nunca viraram as costas ao mar
nem enterraram os olhos na areia
mesmo quando o frio de novembro
fazia estremecer o interior dos búzios
e a noite crescia para surpreender
a claridade escassa dos caminhos
adormeciam já tarde, extenuados
sempre com o relógio à cabeceira
para nunca se perderem do tempo
como se fosse alguma vez possível
saber porque se cobrem de cinza
os rostos que envelhecem devagar
algumas vezes afagavam as feridas
enquanto bebiam vinho maduro
e resistiam à tentação de partir
ignorando o rumor azul dos barcos
que o vento norte empurrava
para lá dos pontões da neblina
depois aperfeiçoaram a caligrafia
para melhor entender o silêncio
ou para chegar mais depressa
à outra margem do esquecimento
onde as águas repetem em surdina
os secretos nomes da saudade
aprenderam os sinais da escuridão
por entre o contorno das persianas
domesticaram os sonhos e os medos
para não serem colhidos pelo destino
e todas as noites acendiam uma vela
em memória dos que haviam partido
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