domingo, 29 de maio de 2011

Na quadradura de si

Na quadradura do ser
existe uma vontade
caída no tempo
parapeito da vida
…vivendo mais além
na quadradura do tempo

Um ser indo pelo vento
sem tempo de ser tempo
permanecendo destino
fulgor em desatino
do irreal reflexo
espelhado no veio
do corpo em desalinho

Na quadradura do ser
prevalece a quadradura do tempo
nas laminadas esferas da vida
trajadas de destino
perdido na quadradura de si

quinta-feira, 26 de maio de 2011

ATÉ QUANDO?



O vento rodopia
Em torno do meu rosto
Será Setembro...será Agosto?
Já nem recordo o dia.
Voam as aves da lembrança
Meus olhos já não sabem chorar
Mataram  a minha esperança
Sigo caminho,
donde não posso voltar.

Até quando? Até quando?
Levo um lenço branco acenando.

Passa o vento com seus dedos
Zunindo aos meus ouvidos
Varre a morte e os medos
Liberta-me os sentidos.
Deixa um eco que perdura
E minha recordação se aviva
Lagos nos olhos, loucura
Nesta aventura à deriva.

Até quando? Até quando?
Levo um lenço branco acenando.

rosafogo
natalia nuno
imagem-blog para decoupage

Ninguém saberá de mim




Ninguém saberá de mim
Meu segredo comigo morrerá
Aquele amor que jamais terá fim
Em mim e em ti permanecerá.

Ninguém saberá de mim
Procurem-me para lá do horizonte
Procurem o que restar de mim
Nada encontrarão, nem minha fonte.

Fonte onde matava a sede
Onde buscava minha energia
Fonte onde desfiava a rede
Aquela onde sempre vivia.

Mas ninguém saberá de mim
Esconder-me-ei de tudo
Esse meu triste fim
Será como o acabar do mundo.

Ninguém saberá de mim!

terça-feira, 24 de maio de 2011

ao ouvido

se vieres comigo
prometo mostrar-te a lua
nas minha mãos.
seguiremos por ela
no caminho das estrelas
e, nessa altura,
direi-te ao ouvido
que te amo com a
plenitude de existir.

Macau, 6 de Janeiro de 2011

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Silêncios que ensurdecem


No avesso de mim
Existe um ente desesperado
Um ser esfaimado de vida
Sedento de novas sensações
A morder-me o pensamento

Escuto-lhe os passos
A galgarem as paredes
Da insatisfação
Do meu inconsciente

A mortificarem-me a vontade
De arriscar
Em nome de uma razão
Que não se compreende...

Sinto-lhe o respirar
O ofegar quente
Este martelar constante
Que me arrepia
Que me estrafega
Os ouvidos
Que me ensurdece...
Que me enlouquece...

E o pior
É que não tenho como calar
Este malvado silêncio!

sábado, 21 de maio de 2011

fumo

fumo
sozinho...

perdido nesta noite
que me engole a alma,
fumo um cigarro e
olho este fumo que
desenha o teu corpo.

por entre os dedos sinto
as curvas desse corpo nú,
deitado aqui na minha lembrança.

sou mais completo
quando te tenho,
mesmo à distância,
na imaginação que o fumo
deste cigarro me provoca.

Macau, 19 de Janeiro de 2011

“Diz que me amas… pediste-me amor”

















“Diz que me amas… pediste-me amor”


Na plenitude que oxigena o meu ventre
ânsia de ti….amo-te
neste desatino constante em te ter
em cada milésimo de segundo que te penso
….que te tenho
nos passos hesitantes que deixo marcados
na estrada da vida
nos dedos que afagam a almofada
onde descanso o cansaço do meu rosto
quando não te tenho

Amo-te
no desenho colorido
com que traço o salgado do teu corpo
no brilho do meu olhar que banha os teus
com a cor que se pintam os sonhos

Amo-te tão-somente, assim
na simplicidade com que te bebo
em inundações de sentires crepitantes
afogueando-me na avidez de ti, amor.

