quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Cada vez que respiramos



Cada vez que respiramos,
um incêndio de sol
rasga, num sonâmbulo equilíbrio,
a bruma cega do mármore,
abrindo uma nova janela
no litoral negro do abismo.

A pulso,
um pássaro de oxigénio
escala a engrenagem metálica
de um sinuoso horizonte,
irradiando,
num silêncio de narinas,
o cristal sereno das marés
pousadas numa ilusão de eternidade.


A mortalha breve do tempo,
aspirando o pólen matinal,
suspende o abraço de gelo
que cerca a métrica azul
de uma metamorfose de estrelas,
adiando uma vez mais
o bordado húmido da terra
e resgatando, ao pranto dos labirintos,
o voo suspenso da quimera,

cada vez que respiramos,
iludindo
o murmúrio transparente da morte.

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