segunda-feira, 8 de novembro de 2010
VERTIGEM ANÓNIMA
Sigo o rumor cego dos dias curtos
que se esfarelam nos dedos enrugados
de um demónio que habita um saguão de sombras,
por detrás da porta onde pulsa o cabide
em que penduro, ao fim do dia, o rosto que não rima.
Às voltas ainda com a inércia das palavras,
tropeço na abstracta caligrafia da névoa
e na paisagem abandonada dos meus passos,
quando o vento se levanta, sonâmbulo,
nos patamares gastos dos parágrafos cinzentos
e um coro de vogais soletra na encruzilhada
a derradeira luz do dia.
Nenhuma palavra me diz quem sou,
nenhum verso sabe o que faço aqui,
nesta folha suja onde nada escrevi;
tinta seca que o vento corrói
no empedrado dos fonemas onde me perco.
Persigo uma estrofe de incertezas
através da maré de pontos de interrogação
e me afundo num labirinto de sílabas,
sem atinar com o caminho
que me leve ao final do poema
ou me faça regressar à luz do primeiro verso.
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5 comentários:
Olá, Rui
Este teu poema é um todo de inquietude, de busca da luz em cada verso, em cada palavra. Na minha opinião, um dos teus mais belos poemas.
Maria
Runa,
Sempre o desassossego que te acompanha em cada frase.
bj
nem nas palavras me revelo
nem nesta mesa que bem conheço
e onde todos os dias pouso o cotovelo
e escrevo escrevo,mesmo a quem não conheço,mas não dou por perdido tudo o que aqui escrevo quando vejo poema tão belo
(belo trabalho )
Rui,
este teu poema é belo, parece-me que me estou a repetir... mas é o que sinto
Abraço
alberto
Gosto da tua escrita. Sempre me conduz para caminhos que me são familiares
Obrigada
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