Sentes-me?

sexta-feira, 20 de maio de 2011

MITIGO A SOLIDÃO




Não vale a pena amargurar
nem sofrer
Outro momento ninguém vai oferecer
é preciso viver.
Auguravam na minha infancia
que viria a ser
Senhora do meu destino
E assim num querer divino
Se revelou de verdade
A infância já da memória se escoa
Mas ainda a contemplo com saudade.

Entrego-me a um sono bemfazejo
Reflito sobre a minha identidade
E em mim fica o desejo
De paz e tranquilidade.
Agora os dias são serenos
Só meus olhos andam nublados
Mergulho num mar de confusões
Meus dias são tão pequenos
E tantas as ilusões.

As rugas profundas me sulcam a cara
E no coração uma dor que não sara.

Perco-me num labirinto
Não consigo afrouxar a marcha
Meus olhos mortiços no vazio dos espelhos
Mas para mim minto
Não és tu! São eles que estão velhos.
Trago uma vida emprestada
Pungente de melancolia
Morrerei daqui a nada
Lá se vai a alegria
Que em meus olhos se lia.

Mas meu coração
é verdadeiro penedo
Mitigo a solidão
O esquecimento me traz medo
Deixei a juventude para trás...
Tantos anos faz!
Já perco o mundo de vista
Só a poesia é meu estado de graça
Só  ela não quer que desista
Sobre o muito que perdi
O tempo passa.

rosafogo
natalia nuno
imagem ret. do blog para decoupage

EU...

Quem sou eu? Não sei…Sou um ponto no tempo!
Como me posso definir? Como me posso prever?
Que estarei eu fazer logo? Não sei…vivo o momento!..

Estou aberta à existência! À indefinível existência!..
Estou disponível para descobrir! Sou luz e sombra,
Direito e avesso e serei até cair, até à impotência!..

Com ou sem preconceitos, não quero ser julgada!
Nem quero fazer julgamentos, são desnecessários…
Não quero ficar dependurada no juízo de uma espada!

Só me interessa o presente e caminhar em frente.
Não sou corpo ambulante carregando o passado.
Eu quero a constante mudança, conhecer gente!

Não quero ser astuta nem tão pouco ser manipulada
Quero a verdade, mesmo quando dói e faz sangrar
E desvalorizar, ultrapassando, porque tudo é nada…

Marisa Soveral



quinta-feira, 19 de maio de 2011

o valor máximo

do preliminar
ao ventre

o sentido do querer
em afago bem profundo

líquido anestésico
de sublime paladar

abraço apertado
em busca de guarida
ali festejada

o prazer se subtrai
mas jamais se omite

nesta concordância sublime
da união dos corpos
em empatia radiosa

resta um sorriso pendente
até ao declinar
que nunca surge

tudo é inconsequente
quando comparado com o amor


António MR Martins

terça-feira, 17 de maio de 2011

TU ÉS MELODIA

És o sol da minha vida
A estrela que me ilumina
Tu és a porta de entrada
No jardim que me anima

És sonho, és criatura
Néctar que me asfixia
És do humano a formosura
Estrela que ao criador se alia

És o sonho que eu sonhei
Desde que dei conta de mim
Aquele ente que abracei
Doirada peça de marfim

Se alta noite acontece
Por ventura eu despertar
Tudo que o mundo etéreo tece
Suspende o meu cotejar

É que algo de concreto
Acorda em mim sons dormentes
O mundo sedento de afectos
Tira de mim tons crescentes

A vida acorda em mim
Ao tocar-te lira amante
Tens cordas de cetim
És anelo delirante

A melodia que harpejo
De enlevo se reveste
É da harmonia ensejo
Doce cântico celeste

Antonius

sábado, 14 de maio de 2011

SAFIRA

És o meu desatino
Quando irrompes para mim
És esmeralda ouro fino
Do amor eterno hino
Cantata de arlequim

Deslumbras-me se te cotejo
O norte se perde em mim
Infinito tornado desejo
Feito etéreo o harpejo
És angélico querubim

Se nua por ventura te vejo
Ébrio sinto o meu existir
Ao mais alto te elejo
Roçar teus seios meu ensejo
Num eterno perseguir

