quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Entre a palavra e um sorriso.
Entre uma palavra e um sorriso.
Pela forma como me divido entre um sorriso e um afecto partilhado à mesma mesa dos que me quiserem ouvir, sentir e ver sorrir, está a verdade absoluta de ser eu num momento, ou eu num lamento, enquanto espero por um sorriso grandioso, que me faça ir e voltar sempre ao mesmo ponto de onde parti. Continuo a mesma a cortar o ar que respiro, só, na consolidação do tempo em que me esperava, e não me via a chegar, junto a todos os que queriam partilhar a vida de mãos dadas. Dou-as a todos os que as quiserem pegar e sentir, quantos gestos e quantas palavras, elas marcaram num conjunto diversificado de formas, que me levem a acreditar num sorriso genuíno, mas não me peçam para sentir nas palavras, o que nenhum olhar distingue. O que a minha alma me diz, enquanto elas se desmistificam, faz de mim um ser em permanente evolução. Serei sempre a parte que doarei inteira num mundo obscuro de formas e lugares, entre os demais que me quiserem seguir, serei sempre o centro, onde reside a vontade, mesmo que anulada ou estrangulada, até que me ouça num novo mundo, até que me distinga eu e só eu, na verdade das palavras ainda por escrever.
Invento-me para que me vejam mais do que simples palavras, e dou-me numa só, aquela que sempre direi, enquanto espero por todas as que se querem só palavras, quando já nada há para escrever. Ditá-las de uma forma inconsequente, é transformar os modos em formas indecifráveis, capazes até de destruir todos os sorrisos que se prestam a seguir-lhes os passos. Nada mais terei para dizer, nem tão pouco escrever, se não souber ouvi-las através da minha voz interior, que não se ouve, nem se vê e nem se sente a palmilhar o chão que meus pés pisam. Contudo, elas estão lá, sempre que fechar os olhos e conseguir decifrar as cores que as transformam em telas refinadas na arte de bem dizer.
(Caminho com elas ao teu lado, para que me decifres na quietude de todas as palavras que se encontram disponíveis, para que no silêncio, se renovem e se expandam através da criação de outras que ainda falta escrever).
Temo por elas, e por nós, seres amorfos, amortizados no mundo dos vivos e condicionados ao mundo dos mortos. Tão moribundas como nós, serão avivadas por todos os sorrisos do mundo que já viram e ouviram um sorriso profundo, chegado da viagem mais fantástica - aquela que nos eleva ao mais alto grau de sabedoria, através de todas as palavras que ainda não se escreveram, mas que esperam o grande dia, a magnificente hora de um longo sorriso, a quebrar as normas impostas por todos os que fazem das palavras, uma sátira de momentos perdidos.
Dolores Marques
"Serei sempre a parte que doarei inteira num mundo obscuro de formas e lugares, entre os demais que me quiserem seguir, serei sempre o centro, onde reside a vontade, mesmo que anulada ou estrangulada, até que me ouça num novo mundo, até que me distinga eu e só eu, na verdade das palavras ainda por escrever."
E é este o mundo onde nos perdemos ou nos encontramos,onde somos o centro de tudo e nos renovamos nos silêncios até ao momento onde as palavras renascerão mais belas ,onde os sorrisos e os afectos se sentarão a mesma mesa e as palavras se ouvirão de uma só voz,cúmplices no desejo se darem as mãos e se tornarem unas,neste novo mundo.
"(Caminho com elas ao teu lado, para que me decifres na quietude de todas as palavras que se encontram disponíveis, para que no silêncio, se renovem e se expandam através da criação de outras que ainda falta escrever)."
é esta a viagem que empreendo aqui neste momento e neste tempo uma viagem ao mais profundo do meu silêncio,onde as palavras se escondem,e onde eu,as procura para lhe dar luz e sentido ,e as traga ao meu viver plenas de vida num momento de rara inspiração.
E nesse momento já não mais as sentirei moribundas,mas ao contrario ,plenas de vida,de luz ,de sabedoria,como esse sorriso vindo longe.E então as palavras serão uma eterna descoberta de mãos dadas com os afectos.
São Gonçalves
Dolores Marques.
É uma escritora multi facetada que escreve de uma maneira magistral sobre todos os aspectos da vida e da espiritualidade.
Nas suas mãos as palavras moldam-se de uma forma subtil aos mundos que ela quer descobrir e desmistificar.
E a poetiza da alma,do mundo interior,da busca pelo conhecimento de si própria e do que a rodeia ,das motivações espirituais ,do conhecimento do que há de mais profundo na vida da humanidade.
Há na sua escrita uma coragem de ir sempre mais alem nas suas capacidades de atingir o inantingivel,de se conhecer no mundo como Ser espiritual onde o corpo vagueia a mercê das incostancias e das variações do tempo que passa,e de um espírito novo que revigora na luz que que vem de outras vivências ,mas e sobretudo,na luz que vem de um plano superior a este pequeno mundo onde nos encontramos.
Dolores Marques tem o dom da palavra e a missão de iluminar o caminho de todos os que a queiram ler.
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1 comentário:
Saozinha,
Essa sua visão sobre o que escrevo, essa sua capacidade de entrar de uma forma profunda e intensa, indo buscar o que eu não consigo dizer, por me faltarem por vezes tantas palavras para definir o que sinto. (Talvez elas esperem pelo momento certo, pois nem todos os momentos, são a verdade associada as diversos factores que me condicionam em tantas outros momentos).
Já lho tinha dito, mas repito-me porque nunca é demais para agradecer a sua forma de me ler. É uma das (talvez poucas pessoas que me estão próximas, se não a principal pessoa que me lê à transparência).
Esta vontade que tenho, de que me leia e me diga muito do que as minhas palavras querem dizer, é uma necessidade muito à frente da minha capacidade de dizer através das palavras.
beijo grande
Dolores Marques
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