devagar
algumas vezes afagavam as feridas
enquanto bebiam vinho maduro
e resistiam à tentação de partir
ignorando o rumor azul dos barcos
que o vento norte empurrava
para lá dos pontões da neblina
depois aperfeiçoaram a caligrafia
para melhor entender o silêncio
ou para chegar mais depressa
à outra margem do esquecimento
onde as águas repetem em surdina
os secretos nomes da saudade
aprenderam os sinais da escuridão
por entre o contorno das persianas
domesticaram os sonhos e os medos
para não serem colhidos pelo destino
e todas as noites acendiam uma vela
em memória dos que haviam partido
sexta-feira, 9 de outubro de 2015
Ainda Povo
Ainda Povo
Quero chegar lá! Lá, onde o coração me queira levar
sim lá, onde a minha alma se encontra e me dirá
se devo, ou não, continuar a viagem, se me fará voltar
quando tudo o que escrever for lido e não traído por lá
Não tenho o fácil, nem o óbvio, tão pouco o acessível
possuo somente a linguagem da alma que é em mim
e me fez andar por labirintos, quando um eco credível
nas ruas e ruelas, me saudou com aromas de carmesim
Quero somente saber da sorte que trouxe a fome
entrar por aí, saber quem foi que a baptizou
para chegar aqui simplesmente com esse nome
Quero somente entregar-lhe agora um olhar novo
traze-la para bem perto de um…ainda sonho
a erguer-se nas memórias de um…ainda povo
Dolores Marques
sexta-feira, 2 de outubro de 2015
são rosas que trago na mão
são rosas que trago na mão
abro-te o meu coração
com transparente lealdade.
meus olhos em nua claridade
se abrindo,
sinto o impulso do sangue
em tão grande ansiedade
sou amor em dádiva plena
ascendendo em felicidade
trago um sorriso derramado
sou outono que não morre,
trago o aroma dos frutos maduros
e a sede dos sonhos em mim corre.
apesar dos dias duros
no coração há ternura
e há nele pássaro ardente
e um grande amor que perdura
no coração permanentemente
há cascatas de amor pra dar-te
nele um rasto de primavera
de amendoeiras brancas
que me protegem do esquecimento
onde o tempo range sem parar
e de tanto recordar-te
a vida foge...
como um sonho perdido para sempre
ou ventura que passou ao nosso lado
fica o coração como um poema rasgado
a renascer em mim, até ao fim.
natalia nuno
rosafogo
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