O teu corpo me abrasa
Se de meu ego se acerca
És fogo telúrica chama
Que num instante se inflama
Tornado divinal oferta

Antonius

quarta-feira, 11 de maio de 2011

sóbrio

estou sóbrio.
já não bebo há dois minutos.
as minhas veias revoltam-se
pela falta que lhes faz o teu licor.
desse destilado sou um dependente eterno.
afinal prefiro ficar bêbado,
arrastando o pensamento nesta escrita
que pede mais de ti e
do teu líquido mágico.
ainda não descobri o porquê,
mas o álcool que me dás inebria-me
a existência neste papel onde escrevi,
vezes sem conta,
um poema gasto e volátil.
Ai como sinto o sangue a fervilhar
na loucura desta bebedeira,
e mais outra.
rasurei...

Macau, 31 de Janeiro de 2011

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Rainha por um dia



Senti-me uma rainha
Duma corte imaginária
Sorte a minha!
Ser Poeta de saudade lendária.
Saudade que é pedra preciosa
Verde esmeralda ou rubi
Bálsamo para minha alma chorosa
Safira, cor vinho onde me perdi.

Rodeada, duma pequena multidão
Extasiada e sorridente
Orgulhoso meu coração
Encheu-se de esperanças no presente.
Pérolas me foram oferecidas
E eu sentei numa poltrona
Ofereci aos convidados bebidas
Rainha duma saudade sem dona.

Rainha dos sonhos,
de pequena carruagem,
Arreios orvalhados de luar
Rainha de coragem!
Que sonha, sonha sem parar
Sonha com Lua de marfim
Com pérolas verdadeiras,
ao pesçoço em fieiras
Numa felicidade sem fim
Rainha de mil maneiras.
Numa alegria frenética de viver
Nos olhos uma sombra de melancolia
Era rainha ou fingia ser
Rainha por um dia.

Correram rios em mim
Dentro do meu coração
Saboreava uma felicidade sem fim
De repente acordei do sonho no salão.
Não cheguei atrasada
Se ergueram à minha passagem
De rainha não tinha nada
Sómente a minha coragem.


naralia nuno

rosafogo.

Foto de Maria Pinheiro.
Foste uma verdadeira Rainha da poesia! Beijo azul

Magia

Com a ponta da minha pena
lavro na página
todo o firmamento
cada letra é um astro
e o poema inscrito no espaço
é um colar d´estrelas
o punho imprimindo nela
todos os pulsares
como quem rasga o sol
para o amor atravessar o centro da luz
e depois ... selando-a com o beijo
das nossas bocas em forma de cruz


Luiz Sommerville Junior , 060520111949

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Garden - Joan Miró

JARDIM…

Teci no alvoroço dos meus sentidos
De impetuosos anseios
Angústias lancinantes
E lamaçais de melancolia…
Uma corda até
Ao jardim onírico
Matizado de muitas cores
Sempre fluido
Em fluxos e refluxos
De sensual impulsividade
Moldado…

Danço contigo…
Improvisas, procuras,
Descobres, acrescentas
Para gemer contigo…
Expressão inaudível
Em movimentos
E tensões
Assimétricas, repetidas…
Emocionalmente poderosas
Convocando sensações…


Nos interstícios da fragilidade
Sorvo o teu travo agridoce…
Tomo o teu pulso…
Teus dedos deslizam
Pelas minhas costas
Que dizes ser de seda voluptuosa…
Jogo de sedução
Arrepiante de sensualidade
Na pele acariciada pela tua cegueira…
Apetece-me gritar até perder a voz
As mãos agitam-se em ímpetos tumultuosos
Nas ondulações rítmicas da fogueira…

07.05.2011

Monólogos de um louco


São vorazes
Os pensamentos
Que me chibatam
Constantemente
Estas já débeis
E tão frágeis
De carcomidas
Paredes
Em ruinas

Esborralhadas ruínas
Desta minha
Insana mente
Cujas fendas
Cada vez maiores
São passagens
Secretas
De bizarras demências
Que me vieram fustigar
A pacatez da vida

Passageiras clandestinas
Escondidas nos bolsos
Daquele outro
Que aos poucos
Me ocupou
O corpo
E me encarcerou
Para sempre
Nas masmorras
Do esquecimento
Despojando-me
De tudo aquilo
Que era meu!

