segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Provérbios (II)

(Tela de Paula Rego)

"Quem está no convento é que sabe o que lá vai dentro"

Enclausurei-me, sem saber como surgiu esta clausura no meu silêncio. É um mero encontro com a adversidade de meus passos até ao limite onde me encontro; anulada, esmiuçada, profanada, e sem saber como, escancarada sobre os muros que delimitam este invólucro, amealhando histórias contadas, do tempo em que me esbarrei contra os muros deste templo.

Talvez por força de pensar ser uma passagem pelo tempo, consciencializando-me, de que, se o desassossego é uma constante mudança num corpo quedo, também poderá ser um grito silencioso que se perde nas lamúrias que o tempo proporcionou. Há sempre um modo de me insurgir contra o mundo que me colheu neste emparedamento, e será de sempre e para sempre, a minha alma que se vestirá de eras outras, em que o caminho da verdade reside ainda no meu silêncio.

Sentimo-nos únicos, mortificando os momentos que nos ensinam a viver ao lado de formas e pensamentos, mas há encantamentos que nos dizem de nós, quando nos damos conta, que quem conhece as paredes frias de um convento, saberá a medida exacta de um traço, que trace o destino, e o conduza adentro de um único caminho.

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