De tudo aquilo
Que era eu...

Daquele que fora
Nada restou
Tudo da mente se foi
Se apagou...
Só o oco da razão
Ficou!

E por esse que eu já não sou
Não respondo
Nada digo
Pois que também
Nada sei

Deixem-me...
Exijo silêncio!

Que aqui
Agora
Mora um louco!
Um respeitável louco
Ainda que varrido
Da sua própria
Memória...

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Tremular das pálpebras















Quando brotam gritos
assim…da palma das mãos
dos dedos que cantam
em olhos que se declinam
no tremular das pálpebras
nas lágrimas pousadas no corpo nú

Quando as horas se alongam
nas demoras bravias
das noites adormecidas
no recanto da estrada ….fria

E quando o sol espreitar
preguiçoso na linha do horizonte

Tu apareces na fragilidade de mortal
imergir-me no calor dos teus silêncios
assim …. Inebriantemente
e no calar das horas, amas-me…

Depois… sem pudor
vais-te nos silêncios aguçados
de fera amansada
cativo do orvalhar da noite

E as gotas deslizam
nas palmas das mãos
brotando vagidos,
em dedos que cantam
a eterna canção

terça-feira, 3 de maio de 2011

Desespero

(Esculturas; Ricardo Kersting)




Desespero numa espera
que não me é grata
por não saber onde encontrar-me;
se no meu início
se no meu fim
se na grandeza que me faz estar em todos os lugares
se na esperança de me ver nas nascentes das estrelas
se nas tuas mãos, quando me tocas os pontos altos do meu corpo

E eu não Te encontro também

domingo, 1 de maio de 2011

Filosofia de merceeiro


Ao fim do dia,
antes de fechar a loja,
o merceeiro debruça-se
sobre os caixotes de fruta
colhendo a fruta tocada,
separando-a da fruta boa,
para que esta
não seja contaminada
pela sua baba peçonhenta.

Ao contrário de Deus
que, nos caixotes do mundo,
teima
em misturar as almas tocadas
com as almas purificadas
para que estas se redimam
de suas impurezas
e possam de novo ser penduradas
na árvore da vida,
o merceeiro sabe
que o mesmo nunca acontecerá
com a fruta
que, uma vez contaminada,
jamais voltará a ser sã.

Por essa razão, todas as manhãs,
quando volta a estender
os caixotes de fruta no passeio,
apenas a fruta boa
é exposta
ao olhar cioso da clientela,
que nada quer saber
da improvável redenção
da fruta estragada.

_____________________________________________

PERDA...

Será que alguma vez voltarei a encontrar-te naquela floresta encantada que me constrói os sonhos? Sinto-me triste…sinto a tua ausência…tu entrastes nos mais belos sonhos, nas mais intensas imagens, nos sentimentos mais puros e completos.As flores que brilhavam na tua presença, a chuva miudinha e leve que nos molhava lentamente e nos deixava melancólicos e os raios brilhantes e suaves que nos acariciavam, penetrando por entre as folhas verdes das árvores, enviados pelo sol para nos iluminarem...

Toda a Natureza, que os nossos sonhos construíram para nós, está triste e pálida. Quero voltar a ver-te… A última vez que estavas no meu jardim encantado senti-te distante. Estavas a boiar no lago dos nenúfares. Quando sentiste a minha presença moveste-te e apareceste ao meu lado, com o teu sorriso húmido. Sentia a tua pureza a dissolver-se lentamente e a entrar na minha alma sob a forma de paz.Há imagens fixas na minha mente, um céu azul com nuvens brancas que se movem languidamente num rodopio sensual, o mar azul por baixo, imenso e assustadoramente infinito. O sol a brilhar como uma bola de fogo pronta a incendiar a minha alma.

Disseste adeus à medida que desaparecias, deixando um rasto de luz que parecia não ter fim...Uma lágrima de dor percorreu-me a face lentamente e vários sentimentos me percorreram por dentro. Os teus lábios murmuraram: “Adeus.” Começou a chover suavemente. As folhas das árvores ficaram acastanhadas e cobriram a relva verde. À medida que nos meus olhos a chuva se misturava com as lágrimas disse baixinho: “Adeus”… Tu foste-te embora e eu fiquei no meu pequeno mundo sem ti, mas tão dentro da minha alma…Estarás sempre no meu Universo de...

A vida é complexa, mas bela, porque nos dá os instrumentos para superarmos tudo, quando pensamos que nem sempre somos capazes. Mas temos que ter a coragem de preservar... E de repente não se olha para trás ou para os lados, para o passado ou para o futuro, apenas se mergulha para o coração da onda, para aquele centro que parece perfeito e onde entretanto o caos reina. A própria vida é uma essência desse caos. Qualquer coisa que nos envolve, nos aperta, às vezes nos dá vontade de gritar, outras de sorrir e sempre vontade de chorar, seja de alegria ou de tristeza...Agora é tempo de chorar, digerir e ganhar forças para o caminho que se segue. Não é fácil, mas nada o é. Vão ser precisos, muitos momentos, mas sempre presente que a vida se faz caminhando.


O Que Me Falta


Dupliquei a luz
acendi todas as velas.

Não me perguntem o que tenho.

Éramos tantos
já fomos tantos...

Faltam-me rostos
rostos com alma.
Faltam-me mãos
as mãos que amassavam e me deslumbravam.
Faltam-me braços
braços que sorriam
e me afagavam
e me adormeciam.
Faltam-me os olhos
que me agarravam e me seguiam
olhos que me reconheciam
única
entre tanta gente.

Não me perguntem o que tenho.

Perguntem-me
antes
o que me falta.


Marialuz

1 De Maio - Pela memória dos nossos apelidos

Foi
ainda ontem
que nós eramos as carruagens
do comboio dos sonhos
na pista em que accionávamos
o trem
sumiu...
as viagens
nas trilhas sem fim
dos nossos olhares
essas
não cessam
d´alastrar
no destino comum
dos nossos neurónios
mas
as serenatas nos lençóis abandonados
-o odor escarlate de violões , envelhecidos !-
silenciados ao mofo aprisionados , ninguém ...
... as ensaiava ...
lá onde a sereia morreu apaixonada
pelo capitão que travaja na lapela
um lenço bordado de lábios , cravados !
pelo bâton que reflecte a imortalidade
há quem lhe chame arma
há quem lhe chame flor d´abril
- é apenas a carne rasgada da traição
que ainda insiste em repetir o bordão
ou refrão duma só palavra
- revolução !
e ...
ainda é tempo
d´abrir os livros que são entradas
ainda é momento
de fechar aquelas bocas que jamais aprenderão
a beijar !
sim , vou rasgar o meu voto
à entrada da urna que sentencia o nosso funeral
sim , vou teimar no sonho na portada
do ventre que grita ensaguentado
pela luz - dia !
por que ...
os abandonados sem leito são hinos , rejuvenescidos !
onde o tudo o que é caduco morre para que soe a balada
abraçada ao perfume que da vida é libertada , alguém ...
a encarnará , aqui ... onde uma noiva se entrega ao castelo
d´útero aberto à formação daquele que da pátria faz a nação
e acena à boca amada com o lenço de gala
manchado com o lindo arabesco que das núpcias verteu
afinal , ontem , num lar dilacerado pelo divórcio , foi abril ...
e hoje numa terra engalanada pela boda da esperança
é maio ...
daquela menina que dá as mãos ao menino ,
sim , são pequeninos , são crianças
os olhos maravilhados que entregam aos noivos as alianças
e ela sorri e imortaliza-se no ouvido dele :
- sou tua ! sou a tua terra , e tu
estás disposto a ser o meu país ?


Luiz Sommerville Junior , 010520110741
(ao meu irmão)